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domingo, 14 de julho de 2019

A REFORMA DA PREVIDÊNCIA E AS MORDOMIAS PARLAMENTARES



Na última quarta-feira, a Câmara aprovou em primeiro turno o texto-base da reforma previdenciária. Na noite da sexta, os deputados votaram os destaques que ampliaram as concessões a algumas categorias, reduzindo em cerca de R$ 70 bi a economia prevista inicialmente. Como o expediente dos parlamentares em Brasília vai de terça a quinta (e eles ainda têm direito a férias duas vezes por ano) a apreciação da proposta em segundo turno ficou para agosto, depois do recesso de meio de ano. A pergunta é: se o recesso começa no dia 18 de junho, por que, então, não liquidar essa fatura na semana que vem, antes das “merecidas férias”? Aliás, considerando a importância do tema em pauta, por que não adiar ou suspender o recesso?

Sabe o leitor quanto ganha um deputado? Não? Pois então anote aí: o salário dos parlamentares é de R$ 33.763, mais uma verba mensal (CEAP) para bancar despesas com passagens aéreas, telefonia, serviços postais e manutenção de escritórios de apoio — pagamento de condomínio, IPTU, seguro contra incêndio, água, luz locação de móveis e equipamentos, material de expediente, suprimentos de informática, acesso à internet, TV a cabo, licença de uso de software, assinatura de publicações, etc. Essa cota varia conforme o estado do congressista; representantes do DF recebem o menor valor — R$ 30.788,66 — e os de Roraima, o maior — R$ 45.612,53.

Os deputados também recebem R$ 106.866,59 por mês para bancar a contratação de até 25 secretários parlamentares (no gabinete ou no estado do deputado), cujos salários variam de R$ 980,98 a R$ 15.022,32 por mês. E além de um auxílio-moradia de R$ 4.253 — concedido aos parlamentares que não moram em residências funcionais em Brasília —, todos têm direito a atendimento gratuito no Departamento Médico da Câmara — benefício extensivo a familiares e dependentes elencados na declaração de imposto de renda. Para quem preferir recorrer a serviços médicos e hospitalares fora da rede do Demed, é só apresentar os comprovantes que o reembolso será efetuado.

Os nobres deputados podem solicitar a confecção de material de papelaria oficial (cartões, pastas, papel timbrado e envelopes) e a impressão de documentos e publicações. No início e no fim do mandato, eles recebem uma ajuda de custo equivalente ao valor mensal da remuneração (destinada a compensar as despesas com mudança e transporte), e o Plano de Seguridade Social dos Congressistas (Lei 9.506/97) assegura aposentadoria com proventos proporcionais ao tempo de mandato (calculados à razão de 1/35 por ano de mandato). É mole?

Como é melhor rir que chorar, segue um texto bem-humorado de Mentor Neto:

Depois das mensagens de Moro, Bolsonaro, filhos de Bolsonaro, togados supremos, deputados e senadores, o interesse por vazamentos caiu muito. O editor do Intracept estava desesperado.

­— De que adianta fazer esse fuzuê todo? Dinheiro que é bom, nada! — desabafou. Precisamos nos reinventar. Precisamos monetizar nosso negócio.

Os hackers se entreolharam, sem saber o que dizer. Foi um estagiário quem teve a sacada.

— Brasília saturou. Vamos expandir. O negócio é hackear gente comum.

A ideia se provou genial. Seu chefe é um panaca? Hackeie o WhatsApp dele (“R$ 2 mil por 15 dias ou consulte tabela”). Sua namorada está te traindo? Hackeie o Snapchat dela. (“Só R$ 500 por 7 dias. O oitavo é grátis!”). E por aí foi.

Patrícia e Geraldo tinham vida de núcleo rico de novela. Apartamento com varanda gourmet, viagem com personal shopper, SUV coreana blindada. Casamento inabalável, todo mundo dizia. Um belo dia, Patrícia acordou, pegou o iPad para ver as notícias e, mesmo sendo muito equilibrada, não conteve o calor que lhe subiu até as orelhas. Estava lá, escancarada, a foto do marido e o título: “Intracept vaza WhatsApp de Geraldo Freire”. Ele não era famoso nem nada. Mas de uns meses para cá era assim. Ninguém estava salvo. Patrícia não conseguia imaginar alguém capaz de uma maldade dessas com o marido — e com ela. Porque não há dignidade que sobreviva a um vazamento do Intracept. Ainda por cima quando vão liberando um pouco por dia. Qualquer desculpa esfarrapada de um dia não se sustenta no outro. Toda semana tem um anônimo novo com a vida devassada. Patrícia sempre acabava conhecendo alguém.

— Porque esse mundo é uma ervilha, né?

Só esse mês, no cabeleireiro, teve notícia de dois divórcios. Luciana, amiga íntima, teve as mensagens do Insta divulgadas. O marido a botou para fora de casa sem direito nem ao iPhone.

— Pede um novo para ele, safada! — gritou para o condomínio ouvir.

As conversas que vazaram eram comprometedoras demais: Luciana e um amigo do tempo de faculdade trocavam receitas de nhoque, ravióli, linguine, tudo com as respectivas fotos. Não tem casamento que resista. Mas não era hora de pensar nos outros. Patrícia olhou para o marido que dormia com seu ronronar de homem de bem. Ela não teve coragem de clicar no link. Contou para a mãe pelo Facebook.

— Coisa de amante, filha. Batata. Sempre disse para você ficar esperta. Deu nisso — respondeu.

Patrícia balançou o marido até acordá-lo. Geraldo despertou com o iPad esfregando a ponta do seu nariz. Leu o texto ainda com os olhos melados de sono. Geraldo também sabia que não existe vida após vazamento. Era só ver Brasília. Virou uma cidade fantasma. Ele se reagrupou.

— Amor, calma. Vamos superar isso juntos.

Patrícia concordou, chorando. Aquela semana seria definitiva para o casamento, para o futuro dos dois. Combinaram de ler as mensagens juntos, para que Geraldo pudesse explicar qualquer mal-entendido. E assim foi. A semana passou tensa, arrastada, discutindo a relação, é verdade, mas surpreendentemente, nenhuma mensagem comprometedora foi revelada. Patrícia mal podia conter o orgulho. Geraldo era o assunto de todas as conversas no cabeleireiro, entre as amigas e até da sogra. Vazou até a mensagem com o agente de turismo sobre hotéis em Positano, estragando a viagem surpresa para o aniversário dela. Quando acabou a semana, o casamento estava mais forte do que nunca. Ela nunca desconfiou de nada. Na segunda-feira seguinte, Geraldo pagou a outra metade do pacote Vazamento do Bem do Intracept.

— O negócio é esse mesmo! — vibrava o editor com a nova ideia do ex-estagiário, agora editor assistente — Tem que diversificar para sobreviver.

Diante dos vazamentos, poucos casamentos resistem. O de Patrícia até saiu fortalecido. Mas as mensagens sobre a viagem para a Itália estariam no contexto?

sábado, 27 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 — AMANHÃ É O DIA D (QUE DEUS NOS AJUDE)


Encerrado o incomodativo horário eleitoral obrigatório edição 2018, também eu farei um intervalo nas postagens de política. Amanhã não haverá publicação, de modo que o texto a seguir encerra os trabalhos até a próxima segunda-feira. Vamos a ele.

Nunca antes na história deste país se viu uma disputa presidencial tão pródiga em desinformação quanto a que ora chega ao fim, marcada como a mais atípica desde a redemocratização. Ao longo das sete semanas e meia desde seu início oficial, houve uma sucessão de episódios surpreendentes, como a tentativa de assassinato do líder das pesquisas e a insistência do PT em viabilizar a candidatura de um criminoso condenado e preso. Agora, faltando cerca de 48 horas do final, o candidato do PSD mantém uma vantagem considerável — os percentuais variam conforme a fonte, mas o último levantamento do Instituto Paraná Pesquisas o aponta com 60,6% e Haddad com 39,4%.

