AGORA VEMOS POR ESPELHO, EM ENIGMA, MAS, ENTÃO, VEREMOS FACE A FACE; AGORA CONHEÇO EM PARTE, MAS, ENTÃO, CONHECEREI COMO TAMBÉM SOU CONHECIDO.
A Teoria do Big Bang explica a origem do Universo, mas não elucida o que precedeu a "grande explosão", ou por outra, como "tudo veio do nada". Sabe-se que as primeiras partículas de matéria que compõem o núcleo atômico — prótons e nêutrons — surgiram um décimo de milésimo de segundo após o Big Bang, mas o que existia até então pertence ao reino da física especulativa.
Uma hipótese plausível é que o cosmos era formado por uma "sopa" de partículas elementares de vida curta — quarks, os blocos fundamentais dos prótons e nêutrons — misturadas com antimatéria em quantidades aproximadamente iguais. Mas, se matéria e antimatéria se anulam mutuamente, como essas partículas conseguiram permanecer?
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
A julgar pelo interrogatório de Mauro Cid, o que se passou no governo Bolsonaro em 2022, notadamente no período pós-eleição presidencial, foi uma adesão total à prática do desaforo institucional, corrupção de valores e roubalheira de princípios. Na tentativa de reduzir a gravidade das ações, Cid traçou um paralelo ao que o ex-ministro Marco Aurélio chamou certa vez de realidade de “faz de conta”, em que agentes públicos negam os fatos para escapar de suas responsabilidades. A referência, então, era ao roubo de dinheiro justificado sob a rubrica da prática comum do caixa dois; agora, o que se viu foi a subtração de preceitos da legalidade, travestida de conversas de bar (nas palavras do delator).
Quando Alexandre de Moraes perguntou se o almirante Almir Garnier havia colocado as tropas da Marinha à disposição do golpe, Bolsonaro respondeu: “Em hipótese alguma. Não tinha clima, não tinha oportunidade e não tinha uma base minimamente sólida para fazer qualquer coisa.” Questionado por seu próprio advogado a respeito de usar a Abin para produzir relatórios com informações falsas sobre urnas eletrônicas, o general Augusto Heleno respondeu: “De maneira nenhuma. Não havia clima.” O sincericídio foi tão grande que o próprio Moraes ironizou: “Não fui eu quem fez a pergunta, general. Eu quero registrar nos anais da Corte que foi o seu advogado.”
Bolsonaro admitiu ter mostrado a chamada “minuta do golpe” ao então comandante do Exército, mas negou que ele tenha ameaçado prendê-lo, como afirmou seu ex-ajudante de ordens e delator no processo. Classificou como “malucos” os milhares de apoiadores que acamparam em frente aos quartéis pedindo uma intervenção militar após sua derrota nas eleições. Mais adiante, exibindo uma inusitada vocação para comediante, chegou a convidar Moraes para ser seu vice em uma hipotética candidatura à Presidência da República (o ministro declinou). Em certo momento, chamou de “malucos” seus próprios seguidores que pediam intervenção das Forças Armadas diante do resultado das urnas.
Interrogado por videoconferência, o general Braga Netto — vice na chapa de reeleição de Bolsonaro e um dos auxiliares mais próximos do ex-presidente nos últimos meses de governo — rebateu a acusação de Cid de que teria levado uma caixa de vinho com milhares de reais para ser entregue aos chamados “kids pretos”. Também foram ouvidos os ex-ministros Anderson Torres (Justiça) e Sérgio Nogueira (Defesa), e o ex-comandante da Marinha. Os três admitiram ter discutido a possibilidade de um golpe de Estado, mas negaram envolvimento em qualquer trama golpista.
A conclusão dos interrogatórios em menos da metade do tempo previsto inicialmente confirma a rapidez com que Moraes tem conduzido o inquérito, mesmo dando a todos os réus o espaço que desejaram para falar e permitindo que ministros da 1ª Turma fizessem questionamentos — só Luiz Fux deu o ar da graça.
Avaliar depoimentos de réus deveria ser tarefa para analistas políticos, não para psicanalistas. Neste caso, porém, ambos talvez chegassem à mesma conclusão: não se trata apenas de atos falhos, mas de uma arquitetura deliberada da mentira. O que estava em jogo não era só o poder, mas a própria sanidade institucional. E, entre delírios, cinismo e amnésias seletivas, o Brasil foi transformado em um experimento de realidade paralela. O próprio Freud teria dificuldade para explicar tamanha dissonância entre o que foi dito e o que foi feito — talvez apenas o Dr. House, com sua máxima: “todo mundo mente”.
A física como a conhecemos deixa de fazer sentido nos primeiros 5,39 × 10⁻⁴⁴ segundos contados a partir do "início" do universo — um intervalo conhecido como tempo de Planck. Nesse limite extremo, a gravidade e a mecânica quântica tornam-se incompatíveis, e, sem uma teoria unificada de gravidade quântica, não é possível descrever com precisão o que realmente ocorreu. À medida que o universo se expandia e esfriava, a sopa densa e quente de quarks e glúons começou a se combinar, formando prótons e nêutrons — isso por volta de 10⁻⁶ segundos após o Big Bang.
