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quinta-feira, 2 de maio de 2019

LULA, VOLTAIRE, VENEZUELA E UMA PITADA DE OPINIÃO



Todos têm o direito a suas opiniões. É certo que algumas não valem sequer o trabalho de lhes dar o devido destino — que é a lata do lixo —, e que o fato de você, eu ou quem quer que seja termos nossos pontos de vista não nos dá o direito de impô-los a terceiros. 

Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las”. A dar por verdade o que informa o livro They Never Said It: A Book of Fake Quotes, Misquotes, and Misleading Attributions, Voltaire jamais proferiu essa célebre frase; ela teria sido criado pela escritora inglesa Evelyn Beatrice Hall e expressa na biografia The Friends of Voltaire, de 1906, para resumir o que o filósofo francês pensava sobre o direito de livre expressão. Eu também penso assim, mas deixo claro que defenderei o seu direito de falar o que entender até a sua morte, não a minha.

Na última quarta-feira, diante do que acontecia na Venezuela, próceres petistas do quilate da deputada Gleisi Hoffmann, presidente nacional do partido, do senador Humberto Costa, do deputado Paulo Pimenta e da secretária de Relações Internacionais Mônica Valente assinaram uma nota oficial afirmando que não há ditadura naquele país; o que há por lá é uma "tentativa de golpe levada a cabo pela oposição da direita golpista e antichavista".

Observação: Como se os blindados que atropelaram manifestantes nas ruas de Caracas fossem fruto da imaginação coletiva ou de um efeito especial produzido nos estúdios de Hollywood. Para essas sumidades, o fato de Maduro ter sido reeleito em 2018 numa votação contestada e tisnada pelas fraudes, o pleito ter sido antecipado e os principais opositores do regime, despachados para a prisão é uma questão de somenos.

Na abalizada opinião dos devotos da seita comandada pelo presidiário mais famoso do Brasil, os golpistas tentam há anos derrubar o governo democraticamente eleito do Partido Socialista Unido da Venezuela, mas fracassam por causa do apoio que Maduro e seu governo têm junto às pessoas, após anos de políticas voltadas ao bem-estar da população e contrárias à exploração imperialista e das elites locais. Essa mesma caterva — ou parte dela — repudiou a decisão do STF que reduziu a pena imposta a Lula pelo TRF-4 (de 12 anos e 1 mês para 8 anos, 10 meses 20 dias) e a cifra de 31 milhões de reais a ser paga por ele, entre multa e reparação de danos, para menos de um décimo do valor. Na visão dos esquerdopatas, a justiça só seria feita se o molusco abjeto fosse inocentado e libertado. Em nota, o comitê Lula Livre, montado para organizar a grita em favor do presidiário mais caro da história deste país, afirmou que “a única deliberação cabível era a anulação do julgamento que condenou injustamente o ex-presidente da República”, e que “de maneira combinada, fazendo vistas grossas aos fatos e às provas”, os desembargadores da 5ª Turma decidiram se manter no terreno da perseguição política”. Durma-se com um barulho desses!

Segundo a revista eletrônica Crusoé, se Lula conseguir a progressão do regime, ele e os seguidores da sua seita diabólica vão sustentar a tese de que isso se deveu à pressão popular, e que ele teria ido para a cadeia por lutar pelos menos favorecidos — e não porque, em três etapas diferentes, oito magistrados acolheram a acusação de que a empreiteira OAS reformou um apartamento de três pavimentos para o ex-presidente como compensação por vantagens que obteve em negócios com o estado. O slogan “Lula livre” ganharia novos sentidos com a mudança, por deixar a estrela petista um pouco mais perto da porta de saída da cadeia e da volta à arena política, ainda que a sentença só permita que o salafrário volte a disputar eleições em 2035, quando, se ainda andar pelo mundo dos vivos, terá 89 anos. Aliás, na entrevista que concedeu à Mônica Bergamo, da Folha, e a Florestan Fernandes Júnior, do El País, sua insolência declarou que já viveu 73, anos que poderia ter morrido no lugar do neto Artur, de 7 anos. Pois é, nisso concordamos; foi pena que... enfim.

