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sexta-feira, 19 de outubro de 2018

ELEIÇÕES — FALTANDO 9 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO...




Antes de qualquer outra coisa, cumpre esclarecer que a charge que ilustra esta postagem nada tem a ver com o texto, mas eu simplesmente não resisti. Dito isso, vamos em frente.

Um amigo meu diz que está com a “síndrome do macaco” (vide imagem autoexplicativa no final desta postagem). Vai ver esse troço é contagioso, pois também pra mim está ficando cada vez mais difícil aturar as baixarias dessa campanha eleitoral, assistir aos debates e não perder a paciência diante da avalanche de fake news espalhadas pelos adeptos de ambos os postulantes e replicadas pelos sem-noção de plantão. Mas mais difícil ainda é escrever sobre política num momento como esse. E não por falta de assunto.

Torno a insistir que não concordo com tudo que Bolsonaro diz, mas sou totalmente avesso à volta do PT ao poder, sobretudo quando isso significaria ter no Planalto um fantoche que não é capaz de dar um arroto sem pedir autorização a um criminoso condenado e encarcerado por ter rapinado o Erário a pretexto de levar adiante seu espúrio projeto de poder. Em suma, é exatamente isso que uma eventual vitória de Haddad representaria, digam o que disserem os 30% do eleitorado que apoiam esse total desatino. Mas não adianta chorar sobre o leite derramado. A dicotomia começou por culpa vocês sabem de quem, com aquela história do nós contra eles, cresceu em progressão geométrica e contaminou inexoravelmente a sociedade como um todo e todas as esferas do poder — haja vista a cizânia que se instalou entre os membros da nossa mais alta Corte de Justiça. Daí não ter sido exatamente surpreendente o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais, no qual candidatos “mais de centro” e muito mais preparados foram preteridos pelo eleitorado. Agora é tarde, Inês é morta, e o que temos de aturar até o dia 28 é a campanha do “votem em mim não por mim mesmo, mas contra meu adversário”.

Ao PT, mergulhado até os beiços em esquemas de corrupção, resta apontar os defeitos do deputado-capitão, já que as próprias qualidades do partido caíram em descrédito — aliás, guardadas as devidas proporções, em idêntica situação se viram os advogados do ex-presidente petralha, que, sem elementos para refutar as acusações, passaram a atacar o Judiciário, mas isso é outra conversa. Sem demonstrar qualquer arrependimento de seus atos espúrios — e olha que não foram poucos —, os petistas ficaram sem o suporte de um aliado certo — o PDT de Ciro Gomes — e não conseguiram o esperado apoio de Fernando Henrique (aliás, só mesmo se o grão-tucano tivesse sangue de barata, depois de 15 anos sendo duramente criticado e responsabilizado por uma falaciosa “herança maldita” que jamais existiu fora do imaginário dar corja vermelha).

No outro canto do ringue, Bolsonaro, com uma imodéstia, digamos, desbragada, diz que já está “com uma mão na faixa”. Convém não contar com o ovo na cloaca da galinha nem cantar vitória antes da hora, mas o fato é que, a julgar pelas pesquisas e, principalmente, pelo resultado do primeiro turno (e aí não há que se falar em margem de erro, embora estejamos no Brasil, e no Brasil nem o passado é previsível), tudo indica que o prato da balança penderá para o lado do Capitão Caverna.

Observação: Para qualquer náufrago, jacaré é tronco: enquanto o fantoche do presidiário de Curitiba fez o diabo para disseminar nas redes sociais as imagens de um menino apontando e atirando contra o pai — como forma de pregar o direito à vida e exaltar o risco da morte se a política do adversário for para valer —, Bolsonaro não precisou fazer o menor esforço para impulsionar o vídeo em que Cid Gomes chama a atenção para “os babacas” do PT (se você ainda não viu, clique aqui para acessar o post onde eu o incluí; são pouco mais de 4 minutos, mas que valem cada segundo).

