Não são apenas os malwares que nos têm atrapalhado o sono ultimamente: alguns dos seus correspondetentes biológicos também incomodam um bocado, até porque, embora o inverno só tenha começado oficialmente no último dia 21, desde Maio que dias mais frios vêm levando muita gente a tirar as roupas quentes dos armários. E a queda da temperatura, somada a condições atmosféricas desfavoráveis à dispersão dos poluentes (baixa umidade relativa do ar e ausência de ventos), propicia a ação dos vírus da gripe e do resfriado - doenças comuns nessa época do ano e que deixam muita gente de cama (e ficar acamado em pleno mês de férias é "fria").
Vírus (tanto os eletrônicos quanto os biológicos) precisam de hospedeiros para ser reproduzir, mas os agentes causadores da gripe e do resfriado podem sobreviver por mais de 48 horas no ambiente, especialmente se o ar estiver frio e seco (daí as epidemias serem mais comuns no final do outono e durante todo o inverno).
Ambas essas doenças se propagam pelo ar pelo contato físico com pessoas infectadas (que tossem, espirram e espalham secreções de várias maneiras), mas, ainda que os sintomas sejam bastante semelhantes (a febre alta é que, à primeira vista, diferencia a gripe de um resfriado comum), existem diversas diferenças entre uma coisa e outra.
O resfriado é uma infecção viral do revestimento do nariz, dos seios da face, da garganta e das vias respiratórias. Ele geralmente causa fadiga, desconforto nasal (espirros, congestão, secreção aquosa), na garganta (tosse) e, eventualmente, elevação da temperatura (febre de até 38 graus). Esses sintomas costumam desaparecer naturalmente depois de algum tempo (entre 3 e 7 dias), embora a tosse possa persistir por mais uma semana.
Já a gripe causa inicialmente uma sensação de frio (arrepios) acompanhada de febre alta (38 ou 39 graus). Há quem sinta dores de cabeça, dores no corpo (ou nas pernas e nas costas), irritação na garganta, queimação no peito, tosse e coriza (crianças podem apresentar, adicionalmente, náuseas, vômitos, diarréia e inchaço nas glândulas dos pescoço). A maioria desses sintomas desaparece ao cabo de uma semana, embora a tosse costume durar uns 10 dias ou mais.
Note, porém, que algumas complicações podem agravar o quadro gripal - como a bronquite hemorrágica, a pneumonia viral e as inflamações no cérebro (encefalite), no miocárdio (miocardite) e nos músculos (miosite).
Vale lembrar que o vírus da gripe é mutante (sua composição é constantemente alterada). Por isso, os anticorpos criados pelo seu organismo nem sempre estão preparados para combater as novas versões.
A vacina é tida pelos especialistas como a melhor medida preventiva, porque é capaz de neutralizar diversos subtipos do vírus da gripe - ainda que não seja eficaz contra o resfriado - e de reduzir em até 90% a probabilidade de infecção. Na pior das hipótese, ela costuma diminuir a gravidade da doença.
Quanto aos medicamentos, a verdade é que eles atuam apenas sobre os sintomas; tanto a gripe quanto o resfriado seguem seu curso normal e "desparecem" depois de alguns dias, mesmo se o paciente não tomar remédio algum.
Existe uma grande variedade de comprimidos, xaropes, cápsulas, pílulas, infusões e beberagens (que até dispensam prescrição médica), mas a maioria serve apenas para engordar a receita dos laboratórios farmacêuticos: poucos anti-histamínicos, descongestionantes, analgésicos e expectorantes são tão eficientes quanto uma simples inalação de vapor quente (com o uso de um nebulizador).
Se você realmente for comprar remédios contra gripe, prefira fórmulas baseadas no paracetamol (para combater a dor e a febre). O ácido acetilsalicílico (AAS) proporciona apenas uma melhora discreta dos sintomas e pode até aumentar a difusão dos vírus.
No caso de dor de garganta, um analgésico comum deve funcionar (como também pastilhas contendo benzocaína e gargarejos com água e sal). E embora seja comum imaginarmos que a ingestão de vitamina C seja capaz de evitar gripes e resfriados, isso é apenas um mito - em doses muito elevadas, ela pode até propiciar a formação de cálculos renais.
Para finalizar, resta dizer que não há qualquer relação comprovada entre o fato de alguém andar descalço, apanhar vento ou beber gelado e pegar gripes e resfriados. Isso também é puro folclore. Para evitar a contaminação, o recomendável é manter-se afastado de pessoas infectadas, evitar mudanças brucas de temperatura (como se isso fosse possível com o clima de São Paulo) e não se agasalhar demais - para não contribuir para a elevação da temperatura corporal. Descansar, ingerir bastante líquido e observar uma dieta alimentar saudável são providências igualmente eficazes (ainda que não infalíveis).
Boa sorte a todos e até amanhã.