quinta-feira, 24 de maio de 2018

A MENOS DE 5 MESES DAS ELEIÇÕES...



Após dois anos na presidência, Temer tem mais a lamentar do que a comemorar. Claro que o Brasil melhorou ― pior não poderia ficar, a menos que Dilmanta continuasse posando de chefa, e o PT, nos bastidores, roubando a mais não poder. Pena que a roubalheira continue, agora sob nova direção.

Mesmo com a Lava-Jato a todo vapor, nossos conspícuos políticos não tomam jeito. Parecem viver em outro mundo ― e talvez vivam mesmo, porque Brasília é a ilha da fantasia. Depois, quando são pegos com as calças na mão e a cueca manchada de batom, fazem cara de paisagem, juram inocência, dizem que foi tudo armação, perseguição, que confiam em Deus e na Justiça, e que a verdade prevalecerá. Acham que temos cara de palhaço ― e com Gilmar Mendes brincando de laxante universal, talvez eles não estejam errados.

Quase metade dos parlamentares (aí incluídos os membros da Câmara e do Senado) tem contas a acertar com a Justiça penal. E se a outra metade escapou até agora, é porque as investigações ainda não chegaram até ela. Se gritar “pega ladrão”, não fica um ― como dizia o finado Teori Zavascki [sobre corrupção], “a gente puxa uma pena e vem uma galinha”.

Seria uma benção se nosso esclarecido e politizado eleitorado aproveitasse as eleições de outubro para promover uma faxina em regra na Praça dos Três poderes, trocando de uma tacada só o chefe do executivo (e a camarilha que gravita em seu entrono), ¾ dos 81 senadores e todos os 513 deputados federais ― cá entre nós, talvez as eleições proporcionais, na atual conjuntura, sejam mais importantes do que a presidencial, mas vamos por partes.    

As propaladas semelhanças entre o pelito de outubro próximo e as eleições de 1989 não vão além do número elevado de postulantes à cadeira presidencial. Até porque desta vez é fundamental avaliar com cuidado se o candidato tem condições de ir até o final do mandato (dos 4 presidentes eleitos desde a redemocratização, 2 foram impichados).

Salta aos olhos que a maioria dos pré-candidatos, por razões que vão do temperamento à falta de estrutura política, correriam sério risco de não terminarem o mandato se eleitos fossem. Daí a importância aumentada das eleições proporcionais, porque caberá aos deputados e senadores dar ou não sustentação ao novo presidente ― e eventualmente apeá-lo do cargo.

O desafio é enorme, inversamente proporcional à dificuldade de encontrar candidatos sérios e preparados ― sobretudo para a Câmara, ainda que a “qualidade” dos nossos senadores deixe muito a desejar. É certo que seria utópico sonhar com duas Casas Legislativas apinhadas de luminares, mas ao menos poderíamos eleger, para variar, alguns políticos razoavelmente instruídos, honestos, bem-intencionados e dispostos a usar o poder para servir, e não para se servir.

O criminoso Lula, quando ainda não se sabia do que ele seria capaz, recebeu de FHC um país com trajetória de estabilidade e pronto para decolar. Fez coisas boas, notadamente nas áreas fiscal e monetária, mas rapidamente perdeu a mão. Mesmo assim, encerrou seu segundo mandato com a popularidade nas alturas, o que lhe permitiu eleger Dilma sua sucessora ― seguramente a pior das escolhas que o molusco abjeto fez em toda sua vida política, tanto para o país quanto para si próprio.

Michel Temer conspirou para derrubar a presidanta imbuído do propósito de recolocar o Brasil nos trilhos, mas cercou-se de corruptos. Para piorar, jamais teve apoio popular e desde sempre lhe sobraram abacaxis ― entre os quais, sabe-se agora, os fantasmas da sua vida pregressa. Mas não lhe faltará tempo para refletir sobre isso depois que deixar a presidência e for chamado a prestar contas à Justiça.

Para que o país volte a crescer de maneira sustentável, o próximo presidente terá de abrir a economia ― que ainda é relativamente fechada ―, fazer a reforma tributária e uma reforma trabalhista de verdade. Isso sem mencionar a Previdência, que deve ser tratada como prioridade zero, pois, como toda medida impopular, deve ser levada a efeito logo no início do mandato, quando o político dispõe do aval das urnas, da boa vontade dos congressistas e do apoio da sociedade.

Infelizmente, essa é uma tarefa para a qual nenhum dos mais de 20 pré-candidatos parece minimamente preparado, sobretudo Bolsonaro ― comparado a quem Donald Trump se torna o obelisco da normalidade ― e a sonhática Marina Silva, que figuram, respectivamente, como primeiro e segundo colocados nas pesquisas de intenção de voto sem o nome de Lula (o sevandija de Garanhuns é carta fora do baralho, pouco importa que o PT o mantenha nas pesquisas e pretenda insistir em sua candidatura até o último instante).

Resumo da ópera: Embora a possibilidade se torne menor a cada dia, ainda pode despontar no horizonte um político de centro-direita, carismático, com credibilidade, que não esteja envolvido em corrupção e que se destaque pela capacidade de execução. Mas de nada adianta encontrar essa mosca-branca-de-olho-azul se não elegermos parlamentares aptos a construir uma legislação mais moderna e dinâmica, que atraia e dê confiança aos investidores internacionais. Alguns dirão que é mais provável que o eleitorado repita o padrão dos pleitos de 2006, 2010 e 2014, quando o nordeste votou em peso nos candidatos de esquerda, e o centro-sul, com destaque para São Paulo, optou pelos candidatos tucanos. Mas a esperança é a última que morre.

Que Deus nos ajude.

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