O julgamento em segunda instância do processo sobre o Sítio de Atibaia, no qual são réus Lula e mais doze, chegou a ser
suspenso, foi remarcado, e depois mantido por ordem do ministro Edson Fachin. A sessão
começou pela manhã e se estendeu até o final da tarde, uma vez que estamos em
plena era dos votos intergalácticos. Se lhe tivessem dado corda, Dias Toffoli ainda estaria explicando
seu no caso que trata do compartilhamento de informações de transações
suspeitas, ligadas a investigações criminais, pelo UIF — ex-Coaf — e Receita Federal ao Ministério Público e à Polícia
federal sem prévia autorização judicial. A sessão de ontem foi suspensa quando
o voto do ministro Luiz Fux formou
maioria a favor desse entendimento, e deve ser retomada hoje, quando se
pronunciarão os cinco ministros que ainda não votaram (uma reviravolta no ritmo
do julgamento, pois até então vínhamos tendo um voto por sessão).
Voltando ao caso do folclórico Sítio Santa Bárbara, os três desembargadores que compõem a 8ª Turma do TRF-4 — segunda instância dos
processos da Lava-Jato egressos da 13ª Vara Federal do Paraná, em Curitiba
— rejeitaram, por unanimidade, todas as preliminares levantadas
pela defesa. Segundo João Pedro Gebran
Neto, Leandro Paulsen e Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz , o
pedido de anulação da sentença com base na jabuticaba do Supremo sobre a ordem das alegações não se aplica ao caso, pois Lula não foi prejudicado.
Também por
unanimidade, os decisores aumentaram a pena de 12 anos e 11 meses para 17 anos,
1 mês e 10 dias e fixaram o número de 422 dias-multa a serem pagos pelo cagalhão
vermelho por conta dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, praticamente
dobrando o número estipulado originalmente pela juíza Gabriela Hardt. Ao longo da leitura de seu voto (de mais de 350
páginas), o relator afirmou que a culpabilidade de Lula é “bastante elevada”.
“Pouco importa se a propriedade formal
ou material do sítio é de Bittar ou Lula. Há fortes indicativos que a
propriedade possa não ser de Bittar, mas fato é que Lula usava o imóvel com animus rem sibi habendi (intenção de ter a coisa como sua). "Temos farta documentação de provas”, afirmou Gebran.
O
procurador Maurício Gotardo Gerum, representante do MPF, defendeu o aumento da pena do
sevandija de Garanhuns: “Lula poderia
passar a história como um dos maiores estadistas do século XXI, mas se
corrompeu. O desequilíbrio político
permite que hoje se chegue ao cúmulo de se dar atenção a ideias terraplanistas
ou ainda, o que é pior, reverenciar ditadores e figuras abjetas de torturadores”.
Falo em outra oportunidade sobre as consequências desse julgamento
para os demais corréus. Passemos agora à postagem do dia:
O título desta postagem (
MAIS PERDIDO QUE CEGO EM TIROTEIO) expressa o sentimento dos brasileiros
que perderam a fé no
Legislativo, foram
traídos pelo
Executivo e, quando viram
no
Judiciário o último bastião de
suas esperanças, os supremos togados Dias
Toffoli,
Gilmar Mendes,
Ricardo Lewandowski,
Rosa Weber,
Celso de Mello e
Marco
Aurélio não só puxaram lhes puxaram o tapete como lhes cuspiram na cara. Não
se pode responsabilizar — pelo menos, não diretamente — nosso "valoroso
eleitorado" pela péssima composição do
Supremo, mas tampouco se pode isentá-lo de culpa, pois os ministros
são indicados pelo presidente da República e avalizados pelo Senado, e tanto um
quanto os outros são eleitos diretamente pelo voto popular.
Como as nuvens no céu, o cenário político muda conforme o
vento sopra, e agora, desalentados pela postura político-partidária de seis dos
11 membros da nossa mais alta corte de injustiça (se Deus permitir e o Diabo
não atrapalhar, pelo menos dois desses "obeliscos do saber jurídico" serão
substituídos até 2021), os cidadão que apoiaram Bolsonaro visando exorcizar o fantasma do biltre pernambucano e seu
imprestável partido veem com apreensão este governo, e voltam a apostar suas
fichas no Legislativo, a quem
caberia desfazer a suprema cagada que proibiu a prisão de condenados em segunda
instância (situação bizarra e única entre as democracias que se dão ao respeito
e que só vigorou no Brasil durante sete dos últimos oitenta anos).
No Senado, estuda-se reverter a suprema palhaçada através de
uma alteração no Código de Processo
Penal; na Câmara, a ideia é fazer a alternação da Constituição mediante uma
PEC. A questão é que a alteração no CPP pode ser feita em poucas semanas,
ao passo que a proposta de emenda constitucional tem tramitação mais lenta e
burocrática, além de depender da aprovação, em dois turnos, de 308 dos 513 deputados
e 49 dos 81 senadores. Na última terça-feira, líderes das duas casa se reuniram para discutir o
encaminhamento do projeto — que deverá mesmo a PEC, em detrimento do PLS
166/2018 do senador Lasier Martins
(Podemos-RS). O acordo foi costurado
por Davi Alcolumbre, para quem a
emenda constitucional é mais segura, já que a alteração via projeto de lei
poderia ser contestada no STF (vale
lembrar que Dias Toffoli disse que o
Supremo se o Congresso fizesse seu
trabalho, mas parece que nem Alcolumbre
acredita na palavra do presidente da Corte).