O petralha disse que dorme todas as noites com a consciência tranquila, reafirmou sua inocência e criticou seus julgadores, em especial o procurador federal Deltan Dallagnol e o atual ministro da Justiça, Sérgio Moro. "Sei muito bem qual lugar que a história me reserva. E sei também quem estará na lixeira". Em outro trecho da entrevista, declarou que pode ficar preso cem anos (pelo visto, dentre outros desvarios o cara se acha eterno), mas "não trocará sua dignidade pela liberdade". Isso nos leva a perguntar de que dignidade estamos falando, ou por outra, que direito tem de falar em dignidade alguém que durante a ditadura militar (aquela que agora sabemos jamais ter existido) não hesitou em dedurar companheiros em benefício próprio, que como sindicalista conclamava o fim das greves após se reunir a portas fechadas com os empresários, que como presidente deste arremedo de república se serviu do cargo para se locupletar, enganando, ludibriando e mentindo a mais não poder, que institucionalizou a cleptocracia e comandou o maior esquema de corrupção da história do Brasil, Dignidade, cara-pálida? Convenhamos que temos um Judiciário medíocre — aliás, onde já se viu presidiário dar entrevista? —, mas ainda não a ponto de considerar dignidade como crime passível de reclusão

Ao comentar a entrevista de Lula aos jornais Folha de S. Paulo e El País, o jornalista,William Waack disse que, mesmo depois de um ano preso e de ter tido amplo acesso à Justiça, o ex-presidente continua repetindo o batido ramerrão de que é vítima de um complô das elites. “É a história de sempre, de ser alvo de algum sujeito oculto que o impede de, no final, cumprir sua missão quase messiânica de redentor do povo brasileiro”, afirmou. Waack também disse que, se ainda existir uma capacidade de oposição do PT, ela está no Legislativo e não nas ruas, onde o poder de mobilização do partido foi visivelmente reduzido. “A figura de Lula tem uma dimensão trágica, ele foi eleito numa onda de popularidade que coincidiu com um período na economia mundial de enorme prosperidade, o que provavelmente não se repetirá nos próximos 40 anos, mas o que o lulopetismo conseguiu foi entregar um país imerso na sua pior crise econômica e moral”.

Observação: No dia seguinte à redução da pena de Lula no STJ, o juiz federal Luiz Antônio Bonat, atual responsável pelos casos da Lava-Jato em Curitiba, deu prazo de oito dias para que defesa e acusação apresentem suas alegações finais nos recursos contra a condenação em primeira instância de Lula no processo do sítio em Atibaia, no qual o petralha foi condenado pela juíza substituta Gabriela Hardt a 12 anos e 11 meses de prisão. Com uma nova condenação em segunda instância, o réu não poderia sequer pleitear a progressão para o regime semiaberto. A fábula da pressão popular que fez o sistema lhe dar um pouco mais de liberdade cairia por terra, e o movimento “Lula livre” deixaria de ser um brado de que ele estaria se preparando para voltar à arena política, para continuar a ser o slogan repetido pela vigília montada nos arredores da Superintendência da PF em Curitiba. E, se entoado em debates políticos onde não houvesse apenas militantes do PT, sempre haverá o risco de alguém repetir o que disse o senador Cid Gomes no segundo turno da campanha do ano passado, quando foi vaiado ao pedir mais reflexão aos petistas: “Lula está preso, babaca.

