Durante os treze anos e meio dos governos de Lula e Dilma o BNDES funcionou
como uma sociedade de ladrões. Ah, não diga —
e daí? Alguma coisa
localizada a menos de 5.000 quilômetros
do Palácio do
Planalto, da Esplanada dos Ministérios e dos seus puxadinhos deixou de ser
roubada por gente do governo durante esse período? Uma ou outra, é verdade,
pois não dá para roubar tudo, de todos, em todos os lugares e ao mesmo tempo. É
fato provado e contraprovado, em todo caso, que muito pouco escapou do arrastão
— e, assim sendo, qual
a novidade de que o BNDES tenha sido
um dos “pontos” do crime em escala
nacional nos governos petistas? (Assim como traficantes de droga têm “pontos”, ladrões do erário público também contam com os seus; é
um fato sabido.) A rigor, não há novidade nenhuma. Mas o BNDES, pelo menos, tinha pose de coisa séria, com o seu “corpo
técnico”, suas regras de compliance, suas obras de arte nas paredes da sede
etc.; deveria disfarçar melhor a ladroagem desvairada que rolou ali durante
mais de dez anos seguidos. Só que, no fim das contas, o que se vê é que o banco
de desenvolvimento social sagrado para os economistas de esquerda foi tão
grosseiro nas atividades gerais da corrupção quanto a maioria dos seus pares.
Até tu, BNDES?
Sim, até tu. No embalo Lula-Dilma, o
pessoal esqueceu de prestar atenção às exigências mínimas de decoro na
roubalheira — algo a
se prever, francamente, numa repartição
pública de 2.000
funcionários, cheia
de gente com mestrado em universidade, elogiada por um Prêmio Nobel de Economia
(foi só Joseph Stiglitz, é verdade, mas o homem
é Premio Nobel assim mesmo) e produtora regular de monografias incompreensíveis
em qualquer língua. Em resumo: o banco a serviço da pátria é apenas a corrupção
do PT vestida de gravata, com cartaz
na Unicamp e conhecedora de menus em restaurantes de Nova York. Seu alto
comando não é diferente de um Antônio
Palocci, um Sérgio Cabral, um Geddel Vieira Lima e tantas outras
estrelas inesquecíveis que o Brasil deve ao gênio político do ex-presidente Lula. É certo que existe, do ponto de
vista legal, uma diferença fundamental entre essa turma e o ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho: ele até agora não foi condenado na Justiça. Está
indiciado em diversos inquéritos criminais na Polícia Federal, foi proibido de
exercer qualquer cargo público por seis anos e sofre um bloqueio em seus bens
pessoais superior a 600 milhões de reais, mas continua livre da cadeia. Fora
isso, Coutinho não parece ter nada
em seu favor.
Basicamente, o problema de Coutinho é o seguinte: ele emprestou dinheiro público a gente que
jamais teve a intenção de pagar um único centavo da dívida assumida, como
qualquer criança com 10 anos de idade poderia prever. Só de Cuba, Venezuela e
Moçambique, tomou um calote superior a 2,3 bilhões de reais. Deu dinheiro
brasileiro, que o BNDES tem
obrigação de utilizar em desenvolvimento no Brasil, para governos estrangeiros
que estão entre os mais vigaristas do planeta, como os citados acima. Gostava
de emprestar, com juros mínimos e prazos máximos, a países com grau 7 de risco,
o extremo do extremo. (Pior que isso não fica; não existe o grau 8.) Deu
empréstimo a quem Lula mandou que
desse — segundo o
ministro Paulo Guedes, financiou
300.000 caminhões
para motoristas sem fretes, sem clientes e sem dinheiro para recauchutar um
pneu. Deu dinheiro para Marcelo
Odebrecht — sim, Marcelo Odebrecht. Precisa dizer mais
alguma coisa? Sua coleção
também inclui Eike Batista, o Friboi, a incomparável
Sete Brasil — só
ela, sozinha, levou 10 bilhões
de reais. Tudo com “o
aval do Jurídico”, é claro.
Seu desempenho na CPI que apura a “caixa preta” do BNDES foi uma coisa triste. Em pânico
diante das perguntas, repetia, automaticamente, “não lembro”, “não sei”, “não
posso dizer”. Pois é. CPIs, no Brasil, não costumam dar em nada. Caixas-pretas,
ao contrário, tem o dom divino de continuar pretas para sempre. Homem de sorte,
esse Coutinho.
Texto de J.R. Guzzo.