Entre os diversos fatos estarrecedores dos últimos
dias, resolvi focar a entrevista concedida por Dias
Toffoli ao jornal O Estado e deixar a monumental camisa de onze varas em que se meteu o senador Flávio Bolsonaro para uma próxima oportunidade. Passando ao que interessa, é sempre bom lembrar que o atual presidente do STF, um verdadeiro obelisco do saber jurídico, foi guindado ao mais alto cargo da magistratura pelo ex-presidente petista ladrão, que nunca leu um livro na vida e, portanto, não se incomodou com o fato de seu então auxiliar ter levado bomba em dois
concursos para juiz de primeira instância.
Na entrevista ao Estado, entre outras asnices o ministro afirmou que a Lava-Jato destruiu empresas, que o MP é pouco transparente e que isso jamais aconteceria nos Estados Unidos. Marcelo Odebrecht — que mais do que ninguém fala com absoluto conhecimento de causa —, porém, vê a coisa de outra maneira. Segundo ele declarou em entrevista ao Globo, a Lava-Jato foi o gatilho, mas a Odebrecht poderia ter saído dessa mais bem preparada para um novo ciclo de crescimento sobre bases até mais sustentáveis. "Nós não soubemos conduzir o processo da Lava-Jato; a Odebrecht quebrou por manipulações internas, não apenas pela Lava-Jato”. A informação que me davam [na cadeia] era que a empresa não estava pronta para um acordo [com a Justiça] (...) depois descobri que a informação que levavam para a empresa era que quem não estava disposto a colaborar era eu".
Na entrevista ao Estado, entre outras asnices o ministro afirmou que a Lava-Jato destruiu empresas, que o MP é pouco transparente e que isso jamais aconteceria nos Estados Unidos. Marcelo Odebrecht — que mais do que ninguém fala com absoluto conhecimento de causa —, porém, vê a coisa de outra maneira. Segundo ele declarou em entrevista ao Globo, a Lava-Jato foi o gatilho, mas a Odebrecht poderia ter saído dessa mais bem preparada para um novo ciclo de crescimento sobre bases até mais sustentáveis. "Nós não soubemos conduzir o processo da Lava-Jato; a Odebrecht quebrou por manipulações internas, não apenas pela Lava-Jato”. A informação que me davam [na cadeia] era que a empresa não estava pronta para um acordo [com a Justiça] (...) depois descobri que a informação que levavam para a empresa era que quem não estava disposto a colaborar era eu".
O comentário de Toffoli escancarou mais uma vez a cizânia que divide os togados supremos, com Marco Aurélio divergindo
de seu eminente presidente: “De forma
alguma [a Lava-Jato destrói empresas], ao contrário. Fortalece. E gera
confiança. Gera segurança. Não deixa de ser um marco civilizatório. O ruim é
quando se varre [a suspeita] para debaixo do tapete, aí é péssimo.” Como se
vê, até um relógio quebrado marca a hora certa duas vezes por dia (para não
dizer que até um burro velho e cego consegue eventualmente encontrar a cenoura).
Toffoli, instado comentar sobre a Lava-Jato, começou com os farisaicos elogios de praxe e, tão previsível quanto a
chegada da primavera, disse que a operação colocou o combate à corrupção num
patamar mais elevado, sobretudo por ter instalado na cadeia gente que parecia
condenada à perpétua impunidade. Em seguida, estacionou na vírgula, sacou do
coldre a adversativa e disparou a maluquice: “Mas a Lava-Jato destruiu
empresas. Isso nunca aconteceu nos Estados Unidos ou na Alemanha”.
A cada novo pronunciamento, o Maquiavel de Marília mostra que mereceu a reprovação com louvor nas duas
tentativas de ingresso na magistratura paulista. Pela sua ótica, o
problema não está na roubalheira institucionalizada, mas no fato de a ladroagem
ter sido descoberta. É como culpar pela internação de um paciente na UTI não a gravidade da doença, mas a
competência do médico que a diagnosticou.
O palavrório permite deduzir que o ministro acompanha os
escândalos protagonizados por corruptos no resto do mundo com a mesma atenção
que dispensa à língua portuguesa. Ele ignora, por exemplo, que a condenação de
executivos pilantras não livra da falência as empresas que controlam. Morreram
de safadeza, por exemplo, os gigantes americanos Enron em 2001, WorldCom
no ano seguinte e Lehman Brothers em
2008. Para escapar da bancarrota, a alemã Siemens
pagou multas de dimensões amazônicas e disseminou pelo mundo inteiro o termo
compliance — uma espécie de auditoria permanecente concentrada na prevenção de
irregularidades.
Pelo jeito, Toffoli
não sabe disso. Mas o que é mesmo que Toffoli sabe?
Com Augusto Nunes