Michel Temer bem que relutou, mas acabou
voando até Hamburgo para participar da reunião do
G20. Em lá chegando, sem sequer enrubescer, disse que não existe crise
econômica no Brasil (talvez o jet lag
lhe tenha varrido da lembrança os 14 milhões de desempregados ― que não estão aí por
culpa dele, mas ainda assim estão aí).
Pelo sim ou pelo não, sua excelência preferiu voar num 767 da FAB em vez de usar o avião presidencial (que precisaria ser reabastecido no meio do caminho, tanto na ida quanto na volta). E como não é bobo nem nada, agora mais do que nunca ele precisa se manter perto do trono presidencial, sob pena de perdê-lo para o usurpador da vez ― como diz a patuleia, quem com ferro fere...
Observação: Longe de mim endossar a retórica idiota de Dilma sobre o suposto golpe de Estado que a apeou do cargo; o que eu quero dizer é que a situação de Temer fica mais delicada a cada dia que passa. Se no início da semana o Planalto tinha maioria na CCJ e no plenário da Câmara, agora o risco de não conseguir reunir os votos necessários para barrar a abertura do processo no Supremo é, no mínimo, considerável.
A questão é que, diferentemente do que afirmam o presidente e seu renomado advogado, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, a denúncia de Janot não é uma obra de ficção. Obra de ficção, isso sim, é a defesa, que tenta desqualificar a acusação e os acusadores, mas não contesta o principal.
A despeito de a conversa mantida com o moedor de carne mais bem-sucedido da galáxia deixar claro que o “homem da mala” era “pessoa de sua mais estrita confiança”, Temer agora se refere ao ex-assessor como “alguém indigno de sua confiança”. Parece ter se inspirado no amigo Gilmar Mendes, que, durante o julgamento da chapa Dilma-Temer, achou perfeitamente natural uma laranja se tornar uma banana num curto espaço de tempo ― e se a opinião a opinião pública foi incapaz de perceber essas “sutilezas”, bem, às favas a opinião pública; aos leigos não compete entender o que quer que seja, mas sim bancar a conta da putaria franciscana promovida por maus governantes e políticos corruptos.
Temer sobe o tom a cada pronunciamento, mostrando-se cada vez mais indignado com as “injustas acusações de autoridades que se acham iluminadas e tentam desmoralizar o Estado” ― como se a Presidência da República é que estivesse sendo acusada de corrupção passiva, e não o atual ocupante do cargo. Mas perdeu a oportunidade de se indignar no discurso feito no dia seguinte à delação do empresário-criminoso Joesley Batista. E tornou a desperdiçá-la no último dia 27, ao reafirmar a inexistência de provas e atacar a denúncia e o denunciante. Demais disso, Temer afirmou não saber como Deus o colocou na presidência, mas se o fez, foi para que pudesse cumprir a missão, ou algo parecido. Só faltou dizer que é “a alma viva mais honesta do Brasil” ― ou talvez não o tenha feito para não ser processado por plágio; afinal, o que ele menos precisa agora é de mais um processo na lomba.
Como advogado constitucionalista e político experiente ― egresso da Câmara, ainda que frequentador assíduo dos últimos lugares nas listas de votação em São Paulo ―, Temer sabe muito bem que o que se discute na CCJ da Câmara é a admissibilidade da abertura do inquérito no STF, e que não compete aos parlamentares julgá-lo criminalmente, e sim autorizar ou não o Supremo a fazê-lo. Caso autorizem, as provas surgirão no decorrer da instrução processual, e com base nelas os ministros decidirão se procede ou não a acusação pelo crime de corrupção passiva (vale lembrar que Janot deve apresentar mais duas denúncias, uma por obstrução de Justiça e outra por formação de organização criminosa, que serão apreciadas pela CCJ e pelo plenário da Câmara no seu devido tempo, enfraquecendo ainda mais o presidente).
Observação: Embora eu me sinta tentado a destrinchar a denúncia, fazê-lo exigiria estender este texto muito além dos limites concebíveis, de modo que deixo aqui o respectivo link; se você se interessar, é só clicar, ler o documento na íntegra e tirar suas conclusões.
O presidente deve voltar da Alemanha ainda neste sábado, pois sabe que o apoio dos parlamentares que selarão sua sorte está-se esvaindo feito fumaça ao vento. Principalmente porque está-se cristalizando entre os deputados ― aí incluídos os da base aliada ― um consenso em torno do nome de Rodrigo Maia como alternativa para subir ao trono e tocar adiante as reformas. E se o PSDB descer do muro antes da votação da primeira denúncia, ela dificilmente será rejeitada. A expectativa é de que a votação só ocorra no mês que vem, o que dará aos tucanos tempo mais que suficiente para escolher o lado certo, ou pagarão caro por isso nas eleições do ano que vem.
