Na última segunda-feira,
Joaquim Levy foi confirmado para assumir o
BNDES no governo de
Bolsonaro. A indicação, antecipada na véspera
pela colunista Sonia Racy, foi bem recebida no mercado financeiro, mas nem todo mundo a vê com
bons olhos.
Aluízio Amorim,
por exemplo, publicou em seu Blog que o esquema que levou à escalação do novo comandante
do
BNDES demonstra que o
establishment
já nem age mais nas sombras em seu afã de nomear ministros, assessores e
funcionários do novo Governo, que
Levy
parece ter perfil de bom moço e não discutir as ordens emanadas de seus patrões,
mas que
Bolsonaro foi simplesmente
ignorado pelos donos do poder, numa espécie de “golpe de Estado antecipado”
(antecipado porque o futuro presidente só será empossado no dia 1º de janeiro
do ano que vem).
Nascido no Rio de Janeiro e formado em Engenharia Naval, Levy obteve o doutorado em Economia
pela Universidade de Chicago em 1992 (a mesma onde Paulo Guedes obteve seu PhD) e o mestrado em economia pela FGV em
1987. Gentil no trato, erudito nas palavras, extremamente irônico e considerado ortodoxo, mas com uma atuação mais
tradicional na economia, ele ficou conhecido como “o homem do ajuste” durante o
governo Dilma, quando presidiu o
Banco Central por 11 meses e promoveu uma série de medidas que culminaram no aumento de vários tributos e na limitação de benefícios sociais, mas não conseguiram garantir o reequilíbrio das contas do governo.
O desgaste de Levy
no cargo e a perda de prestígio aumentaram depois que ele passou a receber
críticas públicas de integrantes do governo, de parlamentares do PT e do próprio Lula, além de ser alvo de empresários insatisfeitos com as medidas
de elevação da carga tributária, com a proposta de recriação da CPMF e com o agravamento do quadro
recessivo. Em sua gestão, foram aumentados tributos sobre empréstimos, carros,
cosméticos, cerveja, vinhos, destilados, computadores, smartphones, bancos,
receitas financeiras das empresas, taxas de fiscalização de serviços públicos,
gasolina e exportações de manufaturados, direitos de imagem, entre outros. A
última bandeira que defendeu antes de deixar o governo foi a recriação da CPMF. “É ruim, dói, mas vai dar
certo”, disse.
Bolsonaro disse confiar na escolha feita por
Paulo Guedes,
apesar de ter ouvido reações contrárias pelo fato de o escolhido ter sido
secretário do Tesouro no governo
Lula, secretário da Fazenda do Rio na gestão de
Sérgio Cabral e ministro de
Dilma.
Um currículo e tanto.
Guedes espera que
Levy traga mais dólares das
instituições internacionais, aumente a captação externa e foque a atuação do BNDES na estruturação de privatizações,
infraestrutura e inovação. Como ele ocupa atualmente um
cargo no staff do Banco Mundial, pode ampliar o diálogo com as instituições
estrangeiras, e seu amplo conhecimento nos assuntos fiscais dos Estados terá
papel importante nas negociações para a construção de um plano de salvamento
das finanças dos governos estaduais, já considerado inevitável.
Apesar de ter integrado o governo do PT, Levy é um importante reforço para o staff de Bolsonaro, que precisa dar segurança ao mercado e maior
previsibilidade para o futuro governo. Para analistas e gestores do mercado
financeiro, o escolhido conhece bem as engrenagens de Brasília, tem experiência na vida pública, está
convicto da necessidade de se promover um ajuste fiscal e sabe o que precisa
ser feito. Além disso, Bolsonaro quer moralizar o BNDES e
fazer uma devassa, o que é positivo para as contas públicas, pois o Tesouro não
pode ficar aportando dinheiro para o Banco queimar ajudando quem não precisa.
Resta saber quem será escolhido para presidir a Petrobras. No que depender de Paulo Guedes, Ivan Monteiro continua comandando a estatal. Quando ao BC, fontes ligadas à equipe de
transição haviam dito que a permanência de Ilan Goldfajn dependia apenas
de “motivação pessoal”. Como Ilan declinou do convite, Roberto Campos Neto, diretor do Banco Santander, foi confirmado para substituí-lo.
Desejo um ótimo sábado a todos.