Coisa que não falta no Brasil é ministro supremo dando piti sempre
que alguém critica abertamente a Corte, seus membros e o Judiciário como um
todo. Não faz muito tempo, Ricardo Lewandowski, o impoluto, mandou a PF deter um passageiro que, durante um
voo de São Paulo para Brasília, ousou externar sua opinião sobre o STF. Aí, às vésperas do Natal, vem a
notícia de que Suzane Von Richthofen
e Anna Carolina Jatobá — a primeira,
condenada a 29 anos de prisão por matar os pais, e a segunda, a 26 anos e oito
meses por participar do assassinato da enteada — foram beneficiadas pela saída temporária de Natal e Ano Novo e
ficarão em liberdade por 10 dias! Sem comentários!
Mudando de pato para ganso, corrupção deve ser mesmo uma doença séria, que demanda cuidados médicos
intensivos. Prova disso é o fato de o ex-assessor dos Bolsonaro, Fabrício Queiroz,
não ter se comparecido (pela segunda vez; primeiro na quarta, 19, depois na sexta, 21) à oitiva convocada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, a
pretexto de uma “inesperada crise de saúde”.
Observação: Em atenção a quem chegou de Marte recentemente cumpre esclarecer que Queiroz
foi assessor de gabinete e motorista do deputado/senador eleito Flávio Bolsonaro e está sumido desde
que o COAF identificou movimentações
financeiras atípicas em sua conta bancária. Isso fez crescerem
as suspeitas da prática de pedágio (também
conhecida como mensalinho ou rachid, mediante a qual os políticos
engordam os próprios salários garfando parte da remuneração dos assessores
parlamentares) no gabinete do filho do capitão na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Segundo seu advogado, "Queiroz
precisou ser internado para realização
de um procedimento invasivo com anestesia, o que será devidamente comprovado,
posteriormente, através dos respectivos laudos médicos" (que serão
apresentados até o próximo dia 28). Outras diligências da investigação serão
realizadas, incluindo a oitiva dos familiares do fujão, no dia 8 de janeiro, e de
outros funcionários de Flávio Bolsonaro
na ALERJ, em data a ser designada. O
MPRJ informou ainda que outros parlamentares
citados no relatório do COAF
procuraram espontaneamente a instituição para apresentar seus esclarecimentos. A investigação, que é sigilosa, está sendo
conduzida pelo Grupo de Atribuição
Originária em Matéria Criminal.
De acordo com Flávio
Bolsonaro, quem tem de esclarecer os fatos é Queiroz: "Pela enésima vez,
não posso ser responsabilizado por atos de terceiros e não cometi nenhuma
ilegalidade. O ex-assessor é quem deve dar explicações. Todos da minha equipe
trabalham e a prova de que o gabinete funciona bem são minhas crescentes
votações", postou o deputado numa rede social. A questão é que o
sujeito tomou chá de sumiço, e o MP-RJ
convidou o deputado a prestar esclarecimentos sobre o caso no dia 10 de
janeiro.
Quando há justificativa, os fatos falam. Quando não há, as versões
sussurram e as suspeitas prosperam. Queiroz
— que, segundo seu ex-chefe, teria uma “história plausível” — está internado em
hospital incerto e não sabido, o que sugere muita coisa, menos uma “história
plausível”. Ainda que as movimentações em si não representem necessariamente
atos ilícitos, o fulano tem muito a explicar.
Segundo matéria publicada na Veja desta semana, tudo conspira para uma suspeita: o deputado Flavio Bolsonaro cobrava pedágio dos servidores do seu gabinete
e a intermediação era operada por Queiroz.
É apenas uma suspeita, mas que ganha vulto devido ao silêncio tumular do ex-assessor
e pelas declarações claudicantes dadas pelos Bolsonaro. Se for comprovada a cobrança de pedágio, diz a
reportagem, a bandeira da ética da família presidencial ficará rota mais cedo
do que se pensava.
ATUALIZAÇÃO:
No dia seguinte ao do Natal, Queiroz reapareceu tão misteriosamente quanto havia sumido e falou em público pela primeira vez. Em entrevista ao SBT, ele negou ser laranja e atribuiu o dinheiro a negócios com venda de carros, mas não explicou os depósitos feitos em sua conta por funcionários do gabinete e familiares empregados por Flávio Bolsonaro e pelo presidente eleito. A esse respeito, afirmou que só falará ao MP, mas, mesmo sem entrar em detalhes, adiantou que a movimentação financeira suspeita era proveniente de negócios paralelos que fazia, como compra e venda de automóveis. “Sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro, compro carro, revendo carro... Sempre fui assim, gosto muito de comprar carro de seguradora. Na minha época, lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar e revendia”.
Perguntado sobre os depósitos feitos em favor da futura primeira-dama, o ex-assessor disse que "o presidente já esclareceu; tinha um empréstimo de R$ 40 mil, foram 10 cheques de R$ 4 mil, nunca depositei R$ 24 mil". Disse ainda que "jamais fugiu", mas que chegou a achar que seria preso. E que pediu exoneração para cuidar de sua reforma (ele é suboficial da Polícia Militar) e tratar de seu problema de saúde (supostamente um câncer no intestino).
ATUALIZAÇÃO:
No dia seguinte ao do Natal, Queiroz reapareceu tão misteriosamente quanto havia sumido e falou em público pela primeira vez. Em entrevista ao SBT, ele negou ser laranja e atribuiu o dinheiro a negócios com venda de carros, mas não explicou os depósitos feitos em sua conta por funcionários do gabinete e familiares empregados por Flávio Bolsonaro e pelo presidente eleito. A esse respeito, afirmou que só falará ao MP, mas, mesmo sem entrar em detalhes, adiantou que a movimentação financeira suspeita era proveniente de negócios paralelos que fazia, como compra e venda de automóveis. “Sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro, compro carro, revendo carro... Sempre fui assim, gosto muito de comprar carro de seguradora. Na minha época, lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar e revendia”.
Perguntado sobre os depósitos feitos em favor da futura primeira-dama, o ex-assessor disse que "o presidente já esclareceu; tinha um empréstimo de R$ 40 mil, foram 10 cheques de R$ 4 mil, nunca depositei R$ 24 mil". Disse ainda que "jamais fugiu", mas que chegou a achar que seria preso. E que pediu exoneração para cuidar de sua reforma (ele é suboficial da Polícia Militar) e tratar de seu problema de saúde (supostamente um câncer no intestino).
“O silêncio de Queiroz
pode ser eficaz para quem olha para o tempo político”, diz Elio Gaspari em artigo publicado na Folha. “É suicídio porque esse tempo nada tem a ver com o do
Ministério Público. Os procuradores não têm pressa, têm perguntas. Se ele movia
tanto dinheiro porque transacionava com mercadorias, deverá dizer de quem as
comprava e para quem as vendia”.
A esperança de que Queiroz passe pelo Ministério Público administrando um silêncio
seletivo é suicida. E o problema é ele “suicidar” alguém mais que ele próprio.