Na última quarta-feira, a Câmara aprovou em primeiro turno o
texto-base da reforma previdenciária. Na noite da sexta, os deputados votaram os destaques
que ampliaram as concessões a algumas categorias, reduzindo em cerca de R$ 70 bi a economia prevista
inicialmente. Como o expediente dos parlamentares em Brasília vai de terça a quinta (e eles ainda têm direito a férias duas vezes por ano) a apreciação da proposta em segundo turno ficou para
agosto, depois do recesso de meio de ano. A pergunta é: se o recesso começa no
dia 18 de junho, por que, então, não liquidar essa fatura na semana que vem, antes das “merecidas férias”? Aliás, considerando a importância do tema em pauta, por
que não adiar ou suspender o recesso?
Sabe o leitor quanto ganha um deputado? Não? Pois então anote aí: o salário dos parlamentares é de R$ 33.763, mais uma verba mensal (CEAP) para bancar despesas com passagens aéreas, telefonia, serviços postais e manutenção de escritórios de apoio — pagamento de condomínio, IPTU, seguro contra incêndio, água, luz locação de móveis e equipamentos, material de expediente, suprimentos de informática, acesso à internet, TV a cabo, licença de uso de software, assinatura de publicações, etc. Essa cota varia conforme o estado do congressista; representantes do DF recebem o menor valor — R$ 30.788,66 — e os de Roraima, o maior — R$ 45.612,53.
Sabe o leitor quanto ganha um deputado? Não? Pois então anote aí: o salário dos parlamentares é de R$ 33.763, mais uma verba mensal (CEAP) para bancar despesas com passagens aéreas, telefonia, serviços postais e manutenção de escritórios de apoio — pagamento de condomínio, IPTU, seguro contra incêndio, água, luz locação de móveis e equipamentos, material de expediente, suprimentos de informática, acesso à internet, TV a cabo, licença de uso de software, assinatura de publicações, etc. Essa cota varia conforme o estado do congressista; representantes do DF recebem o menor valor — R$ 30.788,66 — e os de Roraima, o maior — R$ 45.612,53.
Os deputados também recebem R$ 106.866,59 por mês para
bancar a contratação de até 25 secretários parlamentares (no gabinete ou no estado do deputado), cujos salários variam de R$ 980,98 a R$ 15.022,32 por mês. E além de um auxílio-moradia de R$ 4.253 — concedido aos
parlamentares que não moram em residências funcionais em Brasília —, todos têm
direito a atendimento gratuito no Departamento Médico da Câmara — benefício extensivo a
familiares e dependentes elencados na declaração de imposto de renda. Para quem preferir recorrer a serviços médicos e hospitalares fora da
rede do Demed, é só apresentar os comprovantes que o reembolso será efetuado.
Os nobres deputados podem solicitar a confecção de
material de papelaria oficial (cartões, pastas, papel timbrado e envelopes) e a
impressão de documentos e publicações. No início e no fim do mandato, eles recebem uma ajuda de custo equivalente ao valor mensal da remuneração (destinada
a compensar as despesas com mudança e transporte), e o Plano de Seguridade
Social dos Congressistas (Lei 9.506/97) assegura aposentadoria com proventos
proporcionais ao tempo de mandato (calculados à razão de 1/35 por ano de
mandato). É mole?
Como é melhor rir que chorar, segue um texto bem-humorado
de Mentor Neto:
Depois das mensagens de Moro,
Bolsonaro, filhos de Bolsonaro, togados supremos, deputados
e senadores, o interesse por vazamentos caiu muito. O editor do Intracept estava desesperado.
— De que adianta fazer esse fuzuê todo? Dinheiro que é bom,
nada! — desabafou. Precisamos nos reinventar. Precisamos monetizar nosso
negócio.
Os hackers se entreolharam, sem saber o que dizer. Foi um
estagiário quem teve a sacada.
