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segunda-feira, 8 de julho de 2019

NOVAS PUBLICAÇÕES DA VAZA-JATO E OUTRAS CONSIDERAÇÕES


Em pareceria com o site ultraesquerdista de Glenn Greenwald, a Folha soltou neste domingo mais uma leva de “mensagens tóxicas” atribuídas a Sérgio Moro e procuradores da Lava-Jato. Desta vez a acusação é de que foram discutidas estratégias para vazar informações sigilosas da delação da Odebrecht sobre a Venezuela durante o recrudescimento do regime de Nicolás Maduro

Pegando carona nesse circo de horrores, o oráculo de festim Datafolha — cujas sondagens eleitorais feitas em 2018 apontavam para a vitória do fantoche de Lula sobre Bolsonaro e a eleição da ex-presidanta Dilma para o Senado por Minas Gerais — ora afirma que seus mapas astrais indicam que 58% dos entrevistados que tiveram conhecimento dos diálogos de Moro com os procuradores da Lava-Jato reprovam a conduta do hoje ministro da Justiça. Talvez as entrevistas tenham sido realizadas defronte ao Instituto Lula ou ao Sindicato dos Metalúrgicos de SBC, mas para a maioria dos analistas políticos, palpiteiros de plantão e assemelhados, os ataques a Moro fizeram crescer a sua popularidade e habilitaram-no a disputar (com chances reais de vencer) a eleição presidencial em 2020. Josias de Souza escreveu em sua coluna do último dia 2 que, ao apontar supostos excessos do ex-juiz, o PT e as legendas que gravitam na órbita de Lula ainda não notaram, mas estão fabricando um adversário político de grande potencial, criando um pesadelo do qual talvez tenham dificuldades para acordar mais tarde.

A revista Veja, que ora engrossa a ala do replicadores do material vazado pelo Intercept — proveniente de uma “fonte anônima” —, publicou na edição desta semana uma longa matéria de capa assinada por Glenn Greenwald, Edoardo Ghirotto, Fernando Molica, Leandro Resende e Roberta Paduan. Esse pool de repórteres investigativos afirma que uma nova leva de diálogos demonstram que Moro alertou Dallagnol para o fato de o MPF não ter incluído uma informação considerada importante por ele na denúncia de um réu, e a partir daí “investiga” julga e condena o procedimento do ex-juiz na condução dos processos da Lava-Jato em Curitiba.

No editorial, a revista assegura que, ao contrário daqueles que fomentam o ódio ou se aproveitam dele, seus compromissos não são com pessoas ou partidos, que sempre foi — e continua — a favor da Lava-Jato, que a luta contra a corrupção tem sido um dos pilares de sua história, mas que os diálogos publicado nessa edição violam o devido processo legal, pedra fundamental do estado de direito e, portanto, como veículo de mídia responsável, não pode apoiar posturas como essa. A meu ver, sua mudança de viés jornalístico não demora a refletir no número de assinantes — entre os quais se inclui este obscuro articula — , que tende a se igualar em breve ao de eleitores do PSTU ou do PC do B. O que é uma pena, pois Veja sempre foi implacável com os crimes cometidos por Lula e pelo PT, como comprovam as dezenas de matérias de capa publicadas ao longo das últimas décadas, sem mencionar a famosa entrevista com Pedro Collor, publicada em 1992, que foi decisiva para o impeachment do ex-caçador de marajás de araque, hoje senador pelo PTB de Alagoas, réu na Lava-Jato e aliado de Lula

Dora Kramer, cuja coluna quase sempre vale a leitura, pondera que a nova leva de mensagens “toxicas” requer uma avaliação diferenciada sobre a repercussão na decisão a ser tomada pelo STF sobre a suspeição dele no caso Lula/triplex e na reação da opinião pública. A reportagem feita em parceria com o site Intercept não “bate” da mesma maneira nesses dois ambientes. Na Justiça, pode ser que os diálogos influenciem a posição dos ministros — embora o voto do decano Celso de Mello, considerado crucial, já estivesse pronto antes da publicação desta sexta-feira, 5, sempre pode haver mudanças de posições até a decretação do resultado do julgamento. Além disso, diz Dora, a situação de Moro pode se complicar, não porque as mensagens mostrem produção de provas falsas, mas devido à evidência de que o juiz teria atuado como ministro de instrução, figura inexistente na nossa legislação.