A pesquisa mostra ainda que a rejeição do capitão também ficou estável em relação ao levantamento anterior (era de 38 % e agora é de 39,4%, menor que a do adversário, que ficou em 54,5%, ante 55,2% no dia 17). O Nordeste continua sendo a única região em que o poste de Lula se sai melhor (lá, ele tem 51,9% e Bolsonaro, 35,6%).

O resultado geral mostra que o desejo de mudança e o antipetismo são os principais definidores desta eleição — 32,2% dos que dizem que votarão em Bolsonaro dizem que o farão por ele “representar a mudança”. Em segundo lugar aparece o fato de ele “ser contra Lula e o PT” (resposta de 19% dos entrevistados). Já as declarações de voto em Haddad são fundamentadas na rejeição à figura do adversário e na simpatia por Lula. Dos entrevistados que disseram que votarão no petista, 20,3% dizem que o farão “por não gostarem de Bolsonaro”. Os outros motivos apontados pelos eleitores de Haddad são a “defesa da democracia” (12,5%), “ele ser candidato do ex-presidente Lula” (12,3%), “identificação com o discurso do candidato” (7%) e “pela defesa dos direitos humanos” (4,9%).

Observação: A profusão de fake news, embora não seja exatamente novidade — nas duas últimas eleições presidenciais o PT montou amplas equipes de comunicação digital e disseminou acusações verdadeiras e falsas contra os adversários — foi levada ao paroxismo. E tudo indica que não faltarão desdobramentos, já que, fiel à sua tradição vitimista, o partido da estrela cadente entrou na Justiça com um pedido de investigação por abuso de poder econômico contra Bolsonaro (em função da denúncia veiculada pela Folha), na qual postula a anulação da eleição.

Em entrevista a José Nêumanne, a jornalista Joice Hasselmann — deputada federal mais votada de todos os tempos — disse o seguinte sobre o PT

Eles mentiam durante a campanha, mentiam na imprensa, mentiam para o mercado, mentiam para o povo e faziam negócios usando o governo como um inesgotável balcão. Defendi ininterruptamente a extinção do PT, que se mostrou uma quadrilha, e não um partido. A Lava-Jato tirou as escaras dos olhos do povo e provou que ninguém, nem mesmo o presidente de um país, está acima da lei”.

O projeto de poder do PT, adubado pelo mensalão e regado pelo petrolão, acabou sobrestado com o providencial impeachment de Dilma e repudiado nas eleições de 2016. No entanto, esse egun mal despachado nos assombrará enquanto Lula continuar a comandar o PT da carceragem da Polícia Federal em Curitiba, a despeito dos erros crassos de estratégia que ele vem cometendo, a começar pela insistência ilógica em manter sua candidatura.

Não sei se Lula achava mesmo que disputaria o pleito ou se tudo não passou de estratégia para impulsionar a transferência de votos para o poste, mas o fato é que Bolsonaro venceu em 16 estados, em 23 das 26 capitais, e no Distrito Federal — Haddad ganhou somente em 9 estados e 3 capitais (todos na região Nordeste). E ainda que o PT venha fazendo o diabo para demonizar Bolsonaro, a considerável dianteira mantida pelo capitão e o pouco tempo que falta para o segundo turno sugerem que a derrota dos vermelhos será acachapante.

Depois de passar boa parte da campanha posando de vítima de fake news, Haddad fez exatamente aquilo de que vinha acusando seu adversário. Com a cara mais deslavada do mundo, culpou Bolsonaro pela “campanha mais baixa de todos os tempos porque ele quis criar esse clima, que favorece a campanha dele”. Só não explicou se a “avalanche” inclui o PT espalhando que Bolsonaro cortaria o 13º salário e o Bolsa Famíliaque seu vice foi um torturador (com base numa declaração do cantor Geraldo Azevedo, mesmo alertado de que o general Mourão tinha 16 anos quando a suposta tortura teria ocorrido, e de Azevedo reconhecer que a acusação era falsa — Mourão já avisou que irá processar o cantor e o candidato do PT), que o PT chamou um adversário de fascista (embora tenha sido exatamente esse o termo usado numa nota contra FHC em 2001) e que não tem conhecimento do vídeo em que o deputado petista Wadih Damous fala em fechar o Supremo Tribunal Federal.

Lula, em carta divulgada no último dia 24 por sua equipe de comunicação (é espantoso que um presidiário tenha “equipe de comunicação”), exortou os partidos de centro-esquerda a se unirem numa “frente democrática” contra a “aventura fascista”. Só que não funcionou, pois quase ninguém mais acredita na narrativa em que o PT imputa os próprios pecados a seus adversários — com a possível exceção dos esquerdopatas delirantes e de parte da imprensa internacional, que continua classificando a deposição da anta vermelha como “golpe”. Sobre os resultados do primeiro turno, é curioso que veículos normalmente divergentes entre si — como The Guardian e The Economist — tenham sido unânimes em ressaltar “perigos severos à democracia”. A palavra “fascista” apareceu em publicações como Der Spiegel, e mesmo o Financial Times, que provavelmente tem a melhor cobertura do Brasil na grande imprensa internacional, disse ver na figura de Bolsonaro um “prenúncio de tempos duros”.

Outro erro de Lula, sabe-se agora, foi ter ignorado Jaques Wagner, que o aconselhou a retirar sua candidatura e apoiar Ciro Gomes. O demiurgo foi irredutível, Ciro ganhou somente no Ceará e na capital, Fortaleza, e agora Haddad está mendigando seu apoio no segundo turno.

Observação: Em 2014, Dilma foi reeleita mediante o maior estelionato eleitoral da história brasileira, apresentando ao eleitor um país das maravilhas que só existia em sua campanha milionária, financiada com dinheiro roubado da Petrobras. No contexto atual, porém, qualificar os adversários de fascistas, nazistas, racistas, misóginos e outros adjetivos que encontram morada no medo e na ignorância não surte o mesmo efeito, servindo, no máximo, para estumar a claque amestrada.

Da bolha existencial na qual se nutre de arrogância e prepotência, o PT é incapaz de fazer a autocrítica reclamada por Cid Gomes. Pelo contrário: “Não dá para o PT pedir desculpas porque [o PT] venceu”, tripudiou a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, senadora recém rebaixada a deputada federal. Mas a verdade é que partido não consegue se desvencilhar da imagem desgastada, impressa em cores vivas no imaginário dos eleitores por escândalos de corrupção e a mais severa recessão da história recente do país. Os valores do cidadão comum foram completamente ignorados por seus “governos progressistas”, gestados e apoiados pela classe “bem-pensante” de intelectuais e artistas.

O PT é como o escorpião da fábula. Em condições normais, ninguém acredita num partido que sempre agiu de forma antidemocrática e vocacionada ao crime. O cinismo da campanha de Haddad apenas exibe as vísceras de um partido que sempre agiu de forma antidemocrática e vocacionada ao crime, que ora sangra praça pública, mas que, mesmo desmascarado, insiste no erro e expõe ao constrangimento sua militância e os seus eleitores (os que ainda guardam um mínimo de dignidade). 

Tão melancolicamente quanto o governo Temer, o lulopetismo desaparecerá da política brasileira Palocci, entrará para a história como uma das maiores organizações criminosas do continente. Para o demiurgo criminoso que um dia se comparou a Jesus Cristo (detalhes mais adiante), ficam as palavras de Guimarães Rosa: “Uma coisa é pôr ideias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias… Tanta gente — dá susto de saber — nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocação de emprego, comida, saúde, riqueza…”
com a vitória do seu mais perfeito antípoda — e a depender do que vier a ser revelado pela delação de

Em algum momento da trilha para o fracasso nas urnas, o demiurgo de Garanhuns tentou promover uma espécie de evangelização de seus aliados e correligionários comparando-se a Cristo: “Jesus foi condenado à morte sem dizer uma palavra, recém-nascido. E, se o José não corre, ele tinha sido morto. E olhe que não tinha empreiteira naquele tempo, não tinha Lava-Jato”. 

