Pensei que duas semanas sem postar sobre política bastariam
para recarregar as baterias e mitigar os efeitos nocivos da Síndrome do Macaco. Só que não. E o pior é que, por mais vontade que eu tenha
de mandar tudo à merda, é-me impossível deixar de assistir aos telejornais, ainda
que as notícias sejam as piores possíveis — e não apenas no âmbito da política.
Eis aí uma das razões que me impediram de fazer a até então tradicional retrospectiva de final de ano, que eu publico desde a reeleição da malsinada anta sacripanta,
primeiro na comunidade de política que havia criado no agregador de links .Link;
depois, também aqui no Blog, e agora somente no Blog, já que a .Link foi
desativada sem prévio aviso nem ulterior explicação do webmaster (ir)responsável, embora constantes interrupções no
serviço (por falta de pagamento da hospedagem, a julgar pela mensagem que surgia quando se tentava acessar o site) levassem a supor que havia algo de podre no reino da Dinamarca.
Para resumir em poucas linhas o que poderia ser uma longa
conversa, 2019 foi o ano dos desvarios, das manifestações nas ruas da Bolívia até
Hong Kong, das inequívocas demonstrações de impaciência, da intolerância e das
derrocadas cômicas. No Brasil, segundo Roberto Pompeu
de Toledo publicou na última edição do ano da revista Veja, foram quatro as principais
tragédias: Brumadinho, a devastação na Amazônia, o óleo nas praias e o governo
Bolsonaro.
Sem adentrar esse mérito — até porque pior seria se o bonifrate de Lula tivesse vencido o pleito —, tomo a liberdade de acrescentar à lista do eminente jornalista o fato de que foi a primeira vez, desde que o PT assumiu o poder, em 2003, que se passaram 365 dias sem que se ouvisse falar em corrupção no âmbito do Executivo Federal. Claro que não podemos (nem devemos) relativizar o "laranjal" do PSL e as "suspeitas" de rachadinha no gabinete do Zero Um na Alerj, mas isso é outra conversa, até porque não há ligação direta com o presidente.
Claro que é difícil de engolir que ele não tivesse conhecimento de ambas as coisas, até porque ninguém sobreviveria por quase 30 anos na Câmara Federal sem praticar ou, no mínimo, ser conivente com a prática de atos pouco republicanos; acho até que nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria em tamanha potoca, mas, repito, isso é outra conversa.
Enfim, outras "tragédias" que Pompeu poderia ter mencionado foram o STF sob a presidência de Dias Toffoli, o Congresso Nacional sob a batuta de Davi Alcolumbre — que derrotou o Cangaceiro das Alagoas na disputa pela presidência do Senado, mas acabou se revelando um dublê de Renan Calheiros, só que com algumas arrobas a mais — e a eternização da ignorância, da desinformação e do despreparo dos eleitores tupiniquins. E isso só para mencionar as mais relevantes.
Claro que as coisas têm conotações distintas conforme o ponto de vista de quem as observa. A prisão de Lula, p. ex., foi uma tragédia para os petistas, ao passo que para outros, entre os quais eu me incluo, tragédia foi esse bandido ter deixado a prisão depois de míseros 580 dias — se é que se pode considerar como prisão a sala VIP prenhe de mordomias que foi destinada ao salafrário "em razão da dignidade do cargo". Que dignidade, cara pálida? O sujeito cagou na Presidência e limpou a bunda com a faixa presidencial... mas isso também é outra conversa.
Quanto a Jair Bolsonaro, uma coisa é certa: não se pode acusá-lo de falta de coerência. Contrariando as expectativas de que suavizaria seu estilo troglodita quando vestisse a faixa presidencial, o Capitão Caverna encerrou seu primeiro ano de governo sendo o que sempre foi: um obscuro político do baixo-clero, com talento para enxergar conspirações em toda parte, que só chegou onde chegou porque o povo, polarizado como nunca antes na história desta Banânia, jogou fora a criança com a água da banho ao descartar no primeiro turno, juntamente com excrescências como Vera Lúcia, Cabo Daciolo, Guilherme Boulos, Ciro Gomes, Eymael e outros membros do circo de horrores da política nacional, nomes como João Amoedo, Álvaro Dias e Henrique Meirelles, que distam anos-luz do estereótipo do candidato perfeito, mas que não perderíamos nada em experimentar.
