sexta-feira, 13 de junho de 2025

BIG BANG — DO NADA AO TUDO (FINAL)

AGORA VEMOS POR ESPELHO, EM ENIGMA, MAS, ENTÃO, VEREMOS FACE A FACE; AGORA CONHEÇO EM PARTE, MAS, ENTÃO, CONHECEREI COMO TAMBÉM SOU CONHECIDO.

Teoria do Big Bang explica a origem do Universo, mas não elucida o que precedeu a "grande explosão", ou por outra, como "tudo veio do nada". Sabe-se que as primeiras partículas de matéria  que compõem o núcleo atômico — prótons e nêutrons — surgiram um décimo de milésimo de segundo após o Big Bang, mas o que existia até então pertence ao reino da física especulativa. 

Uma hipótese plausível é que o cosmos era formado por uma "sopa" de partículas elementares de vida curta — quarks, os blocos fundamentais dos prótons e nêutrons — misturadas com antimatéria em quantidades aproximadamente iguais. Mas, se matéria e antimatéria se anulam mutuamente, como essas partículas conseguiram permanecer?

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A julgar pelo interrogatório de Mauro Cid, o que se passou no governo Bolsonaro em 2022, notadamente no período pós-eleição presidencial, foi uma adesão total à prática do desaforo institucional, corrupção de valores e roubalheira de princípios. Na tentativa de reduzir a gravidade das ações, Cid traçou um paralelo ao que o ex-ministro Marco Aurélio chamou certa vez de realidade de “faz de conta”, em que agentes públicos negam os fatos para escapar de suas responsabilidades. A referência, então, era ao roubo de dinheiro justificado sob a rubrica da prática comum do caixa dois; agora, o que se viu foi a subtração de preceitos da legalidade, travestida de conversas de bar (nas palavras do delator).

Quando Alexandre de Moraes perguntou se o almirante Almir Garnier havia colocado as tropas da Marinha à disposição do golpe, Bolsonaro respondeu: “Em hipótese alguma. Não tinha clima, não tinha oportunidade e não tinha uma base minimamente sólida para fazer qualquer coisa.” Questionado por seu próprio advogado a respeito de usar a Abin para produzir relatórios com informações falsas sobre urnas eletrônicas, o general Augusto Heleno respondeu: “De maneira nenhuma. Não havia clima.” O sincericídio foi tão grande que o próprio Moraes ironizou: “Não fui eu quem fez a pergunta, general. Eu quero registrar nos anais da Corte que foi o seu advogado.”

Bolsonaro admitiu ter mostrado a chamada “minuta do golpe” ao então comandante do Exército, mas negou que ele tenha ameaçado prendê-lo, como afirmou seu ex-ajudante de ordens e delator no processo. Classificou como “malucos” os milhares de apoiadores que acamparam em frente aos quartéis pedindo uma intervenção militar após sua derrota nas eleições. Mais adiante, exibindo uma inusitada vocação para comediante, chegou a convidar Moraes para ser seu vice em uma hipotética candidatura à Presidência da República (o ministro declinou). Em certo momento, chamou de “malucos” seus próprios seguidores que pediam intervenção das Forças Armadas diante do resultado das urnas.

Interrogado por videoconferência, o general Braga Netto — vice na chapa de reeleição de Bolsonaro e um dos auxiliares mais próximos do ex-presidente nos últimos meses de governo — rebateu a acusação de Cid de que teria levado uma caixa de vinho com milhares de reais para ser entregue aos chamados “kids pretos”. Também foram ouvidos os ex-ministros Anderson Torres (Justiça) e Sérgio Nogueira (Defesa), e o ex-comandante da Marinha. Os três admitiram ter discutido a possibilidade de um golpe de Estado, mas negaram envolvimento em qualquer trama golpista.

A conclusão dos interrogatórios em menos da metade do tempo previsto inicialmente confirma a rapidez com que Moraes tem conduzido o inquérito, mesmo dando a todos os réus o espaço que desejaram para falar e permitindo que ministros da 1ª Turma fizessem questionamentos — só Luiz Fux deu o ar da graça.