Já na opinião pública, e aqui entramos no terreno político, nada indica que possa haver maiores danos além dos já provocados entre aqueles que questionam a posição de Moro desde que ele aceitou ser ministro da Justiça. Seu núcleo de apoiadores mais fiéis não se abala com isso. Ao contrário, ignora o valor dos ritos legais e celebra o papel de justiceiro. Esses dois agrupamentos não “conversam” entre si. 

Um Moro popular não significa um Moro imune à lei — Lula é popular e está preso com mais de dez processos nas costas. Não há, por isso, risco a “desmonte” da Lava-Jato semelhante ao que ocorreu com a operação Mãos Limpas na Itália. De certo, conclui a jornalista, temos apenas o fato de que Moro não poderá ambicionar uma vaga no STF, e que, se quiser seguir na vida pública, sua única opção é a via político-partidária-eleitoral, cujos desmandos combateu como juiz.

Vamos ver até onde essa merdeira vai chegar.

sábado, 6 de julho de 2019

A CERTEZA DA REVISTA VEJA SOBRE A PARCIALIDADE DE SÉRGIO MORO NÃO É FATO INCONTROVERSO, MAS SIM OPINIÃO; PORTANTO, NÃO É JORNALISMO, MAS SIM TORCIDA.



Depois de repercutir como verdadeiras as conversas atribuídas a Sérgio Moro e procuradores da Lava-Jato, a Folha reconheceu em editorial que elas podem ser falsas e criminosas — e “podem”, no vocabulário da Folha, significa “são”. Para quem não se lembra, antes das últimas eleições a Folha denunciou o “escândalo do WhatsApp”, sugerindo que Bolsonaro fazia campanha ilegal; semanas após o resultado da eleição, reconheceu que não havia nenhuma prova que sustentasse o que ela mesma havia publicado.

O que há de incontroverso no monumental imbróglio produzido pelo site esquerdista The Intercept Brasil ou “The Interpret”, como Alexandre Borges chama ironicamente o site ultraesquerdista de Glenn Greenwald —, que anunciou um tiro de bazuca e deu um tiro de festim (a montanha pariu um rato, ou melhor, uma ninhada de ratos, todos petistas, naturalmente) — é o alto grau de parcialidade de suas matérias, compradas e revendidas por outros veículos de comunicação que, a não ser em seus editoriais, deveriam se limitar a informar o leitor, e não a torceu ou tomar partido.

Observação: O que se vê não é um trato jornalístico sincero, imparcial e factual, mas uma montagem tendenciosa, feita pelo americano militante Glenn Greenwald e seus esbirros, visando encaixar as supostas conversas comprometedoras em sua moldura pré-definida de grande conluio contra a autoproclamada alma viva mais honesta do Brasil”, como fica claro nesta matéria.

Parece não haver limites para o caradurismo de Veja, que agora se aliou ao time de pseudodefensores da imparcialidade na condução de processos judiciais e julgamentos de criminosos (siga este link para conferir a matéria de capa da edição desta semana). Causa espécie essa mudança de postura  como também a de Gilmar Mendes, o divino, que foi um dos maiores defensores da prisão após condenação em segunda instância e de uns tempos a esta parte passou a soltar condenados a torto e a direito, a pretexto de travar uma batalha contra as prisões preventivas excessivamente alongadas e outras supostas irregularidades cometidas no âmbito da Lava-Jato. Mas isso já e outra conversa.

