O recesso parlamentar terminou oficialmente na última
quarta-feira, mas os congressistas só devem retomar suas atividades na semana que
vem — e no dia 6, pois, como se sabe, suas excelências só trabalham de segunda a
quinta.
A expectativa é de que seja dada prioridade à PEC Previdenciária, que
ainda precisa ser votada em segundo turno na Câmara e em dois turno no Senado, mas
políticos da esquerda estão mais interessados em defenestrar Bolsonaro do Palácio do Planalto.
Entre os motivos capazes, segundo essa caterva, de fundamentar o pedido na Câmara estão o uso de aeronave da FAB
para transportar familiares do Presidente ao casamento de zero três, a
exoneração de um fiscal do Ibama que multou Bolsonaro em 2012 por pesca
irregular, a infeliz declaração sobre o desaparecimento do militante de
esquerda Fernando Santa Cruz, a
alegada ameaça de prisão feita ao dono do panfleto proselitista The
Intercept e os episódios em que o capitão se referiu ao governadores
nordestinos como “paraíbas” e respondeu ironicamente às perguntas de
jornalistas sobre o massacre ocorrido durante motim em presídio do Pará.
Se o impeachment tem chances reais de prosperar, bem, cabe ao presidente da Câmara arquivar
ou dar seguimento a pedidos de impedimento do chefe do Executivo, e de bobo Rodrigo Maia não tem nada. Vale lembrar que o impeachment é um processo eminentemente político e em certa medida traumático,
sobretudo em meio a uma polarização acirrada — basta
lembrar o furdunço causado pelas "flechadas" de Janot contra o ex-presidente Temer. Outra crise daquela magnitude não faria bem nenhum ao Brasil, especialmente quando urge liquidar a novela da Reforma da
Previdência e adotar outras medidas que contribuam para o combate à
recessão e à volta do crescimento da Economia.
No Congresso, a corrente majoritária prefere esperar que a relação do
Palácio do Planalto com os parlamentares se desgaste ainda mais, mas uma
parcela da oposição entende que um pedido de impeachment na gaveta de Maia poderia servir, no mínimo, para
constranger Bolsonaro a arrefecer
seus “ímpetos autoritários”. Também pesa na discussão o fato de o vice ser Hamilton Mourão — olhando por esse ângulo,
talvez a coisa não fosse menos ruim, mas setores mais à esquerda rejeitam veementemente
o general. Para alguns, uma alternativa melhor seria o TSE cassar a chapa Bolsonaro/Mourão, já que uma investigação da denúncia
de que empresários bancaram o envio em massa de mensagens pelo WhatsApp para beneficiar a campanha de Bolsonaro vem sendo cozinhada em banho-maria naquela Corte.
Também nesse caso não custa olhar pelo retrovisor: O mesmo expediente foi tentado contra Temer, que escapou da cassação graças aos préstimos do amigo Gilmar Mendes, então presidente da nossa mais alta corte eleitoral, que transformou
o julgamento numa palhaçada
monumental (segundo se comentou à época, a absolvição se deu “por excesso de
provas”). A ministra Rosa Weber preside o TSE até maio do ano que vem, quando Luiz Roberto Barroso assumirá o posto pelo próximo biênio.