Avaliar depoimentos de réus deveria ser tarefa para analistas políticos, não para psicanalistas. Neste caso, porém, ambos talvez chegassem à mesma conclusão: não se trata apenas de atos falhos, mas de uma arquitetura deliberada da mentira. O que estava em jogo não era só o poder, mas a própria sanidade institucional. E, entre delírios, cinismo e amnésias seletivas, o Brasil foi transformado em um experimento de realidade paralela. O próprio Freud teria dificuldade para explicar tamanha dissonância entre o que foi dito e o que foi feito — talvez apenas o Dr. House, com sua máxima: “todo mundo mente”.


A física como a conhecemos deixa de fazer sentido nos primeiros 5,39 × 10⁻⁴⁴ segundos contados a partir do "início" do universo — um intervalo conhecido como tempo de Planck. Nesse limite extremo, a gravidade e a mecânica quântica tornam-se incompatíveis, e, sem uma teoria unificada de gravidade quântica, não é possível descrever com precisão o que realmente ocorreu. À medida que o universo se expandia e esfriava, a sopa densa e quente de quarks e glúons começou a se combinar, formando prótons e nêutrons — isso por volta de 10⁻⁶ segundos após o Big Bang.


Quando falamos que “tudo veio do nada”, é preciso lembrar que, na cosmologia, “nada” pode significar ausência de matéria, de espaço-tempo, ou mesmo um vácuo quântico repleto de flutuações. Segundo a Teoria Quântica de Campos, mesmo no vácuo existem atividades físicas — flutuações de energia que podem dar origem a partículas que logo desaparecem. Por mais que isso pareça uma abstração matemática, essas partículas foram detectadas em inúmeros experimentos.

 

Algumas hipóteses sugerem que o Universo pode ter surgido de uma flutuação do vácuo, com energia total zero — em que a energia positiva da matéria seria cancelada pela energia negativa da gravidade. Stephen Hawking e outros físicos exploraram a ideia de que o surgimento espontâneo do Universo poderia ser possível dentro da física quântica. Mas, novamente, estamos falando de um campo altamente especulativo.

 

Voltando no tempo até a chamada Era de Planck — que ocorreu um décimo de milionésimo de um trilionésimo de um trilionésimo de um trilionésimo de segundo após o Big Bang — deparamo-nos com um limite onde nossas melhores teorias entram em colapso. O próprio espaço-tempo, nesse ponto, sofre flutuações quânticas. E como vimos em outras postagens, a mecânica quântica governa o micromundo das partículas e a relatividade geral, o universo em grande escala. Para unificá-las, precisaríamos de uma Teoria de Tudo.

 

Segundo a Teoria das Cordas e a Gravidade Quântica em Loop, espaço e tempo seriam conceitos emergentes, como ondas na superfície de um oceano profundo. O que chamamos de espaço-tempo seria, na verdade, o resultado de processos quânticos ainda mais fundamentais. Fica ainda mais complicado quanto tentamos entender que, na Era de Planck, não apenas o espaço e o tempo deixam de fazer sentido, como a causalidade se desintegra.

 

Vale destacar que as candidatas à "teoria da gravidade quântica" descrevem um tipo de realidade física que estaria ocorrendo naquele momento primordial — uma espécie de precursor quântico do espaço e tempo, mas a física ainda não encontrou um exemplo confirmado de algo surgindo literalmente do nada. A procura por esse "santo graal" deu azo a explicações sobrenaturais, a modelos cíclicos do Universo e à Teoria do Multiverso, segundo a qual infinitos universos coexistem, cada qual com suas próprias leis e histórias. 

 

Inspirado por uma conexão matemática curiosa entre um universo inicial quente e denso e um universo final frio e vazio, o físico Roger Penrose, ganhador do Nobel em 2020, propôs a chamada cosmologia cíclica conformada. Nela, os estados iniciais e finais se tornam matematicamente idênticos quando levados aos seus limites. Em outras palavras: o Big Bang pode ter surgido de um "quase nada" — o resquício de um universo anterior, onde toda a matéria teria sido consumida por buracos negros e transformada em fótons dispersos num imenso vazio.

 

Mesmo assim, esse "nada" ainda seria um tipo de "algo", como um universo físico desprovido de estrutura. O paradoxo aqui é que esse estado frio e vazio pode ser o mesmo que o estado quente e denso visto sob outra perspectiva. A solução, segundo Penrose, poderia ser uma transformação geométrica complexa, que altera o tamanho, mas não a forma, já que tanto o conceito de tamanho como o próprio tempo podem deixar de fazer sentido em estados extremos.