Sobre a matéria veiculada por Veja, o ministro reafirmou que não reconhece a autenticidade de supostas mensagens obtidas por meios criminosos e que podem ter sido adulteradas total ou parcialmente, lamentou que reportagem tenha se recusado a encaminhar cópia do material antes da publicação e tenha condicionado sua apresentação à concessão de uma entrevista, o que considerou impróprio. Para mais detalhes, clique aqui.

Dias atrás, em entrevista ao site SUL 21, Lula, o picareta dos picaretas, teve a cara-de-pau de dizer que Moro deveria se afastar do cargo por conta da divulgação das revelações de Greenwald e seus vassalos. Segundo ele, o ex-juiz "está se transformando em um boneco de barro" e, tal como Dallagnol, deveria “mostrar que é um homem decente entregando o celular dele à Polícia Federal, que é subordinada a ele”. Vale lembrar que Lula jamais considerou Moro um homem decente, e que o hoje ministro, nas audiências em que participou na Câmara e no Senado, afirmou ter entregado seu telefone à PF para perícia após ser alvo de uma tentativa de ataque hacker.

Também dias atrás, a defesa do petralha, comandada pelo advogado Cristiano Zanin Martins, pediu ao STF a suspensão do terceiro processo contra seu cliente na JF do Paraná, que está prestes a ser julgado pelo juiz Luís Antônio Bonat, que assumiu o lugar de Sérgio Moro à frente da 13ª Vara Federal do Paraná, em Curitiba. Com o desespero batendo às portas — como se depreende dos mais de 60 recursos baseados na suposta parcialidade de Moro —, o advogado engomadinho de Lula sustenta que a defesa não teve acesso ao acordo de leniência firmado entre a Odebrecht e o MPF. Bonat deve decidir sobre essa chicana após ouvir o MPF e a Odebrecht e, na sequência, proferir a sentença.

Em outra frente, Zanin afirma que Leo Pinheiro, cujo depoimento foi considerado peça-chave para a condenação de Lula no caso do tríplex, “fabricou uma versão para incriminar se cliente em troca de benefícios negociados com procuradores". Em carta escrita de próprio punho e enviada à Folha, porém, o ex-presidente da OAS reiterou que não foi coagido a coisa alguma. Pelo visto, sem elementos sólidos que fundamentem suas chicanas, resta ao criminalista recorrer ao jus sperniandi.

Observação: A carta de Leo Pinheiro é devastadora para Lula e para a própria Folha, pois desmonta a reportagem do último domingo, fabricada a partir das mensagens roubadas à Lava-Jato e repassadas pelo Intercept. Pinheiro reafirmou o pagamento de propinas ao ex-presidente: “Preciso dizer que as reformas não foram um presente. Os empreendimentos da Bancoop assumidos pela OAS apresentavam grandes passivos ocultos, com impostos, encargos que não deveriam ser assumidos pela OAS. Em paralelo, João Vaccari cobrava propina de cada contrato entre OAS e Petrobras. Combinei com Vaccari que todos os gastos do triplex e sítio seriam descontados da propina. Repito, esse encontro de contas está provado por uma mensagem minha trocada na época dos fatos, devidamente juntada no processo e ainda pelo depoimento do diretor da empresa. (...) As obras do sítio e no triplex tinham custos relevantes e eram devidamente contabilizadas. Documentos internos da OAS provaram no processo que as despesas das duas obras eram lançadas em centros de custos próprios, com uma referência ao ex-presidente (Zeca Pagodinho) e as divisões ‘praia’ e ‘sítio’”. Tudo isso foi corroborado por inúmeras provas materiais — planilhas, emails, ordens de pagamento -, encontradas pela PF e anexadas ao processo. Ademais, outros delatores, não citados nas mensagens apresentadas pela Folha, confirmaram o relato de Léo Pinheiro. Se o objetivo da reportagem era fornecer elementos para a defesa de Lula, a Folha quebrou a cara.

