No afã de criticar o
atual governo, a FOLHA dá mais uma “derrapada”. Confira a
reportagem de capa publicada ontem e as considerações do Secretário
Especial Adjunto de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, sobre o tema.
Eis aqui uma sugestão para o atual governo: criar o mais cedo possível o Ministério dos Problemas Cretinos, dando-se o devido crédito, naturalmente, ao gênio de Millôr Fernandes. O trabalho desse novo ministério seria receber, processar e mandar para uma usina de lixo a ser instalada em Brasília as questões gravíssimas, e sem a mais remota importância prática, que se reproduzem à velocidade alarmante no noticiário político de hoje em dia.
Desde que o presidente Jair
Bolsonaro tomou posse, as “crises” de seu governo se sucedem ao ritmo médio
de uma por dia — o que
já estaria dando,
numa conta redonda, cerca de 100 em apenas três meses. É verdade que, até
agora, nenhuma delas gerou um miligrama de efeito real, pela excelente razão de
terem sido construídas com uma combinação de falta de pé com falta de cabeça.
Mas acabam fazendo a administração pública perder um monte de tempo para
explicar todo santo dia que o lobisomem visto agora pouco anunciando o fim do
governo no Viaduto do Chá não era, olhando bem, um lobisomem de verdade.
Entraria aí, então, o novo ministério: às 9 horas da manhã de cada dia útil o
serviço de protocolo registraria o conjunto completo de bobagens cinco estrelas
noticiadas na véspera, passaria um recibo de entrada e daria a crise por
resolvida para o resto da vida.
Em matéria de problema cretino de primeiríssima grandeza, no
embrulho de disparates mais recentes servidos pela mídia, pouca coisa se
compara à visita que Bolsonaro acaba
de fazer a Israel. Segundo a maioria dos árbitros do bem e do mal que nos ensinam
diariamente o que devemos pensar sobre todos os assuntos desta vida, a viagem
em si foi uma aberração ética imperdoável. Embora o Brasil mantenha relações
absolutamente normais com Israel há mais de 70 anos, Bolsonaro cometeu um delito moral, político e diplomático sem
perdão pelo simples fato de ir até lá. Nada comprovaria melhor este desastre,
segundo os comunicadores mais indignados, do que a nota de protesto contra a
visita expedida pelo Hamas — um grupo de criminosos que
vive da extorsão,
do assassinato de inocentes e de atos terroristas para promover a “causa palestina”. Queriam o quê? Que o Hamas ficasse a favor? Ficava a favor
nos tempos de Lula-Dilma; agora não
dá mais.
O ponto culminante do desvario, porém, está na abordagem
“econômica” da viagem. De acordo com “especialistas” em comércio exterior, ela
desagradou aos países “do Oriente Médio”, que importaram cerca de 14 bilhões de
dólares de produtos brasileiros em 2018, enquanto Israel importou só 320
milhões. Como podemos arriscar aquela montanha de dinheiro em troca da mixaria
que é Israel? O problema disso tudo são os fatos. O tal “Oriente Médio” inclui
nada menos do que 15 países —
entra até Chipre,
onde se fala grego e ninguém
faz a menor ideia de que Bolsonaro
foi a Israel, ou a qualquer outro lugar —
mais um pouco, enfiariam na lista a Rua 25 de Março. Ainda assim, somando tudo, esse grupo representa
menos de 6% das exportações totais do Brasil. Por esse critério de agradar quem
compra muito, como ficariam as coisas, então, com os Estados Unidos? Em 2018 o
Brasil exportou cerca de 25 bi para lá. Muito cuidado, portanto: não façam nada
que possa incomodar os americanos, os maiores amigos de Israel no mundo, porque
eles nos compram quase o dobro do que os “árabes”.
Também foi deplorada a catástrofe diplomática que Bolsonaro provocou ao fazer que
voltasse para a sua terra o embaixador da Palestina, um negócio que se resume à
Faixa de Gaza e é menor que o município de Jundiaí. A coisa foi apresentada
como um problema mortal. Mas e daí? Que diferença isso vai fazer no mundo das
realidades, se ninguém nem sequer sabia que o homem estava aí? Como disse o
general Mourão: “Deixa. Um dia ele
volta”. E se não voltar —
quem é que vai
perder 5 minutos de sono com isso?
A recusa em pensar é
realmente um problemão
no Brasil de hoje. Chamem o Ministério
dos Problemas Cretinos.
(Texto de J.R. Guzzo)
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