Pouco antes de ser preso, Lula teve uma de
suas piores ideias: fazer uma “caravana” pelos estados do Sul. Acabou
escorraçado de lá na base da pedrada. Solto recentemente graças a uma decisão
inqualificável da ala pró-crime do STF,
reiniciou seu périplo pelo Brasil, visando destilar seu ódio e receber
estrepitosos aplausos da claque amestrada que bebe suas palavras como, segundo
diz a lenda, Rômulo e Remo sorveram o leite da loba que os alimentou.
No domingo 17, num hotel de luxo da praia da Boa Viagem (na
capital de seu estado natal), o troçulho de Garanhuns tomou a sua primeira vaia. Enfiado
no fundo de um desses ônibus de luxo com vidro escuro para ninguém ver nada
dentro, aprontava-se para partir rumo ao que, aparentemente, seria um
compromisso de sua nova peregrinação pelo Brasil, com a qual imagina atrair as
massas e voltar a ser o que foi um dia. Mas em vez de ouvir o aplauso da
multidão, ouviu o que tem ouvido sempre que sai à rua: “Lula, ladrão, teu lugar é na prisão”. Na verdade, não havia
multidão nenhuma — só um grupo de gente vestida de verde e amarelo, mandando o
ex-presidente para o raio que o parta. Onde estavam os milhares e milhões de
“brasileiros do povo”, os “pobres”, os “desesperados” com o governo”, que
deveriam ter aparecido para dar força ao ex-presidente petralha? Em lugar
nenhum — e isso no coração do Nordeste, onde, com o apoio dos “institutos de
pesquisa de opinião”, o sujeito sempre diz que goza de 110% de popularidade.
Este, meus caros, é o novembro do nosso descontentamento
diante de um Brasil que está em guerra aberta contra os brasileiros. Agora,
depois de meses a fio de uma tragédia única no mundo, vemos a maioria dos
magistrados do tribunal supremo do País fazer o oposto do que é a sua
obrigação. Em vez de buscar mais justiça numa sociedade que já é
perigosamente injusta, chama para si a tarefa de dar aos criminosos ricos,
aqueles que têm dinheiro para pagar criminalistas estrelados, o direito de
passar o resto da vida sem receber nenhuma punição real pelos crimes que
praticaram.
E não agem como agem os nobres causídicos-chicaneiros por
acreditar, como dizem, que o direito de defesa deve estar acima de todos os
outros — a começar pelo direito das vítimas. Fazem o que fazem porque estão metidos numa
luta desesperada pela sobrevivência do Brasil velho, corrupto, subdesenvolvido
e desigual, paraíso dos parasitas da máquina pública, da venda de favores e dos
privilégios para quem tem força, inimigo do trabalho, do talento e do mérito
individual. É o País que você tem certeza de que não quer.
Nada destrói tanto o respeito pelos governos, dizia Einstein, do que a sua incapacidade de
fazer com que as leis sejam cumpridas. É o risco que foi construído no Brasil.
De fato, como seria possível respeitar o poder público neste País se o Código
Penal brasileiro diz que é proibido praticar crimes, mas o STF decide impedir a punição dos crimes praticados? Na verdade, o
que realmente aconteceu em toda essa infame discussão sobre a “prisão em
segunda instância” não foi, em momento algum, uma divergência sobre questões
jurídica, mas, sim, um choque entre leis — ou o que nos dizem que é a lei — e a
moral. Quando a lei se opõe à moral, como nesse caso, ou se perde o senso moral
ou se perde o respeito pela lei. Não há outra possibilidade. É o momento em que
a lei se torna injusta, por não estar mais em harmonia com as noções
elementares do certo e do errado. O resto é mentira.
O que o cidadão viu, neste golpe legal para proibir a prisão
de condenados em segunda instância, foi uma tentativa aberta de impedir que
vigore no Brasil o império da lei — algo que só pode existir se a Justiça for
imparcial. Mas quem defende essa aberração, inexistente em qualquer país sério
do mundo, propõe, na verdade, que o sistema judicial brasileiro tome um partido
— o dos réus, por considerar que as provas colhidas contra eles jamais estarão
corretas, ou serão suficientes, e que os juízes errarão todas as vezes em que
condenarem alguém.
Observação: Levantamento do jornal O Estado de S. Paulo dá conta de que a maioria dos deputados e senadores é a favor da autorização para condenado em segunda instância começar a cumprir pena, mas as tentativas de transformar essa vontade de representantes do povo em lei se perdem em negociações sem fim, pois os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Rodrigo Maia, sabotam de forma canalha as mudanças necessárias para que os bandidos da política deixem de gozar a proteção servil que lhes dão.
Observação: Levantamento do jornal O Estado de S. Paulo dá conta de que a maioria dos deputados e senadores é a favor da autorização para condenado em segunda instância começar a cumprir pena, mas as tentativas de transformar essa vontade de representantes do povo em lei se perdem em negociações sem fim, pois os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Rodrigo Maia, sabotam de forma canalha as mudanças necessárias para que os bandidos da política deixem de gozar a proteção servil que lhes dão.
Trata-se, simplesmente, de usar o que está escrito na lei
para desrespeitar a lei. Sempre ouvimos que democracia e civilização só podem
vigorar se a Justiça tiver coragem de enfrentar o grito irracional da multidão,
que exige culpados, não se interessa por provas e não entende de hermenêutica.
Mas não há nada de irracional na voz da multidão que se está ouvindo agora —
muito pelo contrário. O brasileiro sabe perfeitamente que um réu, para acabar
na cadeia, tem de ser condenado por um juiz, a “primeira instância”, e, em
seguida, ser condenado outra vez — agora não mais por um, mas por um conjunto
de magistrados, a “segunda instância”. Nos dois casos, ele tem todas as chances
de se defender e, se não consegue, não pode ficar apelando na Justiça até o Dia
do Juízo Final. Irracional é querer o contrário.
Não há nada de frouxo na moralidade, como alegam os campeões
do “direito de defesa”. Na verdade, ela é muito mais dura que qualquer lei. Diz
apenas que é preciso fazer a coisa certa.
Com J.R. Guzzo e O Estadão