Em 2013, quando começou a advogar para a famiglia Lula da Silva, Zanin era mais um entre centenas de advogados endinheirados de São Paulo a usar ternos caros e circular em carros importados pelas ruas dos Jardins. “Engomadinho demais”, disse Lula a Roberto Teixeira — seu compadre e hoje parceiro de acusações na Lava-Jato —, quando este lhe indicou o criminalista como interlocutor para assuntos jurídicos. O primeiro caso importante que Zanin assumiu na famiglia foi o do passaporte diplomático concedido a Luís Cláudio Lula da Silva, e a partir daí sua proximidade com o capo di tutti capi  aumentou na mesma proporção que a ficha criminal do ex-presidente. De “engomadinho”, o criminalista passou a ser tratado por “Cris”, e é nele que o petista aposta suas fichas para deixar a cadeia — como apostou para disputar a presidência nas eleições de 2018.

Voltando ao que eu dizia sobre o desespero bater à porta, reportagem da revista IstoÉ dá conta de que, depois de visitar Lula na cadeia, em maio, ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira tuitou que o ex-presidente estava “em ótima forma física e psíquica” e que tencionava se casar quando saísse da prisão. Muita gente acreditou nessa balela, e logo os holofotes se voltaram para a socióloga Rosângela Silva, a Janja, com quem Lula namorava alegremente na cela da PF do Paraná. Agora, porém, sabe-se que a felicidade era farsesca, e que o presidiário mais famoso do Brasil está desesperado: há 14 meses atrás das grades, o petista receia apodrecer na cadeia depois que o STF rejeitou a liminar que o colocaria em liberdade e adiou para agosto o julgamento do mérito do habeas corpus. “Bateu o pânico em Lula”, dizem amigos próximos ao ex-presidente. E razões para isso não faltam, já que a qualquer momento o juiz Bonat pode sentenciá-lo a mais 12 anos de prisão.

O pedido da defesa para que as “conversas tóxicas” atribuías a Moro e Dallagnol fossem incluídas no pedido de soltura de Lula pode se tornar um tiro no pé. A prevalecer o FUMUS BONI IURIS, o material obtido por meios criminosos e cuja autenticidade não foi comprovada será considerado imprestável como prova e não podar ser levado em consideração pelas supremas togas, sem mencionar que o entendimento de que as supostas conversas comprometeriam a imparcialidade de Moro e sua atuação nos processos contra Lula é, no mínimo, controverso. Sabe-se que os ministros Fachin e Cármen Lúcia são contrários a soltura do petralha, e que Mendes e Lewandowski são a favor. Resta saber como se posicionará o decano Celso de Mello, que no último dia 25 votou contra a concessão da espúria liminar proposta por Gilmar, que, se acolhida, concederia liberdade ao paciente até que o do HC fosse julgado.

Na semana passada, Dias Toffoli disse que fechou a pauta do ano e a rediscussão da prisão após condenação em segunda instância não foi contemplado. “Pode até haver uma janela para discutir o tema, mas ele não está na pauta”, disse o presidente da Corte, que parece propenso a deixar a questão para 2020, botando mais água no chope da petralhada. Vale lembrar que Lula já foi condenado em terceira instância no caso do tríplex, restando-lhe apenas acalentar a esperança de obter o direito à prisão domiciliar, já que, por questões de logística e de segurança, o regime semiaberto não é uma opção.

Observação: A morosidade da Justiça brasileira é desalentadora. Para piorar, mesmo condenado em dois processos e respondendo a outros oito, Lula é considerado réu primário até que pelo uma das sentenças condenatórias transite em julgado. No Brasil, a primariedade é ligada ao processo, e não à realidade, à reiteração criminosa. Para alguns togados supremos isso é homenagear a Constituição, mas na verdade esse entendimento favorece a impunidade e permite que políticos e empresários corruptos paguem milhões em honorários a criminalistas estrelados (com o dinheiro da corrupção, o que só agrava o quadro) para, mediante apelos, recursos, embargos e toda sorte de chicanas protelatórias, eternizar a tramitação dos processos.