Quando questionado sobre a corrupção petista, o ex-presidente presidiário respondeu: “Ela (a corrupção) pode ter havido”. Isso significa que, para ele, a condenação de alguns dos principais dirigentes petistas (inclusive do próprio Lula), de vários tesoureiros do partido e de diversos políticos que de uma forma ou de outra estavam ligados a governos petistas não é suficiente para caracterizar a corrupção petista. É difícil imaginar o que mais seria necessário para que o líder máximo do PT finalmente admitisse os crimes cometidos por ele e seus correligionários — primeiro passo para provar sua regeneração. Mas Lula ainda acha que é preciso uma “prova” e que ele seja julgado “em função das provas”. É como se os oito juízes que já o julgaram e o condenaram por unanimidade até agora, em três instâncias judiciais, fossem todos despreparados ou, pior, mancomunados para prejudicá-lo e, por extensão, aos pobres do País. Para Lula, aliás, a “farsa” de seu processo foi “montada no Departamento de Justiça dos Estados Unidos”. Com o passar do tempo, a narrativa lulopetista para as agruras do demiurgo de Garanhuns vai adquirindo contornos de fábula — ainda mais quando diz que combater a corrupção é uma marca do PT.

Lula tampouco aceita fazer qualquer reflexão sobre seus erros e os do PT, que custaram o isolamento do partido mesmo entre as esquerdas. Ao contrário: o único “erro grave” que admite ter cometido foi o de não ter feito “a regulamentação dos meios de comunicação” quando esteve no governo. Em português simples, se a imprensa tivesse sido “regulada” um eufemismo nada sutil para censura e pressão —, o parteiro do Brasil Maravilha e sua gangue não estariam sofrendo todos esses dissabores. Para Lula, é preciso “fazer uma autocrítica geral neste país”, em razão “do que aconteceu em 2018 na eleição” ou seja, quem precisa refletir sobre seus erros é o eleitor brasileiro, e não o PT. O que não pode é este país estar governado por esse bando de maluco, disse aquele que legou ao Brasil um desastre chamado Dilma Rousseff, responsável por dois anos de recessão e pelo colapso das contas públicas, e o mesmo que entregou o patrimônio nacional a quadrilhas de corruptos e a empresários desonestos.

Lula e o PT ainda são forças políticas consideráveis e poderiam ser importantes para a construção de uma oposição forte e atuante — o que é essencial ao bom funcionamento da democracia. Mas a irresponsabilidade e o espírito autoritário do lulopetismo impedem que o ex-presidente e seus devotos aceitem a democracia quando esta não lhes favorece, seja na forma do voto na urna, seja na forma de uma condenação judicial, mesmo que, em ambos os casos, tenham sido respeitados todos os trâmites estabelecidos na lei. Ao mesmo tempo que diz respeitar “o voto do povo” e que “o povo não é bom só quando vota em mim”, Lula colocou a eleição em dúvida ao dizer que foi “atípica”, pela “quantidade de mentiras” disseminadas pelos adversários como se os petistas não usassem essas mesmas armas, desde sempre. Para Lula, que fez sua carreira dividindo o País entre “nós” e “eles”, nunca se viu “o povo com tanto ódio nas ruas”. Assim, Lula continua a apostar na polarização a mesma estratégia da militância que sustenta o presidente Bolsonaro. Ou seja, os dois extremos ganham, enquanto o País perde.

Augusto Nunes pondera que, com o passar do tempo, a narrativa lulopetista para as agruras do demiurgo de Garanhuns vai adquirindo contornos de fábula. A entrevista do chefão petista — limitada pelo ministro Ricardo Lewandowski a dois veículos de comunicação — põe em dúvida a capacidade do sistema prisional de ressocializar os detentos. Mesmo depois de um ano na cadeia, o pseudo pai dos pobres deu todos os sinais de que continua o mesmo: além de não reconhecer os crimes que cometeu, julgando-se um preso político, não foi capaz de admitir sequer a participação da fina flor do lulopetismo nos maiores escândalos de corrupção da história brasileira, assim como não admitiu o envolvimento ativo do PT na ruína econômica, política e moral do País. Ou seja, é o Lula de sempre. Mas basta de falar nessa gentalha.

Voltando ao impasse na Venezuela, comungo da opinião de Merval Pereira, para quem o que está em jogo, agora, é a disputa entre Estados Unidos e Rússia. A Rússia vai tentar manter Maduro no poder porque não quer deixar um governo simpático aos Estados Unidos ser eleito; os americanos vão continuar pressionando, usando todos os meios para depor o tirante de merda do cargo. A disputa não está mais na mão de Maduro, nem de Guaidó. Mesmo que Maduro vença este primeiro movimento para derrubá-lo e mantenha o poder dos militares, como e com que dinheiro ele irá reerguer o país?