Às vésperas de ser preso, a autoproclamada “alma viva mais honesta do Brasil” se autopromoveu à condição de “ideia”: “Eu não sou mais um ser humano, eu sou uma ideia misturada com as ideias de vocês. Minhas ideias já estão no ar e ninguém poderá encerrar. Vocês são milhões de Lulas”. Mas o ególatra que achou ter ascendido à dimensão divina ora encontra no extremo oposto o antagonista gestado por si próprio — embora nem Bolsonaro seja capaz de encarnar o “mito” alardeado pelo seu séquito, nem Lula de se arvorar em ente divino, como parecem crer os seguidores da seita do inferno.

Nas palavras do presidente do Ibope, somente um “tsunami” poderia impedir que Bolsonaro seja eleito presidente, . Em entrevista ao Broadcast Político/Estadão, Carlos Augusto Montenegro afirma que o cenário aponta claramente para a vitória do candidato do PSL. “A grande dúvida é qual vai ser a diferença de votos”. Mas isso saberemos amanhã à noite, depois que os eleitores escolherem se desejam “mudar tudo isso que está aí” ou se querem a volta dos “anos de ouro” do lulopetismo. 

Vote com sabedoria — ou, no mínimo, com consciência — e dando tempo e jeito, assista a este vídeo (são apenas 3 minutos):


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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 — FALTANDO DOIS DIAS PARA O SEGUNDO TURNO



Termina nesta sexta-feria a abjeta propaganda eleitoral obrigatória e depois de amanhã, a aborrecente novela eleitoral edição 2018 — a mais polarizada desde a redemocratização e com o nível da campanha em patamares abissais. 

Na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, as pesquisas apontam empate técnico entre João Doria e Márcio França, enquanto ambos disputam a tapa a preferência dos indecisos — o primeiro, com um retumbante discurso antipetista e o segundo, tentando assobiar e chupar cana, acenando para a esquerda e, ao mesmo tempo, afagando os que não querem ver o PT nem pintado.

No pleito presidencial, o Capitão Caverna — que lidera as pesquisas com 57% dos votos válidos — “joga parado” e tenta manter na coleira seus ferozes pitbulls, embora nem sempre consiga controlar a própria língua.

Atualização: Segundo pesquisa Datafolha divulgada no início da noite de ontem, Bolsonaro tem 56% das intenções de voto e Haddad, 44%. Não se sabe se essa mudança de humor do eleitorado é uma tendência ou se tem a ver com as últimas acusações contra o capitão — os entrevistados podem ter sido influenciados pelas fake news que não se confirmaram, como a acusação de que o vice do capitão seria um torturador, além do caso WhatsApp e o vídeo de Eduardo Bolsonaro falando no “fechamento do STF”. Os números do Datafolha sugerem que a diferença, que no levantamento anterior era de 18 pontos percentuais, caiu para 12, mas na prática ela era de 9 e caiu para 6, pois cada ponto que um candidato ganha, o outro perde em disputas polarizadas. Isso significa cerca de 5 milhões de votos por dia para serem revertidos, e esse feito não foi conseguido nos últimos dias.

Na última quarta-feira, os advogados do capitão pediram o arquivamento da ação aberta pelo TSE para apurar as acusações de que empresas compraram pacotes de disparos em larga escala de mensagens contra o PT e a campanha de Haddad

A alegação é que a denúncia publicada pela Folha é vazia, sem fundamento nem evidências de conduta ilegal, e que a coligação rival, por estar muito atrás nas pesquisas, tenta criar um “fato político inverídico e a partir daí produzir celeuma midiática” (segundo o Ibope/Estado/Globo, 73% dos entrevistados disseram não ter recebido críticas ou ataques a candidatos via WhatsApp na semana que antecedeu o primeiro turno).

Do outro canto do ringue, o fantoche do presidiário insiste num debate ao vivo e em cores, sem o qual, ressalta ele, esta será a primeira vez que uma eleição presidencial chega ao final sem que pelo menos um debate entre os postulantes ao Planalto seja realizado e transmitido ao vivo pela TV. 

Bolsonaro compareceu a dois debates antes do primeiro turno, mas foi alvo de um atentado e ficou hospitalizado por semanas a fio. Agora, a despeito de os médicos terem deixado a decisão a seu critério, ele se recusa estrategicamente a participar, dizendo, inclusive, que “quem conversa com poste é bêbado”. 

Salvo melhor juízo, debates são importantes quando envolvem ideias e projetos. No entanto, a julgar pelo que se viu nos embates entre os postulantes ao governo de estado, a coisa provavelmente se resumiria a uma abjeta troca de acusações e ofensas de parte a parte que não ajuda em nada o eleitor indeciso a definir seu voto. Haddad pleiteou no TSE que o debate marcado para esta sexta-feira, na Globo, fosse convertido em entrevista, mas o pedido foi negado pelo ministro Sérgio Banhos.

Fernão Lara Mesquita, em recente artigo publicado no Estadão e reproduzido no blog Vespeiro, faz uma análise lúcida da situação atual. Confira o excerto a seguir:

Sobre a semana de “Desespero” que passou, nada mais a dizer. Sobre “ameaças à democracia” no país que caminha para os finalmentes de uma lição exemplar sobre a real proporção da viagem na maionese de quem quer que acredite que pode tornar-se dono dele e ditar-lhe regras, não há mais qualquer preocupação. Arrancamo-nos do século 20 e, dele, ninguém nos pega mais. Podemos voltar a dar-nos o luxo de pensar o futuro. Mas a verdade nos libertará?

Sem dúvida, somente a verdade nos poderá libertar. Mas se será desta vez ou não que a “conheceremos”, essa é a dúvida que, resolvida a eleição, ainda remanesce. Há uma promessa de olhar para o quadrante onde os problemas de fato estão na economia e em outras vertentes não totalmente desprovidas de importância no espaço aberto entre a história real e a narrativa do drama brasileiro. Não é pouco, considerado o ineditismo e a distância que tomamos da realidade, mas é só o que há.

Atacar questões como as da Previdência e do resto do sistema de privilégios e colonização do Estado [...] é um imperativo de sobrevivência. Os 0,5% da população empregados pelo Estado, que os outros 99,5% sustentam, consomem integralmente os 40% do PIB que o Estado toma à Nação e mais o que contrata de dívida por ano nas costas dela sem nenhuma contrapartida de merecimento. [...] Os 63 mil assassinados por ano são a forma final que essa fatura assume depois de vir espalhando miséria no corpo e na alma do Brasil pelo caminho afora. Isso vai ter de parar. Vai ter de voltar para trás. Não há mais escolha.

Mas tudo isso ainda são efeitos. A causa de tudo ainda é a política. Tudo o mais que nos atropela é decorrência direta da inexistência de um sistema real de representação do País real no País oficial e da inexpugnável blindagem dos mecanismos de decisão contra qualquer interferência da massa dos excluídos, da plebe, da ralé também dita “eleitorado”. Os países são feitos para quem tem a última palavra no seu processo de tomada de decisões. E muito pouca coisa para além dessa verdade é verdade no blablablá com que nos engambelam desde Tiradentes. Existe democracia se e quando há uma ligação aferível dos representados de cada representante eleito e estes dispõem de instrumentos efetivos para impor a sua lei àqueles. É simples assim. Tem o poder quem tem o poder de demitir. É isso que decide se o país será construído pelos representantes eleitos para eles próprios e para “os seus” ou para o povo, para os eleitores.