Sem adentrar esse mérito — até porque pior seria se o bonifrate de Lula tivesse vencido o pleito —, tomo a liberdade de acrescentar à lista do eminente jornalista o fato de que foi a primeira vez, desde que o PT assumiu o poder, em 2003, que se passaram 365 dias sem que se ouvisse falar em corrupção no âmbito do Executivo Federal. Claro que não podemos (nem devemos) relativizar o "laranjal" do PSL e as "suspeitas" de rachadinha no gabinete do Zero Um na Alerj, mas isso é outra conversa, até porque não há ligação direta com o presidente.
Claro que é difícil de engolir que ele não tivesse conhecimento de ambas as coisas, até porque ninguém sobreviveria por quase 30 anos na Câmara Federal sem praticar ou, no mínimo, ser conivente com a prática de atos pouco republicanos; acho até que nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria em tamanha potoca, mas, repito, isso é outra conversa.
Enfim, outras "tragédias" que Pompeu poderia ter mencionado foram o STF sob a presidência de Dias Toffoli, o Congresso Nacional sob a batuta de Davi Alcolumbre — que derrotou o Cangaceiro das Alagoas na disputa pela presidência do Senado, mas acabou se revelando um dublê de Renan Calheiros, só que com algumas arrobas a mais — e a eternização da ignorância, da desinformação e do despreparo dos eleitores tupiniquins. E isso só para mencionar as mais relevantes.
Claro que as coisas têm conotações distintas conforme o ponto de vista de quem as observa. A prisão de Lula, p. ex., foi uma tragédia para os petistas, ao passo que para outros, entre os quais eu me incluo, tragédia foi esse bandido ter deixado a prisão depois de míseros 580 dias — se é que se pode considerar como prisão a sala VIP prenhe de mordomias que foi destinada ao salafrário "em razão da dignidade do cargo". Que dignidade, cara pálida? O sujeito cagou na Presidência e limpou a bunda com a faixa presidencial... mas isso também é outra conversa.
Quanto a Jair Bolsonaro, uma coisa é certa: não se pode acusá-lo de falta de coerência. Contrariando as expectativas de que suavizaria seu estilo troglodita quando vestisse a faixa presidencial, o Capitão Caverna encerrou seu primeiro ano de governo sendo o que sempre foi: um obscuro político do baixo-clero, com talento para enxergar conspirações em toda parte, que só chegou onde chegou porque o povo, polarizado como nunca antes na história desta Banânia, jogou fora a criança com a água da banho ao descartar no primeiro turno, juntamente com excrescências como Vera Lúcia, Cabo Daciolo, Guilherme Boulos, Ciro Gomes, Eymael e outros membros do circo de horrores da política nacional, nomes como João Amoedo, Álvaro Dias e Henrique Meirelles, que distam anos-luz do estereótipo do candidato perfeito, mas que não perderíamos nada em experimentar.
A patente inadequação de Bolsonaro ao exercício da
presidência, seu notório desprezo pela liturgia do cargo e sua submissão às
opiniões nem sempre lúcidas de sua prole, que acontece de ser subserviente de
certo dublê de ex-astrólogo e guru radicado na Virgínia, surpreendeu até quem
tinha as mais baixas expectativas sobre o capitão nessas questões. A publicação
do vídeo do Golden Shower durante o Carnaval de 2019 e a
subsequente proliferação de polêmicas inúteis no Twitter ocuparam boa
parte do tempo daquele que se vendeu como o candidato que prometia tirar o país
do atoleiro e ser implacável no combate
à corrupção e aos corruptos, mas que sucumbiu aos desafios da política
e se revelou um chefe de Estado tão útil quanto um par de sapatos para uma minhoca.
