Amanhã, por motivos óbvios, não postarei sobre política aqui
no Blog, mas resolvi publicar uma segunda postagem neste sábado, véspera do
primeiro turno das eleições 2018.
Falando em obviedades, George
Orwell — cujo verdadeiro nome era Eric Arthur Blair (clique aqui
para saber mais sobre esse prócer da literatura inglesa) — disse que “algumas vezes o primeiro dever dos homens
inteligentes é reafirmar o óbvio”. E o óbvio a ser reafirmado é que o
perigo autoritário está na eleição do poste lulista, por mais improvável que
ela pareça neste momento.
A operação para abafar o autoritarismo de Lula, PT et caterva, afirma Mario
Sabino em mais um brilhante artigo publicado na revista digital Crusoé, sustenta-se na gritar sobre um
elogio de Jair Bolsonaro ao regime
militar de 1964 (ou “movimento”, como prefere o petista Dias Toffoli) e suas declarações idiotas ou abjetas a respeito de
minorias.
Discutir 1964, hoje, faz tanto sentido quando discutir 1910
em 1964 ou 2018 em 2072. Quanto às minorias, vale lembrar que Lula foi acusado de ser racista pela
mãe de sua filha, em 1989, exibe comportamentos sexistas e, até que o
politicamente correto se impusesse, fazia piadas sobre “veados” em público.
Presidentes com compostura e desprovidos de preconceitos são recomendáveis, mas
a falta de tais atributos não implica que tenham poder para perseguir minorias
no Brasil, porque isso atentaria contra a Constituição e o ordenamento jurídico
e causaria a repulsa imediata da sociedade.
É a mais rematada estupidez acreditar que Bolsonaro vá criar milícias para bater
em gays e humilhar negros, ou que venha a legalizar a tortura de presos ou
diminuir ainda mais os salários das mulheres. A obviedade é que, sob a batuta
dos governos corruptos e incompetentes do PT,
a criminalidade explodiu — e se continuou a bater em gays, humilhar negros,
torturar presos e a pagar salários menores a mulheres.
Outra obviedade é que, em matéria de política pública, a
prioridade para maioria e minorias é diminuir drasticamente o número de
homicídios, assaltos e furtos no país — e não vitimizar os criminosos e
criminalizar as vítimas. Alguém precisa calcular o valor do que é roubado de
pobres a cada dia — estimo que seja, ao longo de um ano, o equivalente a um
terço do PIB do Paraguai. Essa, sim, é uma abordagem social do problema. A
proteção da vida e do patrimônio de todos os cidadãos está na base dos direitos
adquiridos e daqueles a serem conquistados em quaisquer campos.
Ditas essas obviedades, passemos ao autoritarismo do plano
de governo do PT. O texto está
disponível na internet, mas pouca gente o leu, e nunca a falta do hábito de
leitura dos brasileiros foi tão perigosa. Portanto, leia. O condenado José Dirceu causou espanto ao afirmar
que se deveria tirar o poder de investigação do Ministério Público e todos os poderes do Supremo Tribunal Federal, mas consta do plano de governo “impedir
abusos” do Judiciário.
Os petistas também explicitam a intenção de amordaçar a
imprensa por meio do que chamam de “novo marco regulatório” nas comunicações.
Na economia, o projeto é destruir qualquer possibilidade de diminuir o tamanho
do Estado sustentado pelos pagadores de impostos. Pelo contrário, desejam
aumentá-lo com “desprivatizações” e, assim, gastar mais o nosso dinheiro. Até o
tabelamento de juros está previsto, de forma oblíqua, dentro da proposta geral
de repetir tudo aquilo que já mostrou dar muito errado.
O general Mourão,
vice de Bolsonaro, sugeriu uma nova
Constituição sem Assembleia Constituinte, feita por “notáveis” e aprovada por
plebiscito. Foi massacrado com razão. Lula
e seu bando de seguidores querem, no papel, fragilizar as instituições com
plebiscitos, assembleísmos e a criação de mais conselhos ideológicos. O plano
de governo do PT fala “em reforma
política com participação popular” e a “elaboração de um amplo roteiro de
debates sobre os grandes temas nacionais e sobre o formato da Constituinte”. Ou
seja, o PT quer uma nova
Constituição. Eu também, mas não a deles, que pretende promover a apropriação
indébita e completa das estruturas institucionais. O autoritarismo petista só
não foi adiante entre 2003 e 2016 porque houve resistência de parte da imprensa
e dos cidadãos — e, não menos importante, a roubalheira da tigrada
revolucionária foi descoberta a tempo de impedir a concretização do projeto de
o partido perpetuar-se no poder, fraudando eleições com dinheiro sujo. Mas, se
o poste Haddad for eleito, Lula se sentirá legitimado a tentar
colocá-lo em prática de novo. Solto, na condição de ministro ou eminência
parda, o seu primeiro objetivo será vingar-se de todos os que investigaram,
denunciaram e condenaram os crimes que cometeu — e tratar de anular a
possibilidade de que a Justiça volte a funcionar contra ele e a sua turma.
No plano de governo, o PT
não tem vergonha de mentir que o impeachment de Dilma, autora de uma gigantesca fraude fiscal para maquiar
contas públicas, foi “o golpe de 2016”, seguido da “perseguição judicial” a Lula, daí a necessidade de “refundação
democrática”. Mostra de que a organização assumiu abertamente a vigarice de que
a democracia é um valor estratégico, como sempre pensou a esquerda da esquerda
petista, e não um valor universal. José
Dirceu foi didático nesse sentido, ao afirmar que, reinstalados no
Planalto, eles tomarão o poder. Esqueçam, portanto, o “Lulinha Paz e Amor”. Se os eleitores colocarem seu fantoche no
Planalto, os petistas virão com força contra quem se opuser, já que a única
forma de sobreviverem é matando a democracia. Para isso, terão a cumplicidade
de oportunistas que a eles se aliaram na gatunagem dos mandatos passados. A vanguarda
e a retaguarda do atraso se unirão, com consequências imprevisíveis.
Karl Marx, o sapo
barbudo alemão que continua a ser usado para doutrinação nas escolas e
universidades nacionais, escreveu que “a
história se repete primeiro como tragédia e, depois, como farsa”. A
tentativa de Lula fugir para a
presidência da República por interposta pessoa inverte a frase. Ele é uma farsa que poderá se repetir como
tragédia. Ulule-se, pois, a obviedade.
Votem com sabedoria. Se isso for pedir demais, façam-no, ao menos, de forma consciente. Tenham em mente que situações desesperadoras pedem medidas extremas, e que é preciso primeiro apagar o incêndio para depois cuidar do rescaldo.
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