Hoje a dúvida sobre para quem é feito o Brasil é zero. É dado à plebe, à ralé, ao eleitorado ir às urnas a cada quatro anos, como irá mais uma vez domingo, mas daí por diante e até a próxima eleição, em mais quatro anos, ele estará totalmente excluído da discussão do seu próprio destino. [...] E, no entanto, passa batida, como a expressão da mais pura verdade estabelecida, a afirmação, diariamente repetida pela situação e pela oposição e amplificada pelos “contra” e pelos “a favor”, de que tocar em qualquer desses privilégios seria “altamente impopular”. É um resumo eloquente da extensão da imunodeficiência nacional à mentira.

A mera exposição honesta e didática das parcelas que compõem a miséria do Brasil conduzirá à libertação do nó cego de mentiras que mantêm atadas as contas públicas. [...] Mas até aí estaremos falando apenas de manter viva a galinha dos ovos de ouro. E de assegurar a disputa pelo “direito” de ser o primeiro a colhê-los. O lugar de honra do panteão dos heróis da História continuará vago até que chegue quem seja honesto o bastante para fazer a reforma política que tornará impossível que, “como regra, a mentira esteja acima de tudo no nosso meio político”, seja quem for o eleito da vez para fazer o seu turno “lá”. [...] Voto distrital puro para garantir a fidelidade da representação do País real no País oficial e para tornar operacional mudar com segurança no ritmo da necessidade, direito de retomada de mandatos e referendo das leis dos Legislativos a qualquer momento para lembrar sempre quem é que manda, eleições de retenção de juízes para prevenir marchas à ré. Eis a verdade que nos libertaria.

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quinta-feira, 25 de outubro de 2018

FALTANDO 3 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO



Na mais recente pesquisa do Ibope, Bolsonaro aparece com 57% das intenções de votos válidos, o que representa uma vantagem de 14% em relação a Haddad

A redução em comparação com os números da pesquisa anterior, que está dentro da tal “margem de erro”, pode ter a ver com declarações, vídeos e “revelações polêmicas” que inundaram a mídia e as redes sociais nos últimos dias, mas também pode ser uma “acomodação de camadas”, e não o terremoto que alguns vêm alardeando. Prova disso é que os mercados financeiros têm demonstrado confiança na vitória de Bolsonaro e na expectativa de continuidade da agenda de reformas — o que levou o IBOVESPA a se firmar acima dos 85 mil pontos, além de reduzir significativamente a desvalorização do real em relação do dólar.

Na avaliação de Merval Pereira, a vantagem Bolsonaro a três dias da eleição mostra como os votos cristalizados dos dois candidatos praticamente inviabilizam uma reviravolta na reta final, a não ser que algo inacreditável aconteça. Em vez de uma bala de prata, o PT gastou várias, mas nenhuma acertou o alvo. Mesmo assim, o número de pessoas que não votariam no capitão aumentou, superando o dos que votarão com certeza. Paralelamente, a rejeição a Haddad diminuiu, ainda que a diferença esteja dentro da tal margem de erro.

O suposto escândalo das mensagens inverídicas de WhatsApp, baseado numa denúncia jornalística inepta, acabou sendo soterrado pelo próprio Haddad, que se precipitou em avalizar a denúncia de que o general Mourão, vice de Bolsonaro, teria torturado o cantor e compositor Geraldo Azevedo em 1969 — até porque, na época, Mourão tinha apenas 16 anos (aliás, o próprio Azevedo voltou atrás em sua declaração). Mas o problema causado pela denúncia da Folha não justifica os arroubos retóricos do capitão em mensagem enviada aos manifestantes na Avenida Paulista, pois revelam uma preocupante visão autoritária da relação entre a imprensa e o mandatário de um país. Aliás, o mesmo destempero acomete o presidente Trump, dos Estados Unidos, e o ex-presidente Lula, que também se valeram de sua popularidade para incitar militantes e apoiadores contra os órgãos de imprensa que os vigiam.

Os esquerdistas assumiram postura autoritária ao exigir, em discursos inflamados, não apenas a anulação da eleição, mas também a censura ao WhatsApp até o final do segundo turno. É inacreditável que o PT pleiteie medidas drásticas com  base apenas numa denúncia de jornal, sem que as autoridades abram investigações. Quando mais não seja, porque os petistas sempre desacreditaram denúncias de jornal contra os seus — principalmente contra Lula — e criticaram o que qualificaram de rito sumário das decisões da Justiça na Operação Lava-Jato. Anular uma eleição é decisão gravíssima, e que, como destacou a ministra Rosa Weber, atual presidente do TSE, não pode ser tomada fora do tempo da Justiça “que não é o tempo da política”.

Resumo da ópera; Dificilmente a diferença que separa Bolsonaro de Haddad poderia ser revertida nos poucos dias que nos separam do segundo turno, mas a redução da distância entre ambos, que pode ser confirmada ainda nesta semana pelo Datafolha, é um alerta ao futuro presidente, que, por mais votos que receba, não terá um cheque em branco da sociedade.    

Para concluir esta postagem (que a síndrome do macaco não me permite espichar demais), relembro que esta vem sendo a eleição presidencial mais polarizada da nossa história e a primeira calcada precipuamente meio virtual, ainda que a anacrônica propagando política obrigatória continue a ser veiculada. E continuará a sê-lo até a próxima sexta-feira, permitindo que os candidatos se digladiem no mar de ofensas e acusações, numa deplorável sucessão de baixarias, como as que se viram nos debates entre os postulantes ao governo do estado de São Paulo — no âmbito do governo federal, Bolsonaro preferiu administrar sua vantagem e “jogar parado” a aceitar os recorrentes desafios do preposto do criminoso de Garanhuns (dizendo até que quem conversa com poste é bêbado).

Nessa terra de ninguém, onde é quase impossível separar o joio do trigo, o Projeto Comprova vem em socorro dos eleitores, com uma equipe de jornalistas que checam a veracidade das mensagens que lhe são repassadas pelo WhatsApp 11 97795-0022, a exemplo de site como Aos Fatos, Agência Lupa e Fato ou Fake, que também buscam desmentir as fake news

Seja como for, desconfie sempre de mensagens de cunho político com linguagem sensacionalista ou abundante em adjetivos, com textos em maiúsculas e/ou que apresentem erros gramaticais excessivos, pontos de exclamação em demasia e outros indicativos de maracutaia — sobretudo quando elas vêm acompanhadas do indefectível pedido de compartilhamento.

Observação: É bom lembrar que fotos não bastam para garantir a veracidade das mensagens, pois muitos disseminadores de boatos se valem de imagens antigas, editadas, ou associam fotos e vídeos verdadeiros a informações falsas. Nesse caso, vale recorrer à ferramenta de busca reversa de imagem do Google para verificar o contexto em que a foto foi publicada. No Google Imagens, por exemplo, basta carregar um arquivo de imagem ou pesquisar pelo link da foto.

Ainda em dúvida? Anote aí alguns telefones úteis:

Estadão Verifica: (11) 99263-7900
Aos Fatos: (21) 99956-5882
Folha Informações: (11) 99490-1649
Boatos.org: (61) 99177-9164
Fato ou Fake: (21) 97305-9827

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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

A 5 DIAS DO SEGUNDO TURNO...



Reza a sabedoria popular que, para náufrago, jacaré é tronco. Essa pérola cai como uma luva para explicar a insistência de Haddad e do PT em criar factoides em busca do “grande escândalo” que, segundo Lula, seria a única maneira de evitar a derrota de seu fantoche.

A Folha deu uma mãozinha ao denunciar a compra de supostos “disparos” de fake news contra Haddad por empresas (ou empresários) que apoiam Bolsonaro, mas denunciar é uma coisa, provar é outra. Mesmo que essa história tenha repercutido, e o PT e o PSD se aproveitado dela para pedir a impugnação da candidatura do adversário, a investigação determinada pelo TSE não altera, no curto prazo, o cenário eleitoral que se vem delineando desde o primeiro turno e que tende a se consolidar no próximo domingo 28.

