Assim como ocorre na Amazônia, pega fogo e produz muita
fumaça o debate internacional a respeito das queimadas na floresta. Na última sexta-feira,
Emmanuel Jean-Michel Frédéric Macron
disse que Bolsonaro mentiu ao
assumir compromissos em defesa do ambiente na cúpula do G20, em junho, e que isso inviabiliza a ratificação do acordo
comercial entre a União Europeia e o
Mercosul, concluído no mesmo mês.
Para
ilustrar suas postagens, o presidente francês usou uma foto de 1989 e outra de
um fotógrafo morto em 2013 (poderia ao menos ter escrito "fotos meramente ilustrativas"), demonstrando que há nesse caldeirão mais ideologia,
preconceito, colonialismo e má-fé do que qualquer outra coisa. Além disso, a
exemplo de outros desinformados, ele se referiu à floresta amazônica como "pulmão
do mundo", além de dizer algo como "nossa casa está em chamas", dando
a entender que considera a região como mero quintal do país que governa.
Mas
a coisa não se limita à França: a Irlanda também ameaçou bloquear a
implantação do pacto caso o Brasil não atue para combater os incêndios, e
outras nações já estudam impor ao Brasil sanções comerciais — a Finlândia, que
está na presidência rotativa da UE,
pediu ao bloco que avalie a possibilidade de banir a carne bovina brasileira.
Em épocas secas do ano, como é o caso desta no Hemisfério
Sul, é comum vermos notícias de queimadas na Europa, na Ásia e na América do
Norte. Bolsonaro colaborou para o
incêndio retórico atribuindo a autoria do crime a ONGs financiadas pelos países ricos — mais uma bobagem das muitas
que a "usina de crises" vem externando dia sim, outro também. Na noite da última
sexta-feira, pressionado pelo agravamento da situação, o capitão fez um
pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão — pontuado por panelaços aqui e acolá — para anunciar
medidas de combate aos incêndios e ao desmatamento na Amazônia Legal, formada por 8 estados e parte do Maranhão, que totaliza 5 milhões de quilômetros quadrados. A pergunta é: o que há de verdade
em tudo isso?
Segundo Leandro
Narloch, autor do "Guia
Politicamente Incorreto da História do Brasil" a chamada do G1, segundo a qual "a fumaça das queimadas já é visível de
satélite da NASA" — de fato, a agencia aeroespacial americana captura
imagens das queimadas de inverno da
Amazônia há décadas e compara ano a ano o início da
temporada de fogo e o tamanho das manchas de fumaça —, dá a entender que as
queimadas deste ano foram tão intensas que
foram vistas pelos satélites.
Em 2019, segundo o relatório que motivou a reportagem do portal de notícias Globo, “as observações de satélite indicaram que o total de queimadas na Amazônia foi levemente abaixo na comparação com os últimos 15 anos. Apesar da atividade ter sido acima da média no Amazonas e em menor grau em Rondônia, ficou abaixo da média no Mato Grosso e no Pará”. Por algum motivo, o G1 simplesmente omitiu essa informação central do curto relatório da NASA. Preferiu reproduzir dados do INPE, segundo os quais as queimadas aumentaram 190% em Rondônia.
Em 2019, segundo o relatório que motivou a reportagem do portal de notícias Globo, “as observações de satélite indicaram que o total de queimadas na Amazônia foi levemente abaixo na comparação com os últimos 15 anos. Apesar da atividade ter sido acima da média no Amazonas e em menor grau em Rondônia, ficou abaixo da média no Mato Grosso e no Pará”. Por algum motivo, o G1 simplesmente omitiu essa informação central do curto relatório da NASA. Preferiu reproduzir dados do INPE, segundo os quais as queimadas aumentaram 190% em Rondônia.
Em maio, o Ibama
publicou em seu site que fiscais atuariam no sudoeste do Pará para combater
focos de desmatamento. Não especificou o dia nem as cidades (de uma região
maior que Portugal) onde as ações ocorreriam. Foi um caso único — nenhuma linha
informava que esse procedimento se tornaria um padrão. Apesar disso, grandes
jornais informaram que o Ibama passaria a partir de então a avisar os locais
das batidas dos fiscais.
A Forbes
publicou: “Amazônia está queimando e a fumaça transformou o dia em noite em São
Paulo”. A escuridão repentina que passou por São Paulo na tarde da última segunda-feira
foi
obviamente causada por uma frente fria. Também contribuiu
para ela a fumaça vinda de incêndios da Bolívia, não da Amazônia. A onda de queimadas
deste ano não é exclusividade da Amazônia — também vem também vem acontecendo
na Bolívia, Paraguai e Paraná. Como o repórter Duda Teixeira afirmou
na Crusoé, “a Bolívia está registrando o maior desastre ambiental de
sua história,
com cerca de 500 mil hectares consumidos pelo fogo”. É uma
área equivalente à desmatada na Amazônia nos últimos doze meses. Só no Parque Nacional
de Ilha Grande, entre o Paraná e o Mato Grosso do Sul, o fogo levou, nos
últimos dias, cerca de 45 mil hectares.
“Em cem anos, Europa
ficou mais verde mesmo após duas guerras mundiais”, noticiou o Jornal Nacional em 19 de agosto. Nenhum
erro na reportagem, mas faltou esclarecer um detalhe: o que permitiu a Europa
se reflorestar e proteger espécies foi a riqueza. A maior produtividade, causa
número 0001 da prosperidade, torna as pessoas menos dependentes da natureza. Gente
pobre, por outro lado, não costuma se preocupar com sustentabilidade: se você
está há três dias sem comer, vai abater sem culpa um animal em extinção. Se
estiver de barriga cheia, se dará ao luxo de ligar para a dor dos animais. Em
todo mundo, animais em extinção de países ricos estão se recuperando — é o caso
de lobos, ursos, alces e veados. Já os de países pobres da África, elefantes,
girafas e leões seguem ameaçados. No Brasil, é difícil acreditar que população
amazônica vai se preocupar com a floresta antes de deixar a miséria.
Diversos jornais publicaram: “Para cuidar do meio ambiente, Bolsonaro sugere fazer cocô dia sim, dia
não”. Aqui não há nenhuma interpretação enviesada. O presidente realmente disse essa bobagem.