Por hoje chega. Volto ao assunto na próxima postagem, a menos que algum fato ainda mais relevante se sobreponha, como a tão esperada publicação da sentença do juiz Moro no processo do tríplex do Guarujá, por exemplo.
Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/
Pelo sim ou pelo não, sua excelência preferiu voar num 767 da FAB em vez de usar o avião presidencial (que precisaria ser reabastecido no meio do caminho, tanto na ida quanto na volta). E como não é bobo nem nada, agora mais do que nunca ele precisa se manter perto do trono presidencial, sob pena de perdê-lo para o usurpador da vez ― como diz a patuleia, quem com ferro fere...
Observação: Longe de mim endossar a retórica idiota de Dilma sobre o suposto golpe de Estado que a apeou do cargo; o que eu quero dizer é que a situação de Temer fica mais delicada a cada dia que passa. Se no início da semana o Planalto tinha maioria na CCJ e no plenário da Câmara, agora o risco de não conseguir reunir os votos necessários para barrar a abertura do processo no Supremo é, no mínimo, considerável.
A questão é que, diferentemente do que afirmam o presidente e seu renomado advogado, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, a denúncia de Janot não é uma obra de ficção. Obra de ficção, isso sim, é a defesa, que tenta desqualificar a acusação e os acusadores, mas não contesta o principal.
A despeito de a conversa mantida com o moedor de carne mais bem-sucedido da galáxia deixar claro que o “homem da mala” era “pessoa de sua mais estrita confiança”, Temer agora se refere ao ex-assessor como “alguém indigno de sua confiança”. Parece ter se inspirado no amigo Gilmar Mendes, que, durante o julgamento da chapa Dilma-Temer, achou perfeitamente natural uma laranja se tornar uma banana num curto espaço de tempo ― e se a opinião a opinião pública foi incapaz de perceber essas “sutilezas”, bem, às favas a opinião pública; aos leigos não compete entender o que quer que seja, mas sim bancar a conta da putaria franciscana promovida por maus governantes e políticos corruptos.
Temer sobe o tom a cada pronunciamento, mostrando-se cada vez mais indignado com as “injustas acusações de autoridades que se acham iluminadas e tentam desmoralizar o Estado” ― como se a Presidência da República é que estivesse sendo acusada de corrupção passiva, e não o atual ocupante do cargo. Mas perdeu a oportunidade de se indignar no discurso feito no dia seguinte à delação do empresário-criminoso Joesley Batista. E tornou a desperdiçá-la no último dia 27, ao reafirmar a inexistência de provas e atacar a denúncia e o denunciante. Demais disso, Temer afirmou não saber como Deus o colocou na presidência, mas se o fez, foi para que pudesse cumprir a missão, ou algo parecido. Só faltou dizer que é “a alma viva mais honesta do Brasil” ― ou talvez não o tenha feito para não ser processado por plágio; afinal, o que ele menos precisa agora é de mais um processo na lomba.
Como advogado constitucionalista e político experiente ― egresso da Câmara, ainda que frequentador assíduo dos últimos lugares nas listas de votação em São Paulo ―, Temer sabe muito bem que o que se discute na CCJ da Câmara é a admissibilidade da abertura do inquérito no STF, e que não compete aos parlamentares julgá-lo criminalmente, e sim autorizar ou não o Supremo a fazê-lo. Caso autorizem, as provas surgirão no decorrer da instrução processual, e com base nelas os ministros decidirão se procede ou não a acusação pelo crime de corrupção passiva (vale lembrar que Janot deve apresentar mais duas denúncias, uma por obstrução de Justiça e outra por formação de organização criminosa, que serão apreciadas pela CCJ e pelo plenário da Câmara no seu devido tempo, enfraquecendo ainda mais o presidente).
Observação: Embora eu me sinta tentado a destrinchar a denúncia, fazê-lo exigiria estender este texto muito além dos limites concebíveis, de modo que deixo aqui o respectivo link; se você se interessar, é só clicar, ler o documento na íntegra e tirar suas conclusões.
O presidente deve voltar da Alemanha ainda neste sábado, pois sabe que o apoio dos parlamentares que selarão sua sorte está-se esvaindo feito fumaça ao vento. Principalmente porque está-se cristalizando entre os deputados ― aí incluídos os da base aliada ― um consenso em torno do nome de Rodrigo Maia como alternativa para subir ao trono e tocar adiante as reformas. E se o PSDB descer do muro antes da votação da primeira denúncia, ela dificilmente será rejeitada. A expectativa é de que a votação só ocorra no mês que vem, o que dará aos tucanos tempo mais que suficiente para escolher o lado certo, ou pagarão caro por isso nas eleições do ano que vem.
Por hoje chega. Volto ao assunto na próxima postagem, a menos que algum fato ainda mais relevante se sobreponha, como a tão esperada publicação da sentença do juiz Moro no processo do tríplex do Guarujá, por exemplo.
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