Também é esperado para os próximos meses a decisão do TRF-4 sobre os recursos interpostos pelas partes no caso do sítio em Atibaia. Em fevereiro, a juíza substituta Gabriela Hardt condenou o ex-presidente a 12 anos e 11 meses de prisão — e o MPF pediu o aumento da pena. O destino do molusco está nas mãos do desembargador João Pedro Gebran Neto, que, no julgamento do tríplex, foi o responsável por aumentar da pena do petista de 9 anos e 6 meses para 12 anos e 1 mês. Assim sendo, ainda que consiga a hipotética liberdade em agosto, Lulalalau voltará para a cadeia tão logo sua condenação seja confirmada pelo TRF-4, e pode ficar por lá até completar 86 anos, caso o diabo não requisita sua imprestável alma antes disso.

Para entender melhor essa merdeira, ouça o que diz Luiz Nassif:


Sobrando um tempinho, assista ao vídeo a seguir:

domingo, 28 de abril de 2019

LULA É CASO DE AUTÓPSIA


Folha e El Pais entrevistaram Lula. Um aperitivo dessa primeira entrevista do ex-presidente petista na prisão, servido pela repórter Mônica Bergamo, revela que o encarceramento de mais de um ano não propiciou nenhum ensinamento à divindade do PT. Pior: o isolamento provocou em Lula um surto de amnésia: o presidiário declarou que o Brasil é governado por "um bando de maluco". E sugeriu que, depois da eleição de Jair Bolsonaro, a elite brasileira deveria fazer uma autocrítica.

As declarações soaram incompletas e cínicas. No pedaço da entrevista em que soou pela metade, Lula declarou que o país está submetido a um "bando de maluco" e esqueceu de lembrar — ou lembrou de esquecer — que a maluquice resultou de uma reação da sociedade brasileira contra o bando de ladrões que a Lava-Jato identificou nas administrações petistas.

Ainda não inventaram remédio melhor do que o voto contra doidos e larápios no poder. No trecho em que se deixou levar pelo cinismo, Lula receitou autocrítica aos outros, mas se absteve de fazer a sua própria autoanálise. Suspeita-se que o banheiro da cela especial de Curitiba não tenha um espelho. Do contrário, o preso já teria enxergado nos seu reflexo o semblante de um culpado.

Foi com o beneplácito de Lula que o PT tornou-se uma máquina coletora de propinas. Foi com o apoio de Lula que Dilma mergulhou o país na pior recessão de sua história. Foi surfando a onda do antipetismo que Bolsonaro chegou ao Planalto. O eleitor de Bolsonaro sempre poderá fazer uma autocrítica. Muitos até já fizeram. Lula não pode mais desfrutar desse privilégio. Seu caso já não é de autocrítica, mas de autópsia.

Resta saber se o PT vai sepultar o cadáver ou se vai para o buraco junto com ele.

Com Josias de Souza

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

FALTANDO 6 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO



Enquanto a gente sofre com a síndrome do macaco (para saber do que se trata, clique aqui e veja a foto no final da postagem), PT e PDT padecem da síndrome do mau perdedor. O primeiro por estar prestes a levar uma monumental lavada do PSL; o segundo por ter ficado em terceiro lugar no primeiro turno. Inconformados, ambos pleiteiam a cassação de Bolsonaro, baseados numa denúncia de que empresários teriam bancado a compra de “pacotes de disparo de mensagens pelo WhatsApp contra o PT”, que foi publicada pela Folha na semana passada.

Chega a ser hilário um pedido desses partir do PT, que sempre jogou sujo o jogo eleitoral, tanto na esfera legal quanto do ponto de vista moral. À extensa lista de infrações cometidas pela seita do inferno ao longo de três governos e meio, acrescentam-se na reta final desta campanha erros crassos equivocadamente tratados no noticiário como “estratégias”. Da insistência na candidatura falaciosa do criminoso de Garanhuns ao prosaico “Lula Livre”, do “mensalinho do Twitter — em que influenciadores foram pagos para postar loas a candidatos petistas — à retomada da programática passado, culminando com a conversão súbita ao dito pelo não dito no segundo turno, a legenda da estrela apagada só fez reforçar as razões do modelo rejeitado pelo eleitorado — que Bolsonaro soube tão bem cooptar jogando com a manipulação das emoções negativas.

