Após dois anos na presidência, Temer tem mais a lamentar do que a comemorar. Claro que o Brasil
melhorou ― pior não poderia ficar, a menos que Dilmanta continuasse posando de chefa, e o PT, nos bastidores, roubando a mais não poder. Pena que a
roubalheira continue, agora sob nova direção.
Mesmo com a Lava-Jato
a todo vapor, nossos conspícuos políticos não tomam jeito. Parecem viver em
outro mundo ― e talvez vivam mesmo, porque Brasília é a ilha da fantasia. Depois,
quando são pegos com as calças na mão e a cueca manchada de batom, fazem cara
de paisagem, juram inocência, dizem que foi tudo armação, perseguição, que
confiam em Deus e na Justiça, e que a verdade prevalecerá. Acham que temos cara
de palhaço ― e com Gilmar Mendes
brincando de laxante universal, talvez eles não estejam errados.
Quase metade dos parlamentares (aí incluídos os membros da Câmara e do Senado) tem contas a acertar com a Justiça penal. E se a outra
metade escapou até agora, é porque as investigações ainda não chegaram até ela.
Se gritar “pega ladrão”, não fica um ― como dizia o finado Teori Zavascki [sobre corrupção], “a gente puxa uma pena e vem uma galinha”.
Seria uma benção se nosso esclarecido e politizado eleitorado aproveitasse as eleições de
outubro para promover uma faxina em regra na Praça dos Três poderes, trocando
de uma tacada só o chefe do executivo (e a camarilha que gravita em seu entrono),
¾ dos 81 senadores e todos os 513 deputados federais ― cá entre nós, talvez as
eleições proporcionais, na atual conjuntura, sejam mais importantes do que a
presidencial, mas vamos por partes.
As propaladas semelhanças entre o pelito de outubro próximo
e as eleições de 1989 não vão além do número elevado de postulantes à
cadeira presidencial. Até porque desta vez é fundamental avaliar com
cuidado se o candidato tem condições de ir até o final do mandato (dos 4
presidentes eleitos desde a redemocratização, 2 foram impichados).
Salta aos olhos que a maioria dos pré-candidatos, por razões
que vão do temperamento à falta de estrutura política, correriam sério risco de
não terminarem o mandato se eleitos fossem. Daí a importância aumentada das
eleições proporcionais, porque caberá aos deputados e senadores dar ou não
sustentação ao novo presidente ― e eventualmente apeá-lo do cargo.
O desafio é enorme, inversamente proporcional à
dificuldade de encontrar candidatos sérios e preparados ― sobretudo para a Câmara, ainda que a “qualidade”
dos nossos senadores deixe muito a desejar. É certo que seria utópico sonhar
com duas Casas Legislativas apinhadas de luminares, mas ao menos poderíamos
eleger, para variar, alguns políticos razoavelmente instruídos, honestos,
bem-intencionados e dispostos a usar o poder para servir, e não para se
servir.
O criminoso Lula, quando ainda não se sabia do
que ele seria capaz, recebeu de FHC um país com trajetória de
estabilidade e pronto para decolar. Fez coisas boas, notadamente nas áreas
fiscal e monetária, mas rapidamente perdeu a mão. Mesmo assim, encerrou seu
segundo mandato com a popularidade nas alturas, o que lhe permitiu eleger Dilma sua sucessora ― seguramente a
pior das escolhas que o molusco abjeto fez em toda sua vida política, tanto
para o país quanto para si próprio.
Michel Temer conspirou para derrubar a
presidanta imbuído do propósito de recolocar o Brasil nos trilhos, mas
cercou-se de corruptos. Para piorar, jamais teve apoio popular e desde sempre
lhe sobraram abacaxis ― entre os quais, sabe-se agora, os fantasmas da sua vida
pregressa. Mas não lhe faltará tempo para refletir sobre isso depois que deixar
a presidência e for chamado a prestar contas à Justiça.
Para que o país volte a crescer de maneira sustentável, o
próximo presidente terá de abrir a economia ― que ainda é relativamente fechada
―, fazer a reforma tributária e uma reforma trabalhista de verdade. Isso
sem mencionar a Previdência, que deve ser tratada como prioridade zero, pois,
como toda medida impopular, deve ser levada a efeito logo no início do mandato,
quando o político dispõe do aval das urnas, da boa vontade dos congressistas e do
apoio da sociedade.
Infelizmente, essa é uma tarefa para a qual nenhum dos mais
de 20 pré-candidatos parece minimamente preparado, sobretudo Bolsonaro ―
comparado a quem Donald Trump se torna o obelisco da
normalidade ― e a sonhática Marina Silva, que figuram,
respectivamente, como primeiro e segundo colocados nas pesquisas de intenção de
voto sem o nome de Lula (o sevandija de Garanhuns é carta fora do baralho,
pouco importa que o PT o mantenha nas pesquisas e pretenda
insistir em sua candidatura até o último instante).
Resumo da ópera: Embora a possibilidade se torne menor
a cada dia, ainda pode despontar no horizonte um político de centro-direita,
carismático, com credibilidade, que não esteja envolvido em corrupção e que se
destaque pela capacidade de execução. Mas de nada adianta encontrar essa mosca-branca-de-olho-azul
se não elegermos parlamentares aptos a construir uma legislação mais moderna e
dinâmica, que atraia e dê confiança aos investidores internacionais. Alguns
dirão que é mais provável que o eleitorado repita o padrão dos pleitos de 2006,
2010 e 2014, quando o nordeste votou em peso nos candidatos de esquerda, e o
centro-sul, com destaque para São Paulo, optou pelos candidatos tucanos. Mas a
esperança é a última que morre.
Que Deus nos ajude.
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