Até o momento não existem provas de que empresas (ou empresários, o que mudaria completamente a história, já que, dentro de certos limites, colaborações de pessoas físicas às campanhas eleitorais continuam sendo permitidas) patrocinaram os tais disparos em massa no WhatsApp, mas a petralhada mantém o tom elevado, como se o partido da estrela (cadente) fosse a quintessência da virtude, e não uma organização criminosa comandada por um apenado e integrada por Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias, Humberto Costa, Paulo Teixeira e outros que tais.

Um vídeo publicado em junho (não dias ou semanas atrás, portanto), no qual Eduardo Bolsonaro dá uma resposta infeliz a uma pergunta igualmente infeliz, ganhou vulto agora, a poucos dias do segundo turno, também impulsionado pela Folha. Diante dessa “grave ameaça às instituições”, o ministro Dias Toffoli, atual presidente do STF, afirmou em nota que um ato contra o Judiciário seria “atacar a democracia”. Na minha desvaliosa opinião, está-se  fazendo tempestade em copo d’água. Mas não vou insultar a inteligência dos leitores exaltando o óbvio, e sim convidá-los a clicar aqui para ler a nota de Toffoli, aqui para ver como se pronunciaram outros ministros da Corte, e então tirar suas próprias conclusões.

Observação: Ainda sobre o tal vídeo, talvez Jair Bolsonaro pudesse ter escolhido melhor as palavras que usou para condenar o ato de seu rebento — referir-se a  Eduardo como “garoto” e dizer que o repreendeu, tanto como filho quanto como parlamentar, não me pareceu lá muito apropriado. Já a ex-corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Eliana Calmon, também se referiu a Eduardo como “menino inconsequente e imaturo”, mas ponderou que o presidenciável não pode ser responsabilizado pela bravata do filho, e que, quando se vê qual foi o contexto à época em que foi feito, fica clara a intenção do PT de criar mais um factoide e usá-lo contra o adversário.

É oportuno lembrar que o deputado petista Wadih Damous — um daqueles que tramou a soltura de Lula durante o recesso do Judiciário — disse com todas as letras, num vídeo postado meses atrás em sua página no Facebook depois que o ministro Barroso não acolheu os recursos da defesa do ex-presidente petralha, que “tem de fechar o Supremo Tribunal Federal”.

José Dirceu — outro criminoso condenado, mas em liberdade condicional graças à ala garantista do STF — também disse recentemente que “é preciso tirar todos os poderes do Supremo”, rebatizá-lo como “Corte Constitucional”, e que “Judiciário não é poder da República, é um órgão, mas se transformou em um quarto poder; se o Judiciário assume poderes do Executivo e do Legislativo, caminhamos para o autoritarismo”.

Gleisi Hoffmann, a uma semana do julgamento de Lula no TRF-4, berrou aos quatro ventos que para Lula ser preso “vai ter que prender muita gente, vai ter que matar gente”. O próprio Lula chegou a dizer que “botaria o exército de Stedile nas ruas”, e que a mídia deveria “trabalhar” para que ele não voltasse ao poder, porque, quando voltasse, haveria regulação da imprensa (e outras bravatas que a síndrome do macaco me impede de enumerar).

Para encerrar: Segundo a revista digital Crusoé, os petistas depositam suas últimas esperanças em uma possível “onda silenciosa” de eleitores que só se manifestarão nas urnas. Essa onda seria formada por pessoas que vão votar no poste de Lula, mas teriam receio ou até vergonha de expor o voto publicamente, e por isso não aparecem nas pesquisas.

Sem  mais comentários. Que o leitor tire suas próprias conclusões.

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terça-feira, 23 de outubro de 2018

O DESESPERO DO PT A 5 DIAS DO SEGUNDO TURNO



Ao encerrar sua peregrinação pelo Nordeste, Haddad criticou a “leniência” da TSE com o suposto envio em massa de fake news anti-PT (ou a favor de Bolsonaro, o que a esta altura dá no mesmo). Até aí nenhuma surpresa: para os sectários da seita do inferno, o Judiciário só acerta quando decide a favor de Lula. Aliás, o partido da estrela cadente sempre procura pregar suas bobagens onde consegue reunir uma claque numerosa de apoiadores — como a região Nordeste, a única em que o fantoche petista foi mais votado que Bolsonaro (a não ser no Ceará, estado em que Ciro Gomes ganhou disparado, como se vê na imagem que ilustra este post).

A irresignação do PT foi prontamente apoiada pelo PDT, cujo candidato ficou em terceiro lugar no primeiro turno. Haddad chegou a dizer que “o certo seria ele e Ciro disputarem o segundo turno”, e agora busca impugnar a candidatura de Bolsonaro com base numa reportagem publicada na Folha, onde o partido vê “provas robustas do uso de cadastro sem autorização, caixa 2 de campanha e calúnia e difamação”, embora sustente até hoje que Lula foi condenado sem provas, que foi vítima de um conspiração da mídia, da Justiça e do diabo que o carregue.

Salvo melhor juízo, não existe a menor possibilidade de o TSE impugnar a candidatura de Bolsonaro a poucos dias do segundo turno, até porque é muito difícil de provar que houve abuso de poder econômico nesse caso. O fato é que Haddad está prestes a sofrer mais uma derrota acachapante — a exemplo da que sofreu quando tentou a reeleição para a prefeitura de São Paulo e perdeu para João Doria. Para náufrago, jacaré é tronco, mas se é para o poste “escolher” quem ele quer enfrentar no segundo turno, não faz sentido ter realizado o primeiro.  

Não há provas que sustentem o pedido do PT. O que se tem é uma matéria jornalística inconclusiva. A investigação aberta no TSE levará meses — senão anos — para ser concluída (basta lembrar que a ação por de abuso de poder econômico movida pelos tucanos contra a chapa Dilma/Temer em 2014 levou 3 anos para ser julgada). Ademais, a denúncia contra Bolsonaro é de que a distribuição em massa de fake news seria disparada na última semana da campanha, o que agora dificilmente aconteceria, mesmo que a acusação fosse verdadeira.

O PT, que sempre acusou o Judiciário de ser rápido no gatilho ao condenar Lula, agora pede urgência ao TSE, como se fosse razoável o Tribunal interferir na eleição presidencial a partir de meras suspeitas. Aliás, a campanha petista se baseia em tentativas de deslegitimar a do oponente, além de atribuir a Temer as mazelas geradas e paridas na gestão de Dilma, notadamente após o estelionato eleitoral que produziu sua reeleição. Isso só cola com a patuleia desvairada, mas essa não precisa ser convencidos de nada.

Observação: Criar narrativas de vitimização é uma especialidade petista que Haddad assimilou rapidamente: mesmo sendo réu por improbidade administrativa e alvo de mais de 30 inquéritos, ele fala como se fosse a Madre Teresa e seu adversário, o próprio Belzebu.

Depois de testar os limites legais e a paciência do eleitorado insistindo na candidatura de um ficha-suja e denunciando, inclusive no exterior, que “eleição sem Lula é fraude”, a seita vermelha ora lança dúvidas sobre o processo eleitoral, revelando sua natureza autoritária, que não admite oposição por se julgar dona da verdade e exclusiva intérprete das demandas populares. Sua usina de produção de narrativas parece não ter limite. A da vez é que está sendo vítima de uma “guerra suja” travada no WhatsApp e que Bolsonaro só vencerá a eleição devido às fake news, como se a rejeição ao PT e a Haddad não estivesse batendo recordes em todo o país.  