Quando falamos que “tudo veio do nada”, é preciso lembrar que, na cosmologia, “nada” pode significar ausência de matéria, de espaço-tempo, ou mesmo um vácuo quântico repleto de flutuações. Segundo a Teoria Quântica de Campos, mesmo no vácuo existem atividades físicas — flutuações de energia que podem dar origem a partículas que logo desaparecem. Por mais que isso pareça uma abstração matemática, essas partículas foram detectadas em inúmeros experimentos.
Algumas hipóteses sugerem que o Universo pode ter surgido de uma flutuação do vácuo, com energia total zero — em que a energia positiva da matéria seria cancelada pela energia negativa da gravidade. Stephen Hawking e outros físicos exploraram a ideia de que o surgimento espontâneo do Universo poderia ser possível dentro da física quântica. Mas, novamente, estamos falando de um campo altamente especulativo.
Voltando no tempo até a chamada Era de Planck — que ocorreu um décimo de milionésimo de um trilionésimo de um trilionésimo de um trilionésimo de segundo após o Big Bang — deparamo-nos com um limite onde nossas melhores teorias entram em colapso. O próprio espaço-tempo, nesse ponto, sofre flutuações quânticas. E como vimos em outras postagens, a mecânica quântica governa o micromundo das partículas e a relatividade geral, o universo em grande escala. Para unificá-las, precisaríamos de uma Teoria de Tudo.
Segundo a Teoria das Cordas e a Gravidade Quântica em Loop, espaço e tempo seriam conceitos emergentes, como ondas na superfície de um oceano profundo. O que chamamos de espaço-tempo seria, na verdade, o resultado de processos quânticos ainda mais fundamentais. Fica ainda mais complicado quanto tentamos entender que, na Era de Planck, não apenas o espaço e o tempo deixam de fazer sentido, como a causalidade se desintegra.
Vale destacar que as candidatas à "teoria da gravidade quântica" descrevem um tipo de realidade física que estaria ocorrendo naquele momento primordial — uma espécie de precursor quântico do espaço e tempo, mas a física ainda não encontrou um exemplo confirmado de algo surgindo literalmente do nada. A procura por esse "santo graal" deu azo a explicações sobrenaturais, a modelos cíclicos do Universo e à Teoria do Multiverso, segundo a qual infinitos universos coexistem, cada qual com suas próprias leis e histórias.
Inspirado por uma conexão matemática curiosa entre um universo inicial quente e denso e um universo final frio e vazio, o físico Roger Penrose, ganhador do Nobel em 2020, propôs a chamada cosmologia cíclica conformada. Nela, os estados iniciais e finais se tornam matematicamente idênticos quando levados aos seus limites. Em outras palavras: o Big Bang pode ter surgido de um "quase nada" — o resquício de um universo anterior, onde toda a matéria teria sido consumida por buracos negros e transformada em fótons dispersos num imenso vazio.
Mesmo assim, esse "nada" ainda seria um tipo de "algo", como um universo físico desprovido de estrutura. O paradoxo aqui é que esse estado frio e vazio pode ser o mesmo que o estado quente e denso visto sob outra perspectiva. A solução, segundo Penrose, poderia ser uma transformação geométrica complexa, que altera o tamanho, mas não a forma, já que tanto o conceito de tamanho como o próprio tempo podem deixar de fazer sentido em estados extremos.
O estado frio e vazio existiria eternamente numa linha do tempo própria, enquanto o estado quente e denso habitaria uma nova linha temporal. Sem embargo, ainda que essa hipótese se comprove no futuro, a pergunta filosófica mais profunda ainda permanece: de onde veio a própria realidade física? De ciclos infinitos, cada um gerando o próximo com variações quânticas aleatórias? Ou de um único ciclo, repetido eternamente, como um universo que retorna sempre ao mesmo ponto, reproduzindo a si mesmo?
Penrose sugere que cada ciclo do universo é único — o que abriria a possibilidade de detectarmos vestígios do ciclo anterior na radiação cósmica de fundo que observamos hoje. Ele e seus colegas afirmam ter encontrado essas marcas nos dados coletados pelo satélite Planck, que mapeou com alta precisão essa radiação remanescente do Big Bang. Segundo os cientistas, certos padrões circulares identificados nos mapas poderiam ser ecos de buracos negros supermassivos que existiram no ciclo anterior. Mas essas conclusões ainda são alvo de intenso debate entre seus pares.
Se um dia encontrarmos uma forma natural de transformar essa cosmologia cíclica de múltiplos ciclos para um único ciclo fechado, nosso Universo poderia ser um loop contínuo do Big Bang ao vazio e de volta ao Big Bang, num renascimento perpétuo do mesmo multiverso quântico, onde tudo que pode acontecer acontece, e acontece de novo, de novo e de novo.
Na mitologia nórdica, a serpente Jörmungandr, filha de Loki, morde a própria cauda, criando o círculo que sustenta o equilíbrio do mundo. Como se vê, a pergunta "de onde viemos?" pode ser mais antiga do que imaginamos. As teorias são muitas, mas, ao fim e ao cabo, talvez todas nos levem de volta ao ponto de partida.