Encerro com uma publicação de Carlos Brickmann em sua coluna, sob o título “Quem ganha, quem perde”:

Guaidó, apoiado por Brasil, Estados Unidos e todos os países próximos, ou Maduro, apoiado por Cuba, Rússia e Bolívia? Para os venezuelanos, neste momento, tanto faz: se Maduro continua, mantém sua política maluca, que conseguiu a façanha de transformar um dos maiores produtores mundiais de petróleo num país onde falta tudo; se Guaidó o derruba, mesmo que melhore dramaticamente o desempenho do Governo, levará bom tempo para reerguer a economia, e nesse tempo terá de enfrentar a desconfiança da população, na qual despertou esperanças que em curto prazo não serão satisfeitas. E o confronto, quem ganha? 

Este colunista não se atreve a fazer qualquer previsão: se Maduro se manteve até agora no poder, apesar da calamitosa administração, é porque tem apoiadores fiéis; se Guaidó está solto, embora se tenha proclamado presidente da República, é porque tem apoio suficiente para que Maduro não consiga prendê-lo. A qualquer momento pode ocorrer um desfecho (ou não); não adiantaria sequer consultar uma lista de chefes militares, porque, conforme evolui a situação, muda a posição de cada chefe. Em 1964, o presidente João Goulart tinha a lealdade pétrea do general Amaury Kruel, seu amigo de longa data; e foi Kruel, em decisão de última hora, quem derrubou seu Governo (a notícia era tão improvável que os jornais a confirmaram várias vezes antes de publicá-la). Quem se diz aliado nem sempre o é. Na Venezuela, é melhor esperar mais para errar menos.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

ZERO ZERO, ZERO DOIS E A GUERRA CIVIL NA VENEZUELA



Carlos Bolsonaro, dublê de pitbull palaciano e franco-atirador das redes sociais, tuitou que o general Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, exerceu com competência máxima sua incompetência na área de comunicação ao perder as chances claríssimas de trombetear o "bom trabalho" do seu pai, embora não tenha especificado quais feitos notáveis do presidente mereceriam um rufar de tambores. 

A exemplo de Mourão, Santos Cruz não é fã de carteirinha do polemista Olavo de Carvalho, guru do clã Bolsonaro e grande herói daquele que, ao incluir outro general no seu rol de alvos, deixou claro que o tiro ao general se tornou seu esporte predileto, enquanto seu papai presidente, ao permitir que o pimpolho ocupe todos os espaços da oposição, consolida sua inequívoca vocação para um esporte ainda mais radical: o tiro no próprio pé.

A frequência com que vem interferindo na administração de estatais e bancos públicos não só causa arrepios na equipe econômica como já garantiu ao presidente-capitão o apelido nada elogioso de “Dilmo”. Menos de uma semana depois de ordenar ao Banco do Brasil a suspensão de uma peça publicitária (que custou R$ 17 milhões) e demitir o diretor de marketing da instituição, o boquirroto, visando à redução dos juros para empréstimos ao setor rural, apelou publicamente “ao coração e ao patriotismo” do presidente da instituição, que, ao ser empossado no cargo, afirmou que o banco não voltaria a ser usado para baixar artificialmente os juros, como aconteceu no governo Dilma, cujo intervencionismo levou o país para o buraco.

Para desassossego de seu ministro e da equipe econômica, Bolsonaro vem se revelando um liberal de gogó. Ao repetir no Banco do Brasil o que tentou fazer na Petrobras, o capitão derrubou o valor das ações da instituição, justificou o apelido que recebeu dos parlamentares do centrão e demonstrou ser incapaz de aprender com os próprios erros, pois imaginava-se que a tentativa atabalhoada de controlar os preços do diesel na Petrobras a golpes de gogó lhe tivesse lhe ensinado que o órgão a ser governado nas empresas — estatais ou privadas— é a cabeça, e que não se melhora um balanço com o coração. E governante que demora a perceber algo tão trivial estimula o eleitor a acreditar que a República já não precisa de um presidente, mas de um médico-legista.