Numa campanha difamatória contra Bolsonaro, a pecedebista Manuela D’Ávila, vice do poste, compartilhou um vídeo em que dois atores, simulando um motorista dirigindo para uma “madame” preconceituosa, divulgam posições já desmentidas pelo adversário, como a de que Bolsonaro vai acabar com a licença maternidade, com o 13º, e “subir o morro atirando em todo mundo”. Sem citar diretamente o vídeo, o capitão tuitou: “Quão canalha e cara de pau alguém tem que ser pra se colocar como vítima de fake news enquanto espalha aos quatro cantos que votei contra deficientes, que vou aumentar imposto pra pobre, acabar com bolsa-família, com licença maternidade, 13° salário e mais um monte de mentiras?

Na propaganda política, Haddad tem concitado os eleitores a não votarem em seu adversário simplesmente por serem contra o PT. Só falta ele dizer qual seria a alternativa, pois todas as demais opções (que também não eram grande coisa) deixaram o palco após a apuração das urnas no último dia 7. Agora, minha gente, não adianta chorar.  
  
Sobrando tempo, assista a este clipe.

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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

FALTANDO 6 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO



Enquanto a gente sofre com a síndrome do macaco (para saber do que se trata, clique aqui e veja a foto no final da postagem), PT e PDT padecem da síndrome do mau perdedor. O primeiro por estar prestes a levar uma monumental lavada do PSL; o segundo por ter ficado em terceiro lugar no primeiro turno. Inconformados, ambos pleiteiam a cassação de Bolsonaro, baseados numa denúncia de que empresários teriam bancado a compra de “pacotes de disparo de mensagens pelo WhatsApp contra o PT”, que foi publicada pela Folha na semana passada.

Chega a ser hilário um pedido desses partir do PT, que sempre jogou sujo o jogo eleitoral, tanto na esfera legal quanto do ponto de vista moral. À extensa lista de infrações cometidas pela seita do inferno ao longo de três governos e meio, acrescentam-se na reta final desta campanha erros crassos equivocadamente tratados no noticiário como “estratégias”. Da insistência na candidatura falaciosa do criminoso de Garanhuns ao prosaico “Lula Livre”, do “mensalinho do Twitter — em que influenciadores foram pagos para postar loas a candidatos petistas — à retomada da programática passado, culminando com a conversão súbita ao dito pelo não dito no segundo turno, a legenda da estrela apagada só fez reforçar as razões do modelo rejeitado pelo eleitorado — que Bolsonaro soube tão bem cooptar jogando com a manipulação das emoções negativas.

Observação: Haddad afirma que está disposto a debater com Bolsonaro a qualquer momento e em qualquer lugar, mesmo numa enfermaria, e o capitão diz que “quem conversa com poste é bêbado”. A julgar pelos nível dos últimos confrontos televisivos entre João Doria e Marcio França — no da Globo o mediador chegou a dizer que esperava que ambos sobrevivessem ao programa e no da Record a baixaria foi ainda pior —, os eleitores não vão perder grande coisa, já que ninguém parece disposto a discutir programas de governo, mas apenas atacar o adversário para tentar ganhar no grito. Triste Brasil.

Na guerra generalizada de fake news, o PT é tanto vítima quanto algoz, como no caso recente em que Haddad tuitou uma informação falsa (que depois apagou) sobre suposto voto de seu adversário contra um projeto de lei envolvendo a inclusão de portadores de deficiência — e isso vários dias depois de a informação já ter sido desmentida nas mídias sociais. É nítida, portanto, a impressão de esse insurgimento do PT não passa de mera tentativa de “vencer no tapetão”, e que o PSL resolveu surfar nessa onda, vislumbrando a possibilidade — remota, mas enfim... — de anulação do primeiro turno e de um segundo pleito tendo como adversários o segundo e o terceiro colocados no sufrágio do último dia 7.

Observação: Segundo Maurício Lima publicou na seção Radar da revista Veja, o próprio Lula já admitiu abertamente a derrota na eleição. Na visão dele e da cúpula do PT, só um grande escândalo poderia mudar o resultado final. Talvez seja isso que Haddad e o PT, com uma ajudinha da Folha, estão querendo produzir com essa "denúncia".

O Ministério Público Eleitoral e a Justiça Eleitoral estão aí para receber denúncias, promover investigações e julgar os casos que chegarem à corte, mas será que há consistência na acusação envolvendo Bolsonaro, seus apoiadores e o WhatsApp? (a propósito, assistam ao vídeo no final desta postagem). Será que não faltam indícios de materialidade do suposto crime eleitoral, já que não foi apresentada comprovação de que o esquema realmente existiu, colocando em xeque a própria fundamentação da denúncia?

Na última sexta-feira, o WhatsApp cancelou as contas das agências  mencionadas na reportagem da Folha, mas não deu maiores detalhes sobre o teor dos conteúdos que foram compartilhados, o que não permite inferir se os envios eventualmente já feitos configurariam a existência de um esquema criminoso. Supondo que haja empresários pagando agências para disparar mensagens as tais mensagens, seria preciso apurar se o dinheiro vem de pessoas físicas ou jurídicas, já que empresas não podem contribuir para campanhas eleitorais, mas seus donos podem — ao menos dentro de certos limites.

A capa da Folha fala em “empresas” e o título da reportagem, em “empresários”. Apesar do uso do plural, apenas a rede de lojas Havan foi citada, e seu proprietário negou ter pago pelo envio de mensagens. Junte-se a isso o fato de a denúncia não envolver doação oficial de campanha — para caracterizar caixa 2, seria preciso comprovar que o esquema foi realizado com conhecimento ou anuência de Bolsonaro; se tiver sido fruto de iniciativa independente, tomada por apoiadores do candidato, não se pode considerá-lo doação irregular de campanha.

Supondo que se trate de uma ação individual sem o conhecimento da campanha do capitão, a resolução 23.551/2017 do TSE proíbe expressamente a compra de cadastros e pune os responsáveis pelo envio das mensagens, independentemente de terem alguma ligação formal com a campanha, mas o candidato só é responsabilizado se for comprovado seu prévio conhecimento. E se o envio de mensagens tiver usado apenas a base de dados fornecida pela própria campanha, com os números de pessoas que voluntariamente se dispuseram a informar seus dados? Mais uma vez, a reportagem diz que houve compra de cadastros, mas não apresenta provas, além do que a referida resolução do TSE não prevê todas as situações nem delimita até onde vai a liberdade individual quando se trata de ajudar um candidato.

Caberá ao MPE investigar as denúncias. Se efetivamente for possível ir além do que foi publicado até agora, amarrar todas as pontas soltas — que são muitas — e se apurar que há realmente indícios de crime eleitoral, que o caso seja levado ao TSE, a quem caberá julgar e responsabilizar os envolvidos (o que não exclui o próprio Bolsonaro). Do contrário, teremos de nos questionar se não estamos diante de mais uma tentativa petista de deslegitimar uma eleição que o PT está prestes a perder, mostrando como o discurso que tenta colocar a legenda no “campo democrático” não passa de mais um engodo do partido, que desde o início do ano vem tumultuando o processo sucessório com o (felizmente já esquecido) “eleição sem Lula é fraude”.

O TSE ficou de se pronunciar na tarde deste domingo (ontem), mas o que eu consegui apurar até a conclusão deste texto é que foi decretado sigilo no inquérito instaurado pela PF a pedido da PGR/PGE Raquel Dodge (para investigar o disparo de fake news em massa pelo WhatsApp referentes a Bolsonaro e Haddad), e que a presidente do TSE, ministra Rosa Weber, afirmou que não há “base empírica” para as “criativas teses” em mensagens de conteúdo falso que lançam suspeitas sobre o processo eleitoral. Em suas próprias palavras: “As criativas teses que intentam contra a lisura do processo eleitoral não possuem base empírica. Estão voltadas à disseminação rápida de conteúdos impactantes sem o compromisso com a verdade. A resposta da instituição, ao contrário, há de ser responsável, após análise das imputações. Reafirmo: o sistema eletrônico eleitoral é auditável. Qualquer fraude nele necessariamente deixaria digitais, permitindo a apuração das responsabilidades.”

