segunda-feira, 8 de julho de 2019

NOVAS PUBLICAÇÕES DA VAZA-JATO E OUTRAS CONSIDERAÇÕES


Em pareceria com o site ultraesquerdista de Glenn Greenwald, a Folha soltou neste domingo mais uma leva de “mensagens tóxicas” atribuídas a Sérgio Moro e procuradores da Lava-Jato. Desta vez a acusação é de que foram discutidas estratégias para vazar informações sigilosas da delação da Odebrecht sobre a Venezuela durante o recrudescimento do regime de Nicolás Maduro

Pegando carona nesse circo de horrores, o oráculo de festim Datafolha — cujas sondagens eleitorais feitas em 2018 apontavam para a vitória do fantoche de Lula sobre Bolsonaro e a eleição da ex-presidanta Dilma para o Senado por Minas Gerais — ora afirma que seus mapas astrais indicam que 58% dos entrevistados que tiveram conhecimento dos diálogos de Moro com os procuradores da Lava-Jato reprovam a conduta do hoje ministro da Justiça. Talvez as entrevistas tenham sido realizadas defronte ao Instituto Lula ou ao Sindicato dos Metalúrgicos de SBC, mas para a maioria dos analistas políticos, palpiteiros de plantão e assemelhados, os ataques a Moro fizeram crescer a sua popularidade e habilitaram-no a disputar (com chances reais de vencer) a eleição presidencial em 2020. Josias de Souza escreveu em sua coluna do último dia 2 que, ao apontar supostos excessos do ex-juiz, o PT e as legendas que gravitam na órbita de Lula ainda não notaram, mas estão fabricando um adversário político de grande potencial, criando um pesadelo do qual talvez tenham dificuldades para acordar mais tarde.

A revista Veja, que ora engrossa a ala do replicadores do material vazado pelo Intercept — proveniente de uma “fonte anônima” —, publicou na edição desta semana uma longa matéria de capa assinada por Glenn Greenwald, Edoardo Ghirotto, Fernando Molica, Leandro Resende e Roberta Paduan. Esse pool de repórteres investigativos afirma que uma nova leva de diálogos demonstram que Moro alertou Dallagnol para o fato de o MPF não ter incluído uma informação considerada importante por ele na denúncia de um réu, e a partir daí “investiga” julga e condena o procedimento do ex-juiz na condução dos processos da Lava-Jato em Curitiba.

No editorial, a revista assegura que, ao contrário daqueles que fomentam o ódio ou se aproveitam dele, seus compromissos não são com pessoas ou partidos, que sempre foi — e continua — a favor da Lava-Jato, que a luta contra a corrupção tem sido um dos pilares de sua história, mas que os diálogos publicado nessa edição violam o devido processo legal, pedra fundamental do estado de direito e, portanto, como veículo de mídia responsável, não pode apoiar posturas como essa. A meu ver, sua mudança de viés jornalístico não demora a refletir no número de assinantes — entre os quais se inclui este obscuro articula — , que tende a se igualar em breve ao de eleitores do PSTU ou do PC do B. O que é uma pena, pois Veja sempre foi implacável com os crimes cometidos por Lula e pelo PT, como comprovam as dezenas de matérias de capa publicadas ao longo das últimas décadas, sem mencionar a famosa entrevista com Pedro Collor, publicada em 1992, que foi decisiva para o impeachment do ex-caçador de marajás de araque, hoje senador pelo PTB de Alagoas, réu na Lava-Jato e aliado de Lula

Dora Kramer, cuja coluna quase sempre vale a leitura, pondera que a nova leva de mensagens “toxicas” requer uma avaliação diferenciada sobre a repercussão na decisão a ser tomada pelo STF sobre a suspeição dele no caso Lula/triplex e na reação da opinião pública. A reportagem feita em parceria com o site Intercept não “bate” da mesma maneira nesses dois ambientes. Na Justiça, pode ser que os diálogos influenciem a posição dos ministros — embora o voto do decano Celso de Mello, considerado crucial, já estivesse pronto antes da publicação desta sexta-feira, 5, sempre pode haver mudanças de posições até a decretação do resultado do julgamento. Além disso, diz Dora, a situação de Moro pode se complicar, não porque as mensagens mostrem produção de provas falsas, mas devido à evidência de que o juiz teria atuado como ministro de instrução, figura inexistente na nossa legislação.

Já na opinião pública, e aqui entramos no terreno político, nada indica que possa haver maiores danos além dos já provocados entre aqueles que questionam a posição de Moro desde que ele aceitou ser ministro da Justiça. Seu núcleo de apoiadores mais fiéis não se abala com isso. Ao contrário, ignora o valor dos ritos legais e celebra o papel de justiceiro. Esses dois agrupamentos não “conversam” entre si. 

Um Moro popular não significa um Moro imune à lei — Lula é popular e está preso com mais de dez processos nas costas. Não há, por isso, risco a “desmonte” da Lava-Jato semelhante ao que ocorreu com a operação Mãos Limpas na Itália. De certo, conclui a jornalista, temos apenas o fato de que Moro não poderá ambicionar uma vaga no STF, e que, se quiser seguir na vida pública, sua única opção é a via político-partidária-eleitoral, cujos desmandos combateu como juiz.

Vamos ver até onde essa merdeira vai chegar.