Observação: Haddad afirma que está disposto a debater com Bolsonaro a qualquer momento e em qualquer lugar, mesmo numa enfermaria, e o capitão diz que “quem conversa com poste é bêbado”. A julgar pelos nível dos últimos confrontos televisivos entre João Doria e Marcio França — no da Globo o mediador chegou a dizer que esperava que ambos sobrevivessem ao programa e no da Record a baixaria foi ainda pior —, os eleitores não vão perder grande coisa, já que ninguém parece disposto a discutir programas de governo, mas apenas atacar o adversário para tentar ganhar no grito. Triste Brasil.

Na guerra generalizada de fake news, o PT é tanto vítima quanto algoz, como no caso recente em que Haddad tuitou uma informação falsa (que depois apagou) sobre suposto voto de seu adversário contra um projeto de lei envolvendo a inclusão de portadores de deficiência — e isso vários dias depois de a informação já ter sido desmentida nas mídias sociais. É nítida, portanto, a impressão de esse insurgimento do PT não passa de mera tentativa de “vencer no tapetão”, e que o PSL resolveu surfar nessa onda, vislumbrando a possibilidade — remota, mas enfim... — de anulação do primeiro turno e de um segundo pleito tendo como adversários o segundo e o terceiro colocados no sufrágio do último dia 7.

Observação: Segundo Maurício Lima publicou na seção Radar da revista Veja, o próprio Lula já admitiu abertamente a derrota na eleição. Na visão dele e da cúpula do PT, só um grande escândalo poderia mudar o resultado final. Talvez seja isso que Haddad e o PT, com uma ajudinha da Folha, estão querendo produzir com essa "denúncia".

O Ministério Público Eleitoral e a Justiça Eleitoral estão aí para receber denúncias, promover investigações e julgar os casos que chegarem à corte, mas será que há consistência na acusação envolvendo Bolsonaro, seus apoiadores e o WhatsApp? (a propósito, assistam ao vídeo no final desta postagem). Será que não faltam indícios de materialidade do suposto crime eleitoral, já que não foi apresentada comprovação de que o esquema realmente existiu, colocando em xeque a própria fundamentação da denúncia?

Na última sexta-feira, o WhatsApp cancelou as contas das agências  mencionadas na reportagem da Folha, mas não deu maiores detalhes sobre o teor dos conteúdos que foram compartilhados, o que não permite inferir se os envios eventualmente já feitos configurariam a existência de um esquema criminoso. Supondo que haja empresários pagando agências para disparar mensagens as tais mensagens, seria preciso apurar se o dinheiro vem de pessoas físicas ou jurídicas, já que empresas não podem contribuir para campanhas eleitorais, mas seus donos podem — ao menos dentro de certos limites.

A capa da Folha fala em “empresas” e o título da reportagem, em “empresários”. Apesar do uso do plural, apenas a rede de lojas Havan foi citada, e seu proprietário negou ter pago pelo envio de mensagens. Junte-se a isso o fato de a denúncia não envolver doação oficial de campanha — para caracterizar caixa 2, seria preciso comprovar que o esquema foi realizado com conhecimento ou anuência de Bolsonaro; se tiver sido fruto de iniciativa independente, tomada por apoiadores do candidato, não se pode considerá-lo doação irregular de campanha.

Supondo que se trate de uma ação individual sem o conhecimento da campanha do capitão, a resolução 23.551/2017 do TSE proíbe expressamente a compra de cadastros e pune os responsáveis pelo envio das mensagens, independentemente de terem alguma ligação formal com a campanha, mas o candidato só é responsabilizado se for comprovado seu prévio conhecimento. E se o envio de mensagens tiver usado apenas a base de dados fornecida pela própria campanha, com os números de pessoas que voluntariamente se dispuseram a informar seus dados? Mais uma vez, a reportagem diz que houve compra de cadastros, mas não apresenta provas, além do que a referida resolução do TSE não prevê todas as situações nem delimita até onde vai a liberdade individual quando se trata de ajudar um candidato.