Indagada sobre eventual falha do TSE no combate à disseminação de mensagens com conteúdo falso, Rosa Weber negou, mas ponderou que a desinformação é um fenômeno mundial para o qual não há uma solução “pronta e eficaz”. Novamente, nas palavras da presidente da Corte: “A desinformação visando minar a credibilidade da Justiça Eleitoral, a meu juízo, é intolerável e está merecendo a devida resposta. Nossa resposta está se dando tanto na área jurisdicional como também na própria área administrativa. Agora, se tiverem a solução para que se evitem ou se coíbam 'fake news', por favor, nos apresentem. Nós ainda não descobrimos o milagre.”

Eventuais novidades sobre mais esse circo mambembe serão objeto do post de amanhã, ou, em havendo relevância maior, numa postagem em edição extraordinária.


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domingo, 21 de outubro de 2018

A UMA SEMANA DO 2º TURNO, PT ARMA CIRCO MARAMBAIA NA JUSTIÇA ELEITORAL




SE VOCÊ AINDA NÃO PERCEBEU QUEM OS POLÍTICOS, MINISTROS DE TRIBUNAIS, GÊNIOS DOS PARTIDOS ETC. ESCOLHERAM PARA FAZER O PAPEL DE PALHAÇO NESSE PICADEIRO, OLHE-SE NO ESPELHO.

Mesmo ciente da inelegibilidade chapada de Lula, o PT levou sua candidatura adiante o quanto pode, de olho na “transferência de votos” para o (sempre negado) “plano B” — que acabou sendo Haddad devido à recusa do brioso Jaques Wagner em se prestar ao papel de fantoche). Agora, às vésperas do segundo turno, quando tudo indica que sua derrota será acachapante, a seita do inferno, rápida como um raio, se articula para melar a eleição e ganhar “no tapetão”, deslegitimando a eventual vitória de Bolsonaro mediante a acusação de que sua candidatura está sendo impulsionada nas redes sociais por organizações que atuam no “subterrâneo da internet”. Ou, nas palavras da ainda senadora Gleisi Hoffmann

Eu acuso o senhor [Bolsonaro] de patrocinar fraude nas eleições brasileiras. O senhor é responsável por fraudar esse processo eleitoral manipulando e produzindo mentiras veiculadas no submundo da internet através de esquemas de WhatsApp pagos de fora deste país. O senhor está recebendo recursos ilegais, patrocínio estrangeiro ilegal, e terá que responder por isso. (…) Quer ser presidente do Brasil através desse tipo de prática, senhor deputado Jair Bolsonaro?

Como salientou o Estadão em editorial, “se vem do PT, não pode ser casual”.

À narrativa da fraude eleitoral junta-se o esforço para que o partido se apresente ao eleitorado — e, mais do que isso, à História — como o único que defendeu a democracia e resistiu à escalada autoritária supostamente representada pela possível eleição de Bolsonaro. Esse “plano B” foi lançado quando ficou claro que a patranha lulopetista da tal “frente democrática” não enganou ninguém.

A própria ideia de formação de uma “frente democrática” é, em si, uma farsa lulopetista, destinada a dar ao partido a imagem de vanguarda da luta pela liberdade contra a “ditadura” de Bolsonaro. Tudo isso para tentar fazer os eleitores esquecerem que o PT foi o principal responsável pela brutal crise política, econômica e moral que o País ora atravessa — e da qual, nunca é demais dizer, a candidatura Bolsonaro é um dos frutos. Como os eleitores não esqueceram, conforme atesta o profundo antipetismo por trás do apoio a Bolsonaro, o partido deflagrou as denúncias de fraude contra o adversário. Aliás, o pau-mandado de Lula chegou até mesmo a mencionar a hipótese de “impugnação” da chapa de Bolsonaro por, segundo ele, promover “essa campanha de difamação tentando fraudar a eleição”.

Observação: Como é que uma frente política pode ser democrática tendo à testa o PT, partido que pretendia eternizar-se no poder por meio da corrupção e da demagogia? Como é que os petistas imaginavam ser possível atrair apoio de outros partidos uma vez que o PT jamais aceitou alianças nas quais Lula não ditasse os termos, submetendo os parceiros às pretensões hegemônicas do demiurgo que hoje cumpre pena em Curitiba por corrupção?

O PT tenta mais uma vez manter o País refém de suas manobras ao lançar dúvidas sobre o processo eleitoral, como fez ao testar os limites legais e a paciência do eleitorado sustentando a candidatura do criminoso de Garanhuns — e bom lembrar que, até bem pouco tempo atrás, o partido denunciava, inclusive no exterior, que “eleição sem Lula é fraude”. Tudo isso reafirma a natureza profundamente autoritária de um partido que não admite oposição, pois se julga dono da verdade e exclusivo intérprete das demandas populares. O clima eleitoral já não é dos melhores, e o partido ainda quer aprofundar essa atmosfera de rancor e medo ao lançar dúvidas sobre a lisura do pleito e da possível vitória de seu oponente. Mas nada disso surpreende, considerando que essa corja sempre se fortaleceu na discórdia, sem jamais reconhecer a legitimidade dos oponentes — prepotência que se manifesta agora na presunção de que milhões de eleitores incautos só votaram em Bolsonaro porque “foram manipulados fraudulentamente pelo subterrâneo da internet”.

Como vivemos no país do faz de conta, parece que essa palhaçada — a exemplo da candidatura do presidiário, a seu tempo — ainda vai dar pano pra manga. A ação movida pela coligação do PT, baseada em uma reportagem da Folha, foi distribuída e terá como relator o ministro Jorge Mussi, corregedor-geral eleitoral. Paralelamente, O PDT de Ciro Gomes ingressou com um pedido para anular o primeiro turno do das eleições (ele foi encaminhado ao corregedor-geral do TSE e tem o mesmo fundamento inicial da ação movida pelos petistas).

Tudo somado e subtraído, a ideia que fica é de que isso é coisa de mau perdedor. Resta saber como a Justiça Eleitoral se pronunciará a respeito. O pedido de cassação da chapa Dilma-Temer, apresentado pelos tucanos quando a anta vermelha derrotou o mineirinho safado por um punhado de votos, demorou mais de 3 anos para ser julgado, e o resultado foi o Circo Marimbondo montado pelo então presidente da Corte Eleitoral, ministro Gilmar Mendes. Aliás, se você não percebeu quem os políticos, ministros de tribunais, gênios dos partidos etc. escolheram para fazer o papel de palhaço nesse picadeiro, olhe-se no espelho.



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sexta-feira, 19 de outubro de 2018

ELEIÇÕES — FALTANDO 9 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO...




Antes de qualquer outra coisa, cumpre esclarecer que a charge que ilustra esta postagem nada tem a ver com o texto, mas eu simplesmente não resisti. Dito isso, vamos em frente.

Um amigo meu diz que está com a “síndrome do macaco” (vide imagem autoexplicativa no final desta postagem). Vai ver esse troço é contagioso, pois também pra mim está ficando cada vez mais difícil aturar as baixarias dessa campanha eleitoral, assistir aos debates e não perder a paciência diante da avalanche de fake news espalhadas pelos adeptos de ambos os postulantes e replicadas pelos sem-noção de plantão. Mas mais difícil ainda é escrever sobre política num momento como esse. E não por falta de assunto.