 

O estado frio e vazio existiria eternamente numa linha do tempo própria, enquanto o estado quente e denso habitaria uma nova linha temporal. Sem embargo, ainda que essa hipótese se comprove no futuro, a pergunta filosófica mais profunda ainda permanece: de onde veio a própria realidade física? De ciclos infinitos, cada um gerando o próximo com variações quânticas aleatórias? Ou de um único ciclo, repetido eternamente, como um universo que retorna sempre ao mesmo ponto, reproduzindo a si mesmo?

 

Penrose sugere que cada ciclo do universo é único — o que abriria a possibilidade de detectarmos vestígios do ciclo anterior na radiação cósmica de fundo que observamos hoje. Ele e seus colegas afirmam ter encontrado essas marcas nos dados coletados pelo satélite Planck, que mapeou com alta precisão essa radiação remanescente do Big Bang. Segundo os cientistas, certos padrões circulares identificados nos mapas poderiam ser ecos de buracos negros supermassivos que existiram no ciclo anterior. Mas essas conclusões ainda são alvo de intenso debate entre seus pares.


Se um dia encontrarmos uma forma natural de transformar essa cosmologia cíclica de múltiplos ciclos para um único ciclo fechado, nosso Universo poderia ser um loop contínuo do Big Bang ao vazio e de volta ao Big Bang, num renascimento perpétuo do mesmo multiverso quântico, onde tudo que pode acontecer acontece, e acontece de novo, de novo e de novo.

 

Na mitologia nórdica, a serpente Jörmungandr, filha de Loki, morde a própria cauda, criando o círculo que sustenta o equilíbrio do mundo. Como se vê, a pergunta "de onde viemos?" pode ser mais antiga do que imaginamos. As teorias são muitas, mas, ao fim e ao cabo, talvez todas nos levem de volta ao ponto de partida.

quinta-feira, 12 de junho de 2025

20 ANOS DE MENSALÃO E O BOTECO DAS ELEIÇÕES

UM PAÍS SEM JUSTIÇA SE TRANSFORMA FACILMENTE NUM COVIL DE LADRÕES.

Há 20 anos, uma entrevista revelava ao Brasil a existência de um esquema de compra de apoio político envolvendo integrantes do Congresso Nacional, do governo federal e da cúpula de diversos partidos políticos. Era o início do "Escândalo do Mensalão", que abalou o primeiro mandato de Lula, conquistado após três derrotas consecutivas (1989 para Fernando Collor e 1994 e 1998 para Fernando Henrique). 

 

O termo "mensalão", citado pela primeira vez numa entrevista de Roberto Jefferson — então deputado e presidente do antigo PTB — à jornalista Renata Lo Prete — então editora do Painel no jornal Folha de S.Paulo — aludia às "mesadas" que os parlamentares recebiam em troca apoio a projetos de interesse do Executivo. No relato, o parlamentar acusou o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, de ser o responsável pelos repasses para compra do apoio dos congressistas. Mas a sombra de uma crise de grandes proporções, associada a desvio de dinheiro público dentro da máquina federal, já pairava sobre o governo petista.

 

Em maio de 2005, a revista Veja — cujas reportagens bombásticas já haviam desencadeado o fim da carreira militar de Bolsonaro (1987) e a implosão do governo Collor (1992) — revelou a existência de um vídeo em que um diretor dos Correios chamado Rogério Marinho negociava propina em nome de Jefferson, dando origem à "CPMI dos Correios", que se tornou palco das principais revelações e investigações, em tempo real, do esquema do mensalão. 

 

Na época, o PT enfrentava dificuldades de consolidar uma base governista na Câmara dos Deputados. Jefferson acusou  José Dirceu de envolvimento no esquema, e o então ministro-chefe da Casa Civil pediu demissão e retomou seu mandato de deputado. Em julho, Veja revelou que Marcos Valério, Delúbio Soares e José Genoino deram aval a um empréstimo milionário em nome do PT, levando o Delúbio e o secretário-geral do partido, Silvio Pereira, a deixarem seus cargos. Dias depois, José Adalberto Vieira da Silva, secretário do PT do Ceará e assessor do irmão de José Genoino, foi preso ao tentar embarcar em um voo com R$ 200 mil na mala e US$ 100 mil escondidos na cueca. Genoino deixou a presidência do PT no dia seguinte, e o partido mergulhou de vez em uma espécie de inferno astral e crise reputacional.