Para encerrar esta postagem (afinal, a “síndrome do macaco” é inclemente), transcrevo mais um texto magistral do jornalista J.R. Guzzo, cuja leitura recomendo enfaticamente:

As últimas pesquisas de “intenção de votos” que estão circulando na praça dizem, em números redondos, que Jair Bolsonaro está com cerca de 60% das preferências do eleitorado, contra 40% de Fernando Haddad. Mas esperem um momento: deve haver alguma coisa errada aí. Até às vésperas da votação do primeiro turno, todas as pesquisas (e a mídia insistia muito nesse ponto: todas as pesquisas) garantiam que Bolsonaro perderia de qualquer dos outros candidatos no segundo turno. Repetindo: de qualquer candidato

Nove em cada dez análises se fixavam na importância terminal desta informação vinda da ciência estatística. Podia se contar com diversos cenários, mas uma coisa pelo menos estava certa, acima de toda e qualquer dúvida: o candidato da direita iria perder a eleição no segundo turno, seja lá o adversário que sobrasse para a disputa com ele. Até o Meirelles? Aparentemente, não chegaram a medir a coisa nesses detalhes, mas as manchetes diziam que Bolsonaro perderia de todos os candidatos no segundo turno, e como Meirelles (ou o cabo Daciolo, ou o Boulos, ou o Amoedo, ou o Álvaro Dias etc.) eram candidatos, sempre dá para dizer, tecnicamente, que até essas nulidades ganhariam dele. Não aconteceu nada de extraordinário de lá para cá. Porque, então, as pesquisas preveem agora exatamente o oposto do que previam cinco minutos atrás?

Os institutos de pesquisa fariam uma especial gentileza ao público se explicassem, em umas poucas palavras compreensíveis, por que seus números devem ser levados a sério no segundo turno, se mostram agora o contrário do que mostravam no primeiro. Não conseguindo fazer isso, talvez ficasse mais simples dizer o seguinte às pessoas: “Esqueçam o que a gente deu no primeiro turno. Era tudo chute”. Chute ou torcida, tanto faz, porque uma coisa é tão ruim quanto a outra e, no fim das contas, nenhuma das duas será cobrada. Como sempre acontece, se Bolsonaro ganhar mesmo as eleições, os autores das pesquisas dirão que ficou provado o quanto eles acertaram — pois o resultado que costuma sobrar na memória é o último. 

Daqui a pouco, contando com esquecimento geral por parte do público, estarão propondo novas profecias para quem estiver interessado. E em 2022, ou já em 2021, prepare-se para ler que Lula está na frente de todo mundo com 50%, que Marina está subindo e Ciro Gomes começa a crescer. Bolsonaro, se for eleito agora e se candidatar à reeleição, estará com 0%. Na reta final os números serão ajustados de novo (“ocorreram mudanças no processo decisório”) e tudo continuará como sempre foi.

As pesquisas eleitorais de 2018 deixaram claro, mais que em qualquer eleição anterior, o quanto elas são incapazes de medir aquilo que está realmente na cabeça do eleitor. Foi um desastre. Dilma Rousseff foi garantida como a senadora mais votada do Brasil e ficou num quarto lugar em Minas Gerais. O senador de São Paulo Eduardo Suplicy, outro “eleito” pelas pesquisas, foi exterminado após 27 anos de Senado. Houve erros grotescos nas pesquisas para governador de Minas e Rio de Janeiro — os que acabaram colocados em primeiro lugar tinham 1% dos votos, ou nada muito diferente disso, até poucos dias antes da eleição. Geraldo Alckmin ficou com menos de 5% dos votos. Marina Silva ficou com 1%. No Nordeste, que foi citado durante seis meses seguidos como o grande celeiro de onde Lula poderia operar a sua “volta”, o PT teve 10 milhões de votos a menos que em 2014. Das sete capitais da região, perdeu em cinco.

Erros deste tamanho, por mais que os institutos neguem, são sintoma de alguma coisa profundamente errada no sistema todo. Como escrito acima, tudo isso tende a cair rapidamente no esquecimento, sobretudo porque não há paciência para ficar discutindo um assunto que não interessa mais até a próxima eleição. Mas o problema não vai sumir só porque não se falará mais nele.

As pesquisas, com certeza, não conseguiram captar as correntes que se movimentam no oceano da internet e do mundo digital como um todo. Não entenderam nada sobre o peso que as redes sociais tiveram no processo eleitoral. Seus questionários podem não estar fazendo as perguntas certas, na maneira certa, na hora e no lugar certos. Na disputa nacional, o papel da propaganda obrigatória na televisão, tido como algo sagrado, mostrou que está valendo zero — e as pesquisas não estavam preparadas para isso, nem para o efeito nulo dos “debates” entre candidatos na TV, das opiniões dos comentaristas políticos e da orientação geral da mídia.

Está surgindo um mundo novo por aí. Não será fácil para ninguém começar a entender como ele vai funcionar. Uma boa razão, portanto, para começar já o esforço.

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