Tomada pelo câncer do “nós contra eles”, a mídia vem prestando
um desserviço à população ao divulgar os fatos não como eles são, mas como os jornalistas, redatores, editores e congêneres gostariam que eles fossem, e entregando
aos leitores, ouvintes e telespectadores ago como um "grande editorial".
Não é assim que a
banda toca — ou não deveria ser. Mas o jornalismo que preza pelo
interesse público ao reportar diversas vozes e checar informações está em
falta nos veículos de comunicação, uma vez que estes, mesmo os que se definam como "independentes", estão comprometidos com interesses comerciais ou
escusos. Isso
ficou claro ao longo da campanha presidencial (quem não se
lembra das “pesquisas” do Datafolha,
Ibope e companhia?) e ainda mais claro depois
que Jair Bolsonaro foi eleito e empossado
Presidente. A revista Veja, por
exemplo, vem se empenhando em criticar o novo governo com um afinco que deixaria a Carta Capital roxa de inveja.
Jornalismo e política estão ligados umbilicalmente desde
sempre. Em 1919, no ensaio “A política como
vocação”, Max Weber (sociólogo
alemão considerado liberal — favor não confundir com o prussiano Karl Marx) apontou a carreira jornalística como a primeira
profissão política remunerada. Mas o jornalismo de interesse público, que é
também político, precisa de independência em relação a financiadores, sejam
eles fundações, anunciantes privados ou governos, e também dos proprietários
dos veículos.
O site Renova
Mídia publicou que o blog petista Brasil 247, em artigo intitulado “Globo acusa Record de cumplicidade com esquema Bolsonaro“,
reconhece que a narrativa propagada pela esquerda brasileira é corroborada pela
Globo e pela Folha. Diz a matéria: “O
governo Bolsonaro está no centro da ofensiva da emissora dos Marinho contra a
concorrente”. [...] “a Globo está
cada vez mais distante do ‘governo de extrema-direita’, enquanto a Record e o
SBT tornaram-se as ‘emissoras extraoficiais do novo regime’”. No final do
artigo, o blog petista escreve: “No novo
cenário, a Globo e a Folha assumem, em determinados momentos, aspectos da
narrativa das mídias independentes do
país, como o 247, Fórum, DCM, Brasil de Fato, RBA entre outros.”
É curioso que o Brasil
247 se diz “independente”, mas um despacho
do ex-juiz Sergio Moro mostra que não é bem assim. A Editora 247, representada pelo
jornalista Leonardo Atuch — que
também edita o site Brasil 247 —, recebeu, a pedido do ex-tesoureiro do PT
João Vaccari Neto, pelo menos R$ 180 mil do esquema do Petrolão.
Segundo Milton Pascovitch, um dos
delatores da Lava-Jato, o valor foi
pago apenas para conferir legalidade ao apoio que o PT dava ao blog de Atuch.
Mudando de pato pra ganso: No Rio de Janeiro, 27
dos 70 deputados da Alerj são investigados na área cível por
improbidade administrativa. A lista conta ainda com 75 assessores que tiveram movimentação bancária muito acima do que
recebem ou recebiam. Em novembro passado, quando a PF cumpriu 22 mandados de prisão em um desdobramento da Lava-Jato, 7 deputados foram presos
e outros três que já estavam na cadeia tiveram outros mandados cumpridos.
Esses dados não chegam a surpreender em se tratando de um país onde, nos anos 1950, o bordão “rouba mas
faz” era repetido pelos cabos eleitorais do folclórico Adhemar de Barros, visando neutralizar os adversários que o
acusavam de ser ladrão. Em vez de negar as acusações, os ademaristas afirmavam
que o político ladrão era um “fazedor”, e que, se roubava, ora, quem se importava? O mesmo argumento funcionou também com Paulo
Maluf, hoje condenado em a 7 anos e fumaça
de prisão, mas agraciado pelo ministro supremo Edson Fachin com um habeas
corpos de ofício. Na visão do magistrado, o pobre ancião estava às portas da morte, mas, se ele realmente está morrendo, deve ser de rir (dos trouxas que ainda acreditam na Justiça).
Enfim, fato é que o “rouba mas faz” sempre foi visto como parte do
jogo político, e a corrução, depois que foi institucionalizada por Lula e sua espúria agremiação criminosa, tornou-se suprapartidária e passou a ser praticada alegremente em todas as esferas da política tupiniquim (se gritar "pega ladrão", não fica um, meu irmão).