 

Aos poucos, outras siglas da base do governo (como PP e PL) que haviam formado a chapa presidencial vitoriosa em 2002 tiveram deputados e dirigentes envolvidos no escândalo, entre os quais Valdemar Costa Neto, que renunciou ao mandato para não ser cassado, foi condenado no "Processo do Mensalão" e posteriormente perdoado por se enquadrar nas regras de um decreto editado pela presidente Dilma no final de 2015. A despeito da capivara invejável, esse sujeito preside o partido que tem Jair Bolsonaro como presidente de honra e Michelle Bolsonaro no comando do PL Mulher.

 

Ao se defender a cassação, Jefferson disse em seu discurso: "Este é o governo mais corrupto que vi em meus 23 anos como deputado. O Zé Dirceu tratou a Câmara como um prostíbulo (...) E a turma que forneceu o dinheiro vai ficar de fora? Tem ministro que recebeu mensalão (...) Foi de lá do Planalto que partiu a corrupção". Acusou Lula de ser "preguiçoso", "malandro" e "omisso". "Tirei a roupa do rei. Mostrei ao Brasil o que é o governo Lula. Mostrei ao Brasil quem são esses fariseus", discursou. No dia 1º de dezembro de 2005, o mandato de Dirceu também foi cassado.

 

Em seu primeiro pronunciamento sobre Mensalão, Lula se disse "indignado com a crise política" e pediu desculpas à nação. Meses depois, em entrevista ao Fantástico, afirmou que não tinha conhecimento do esquema e classificou as denúncias de "facada nas costas". Em março de 2006, a partir das conclusões da CPMI dos Correios, o então PGR apresentou denúncia ao STF contra 40 pessoas — entre as quais Dirceu, acusado de ser o "chefe da organização criminosa" — por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão ilegal de divisas, corrupção ativa e passiva, peculato, falsidade ideológica e gestão fraudulenta. Em agosto do ano seguinte, o Supremo aceitou a denúncia e, após 53 sessões, condenou 24 dos acusados, com destaque para Marcos Valério — o "operador" do mensalão —, que foi condenado a 40 anos, dois meses e dez dias de prisão, além de uma multa milionária.

 

Vinicius de Moraes ensinou que não há nada como o tempo para passar; Ivan Lessa, que o brasileiro esquece a cada 15 anos o que aconteceu nos últimos 15 anos; e um velho ditado, que quando um porco entra num palácio, ele não se torna rei, mas o palácio se torna um chiqueiro. Em 2018, o antipetismo levou Bolsonaro do obscuro baixo-clero da Câmara ao gabinete mais cobiçado do Palácio do Planalto; em 2022, o antibolsonarismo levou Lula de volta ao mesmo gabinete por uma vantagem de 1,8% dos votos válidos. 

 

Como se vê, mesmo que o cardápio inclua pão amanhecido e biscoito esfarelado, o eleitor brasileiro prefere escolher entre um prato de merda e um suco de bosta. 

quarta-feira, 11 de junho de 2025

AINDA SOBRE O BIG BANG

QUEM TEM CALOS E JUÍZO NÃO SE METE EM APERTOS.

Um esforço para melhorar as comunicações por rádio, um ruído vindo do espaço e alguns físicos teóricos formaram uma improvável conjunção de fatores que ajudou a comprovar a Teoria do Big Bang, segundo a qual o Universo — e tudo o que existe nele — teria "nascido" da expansão súbita e violenta de um ponto (ou singularidade) sem volume, mas extremamente quente e denso, há cerca de 13,8 bilhões de anos.

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Lula disputou a Presidência em 1989 e perdeu para Collor no segundo turno. Voltou à carga em 1994 e 1998, e foi derrotado por FHC, no primeiro turno, em ambas as ocasiões. Finalmente eleito em 2002, tropeçou no mensalão, escapou do petrolão e resolveu escalar um "poste" para manter aquecida a poltrona que tencionava voltar a disputar em 2014. Mas a "mulher sapiens" pegou gosto pelo poder, fez o diabo para se reeleger, mas jogou a economia nacional do fundo do poço e foi arrancado em 2016.

Em 2018, mesmo gozando férias compulsórias na Superintendência da PF em Curitiba, o detento insistiu numa quimérica candidatura presidencial. Não levou, mas plantou as sementes que lhe renderam frutos em 2022. 