Enquanto escrevo este texto (no final da tarde de terça-feira, 30), o caldeirão ferve como nunca na Venezuela. Se as imagens transmitidas pela TV não são de uma guerra civil, então eu não sei o que seriam. Graças ao bolivarianismo tão admirado por Gleisi, Haddad e outros esquerdopatas, e insuflado com dinheiro do BNDES (nosso dinheiro, portanto) durante os governos de Lula, de sua imprestável pupila e sucessora e de seu "bando de maluco", o país vizinho chegou ao ponto que chegou, e só se salvará com a queda — ou o extermínio, que assim não fica dando despesa na prisão — do ditador sanguinário que se agarra ao poder como carrapato em lombo de boi. Que Maduro caia rápida e definitivamente, livrando a América Latina de mais essa aberração populista de esquerda.

O Planalto, que foi pego de surpresa pelos acontecimentos (pelo menos, foi essa a impressão que deu), afirmou que o desfecho do imbróglio depende do comportamento das Forças Armadas. A sensação de que a adesão a Guaidó poderia ser mais densa foi potencializada pelas imagens em que ele se exibia ao lado de militares fardados e de outro líder oposicionista, Leopoldo López, que estava em prisão domiciliar, sob forte vigilância, desde 2014, mas a repressão que veio na sequência, com a imagem chocante de um blindado atropelando manifestantes, levou o governo brasileiro a moderar seu entusiasmo.

Segundo Josias de Souza, a impressão que vigora no momento é a de que a crise mudou de patamar, pois um pedaço da estrutura militar migrou para o lado de Guaidó. Entretanto, o Planalto concluiu que a migração pode ter relevo apenas quantitativo. Em termos qualitativos, a cúpula militar se mantém leal a Maduro. Foi essa a principal avaliação feita durante reunião de emergência convocada por Jair Bolsonaro, na manhã de ontem, para analisar o recrudescimento da crise venezuelana.

O PT sustenta em nota oficial que não há ditadura na Venezuela — os blindados que atropelaram manifestantes nas ruas de Caracas decerto são fruto de um complô de cenas irreais com as lentes das câmeras. Aos esquerdopatas fanáticos, pouco importa que Maduro tenha sido reeleito em 2018 numa votação contestada e tisnada pelas fraudes, que o pleito foi antecipado e os principais opositores do regime, acomodados na cadeia. Para eles, o que houve foi uma "tentativa de golpe levada a cabo pela oposição da direita golpista e antichavista." A cúpula militar que segura Maduro no poder para salvar seus privilégios talvez seja fruto de alucinação coletiva.

Na avaliação imprestável dos seguidores da seita do inferno e postulantes do Lula-Livre, os golpistas "tentam há anos derrubar o governo democraticamente eleito do Partido Socialista Unido da Venezuela", mas fracassam por causa do "apoio que o partido e seu governo têm junto às pessoas, após anos de políticas voltadas ao bem-estar da população e contrárias à exploração imperialista e das elites locais." A miséria, a hiperinflação, os milhões de venezuelanos fugindo do país… Tudo isso é efeito especial produzido pelo império nos estúdios de Hollywood. 

A certa altura, a nota faz uma concessão à realidade, admitindo a existência de "problemas" na Venezuela. O texto não especifica as encrencas, mas apresenta a solução: basta "levantar o embargo econômico internacional de que o país e, principalmente, sua população, são vítimas." Para que a coisa funcione, o PT ensina que "é importante que as forças democráticas busquem o caminho do diálogo e levem em consideração a vontade expressa no voto popular." Diante dessa conjuntura, o PT precisa definir o que entende por "vontade popular". Refere-se aos anseios das urnas fraudadas ou ao desejo das ruas sublevadas e das legiões que fogem do inferno e buscam refúgio em países vizinhos?