Mas o Prêmio Óleo de Peroba Edição 2019
vai mesmo para Michel Miguel Elias Temer Luria — outro ex-presidente colecionador de ações
penais e preso duas vezes ao longo do ano passado, mas solto logo em seguida
graças à pronta intervenção de um desembargador que ficou afastado do cargo
durante sete anos por suspeita de venda de sentenças. Dias atrás, em entrevista
ao Estadão, o ex-Vampiro do Jaburu — que jamais se mudou para a
residência oficial da presidência da República porque, segundo ele, o Palácio
do Planalto é assombrado — declarou seu voto em Bolsonaro e
atribuiu o sucesso do atual governo aos feitos da sua própria gestão:
“O governo vai indo bem porque está dando sequência ao que eu fiz. Peguei uma estrada esburacada. O PIB estava negativo 4%. Um ano e sete meses depois o PIB estava positivo 1,1%, além da queda da inflação e da recuperação das estatais. Entreguei uma estrada asfaltada. O governo Bolsonaro, diferente do que é comum em outros governos que invalidam anterior, deu sequência. Bolsonaro está dando sequência ao que eu fiz”, afirmou o emedebista, sem sequer ter a decência de enrubescer.
“O governo vai indo bem porque está dando sequência ao que eu fiz. Peguei uma estrada esburacada. O PIB estava negativo 4%. Um ano e sete meses depois o PIB estava positivo 1,1%, além da queda da inflação e da recuperação das estatais. Entreguei uma estrada asfaltada. O governo Bolsonaro, diferente do que é comum em outros governos que invalidam anterior, deu sequência. Bolsonaro está dando sequência ao que eu fiz”, afirmou o emedebista, sem sequer ter a decência de enrubescer.
Na avaliação de Rodrigo Constantino — e de outras
pessoas de bom senso entre as quais eu modestamente me incluo —, Temer
não é o “pai da criança”, embora tenha sido durante seu governo-tampão
que o Brasil iniciou o processo de reformas e a ponte para o futuro — um senso
de sobrevivência para salvar a galinha dos ovos de ouro após a desgraça petista,
da qual, vale lembrar, Temer e seu MDB foram cúmplices. Também é fato
que uma reforma previdenciária mais tímida, conquanto razoável, só não foi
aprovada durante seu governo devido ao escândalo resultante da gravação
feita por Joesley Batista — o moedor de carne que se tronou biliardário
durante as gestões petistas — com a conivência do então procurador-geral Rodrigo
Janot. O escândalo interrompeu a agenda reformista, e o Vampiro do
Jaburu seguiu como pato manco até o final do jogo.
Se podemos atribuir
a Temer algum mérito nas mudanças ocorridas, também devemos reconhecer
que foi no governo Bolsonaro que a coisa começou a mudar em ritmo mais
veloz. Não só a reforma previdenciária foi finalmente aprovada — e com uma
economia que representará o dobro daquela prevista pela reforma do emedebista —,
como tivemos várias outras iniciativas de cunho liberal realizadas pela equipe
de Paulo Guedes. Por essas e outras, Temer não é o "pai da
criança", conquanto tenha seus méritos. Mas não podemos deixar de lhe atribuir a culpa por ter apoiado incondicionalmente, como vice-presidente, o pior governo da
história do Brasil.
Gostemos ou não de Bolsonaro, foi durante seu governo que as mudanças mais importantes aconteceram. A Deus o que é de Deus e a César o que é de César, diz o velho ditado, pouco importa o quanto deve doer em alguns "analistas" reconhecer esse fato, que continua sendo verdade em tempos de pós-verdade, quando vale mais a narrativa do que o episódio que lhe deu origem.
Gostemos ou não de Bolsonaro, foi durante seu governo que as mudanças mais importantes aconteceram. A Deus o que é de Deus e a César o que é de César, diz o velho ditado, pouco importa o quanto deve doer em alguns "analistas" reconhecer esse fato, que continua sendo verdade em tempos de pós-verdade, quando vale mais a narrativa do que o episódio que lhe deu origem.
Por hoje é só. Em tempos de convalescença, é preciso ir devagar
com o andor, pois o santo é de barro.