Um plano sinistro, dividido em etapas, onde Moro, juiz parcial movido por obscuros
interesses, sentencia Lula arbitrariamente,
para depois ser galardoado com o prêmio vindo das mãos de Jair Bolsonaro, arqui-inimigo do PT. Tem cabimento?
Pois é. Não sei o que os sectários da seita do inferno andam
cheirando ou fumando, mas, a julgar pela viagem na maionese, deve ser coisa poderosa. Tanto que eles ignoram solenemente fatos notórios, como a incerteza
de vitória de Bolsonaro à época da
condenação, a confirmação da sentença no TRF-4 e
as sucessivas derrotas do molusco nas cortes superiores. Mas contra fatos não
há argumentos.
Causa espécie o TSE
levar em conta esse insurgimento dos maus perdedores — que, a exemplo do
fantasioso registro da candidatura do ex-presidente corrupto, deveria ser
rechaçado de plano — e o STF continuar recebendo docilmente a enxurrada de apelos,
recursos, embargos, reclamações e outras chicanas apresentadas pela constelação
de juristas estrelados que defendem o ex-presidente. Para bom entendedor...
Outra coisa de dar ânsia de vômito até a porcos da Tasmânia é o
comportamento dos nobres congressitsas neste final de mandato (vale lembrar que uma parcela considerável dessa caterva não se reelegeu). Um deles chegou mesmo a ironizar a ideia do futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, de adotar o modelo da Lava-Jato na sua pasta, já que, com 160 deputados e 38 senadores investigados nas mais diversas instâncias, a “ameaça” de Sergio Moro poderia inviabilizar o governo do patrão.
Em que pese a renovação dos quadros da Câmara e do Senado, a
velha (e má) política continua viva e agora assombra o presidente eleito, que antes
mesmo de assumir já sofreu sua primeira derrota com a aprovação (em regime de
urgência urgentíssima) do aumento de 16% aos ministros do STF, cujo efeito cascata agravará ainda mais a situação de penúria
em que se encontram as contas públicas tupiniquins (e não os magistrados
supremos, como parece pensar o ministro Ricardo
Lewandowski).
Seria ingenuidade imaginar que nossos congressistas,
sendo eles que são, aprovaram essa aberração por simples incompetência ou
desinformação. Afinal, qualquer dona-de-casa semialfabetizada sabe que o certo seria primeiro
fazer a reforma da Previdência e só depois pensar em reajustar salários. Mas
suas excelências (sobretudo os que estarão sem mandato na próxima legislatura) estão
de olho no teto do funcionalismo, já que certamente arrumarão uma teta para mamar
enquanto a próxima eleição não vem. Sem falar os que querem garantir a boa vontade dos
magistrados, visto que, sem mandato, perderão o direito ao foro privilegiado, e
aí... Mais uma vez, para bom entendedor...
Fato é que Bolsonaro
sentiu o golpe. Nem ele nem ninguém do seu círculo disse com todas as letras, mas é evidente que a reunião que o presidente eleito teria nesta semana com
os presidentes do Senado e da Câmara foi cancelada devido à palhaçada do Congresso.
Todavia, na avaliação de Fernando
Gabeira, talvez Bolsonaro não tenha compreendido o caráter
parasitário e atrasado da grande máquina estatal.
Em momentos de transição como este em que vivemos acontece pouca coisa além
do anúncio da escolha de ministros e da reorganização administrativa. Às vezes,
equipes que entram revelam dados importantes, pois querem mostrar o tamanho do
buraco. Mas o enxugamento da máquina é essencial. Existe o receio de que o processo conduza a uma rejeição
futura às ideias liberais, mas tanto os liberais como os estatizantes não
escrevem numa página em branco. Mesmo com a correlação de forças a seu favor,
as ideias liberais devem sofrer alguns reparos, adaptações que resultam do
próprio debate. O que mais preocupa é que as coisas estão acontecendo no Brasil
com um tipo de lógica que desconcertante.
O general Heleno disse que o aumento dos juízes era uma "preocupação". Para o governo, talvez seja, mas para os contribuintes foi um
tapa na cara. E como pedir boa vontade aos aposentados, que sobrevivem com um
salário de fome, quando o teto salarial da magistratura (e do funcionalismo,
via de consequência), e majorado em 16% num momento em que não há dinheiro nem
para o cafezinho
Gabeira lembra
também que o novo governador de Minas foi eleito com 72% dos votos — algo inédito
na História. Os eleitores rejeitaram o PT
e o PSDB por uma promessa de reforma
do Estado.
As forças políticas que sobem agora ao poder o fazem com um
apoio de uma frente que amalgama expectativas políticas e ideológicas. Será uma
ingenuidade supor que o cimento ideológico possa manter o edifício em pé com
mudanças apenas cosméticas na vida real. Se as promessas não forem cumpridas, seguirão
todos pelo caminho já trilhado pelo PT
e PSDB. Não existe fidelidade
eterna.
Cada momento tem de ser vivido com a gravidade que merece.
Todo somado e subtraído, a pauta-bomba em fim de mandato não
chega a surpreender, pois sempre foi assim. O que surpreende é como os novos
atores foram polidos e discretos diante desse tipo de facada.
Observação:
Depois das pautas-bombas que aumentam,
segundo a Folha, em mais de R$ 200
bilhões o rombo nas contas públicas, o Senado incluiu na pauta de ontem, meio que "na surdina", a redução
do alcance da lei da Ficha-Limpa. Contrariando o entendimento já
firmado pelo Supremo, os congressistas querem que os políticos condenados antes
de 2010 — ano em que a lei entrou em vigor — fiquem sujeitos à regulamentação
vigente até então, em vez de serem impedidos de disputar eleições por oito anos.
Para encerrar:
Lula deve ser intrrogado hoje pela juíza substituta
Gabriela Hardt. A audiência se refere ao processo sobre o folclórico
Sítio de Atibaia, mas também estão sob a pena da magistrada, já conclusos para sentença, os autos da ação que trata da cobertura vizinha à do petralha e o terreno onde
seria construída a nova sede do
Instituto
Lula.
Está mais que na hora de extirpar esse cancro lulopetista.
Pena que alguns integrantes dos nossos tribunais superiores ajam mais como
militantes do que como magistrados.