Sem rumo, com seu principal líder na cadeia e com um inimigo no Planalto, o PT enfiou-se em algo muito parecido com um buraco. A legenda podia celebrar o fato de que, pelo menos, ainda não havia terra em cima. Mas a nota sobre a Venezuela revela a existência de um plano secreto do petismo: a organização do próprio funeral. Assinam a nota do PT quatro coveiros: a presidente Gleisi Hoffmann; os líderes Humberto Costa (Senado) e Paulo Pimenta (Câmara) e a secretária de Relações Internacionais Mônica Valente.

Para o deputado federal Rubens Bueno, membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e que é contra uma intervenção militar no país vizinho, o Brasil e a grande maioria das democracias do mundo vêm defendendo a saída de Maduro do poder. De acordo com o parlamentar, "Maduro insiste em manter sua ditadura, fraudou todas as últimas eleições, mergulhou o país na mais grave crise econômica de sua história e agora quer jogar o país em uma guerra civil. Nós reconhecemos a legitimidade de Guaidó para promover a retomada da democracia na Venezuela e repudiamos a postura de Maduro de atacar seu próprio povo. O que acontece hoje naquele país é uma revolta contra um governo déspota. Sempre defendemos uma saída negociada para a crise, com a convocação de novas eleições. Pelo que estamos assistindo, a população cansou de esperar. É lamentável que Maduro continue resistindo e levando o país a um caos generalizado". Há como discordar?

O líder da oposição e autoproclamado presidente interino da Venezuela fez um novo apelo para que as pessoas saiam às ruas para protestar neste feriado mundial de 1 de maio. Segundo Guaidó, hoje é a “fase definitiva da Operação Liberdade”. Vamos continuar acompanhado e torcendo para que Maduro, o tiranete de merda, seja devidamente despachado para o quinto dos infernos. E Lula lá.

domingo, 3 de março de 2019

SOBRE O PT E A VENEZUELA



Em certas horas, como agora, é realmente um alívio lembrar que o presidente da República não é Fernando Haddad.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, na guerra que vem travando contra a maioria da população do seu próprio país, fechou as fronteiras com o Brasil e a Colômbia para não deixar que os venezuelanos recebam alimentos, remédios e outros artigos de primeiríssima necessidade.

É um novo patamar, ao que parece, em matéria de brutalidade. Da mesma maneira que um exército trata de cortar todos os possíveis suprimentos da força inimiga, os militares, as “milícias” armadas e os outros gangsteres que mandam hoje na Venezuela acham que quanto mais fome, doença e calamidades os venezuelanos sofrerem, mais fraca vai ficar a oposição. Pode ser. Pode não ser. O fato é que o governo do Brasil estaria dando apoio pleno a Maduro se o resultado do segundo turno da eleição tivesse sido o contrário do que foi.

Muito se ouviu falar da situação perigosíssima que teria sido criada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro — que antes mesmo de ser eleito já se declarava absolutamente contra a ditadura venezuelana. De lá para cá, pelo menos 50 outros países com credenciais democráticas acima de qualquer discussão tomaram a mesma decisão Maduro nem sequer é mais reconhecido como o presidente legal da Venezuela. Fica difícil entender, então, porque o Brasil estaria numa situação mais segura se tivesse ficado dentro do bando de regimes fora da lei, do ponto de vista democrático, que apoia a tirania lugares como Cuba, Rússia, China e outros da mesma natureza.

A verdade é que a esquerda brasileira em geral e o PT em particular não quiseram até agora reconhecer o fato de que a Venezuela se transformou numa tirania imposta pela força bruta de um condomínio de malfeitores. (Lula chegou a dizer que o verdadeiro problema da Venezuela era ter “democracia demais”.) Por preguiça mental, covardia e simples cobiça, preferiram abraçar a mentira, sempre muito bem remunerada pelas Odebrecht da vida, de que o “bolivarianismo” era um movimento “de resistência à direita”. Daí não conseguiram sair nunca mais.

Condensação do texto de J.R. Guzzo publicado na edição impressa de Veja desta semana