Quem não tem cão caça com gato, diz um velho ditado. Mas nem
gato sobrou. O que se tem é gatuno roubando a esperança dos brasileiros, gatuno
ignorando provas em julgamentos, gatuno governando o país, gatuno candidato à
reeleição presidencial e até gatuno defendendo a antecipação das diretas. Tudo
em nome da governabilidade e do estado
democrático de direito, como se a palavra democracia ainda significasse alguma coisa nesta republiqueta de
bananas.
Em 2012, assistimos estarrecidos, mas esperançosos, a
condenação da alta cúpula do Mensalão.
No ano passado, livramo-nos daquela que afundou o Brasil na maior recessão da
sua história, e que entrou para a vida pública após levar à falência duas lojinhas
tipo R$1,99 quando a paridade cambial entre o real e o dólar favorecia sobremaneira
a importação e revenda de badulaques ― a propósito, leia o post que publiquei no final de 2014,
caso não lhe baste o excerto que transcrevo a seguir:
Pão
& Circo.
Com esse nome sugestivo — alusivo à estratégia romana destinada a entreter e
ludibriar a massa insatisfeita com os excessos do Império —, Dilma montou, em fevereiro de 1995, uma
lojinha de bugigangas, nos moldes das populares casas de R$ 1,99. O negócio em
gestação cumpriu a liturgia comercial habitual. Ao registro do CNPJ na Junta
Comercial seguiu-se o aluguel de um imóvel em Porto Alegre, onde funcionava a
matriz. Quatro meses depois, uma filial foi erguida no centro comercial Olaria,
também na capital gaúcha. O problema, para Dilma
e seus três sócios, é que a presidente cuidou da contabilidade da empresa como
lida hoje com as finanças do País. (...) Em apenas 17 meses, a loja quebrou; em
julho de 1996, ela já não existia mais. Tocar uma lojinha de quinquilharias baratas deveria ser algo trivial,
principalmente para alguém que 15 anos depois se apresentaria aos eleitores
como a “gerentona” capaz de manter o Brasil no rumo do desenvolvimento. Mas, ao
administrar seu comércio, Dilma
cometeu erros banais e em sequência. Qualquer semelhança com a barafunda
administrativa do País e os equívocos cometidos na área econômica a partir de
2010, levando ao desequilíbrio completo das contas públicas e à
irresponsabilidade fiscal, é mera coincidência. Ou não. (...) Para começar, a
loja foi aberta sem que os donos soubessem ao certo o que seria comercializado
ali. Às favas o planejamento — primeiro passo para criação de qualquer negócio
que se pretenda lucrativo. A empresa foi registrada para vender de tudo um
pouco a preços módicos, entre bijuterias, confecções, eletrônicos, tapeçaria,
livros, bebidas, tabaco e até flores naturais e artificiais. Mas acabou
apostando no comércio de brinquedos para crianças, em especial os “Cavaleiros
do Zodíaco”. Os artigos revendidos pela Pão
& Circo eram importados de um bazar localizado no Panamá, para onde Dilma e uma das sócias, a ex-cunhada Sirlei Araújo, viajaram três vezes para
comprar os produtos. Apesar de os produtos custarem bem pouco, o negócio de Dilma era impopular — como se tornou a
ex-presidanta ao longo do seu governo. Ao abrir a vendinha, a anta vermelha não
levou em conta que “o olho do dono engorda o porco”, e só aparecia por lá
eventualmente, preferindo dar ordens e terceirizar as tarefas do dia a dia,
como fez ao delegar a economia ao ministro Joaquim
Levy e a política ao vice Michel
Temer, até este desistir da função dizendo-se boicotado pelo (então)
ministro-chefe da Casa Civil Aloizio
Mercadante. Na sociedade da Pão &
Circo, o equivalente ao Mercadante
era Carlos Araújo, o ex-marido, que
aconselhava a “chefa” sobre como ela turbinar as vendas, mas era tão inepto
quanto aquela que viria ser a chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de
Administração da Petrobrás no governo de Lula,
por ocasião da negociata de Pasadena. Mesmo assim, a gerentona de araque teve
uma carreira meteórica: sem saber
atirar, virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária
municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de
Estado; sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de
relevante, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um único voto na vida
até 2010, virou presidente da Banânia.