Antes de se eleger senador com respeitáveis 4 milhões de
votos, Flávio Nantes Bolsonaro foi deputado
estadual por quatro legislaturas e aprovou 40 projetos — dentre
os quais a lei que proíbe pedófilos de ingressar no serviço público, mesmo que
já tenha cumprido a pena. Em 2016, disputou a prefeitura do Rio, mas ficou em
4º lugar. Além de atuar na política, é advogado e empresário — dono de uma franquia Kopenhagen no Shopping Via Parque, na Barra da Tijuca. E se se tornou
o epicentro dessa onda sísmica deflagrada pelas famosas “movimentações financeiras
atípicas” que o Coaf identificou na
conta de Fabrício Queiroz,
foi menos por ser quem é e mais por ser filho de quem é.
Volto a dizer que tudo isso poderia ter sido evitado se Fabrício Queiroz tivesse apresentado prontamente sua “explicação plausível”.
Mas o ex-assessor não atendeu a nenhuma das convocações do MPRJ, tornando ainda mais substantivas as suspeitas de que tomava de volta uma parcela dos salários pagos aos seus colegas, ou de que era um "laranja" e repassava esse pedágio adiante.
Queiroz sumiu do mapa até o dia seguinte ao do Natal, quando ressurgiu tão misteriosamente quanto havia desaparecido. Quebrando a "lei do silêncio" que vinha obedecendo até então, declarou em entrevista ao SBT que estava tratando um câncer no intestino, que nunca foi “laranja” e que as movimentações em sua conta decorreram da compra e venda de carros. A versão deixou uma montanha de perguntas sem respostas, mas ele só voltou a falar depois depois que ter alta do Hospital Albert Einstein, onde foi submetido a uma cirurgia para a retirada do tumor. No dia 9, ele disse que pagou a conta com recursos próprios — mas não revelou o valor — e garantiu que esclareceria em breve as tais “movimentações atípicas” — mas não especificou quando isso ocorreria e tampouco compareceu ao depoimento marcado para o dia 10 no MPRJ. Dias depois, um vídeo em que ele aparece dançando no hospital viralizou nas redes sociais.
Queiroz sumiu do mapa até o dia seguinte ao do Natal, quando ressurgiu tão misteriosamente quanto havia desaparecido. Quebrando a "lei do silêncio" que vinha obedecendo até então, declarou em entrevista ao SBT que estava tratando um câncer no intestino, que nunca foi “laranja” e que as movimentações em sua conta decorreram da compra e venda de carros. A versão deixou uma montanha de perguntas sem respostas, mas ele só voltou a falar depois depois que ter alta do Hospital Albert Einstein, onde foi submetido a uma cirurgia para a retirada do tumor. No dia 9, ele disse que pagou a conta com recursos próprios — mas não revelou o valor — e garantiu que esclareceria em breve as tais “movimentações atípicas” — mas não especificou quando isso ocorreria e tampouco compareceu ao depoimento marcado para o dia 10 no MPRJ. Dias depois, um vídeo em que ele aparece dançando no hospital viralizou nas redes sociais.
No último dia 17, as investigações foram suspensas pelo ministro Luiz Fux, a pedido da
defesa de Flávio Bolsonaro. Novidades
virão somente no próximo dia 1º, quando o ministro Marco
Aurélio, sorteado para relatar a Reclamação, decidir em qual instância do
Judiciário as apurações terão seguimento. Até lá, as nuvens negras continuarão
pairando sobre o senador eleito e, por que não dizer, sobre o Palácio do
Planalto, ainda que o Presidente nada tenha a ver com a história — e ainda que tivesse, não poderia ser investido enquanto ocupar a Presidência.
Justificativas dadas a conta-gotas raramente produzem o efeito
desejado. Demais disso, a “explicação plausível” de Queiroz
tem mais furos que uma peneira, e a de seu ex-chefe ainda não convenceu os 4
milhões que o elegeram senador, até porque, ao contrário dos seguidores da
seita do inferno, nem mesmo os bolsomínions de carteirinha acreditam em
tudo que os Bolsonaros dizem
simplesmente porque foram eles que disseram.
Por outro lado, está cada vez mais
evidente que essa investigação é uma verdadeira caça às bruxas — fomentada em
grande medida pela mídia “cumpanhêra”. Como Flávio Bolsonaro bem colocou, a coisa “deixou de ser investigação para virar perseguição e atingir o
presidente da República".