Torno a insistir que não concordo com tudo que Bolsonaro diz, mas sou totalmente avesso à volta do PT ao poder, sobretudo quando isso significaria ter no Planalto um fantoche que não é capaz de dar um arroto sem pedir autorização a um criminoso condenado e encarcerado por ter rapinado o Erário a pretexto de levar adiante seu espúrio projeto de poder. Em suma, é exatamente isso que uma eventual vitória de Haddad representaria, digam o que disserem os 30% do eleitorado que apoiam esse total desatino. Mas não adianta chorar sobre o leite derramado. A dicotomia começou por culpa vocês sabem de quem, com aquela história do nós contra eles, cresceu em progressão geométrica e contaminou inexoravelmente a sociedade como um todo e todas as esferas do poder — haja vista a cizânia que se instalou entre os membros da nossa mais alta Corte de Justiça. Daí não ter sido exatamente surpreendente o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais, no qual candidatos “mais de centro” e muito mais preparados foram preteridos pelo eleitorado. Agora é tarde, Inês é morta, e o que temos de aturar até o dia 28 é a campanha do “votem em mim não por mim mesmo, mas contra meu adversário”.

Ao PT, mergulhado até os beiços em esquemas de corrupção, resta apontar os defeitos do deputado-capitão, já que as próprias qualidades do partido caíram em descrédito — aliás, guardadas as devidas proporções, em idêntica situação se viram os advogados do ex-presidente petralha, que, sem elementos para refutar as acusações, passaram a atacar o Judiciário, mas isso é outra conversa. Sem demonstrar qualquer arrependimento de seus atos espúrios — e olha que não foram poucos —, os petistas ficaram sem o suporte de um aliado certo — o PDT de Ciro Gomes — e não conseguiram o esperado apoio de Fernando Henrique (aliás, só mesmo se o grão-tucano tivesse sangue de barata, depois de 15 anos sendo duramente criticado e responsabilizado por uma falaciosa “herança maldita” que jamais existiu fora do imaginário dar corja vermelha).

No outro canto do ringue, Bolsonaro, com uma imodéstia, digamos, desbragada, diz que já está “com uma mão na faixa”. Convém não contar com o ovo na cloaca da galinha nem cantar vitória antes da hora, mas o fato é que, a julgar pelas pesquisas e, principalmente, pelo resultado do primeiro turno (e aí não há que se falar em margem de erro, embora estejamos no Brasil, e no Brasil nem o passado é previsível), tudo indica que o prato da balança penderá para o lado do Capitão Caverna.

Observação: Para qualquer náufrago, jacaré é tronco: enquanto o fantoche do presidiário de Curitiba fez o diabo para disseminar nas redes sociais as imagens de um menino apontando e atirando contra o pai — como forma de pregar o direito à vida e exaltar o risco da morte se a política do adversário for para valer —, Bolsonaro não precisou fazer o menor esforço para impulsionar o vídeo em que Cid Gomes chama a atenção para “os babacas” do PT (se você ainda não viu, clique aqui para acessar o post onde eu o incluí; são pouco mais de 4 minutos, mas que valem cada segundo).

Para encerrar esta postagem (afinal, a “síndrome do macaco” é inclemente), transcrevo mais um texto magistral do jornalista J.R. Guzzo, cuja leitura recomendo enfaticamente:

As últimas pesquisas de “intenção de votos” que estão circulando na praça dizem, em números redondos, que Jair Bolsonaro está com cerca de 60% das preferências do eleitorado, contra 40% de Fernando Haddad. Mas esperem um momento: deve haver alguma coisa errada aí. Até às vésperas da votação do primeiro turno, todas as pesquisas (e a mídia insistia muito nesse ponto: todas as pesquisas) garantiam que Bolsonaro perderia de qualquer dos outros candidatos no segundo turno. Repetindo: de qualquer candidato

Nove em cada dez análises se fixavam na importância terminal desta informação vinda da ciência estatística. Podia se contar com diversos cenários, mas uma coisa pelo menos estava certa, acima de toda e qualquer dúvida: o candidato da direita iria perder a eleição no segundo turno, seja lá o adversário que sobrasse para a disputa com ele. Até o Meirelles? Aparentemente, não chegaram a medir a coisa nesses detalhes, mas as manchetes diziam que Bolsonaro perderia de todos os candidatos no segundo turno, e como Meirelles (ou o cabo Daciolo, ou o Boulos, ou o Amoedo, ou o Álvaro Dias etc.) eram candidatos, sempre dá para dizer, tecnicamente, que até essas nulidades ganhariam dele. Não aconteceu nada de extraordinário de lá para cá. Porque, então, as pesquisas preveem agora exatamente o oposto do que previam cinco minutos atrás?

Os institutos de pesquisa fariam uma especial gentileza ao público se explicassem, em umas poucas palavras compreensíveis, por que seus números devem ser levados a sério no segundo turno, se mostram agora o contrário do que mostravam no primeiro. Não conseguindo fazer isso, talvez ficasse mais simples dizer o seguinte às pessoas: “Esqueçam o que a gente deu no primeiro turno. Era tudo chute”. Chute ou torcida, tanto faz, porque uma coisa é tão ruim quanto a outra e, no fim das contas, nenhuma das duas será cobrada. Como sempre acontece, se Bolsonaro ganhar mesmo as eleições, os autores das pesquisas dirão que ficou provado o quanto eles acertaram — pois o resultado que costuma sobrar na memória é o último. 

Daqui a pouco, contando com esquecimento geral por parte do público, estarão propondo novas profecias para quem estiver interessado. E em 2022, ou já em 2021, prepare-se para ler que Lula está na frente de todo mundo com 50%, que Marina está subindo e Ciro Gomes começa a crescer. Bolsonaro, se for eleito agora e se candidatar à reeleição, estará com 0%. Na reta final os números serão ajustados de novo (“ocorreram mudanças no processo decisório”) e tudo continuará como sempre foi.

As pesquisas eleitorais de 2018 deixaram claro, mais que em qualquer eleição anterior, o quanto elas são incapazes de medir aquilo que está realmente na cabeça do eleitor. Foi um desastre. Dilma Rousseff foi garantida como a senadora mais votada do Brasil e ficou num quarto lugar em Minas Gerais. O senador de São Paulo Eduardo Suplicy, outro “eleito” pelas pesquisas, foi exterminado após 27 anos de Senado. Houve erros grotescos nas pesquisas para governador de Minas e Rio de Janeiro — os que acabaram colocados em primeiro lugar tinham 1% dos votos, ou nada muito diferente disso, até poucos dias antes da eleição. Geraldo Alckmin ficou com menos de 5% dos votos. Marina Silva ficou com 1%. No Nordeste, que foi citado durante seis meses seguidos como o grande celeiro de onde Lula poderia operar a sua “volta”, o PT teve 10 milhões de votos a menos que em 2014. Das sete capitais da região, perdeu em cinco.

Erros deste tamanho, por mais que os institutos neguem, são sintoma de alguma coisa profundamente errada no sistema todo. Como escrito acima, tudo isso tende a cair rapidamente no esquecimento, sobretudo porque não há paciência para ficar discutindo um assunto que não interessa mais até a próxima eleição. Mas o problema não vai sumir só porque não se falará mais nele.

As pesquisas, com certeza, não conseguiram captar as correntes que se movimentam no oceano da internet e do mundo digital como um todo. Não entenderam nada sobre o peso que as redes sociais tiveram no processo eleitoral. Seus questionários podem não estar fazendo as perguntas certas, na maneira certa, na hora e no lugar certos. Na disputa nacional, o papel da propaganda obrigatória na televisão, tido como algo sagrado, mostrou que está valendo zero — e as pesquisas não estavam preparadas para isso, nem para o efeito nulo dos “debates” entre candidatos na TV, das opiniões dos comentaristas políticos e da orientação geral da mídia.

Está surgindo um mundo novo por aí. Não será fácil para ninguém começar a entender como ele vai funcionar. Uma boa razão, portanto, para começar já o esforço.

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