Livramo-nos de Dilma, mas herdamos Michel
Temer, que jamais conquistou a simpatia dos brasileiros ― e nem poderia,
tendo sido vice de quem foi e presidente do PMDB por 15 anos ―, mas que
vinha logrando êxito em descascar o monumental abacaxi herdado das gestões lulopetistas
até ser abatido em seu voo de galinha pela delação premiada de Joesley
Batista e mais 6 altos executivos da JBF/J&F.
Temer nos prometeu um ministério de notáveis, mas
cercou-se de uma notável confraria de corruptos. O primeiro a cair foi Romero
Jucá, o “Caju”, que deixou o Ministério do Planejamento uma semana depois
de ser nomeado ― só que continua no governo, ocupando uma secretaria criada
especialmente para preservar seu direito ao foro privilegiado. Na sequência,
demitiram-se ― ou foram demitidos ― Fabiano Silveira, Henrique
Eduardo Alves, Geddel Vieira Lima e outra meia dúzia de ministros
e/ou assessores presidenciais, em grande parte por serem investigados na Justiça
ou acusados de corrupção por delatores na Lava-Jato. Temer moveu mundos
e fundos para preservar Eliseu Padilha, o “Primo”, e Wellington
Moreira Franco, o “Angorá”, que o ajudam a comandar a quadrilha
mais perigosa do Brasil, como afirmou o megaempresário moedor de carne em entrevista à revista Época desta semana.
Até os pedalinhos do Sítio Santa Bárbara, em
Atibaia, sempre souberam que Lula institucionalizou a corrupção no Brasil.
E quem não sabia ficou sabendo pelo procurador Deltan Dallagnol, que, no
final do ano passado, apresentou à imprensa um PowerPoint tosco, mas
indiscutivelmente elucidativo, mostrando que o molusco abjeto, ora penta-réu e
às vésperas de sua primeira condenação na Lava-Jato, era, sim, o comandante
máximo da ORCRIM. Agora, a se confirmarem as acusações de Joesley
Batista, o petralha perderá o posto para Temer, como o Mensalão
perdeu para o Petrolão o título de “maior escândalo de corrupção da
nossa história” e rebaixou o famigerado “Esquema PC”, responsável pelo
impeachment de Collor em 1992, a “coisa de ladrão de galinhas”.
Parece de nada adiantou o esforço do ministro Gilmar
Mendes (que ora é alvo de um pedido de impeachment) para preservar o cargo de Michel Temer ao
arrepio da avassaladora torrente de provas de práticas espúrias que propiciaram
a reeleição da chapa Dilma-Temer em 2014. Como de nada deve adiantar a
nota divulgada pelo Planalto, na manhã deste sábado, segundo a qual “o dono da JBS
é um bandido notório que desfia mentiras”, e que o presidente
ingressará
com ações na Justiça contra ele. Resta
explicar porque Temer não pensou nisso quando recebeu o empresário à
sorrelfa nos “porões do Jaburu”, ouviu seu relato de práticas criminosas ― como
a compra do silencio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro e o
pagamento de suborno a magistrados e procuradores da República ― e encerrou
conversa como se nada houvesse acontecido, sem lhe dar voz de prisão ou
determinar a imediata abertura de um inquérito para apurar os fatos.
Na entrevista, Joesley reafirma as denúncias que fez ao Ministério Público e à
Polícia Federal contra as cúpulas de PT,
PMDB e PSDB. Segundo ele, tudo começou há cerca de 10, 15 anos, quando
surgiram grupos com divisão de tarefas: um chefe, um operador e um tesoureiro.
Disse também que esses esquemas organizados começaram no governo do PT, com a criação de núcleos, divisão
de tarefas entre integrantes, em estados, ministérios, fundos de pensão e
bancos, dentre os quais o BNDES; que
o modelo foi reproduzido por outras legendas, e que, na maioria dos casos, os
pagamentos viraram uma obrigação (ele cita como exemplo Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma: “Era só o Guido
dizer no BNDES que não era mais do
interesse do governo investir no agronegócio e pronto. Bastava uma mudança de
diretriz de governo para acabar com o negócio”).
Joesley
disse ainda que o presidente “não é um cara
cerimonioso com dinheiro” (para bom entendedor...), além de acusa-lo de
chefiar “a organização criminosa da
Câmara, composta por Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima,
Henrique Eduardo Alves, Eliseu
Padilha e Moreira Franco”, e
que, “em Brasília, quem não está preso está no Planalto”.
Durma-se com um barulho desses!
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