Caberá ao MPE investigar as denúncias. Se efetivamente for possível ir além do que foi publicado até agora, amarrar todas as pontas soltas — que são muitas — e se apurar que há realmente indícios de crime eleitoral, que o caso seja levado ao TSE, a quem caberá julgar e responsabilizar os envolvidos (o que não exclui o próprio Bolsonaro). Do contrário, teremos de nos questionar se não estamos diante de mais uma tentativa petista de deslegitimar uma eleição que o PT está prestes a perder, mostrando como o discurso que tenta colocar a legenda no “campo democrático” não passa de mais um engodo do partido, que desde o início do ano vem tumultuando o processo sucessório com o (felizmente já esquecido) “eleição sem Lula é fraude”.

O TSE ficou de se pronunciar na tarde deste domingo (ontem), mas o que eu consegui apurar até a conclusão deste texto é que foi decretado sigilo no inquérito instaurado pela PF a pedido da PGR/PGE Raquel Dodge (para investigar o disparo de fake news em massa pelo WhatsApp referentes a Bolsonaro e Haddad), e que a presidente do TSE, ministra Rosa Weber, afirmou que não há “base empírica” para as “criativas teses” em mensagens de conteúdo falso que lançam suspeitas sobre o processo eleitoral. Em suas próprias palavras: “As criativas teses que intentam contra a lisura do processo eleitoral não possuem base empírica. Estão voltadas à disseminação rápida de conteúdos impactantes sem o compromisso com a verdade. A resposta da instituição, ao contrário, há de ser responsável, após análise das imputações. Reafirmo: o sistema eletrônico eleitoral é auditável. Qualquer fraude nele necessariamente deixaria digitais, permitindo a apuração das responsabilidades.”

Indagada sobre eventual falha do TSE no combate à disseminação de mensagens com conteúdo falso, Rosa Weber negou, mas ponderou que a desinformação é um fenômeno mundial para o qual não há uma solução “pronta e eficaz”. Novamente, nas palavras da presidente da Corte: “A desinformação visando minar a credibilidade da Justiça Eleitoral, a meu juízo, é intolerável e está merecendo a devida resposta. Nossa resposta está se dando tanto na área jurisdicional como também na própria área administrativa. Agora, se tiverem a solução para que se evitem ou se coíbam 'fake news', por favor, nos apresentem. Nós ainda não descobrimos o milagre.”

Eventuais novidades sobre mais esse circo mambembe serão objeto do post de amanhã, ou, em havendo relevância maior, numa postagem em edição extraordinária.


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domingo, 9 de julho de 2017

BARBAS DE MOLHO, EXCELÊNCIA!

Michel Temer bem que relutou, mas acabou voando até Hamburgo para participar da reunião do G20. Em lá chegando, sem sequer enrubescer, disse que não existe crise econômica no Brasil (talvez o jet lag lhe tenha varrido da lembrança os 14 milhões de desempregados ― que não estão aí por culpa dele, mas ainda assim estão aí).

Pelo sim ou pelo não, sua excelência preferiu voar num 767 da FAB em vez de usar o avião presidencial (que precisaria ser reabastecido no meio do caminho, tanto na ida quanto na volta). E como não é bobo nem nada, agora mais do que nunca ele precisa se manter perto do trono presidencial, sob pena de perdê-lo para o usurpador da vez ― como diz a patuleia, quem com ferro fere...

Observação: Longe de mim endossar a retórica idiota de Dilma sobre o suposto golpe de Estado que a apeou do cargo; o que eu quero dizer é que a situação de Temer fica mais delicada a cada dia que passa. Se no início da semana o Planalto tinha maioria na CCJ e no plenário da Câmara, agora o risco de não conseguir reunir os votos necessários para barrar a abertura do processo no Supremo é, no mínimo, considerável.