Bolsonaro, inelegível e na bica de ver o sol nascer quadrado, segue o mesmo script do arquirrival ao sustentar uma candidatura juridicamente natimorta para 2026. Quando (ou se) ele colherá os frutos, só os oráculos do populismo podem responder. Seus apoiadores podem mugir que Lula começou tudo — e não estão errados; foi o encantador de burros que instaurou o populismo mais rasteiro, surfando na herança bendita deixada por FHC. O "mito" surgiu como uma espécie de antídoto, mas não demorou a se revelar pior que o próprio veneno. 

A boa notícia é que nhô-ruim e nhô-pior já não são unanimidades nem entre seus devotos. Segundo as ultimas pesquisas, muitos petistas de carteirinha não querem ver seu "maximus pontifex" disputando um quarto mandato, a despeito de ele ter impedido qualquer alternativa de brotar à sua sombra. Entre os eleitores de centro-direita, a situação é ainda mais alarmante: 55% preferem que o imbrochável inelegível apoie outro nome em 2026. Já entre os "isentões", 70% acham que o "mito" deveria indicar um sucessor e 73%, que o macróbio não deve tentar um quarto mandato. Claro que os fiéis mais fervorosos (de ambos os lados) juram que as pesquisas são manipuladas, que seus ídolos arrastam multidões e que tudo não passa de armação da imprensa ou do sistema. 

A má notícia é que ainda não se pode dizer que a maioria do eleitorado não aguenta mais escolher entre o passado e o pesadelo, e a péssima é que, caso um deles vença novamente, o próximo governo tende a ser tão ou ainda mais fraco que o atual. 

Essa rinha de populistas demagogos tem custado caro demais à democracia, e quem paga a conta é a parcela da população que não tem bandido de estimação. 


Segundos depois da grande expansão, o Universo era uma verdadeira "sopa primordial" — um plasma incandescente de quarks e glúons, partículas subatômicas que ainda não formavam nada reconhecível como matéria. Com temperaturas próximas a 5,5 bilhões de graus Celsius, esse caldo fervente era tão denso e energético que sequer permitia a formação de átomos. Cerca de 380 mil anos depois do Big Bang, o Universo esfriou o bastante para que prótons e elétrons finalmente se unissem, formando os primeiros átomos de hidrogênio e hélio


Conhecido como "era da recombinação", esse período marcou uma virada crucial: com os elétrons agora presos aos núcleos, o espaço deixou de ser opaco, e a luz, antes constantemente dispersa pelas partículas livres, pôde finalmente viajar livremente pelo cosmos — um evento que deixou como rastro a chamada radiação cósmica de fundo de micro-ondas, um brilho tênue que ainda hoje permeia o Universo e serve como uma das principais evidências do Big Bang. 


Os astros primordiais, gigantescos e efêmeros, fundiram elementos leves em mais pesados e os espalharam pelo cosmos quando explodiam em supernovas. Dessas explosões vieram os ingredientes básicos para planetas, oceanos, montanhas e, eventualmente, vida — pequenos átomos viajando bilhões de anos para se organizar em olhos capazes de olhar para o céu e tentar entender de onde tudo veio.


Embora seja o principal pilar da cosmologia moderna, a teoria do Big Bang não explica o que existia antes da "grande expansão" e afirma que as leis da física conhecidas não se aplicam àquele momento inicial. Essa lacuna deu origem a alternativas como a Teoria M, segundo a qual existem inúmeros universos paralelos, e a colisão entre dois deles teria gerado toda a matéria e energia que compõem o nosso Universo.

 

Algumas correntes sustentam que espaço e tempo sempre existiram, e que a grande expansão não foi o ponto inicial de tudo, mas o resultado do colapso entre diferentes dimensões — nesse caso, a explosão primordial não teria dado origem a um único universo, mas a vários, que surgiram como bolhas em um caldo cósmico de possibilidades. 


Essas ideias já foram consideradas pura ficção científica, mas hoje ensejam debates sérios entre físicos teóricos, que tentam conciliar a Teoria da Relatividade, que explica o muito grande, com a Mecânica Quântica, que rege o muito pequeno, dando azo a hipóteses como a de que o nosso universo pode ser apenas uma "membrana" flutuando em um espaço de dimensões superiores invisíveis aos nossos sentidos.