Na avaliação do senador Álvaro
Dias, líder do Podemos, há um
acordão para dar o trâmite mais demorado. Lasier
Martins, autor da proposta de alteração do CPP, disse que "os líderes estão decidindo por minoria contra
a ampla maioria das duas Casas e da população”, e que a PEC e o PLS deveriam ir aos plenários das Casas. Já o deputado Alex Manente (Cidadania-SP) , autor da PEC
que tramita na Câmara, afirma que sua proposta garante mais segurança jurídica do
que o projeto de lei do Senado e já passou pela Comissão de Constituição e Justiça, devendo ser aprovada na Câmara
até o 1º trimestre do ano que vem (a estimativa é otimista, já que o projeto ainda
precisa passar por uma comissão especial, que tem 90 dias de prazo, e por duas
votações no plenário das duas Casas).
A presidente da Comissão
de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, senadora Simone Tebet (MDB-MS), afirmou que o projeto que altera o CPP para estabelecer a prisão em segunda instância continuará na
pauta até a Câmara cumprir com o calendário da PEC, ou seja, condiciona o seguimento do acordo à apresentação pela
Câmara de um calendário enxuto de tramitação. Segundo ela, os senadores
não podem dar um cheque em branco e muito menos empenhar sua palavra no escuro.
A senadora confirmou para a próxima quarta-feira (4) um amplo debate, com
presença do ministro Sergio Moro, em
que haverá equidade de membros para cada um dos polos da discussão,
"favorecendo um debate justo".
Tebet disse ainda
que Rodrigo Maia garantiu que
conversará com os líderes da Câmara para fechar as datas exigidas pelo
Senado na próxima terça-feira (3), mas deixou claro que o avanço da PEC na Câmara não impede o retorno do
projeto que já tramita no Senado. "O
calendário será um acordo. Se o acordo não for cumprido, automaticamente dará ao
Senado o direito de pautar imediatamente seu projeto, que está na CCJ e não vai
ser arquivado. Ele vai ficar, se houver o acordo, em ‘stand by’, aguardando o
cumprimento do calendário".
Deputados e senadores dos partidos Podemos, Novo e PSL protestaram durante a reunião. Eles
não têm força suficiente para obstruir votações, sua mobilização, somada à
insatisfação de deputados e senadores com o governo por causa do não
cumprimento de acordos, derrubou a sessão do Congresso, que não atingiu o quórum
necessário para ser realizada.
Na Câmara, o Novo
está coletando assinaturas para aprovar a urgência na apreciação de um projeto
semelhante àquele que o Senado está abrindo mão. A ala lavajatista do
Congresso defendeu que o PL do
Senado e a PEC da Câmara poderiam
tramitar simultaneamente e acusaram uma manobra protelatória. Irritados,
deixaram a reunião na casa do presidente do Congresso e começaram a coletar assinaturas
para pressionar a CCJ a votar o
projeto de lei, independentemente do acordo firmado entre as duas Casas. "Não
vamos nos calar se a tendência for uma maneira protelatória em relação a dar
uma resposta para a sociedade", disse o Major Olimpio, líder do PSL
no Senado.
Com o aval de Alcolumbre,
senadores haviam costurado com o ministro Sérgio
Moro um projeto de lei alterando dois artigos (283 e 637) e criado um novo
(617-A) no CPP, sem necessidade de mudança constitucional. O texto foi
apresentado à Comissão de Constituição e Justiça como um substitutivo da senadora Juíza Selma ao projeto que havia sido
apresentado pelo senador Lasier Martins,
ambos do Podemos. O texto estava
previsto para ser votado na CCJ do
Senado na quarta-feira (27), mas uma audiência pública que aconteceria
na véspera não ocorreu por causa da reunião na casa de Alcolumbre. Sob o argumento de que a confirmação do acordo depende
da apresentação do calendário, a audiência foi reagendada para quarta-feira da
semana que vem (4).
Enquanto isso, a Câmara está trabalhando uma outra PEC. O texto do deputado Alex Manente foi aprovado na CCJ e ainda passará por uma comissão especial antes de seguir
para o plenário e, então, ainda tramitar no Senado. A PEC inicialmente mudava o
inciso 57 do artigo 5º da Constituição, que diz que ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória — no
entendimento tendencioso da ala garantista do STF, até que acabem todas as possibilidades de recurso e que a condenação
se torne definitiva. Pelo texto da PEC
original de Manente, ninguém seria
considerado culpado até a confirmação de sentença penal condenatória em grau de
recurso —ou seja, a prisão já valeria após condenação em segunda instância. Há
divergências, no entanto, sobre se esse inciso do artigo 5º seria uma cláusula
pétrea da Constituição, o que impediria qualquer modificação, mesmo por emenda.
Diante de eventual guerra jurídica envolvendo esse ponto, a
solução encontrada por Manente na
semana passada foi sugerir uma nova PEC
com alterações nos
artigos 102 e 105 da Constituição,
itens que dispõem,
respectivamente, sobre o STF e o STJ. Já se fala, porém, que Gilmar Mendes vem trabalhando para
impedir que a alteração constitucional, caso seja aprovada, não alcance os mais de 4.000 condenados em segunda instância que aguardam presos o julgamento de
seus recursos nas Cortes Superiores. Ou aguardavam, já que eles vêm sendo
libertados a mancheias, a reboque do sevandija de Garanhuns, que deixou sua cela
VIP na PF em Curitiba menos de 24 horas depois da nefasta decisão do STF.