— Brasília saturou. Vamos expandir. O negócio é hackear
gente comum.
A ideia se provou genial. Seu chefe é um panaca? Hackeie o
WhatsApp dele (“R$ 2 mil por 15 dias ou consulte tabela”). Sua namorada está te
traindo? Hackeie o Snapchat dela. (“Só R$ 500 por 7 dias. O oitavo é grátis!”).
E por aí foi.
Patrícia e Geraldo tinham vida de núcleo rico de
novela. Apartamento com varanda gourmet, viagem com personal shopper, SUV
coreana blindada. Casamento inabalável, todo mundo dizia. Um belo dia, Patrícia
acordou, pegou o iPad para ver as notícias e, mesmo sendo muito equilibrada,
não conteve o calor que lhe subiu até as orelhas. Estava lá, escancarada, a
foto do marido e o título: “Intracept
vaza WhatsApp de Geraldo Freire”. Ele não era famoso nem nada. Mas de uns
meses para cá era assim. Ninguém estava salvo. Patrícia não conseguia imaginar alguém capaz de uma maldade dessas
com o marido — e com ela. Porque não há dignidade que sobreviva a um vazamento
do Intracept. Ainda por cima quando
vão liberando um pouco por dia. Qualquer desculpa esfarrapada de um dia não se
sustenta no outro. Toda semana tem um anônimo novo com a vida devassada. Patrícia sempre acabava conhecendo
alguém.
— Porque esse mundo é uma ervilha, né?
Só esse mês, no cabeleireiro, teve notícia de dois
divórcios. Luciana, amiga íntima,
teve as mensagens do Insta divulgadas. O marido a botou para fora de casa sem
direito nem ao iPhone.
— Pede um novo para ele, safada! — gritou para o condomínio
ouvir.
As conversas que vazaram eram comprometedoras demais: Luciana e um amigo do tempo de
faculdade trocavam receitas de nhoque, ravióli, linguine, tudo com as
respectivas fotos. Não tem casamento que resista. Mas não era hora de pensar nos outros. Patrícia olhou para o marido que dormia com seu ronronar de homem
de bem. Ela não teve coragem de clicar no link. Contou para a mãe pelo Facebook.
— Coisa de amante, filha. Batata. Sempre disse para você
ficar esperta. Deu nisso — respondeu.
Patrícia balançou
o marido até acordá-lo. Geraldo
despertou com o iPad esfregando a ponta do seu nariz. Leu o texto ainda com os
olhos melados de sono. Geraldo
também sabia que não existe vida após vazamento. Era só ver Brasília. Virou uma
cidade fantasma. Ele se reagrupou.
— Amor, calma. Vamos superar isso juntos.
Patrícia
concordou, chorando. Aquela semana seria definitiva para o casamento, para o
futuro dos dois. Combinaram de ler as mensagens juntos, para que Geraldo pudesse explicar qualquer
mal-entendido. E assim foi. A semana passou tensa, arrastada, discutindo a
relação, é verdade, mas surpreendentemente, nenhuma mensagem comprometedora foi
revelada. Patrícia mal podia conter
o orgulho. Geraldo era o assunto de
todas as conversas no cabeleireiro, entre as amigas e até da sogra. Vazou até a
mensagem com o agente de turismo sobre hotéis em Positano, estragando a viagem
surpresa para o aniversário dela. Quando acabou a semana, o casamento estava
mais forte do que nunca. Ela nunca desconfiou de nada. Na segunda-feira
seguinte, Geraldo pagou a outra
metade do pacote Vazamento do Bem do Intracept.
— O negócio é esse mesmo! — vibrava o editor com a nova
ideia do ex-estagiário, agora editor assistente — Tem que diversificar para
sobreviver.
Diante dos vazamentos, poucos casamentos resistem. O de Patrícia até saiu fortalecido. Mas as
mensagens sobre a viagem para a Itália estariam no contexto?