 

Se nosso universo for realmente uma bolha entre muitas, então o que chamamos de “realidade” pode ser apenas um entre incontáveis cenários possíveis, com leis físicas diferentes, constantes variadas e talvez até versões alternativas de nós mesmos em outras configurações do espaço-tempo. Assim, o Big Bang deixaria de ser o "início de tudo" e se tornaria apenas um episódio em uma história muito maior — uma entre trilhões de páginas de uma história que ninguém escreveu, mas que insiste em se desenrolar.

 

Pode-se dizer que tudo isso não passa de hipóteses, mas hipóteses escoradas em equações, observações indiretas e modelos matemáticos complexos. Para muitos físicos, a elegância de uma teoria é quase tão sedutora quanto sua capacidade de ser testada, e é nesse limite entre o rigor e o devaneio que a ciência avança. Aliás, a verdadeira "beleza" da ciência não está nas respostas, mas nas novas perguntas que cada resposta suscita. Dito isso, o que veio antes do tempo? O que existe fora do espaço? O nada é mesmo nada ou apenas algo que ainda não fomos capazes de entender?

 

The answer, my friend, is blowing in the wind.


Em tempo: Se calhar, assista a este vídeo:




terça-feira, 10 de junho de 2025

SOBRE ATUALIZAÇÕES DO ANDROID

QUEM SABE FAZ A HORA, NÃO ESPERA ACONTECER.

Reiniciar dispositivos eletroeletrônicos que apresentam lentidão ou travamento é quase uma “regra universal” da tecnologia, pois ajuda a descarregar componentes como transistores, capacitores e indutores e a esvaziar as memórias voláteis, promovendo um "reset" nos processos em execução.


Fabricantes de smartphones que adotam o sistema operacional Android atualizam seus produtos em conjunto com o Google, que disponibiliza atualizações através do Google PlaySe você consultar a seção de atualizações do seu aparelho, verá que o sistema está atualizado, mas isso é uma meia verdade: o fato de firmware do fabricante estar atualizado não significa necessariamente que as melhorias entregues pelo Google foram implementadas, uma vez que elas só são efetivadas quando o Android é reiniciado.


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Se as campanhas eleitorais fossem filmes, as pesquisas de intenção de voto seriam frames que retratam o humor do eleitorado num determinado momento, nem sempre com muita precisão. Às vésperas das eleições de 2018, as pesquisas apontavam que Bolsonaro perderia no segundo turno — independentemente do adversário — e que Dilma se elegeria senadora por Minas Gerais, mas o "mito" dos trouxas derrotou o títere do presidiário mais famoso do Brasil, e a mulher sapiens amargou um vexatório quarto lugar.

Lula e o PT acirraram a polarização política — que sempre existiu no Brasil — com o ramerrão do "nós contra eles". Bolsonaro, surfando na onda do antipetismo, libertou uma extrema-direita que estava no armário desde o fim da ditadura militar; quatro anos depois, Lula, já então "descondenado", derrotou o aspirante a golpista com uma vantagem de menos de 2% dos votos válidos.

Como desgraça pouca é bobagem, as pesquisas vinham indicando que Lula e Bolsonaro eram franco favoritos para disputar o segundo turno no ano que vem, embora o macróbio esteja com o pé na cova e o imbrochável inelegível, na bica de ver o sol nascer quadrado. Mas não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe: embora a tendência da récua de muares travestidos de eleitores seja repetir a cada dois anos o que Pandora fez uma única vez, as pesquisas mais recentes apontam que 66% dos entrevistados (que representam 2/3 do eleitorado) não querem que Lula dispute a reeleição nem que Bolsonaro tente voltar ao jogo. E isso inclui petistas e bolsonaristas de carteirinha. 

Ainda é cedo para afirmar que a bolha da polarização vai estourar, mas tudo indica que uma parcela significativa dos cegos mentais voltou a voltar a enxergar — especialmente no campo da centro-direita, onde vários pré-candidatos têm crescido nas pesquisas (na esquerda, por culpa do próprio Lula, a patuleia ignara ainda não tem em quem votar).


Muitos usuários não desligam ou reiniciam seus celulares regularmente, embora seja recomendável fazê-lo a cada dois ou três dias — ou antes de colocar o telefone para carregar, já que, com o aparelho desligado, a bateria recarrega mais rapidamente. 