A questão é que, diferentemente do que afirmam o presidente e seu renomado advogado, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, a denúncia de Janot não é uma obra de ficção. Obra de ficção, isso sim, é a defesa, que tenta desqualificar a acusação e os acusadores, mas não contesta o principal.

A despeito de a conversa mantida com o moedor de carne mais bem-sucedido da galáxia deixar claro que o “homem da mala” era “pessoa de sua mais estrita confiança”, Temer agora se refere ao ex-assessor como “alguém indigno de sua confiança”. Parece ter se inspirado no amigo Gilmar Mendes, que, durante o julgamento da chapa Dilma-Temer, achou perfeitamente natural uma laranja se tornar uma banana num curto espaço de tempo ― e se a opinião a opinião pública foi incapaz de perceber essas “sutilezas”, bem, às favas a opinião pública; aos leigos não compete entender o que quer que seja, mas sim bancar a conta da putaria franciscana promovida por maus governantes e políticos corruptos.

Temer sobe o tom a cada pronunciamento, mostrando-se cada vez mais indignado com as “injustas acusações de autoridades que se acham iluminadas e tentam desmoralizar o Estado” ― como se a Presidência da República é que estivesse sendo acusada de corrupção passiva, e não o atual ocupante do cargo. Mas perdeu a oportunidade de se indignar no discurso feito no dia seguinte à delação do empresário-criminoso Joesley Batista. E tornou a desperdiçá-la no último dia 27, ao reafirmar a inexistência de provas e atacar a denúncia e o denunciante. Demais disso, Temer afirmou não saber como Deus o colocou na presidência, mas se o fez, foi para que pudesse cumprir a missão, ou algo parecido. Só faltou dizer que é “a alma viva mais honesta do Brasil” ― ou talvez não o tenha feito para não ser processado por plágio; afinal, o que ele menos precisa agora é de mais um processo na lomba.

Como advogado constitucionalista e político experiente ― egresso da Câmara, ainda que frequentador assíduo dos últimos lugares nas listas de votação em São Paulo ―, Temer sabe muito bem que o que se discute na CCJ da Câmara é a admissibilidade da abertura do inquérito no STF, e que não compete aos parlamentares julgá-lo criminalmente, e sim autorizar ou não o Supremo a fazê-lo. Caso autorizem, as provas surgirão no decorrer da instrução processual, e com base nelas os ministros decidirão se procede ou não a acusação pelo crime de corrupção passiva (vale lembrar que Janot deve apresentar mais duas denúncias, uma por obstrução de Justiça e outra por formação de organização criminosa, que serão apreciadas pela CCJ e pelo plenário da Câmara no seu devido tempo, enfraquecendo ainda mais o presidente).

Observação: Embora eu me sinta tentado a destrinchar a denúncia, fazê-lo exigiria estender este texto muito além dos limites concebíveis, de modo que deixo aqui o respectivo link; se você se interessar, é só clicar, ler o documento na íntegra e tirar suas conclusões.

O presidente deve voltar da Alemanha ainda neste sábado, pois sabe que o apoio dos parlamentares que selarão sua sorte está-se esvaindo feito fumaça ao vento. Principalmente porque está-se cristalizando entre os deputados ― aí incluídos os da base aliada ― um consenso em torno do nome de Rodrigo Maia como alternativa para subir ao trono e tocar adiante as reformas. E se o PSDB descer do muro antes da votação da primeira denúncia, ela dificilmente será rejeitada.  A expectativa é de que a votação só ocorra no mês que vem, o que dará aos tucanos tempo mais que suficiente para escolher o lado certo, ou pagarão caro por isso nas eleições do ano que vem.

Por hoje chega. Volto ao assunto na próxima postagem, a menos que algum fato ainda mais relevante se sobreponha, como a tão esperada publicação da sentença do juiz Moro no processo do tríplex do Guarujá, por exemplo.

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