Por via das dúvidas, toque em Configurações > Segurança e privacidade > Sistema e atualizações > Atualização do sistema Google Play de tempos em tempos para checar se há algum update disponível.

segunda-feira, 9 de junho de 2025

BIG BANG: O NOME QUE PEGOU — MAS NÃO CONVENCEU

QUEM CONTROLA O PRESENTE CONTROLA O PASSADO. QUEM CONTROLA O PASSADO CONTROLA O FUTURO. 

Dois anos após publicar a Teoria da Relatividade Geral, Einstein propôs um modelo de Universo estático e introduziu a constante cosmológica para equilibrar a gravidade e evitar um colapso gravitacional. A noção de um Universo com começo físico só voltaria a ganhar força dali a doze anos, quando o astrônomo norte-americano Edwin Hubble observou que as galáxias estavam se afastando — evidência de que o cosmos estava, de fato, em expansão. Diante disso, o físico alemão acabou aceitando a ideia de um Universo dinâmico.


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Condenada pelo STF a 10 anos de prisão e perda do mandato parlamentar, a deputada Carla Zambelli seguiu os passos de Allan dos Santos, Oswaldo Eustáquio, Dudu Bananinha e outros bolsonaristas que deixaram o país para escapar da morosa Justiça brasileira. O próprio Jair Bolsonaro ficou homiziado na cueca do Pateta durante três meses, aguardando o desenrolar dos ataques de 8 de janeiro, e agora, prestes a ver o sol nascer quadrado, ora afirma que não existe "plano B", ora diz que Micheque ou Bananinha disputarão o Planalto no ano que vem. 

Na teoria, o "mito" comanda o processo. Mas se estivesse forte como faz parecer quando insiste em fantasiar que ele próprio será o candidato da extrema-direita, não precisaria implorar por perdão nem cobrar adesão dos políticos de seu campo à causa. Na prática, o eixo das decisões para 2026 está com o governador de São Paulo.

Praticamente todos os dirigentes de partidos do campo que o provável futuro presidiário imagina liderar já disseram que apoiarão Tarcísio se ele disputar o Planalto, do contrário investirão em outros nomes e em unidade no segundo turno. A isso dá-se o nome de planejamento realista, o que não inclui obediência à minoritária e rejeitada extrema bolsonarista.

 

Mais ou menos na mesma época, o padre e astrônomo Georges Lemaître deduziu que, se o cosmos estava se expandindo, ele teria sido menor em algum momento no passado. A ideia de que seria possível retornar ao instante em que toda essa vastidão estava concentrada em uma massa extremamente quente e densa deu origem à hipótese do "átomo primordial", segundo a qual o tempo e o espaço só passaram a existir no momento em que esse "átomo primitivo" começou a se expandir. 


A proposta ganhou tração em 1948, quando o astrofísico ucraniano George Gamow sugeriu que o Universo teria surgido de um clarão de energia oriundo de um gás primordial superdenso. No calor dessa erupção cósmica, os elementos químicos teriam sido "cozinhados" a partir de uma "sopa" de partículas fundamentais, deixando como resquício uma radiação de fundo que permeia o cosmos até hoje.

 

No mesmo ano, o astrônomo Fred Hoyle, o astrofísico Thomas Gold e o matemático e cosmologista Hermann Bondi propuseram uma teoria segundo a qual o Universo não tem começo nem fim, sendo constantemente "reabastecido" com matéria nova, gerada em todos os lugares e momentos. Durante uma palestra, Hoyle ironizou a ideia de um surgimento cósmico repentino, dizendo que toda a matéria fora criada em um "grande estrondo", num momento específico do passado remoto. 

 

A ironia pegou: o termo Big Bang foi rapidamente adotado pela imprensa — embora amplamente ignorado (e até rejeitado) por físicos e astrônomos, já que o fenômeno descrito não foi uma explosão no sentido tradicional, mas o início de uma expansão cósmica que começou há cerca de 13,8 bilhões de anos, cujos efeitos ainda podem ser observados por meio do desvio para o vermelho na luz das galáxias distantes — indicando que elas continuam se afastando de nós.

 

Apesar da imprecisão, o termo Big Bang se espalhou pelo mundo como um bordão irresistível — e, como bem disse certa vez um escritor, "palavras são como arpões, depois que entram é muito difícil tirá-las". Em 1993, a revista Sky and Telescope organizou um concurso para substituir o nome e recebeu 13.099 sugestões de 41 países, mas nenhuma convenceu a banca de jurados, que incluía o astrônomo Carl Sagan, e o nome permaneceu.

 

Hoyle, por sua vez, demonstrou que todos os elementos que compõem o Universo estão sendo "cozidos" no caldeirão das estrelas desde sempre — o que o levou a aventar a hipótese de que a vida deveria ser uma ocorrência comum no cosmos. A ideia não soava absurda para a comunidade científica: segundo o especialista em poeira estelar Ashley King, quase todos os elementos do corpo humano foram forjados em estrelas, muitos deles ejetados por sucessivas supernovas.

 

Mas Hoyle foi além. Argumentou que inúmeras epidemias estariam associadas à passagem de meteoritos cujas partículas trariam vírus à Terra. Essa premissa foi vista como mais compatível com seus 19 romances de ficção científica do que com seu trabalho acadêmico — mas, no fim das contas, ele entrou para a história como o homem que batizou uma teoria na qual nunca acreditou.


Continua...

domingo, 8 de junho de 2025

PIZZA DE LIQUIDIFICADOR

SÓ A PIZZA ME FAZ ACREDITAR EM AMOR ETERNO.

Pizza vai bem em qualquer dia e a qualquer hora, mas combina ainda melhor com noites frias e um bom vinho. O inverno só começa oficialmente no próximo dia 20, mas as noites e madrugadas já têm sido geladas, como costuma acontecer no final do outono.

Embora possamos simplesmente escolher o sabor da redonda, pedir pelo celular e esperar o entregador chegar, um liquidificador e alguns poucos ingredientes são suficientes para prepararmos uma pizza caseira deliciosa, sem necessidade de fermentação longa ou grandes habilidades de panificação.

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A CCJ do Senado aprovou a extinção da reeleição e elaborou uma tabela de transição com o objetivo de, futuramente, unificar as eleições em todos os níveis, tanto no Executivo quanto no Legislativo. Há basicamente duas justificativas para desfazer o que FHC fez em 1997: 

1) a reeleição facilitou o abuso do poder político; 

2) eleições bienais encarecem o processo e tumultuam o ambiente institucional. 

Os abusos no sistema político-eleitoral brasileiro são praticamente fundacionais, e o que encareceu o processo foi o financiamento público bilionário de campanhas — criado para evitar as ilegalidades praticadas na era das doações empresariais. Por outro lado, não há prova irrefutável de que os governantes escolhidos desde 1997 foram piores do que os que os antecederam, mesmo porque nosso eleitorado repete a cada dois anos o que Pandora fez uma única vez. 
Não sou a favor da reeleição, mas acredito que exigir dos chefes do Executivo que desejam se reeleger o afastamento do cargo seis meses antes do pleito mitigaria o abuso do poder político, mesmo sem extinguir a possibilidade de continuidade administrativa.

 

Para a massa:

 

1 xícara (chá) de leite; 
1 ovo;
1 colher (chá) de sal; realça o sabor;
1 colher (chá) de açúcar;
1 colher (sopa) de fermento em pó;
2 colheres (sopa) de azeite;
1 xícara (chá) de farinha de trigo;

Azeitonas (verdes ou pretas);

1 sachê de molho para pizza (tomate com manjericão);

50 g de queijo parmesão ralado (opcional).

 

Para a cobertura (lembrando que pizza não tem recheio):

— ½ xícara (chá) de molho de tomate;
— 150g de muçarela ralada;
— 100g de presunto picado;
— 1 tomate (maduro, mas firme) cortado em rodelas:

— Orégano e azeite a gosto.

 

Bata o leite, o ovo, o sal, o açúcar, o azeite, a farinha de trigo e o queijo ralado no liquidificador por 2 minutos ou até obter uma massa homogênea. Adicione o fermento e misture delicadamente com uma colher.

 

Despeje a massa numa forma untada, espalhe de maneira uniforme e leve ao forno preaquecido a 180°C por cerca de 10 minutos (apenas para pré-assar a base).

 

Retire a massa do forno, espalhe o molho de tomate, distribua o presunto, cubra com o queijo e acrescente as rodelas de tomate e as azeitonas (cuide para que cada fatia receba sua quota-parte de tomate e azeitona).

 

Salpique o orégano, leve de volta ao forno, deixe assar por mais 20 minutos (ou até o queijo derreter e a borda dourar), regue com um fio generoso e azeite e sirva em seguida.

 

Bom apetite.