SE
BURRICE DOESSE, OS GEMIDOS DOS PETISTAS SERIA INSUPORTÁVEL.
Examinando a coisa pelo viés da tecnologia, o mundo evoluiu
mais nos últimos 150 anos do que da descoberta do fogo até o final do século XIX.
Basta comparar os monstruosos mainframes
da década de 1950 com os microcomputadores atuais — sem falar nos smartphones, que são computadores
“portáteis de verdade”.
O primeiro telefone celular foi desenvolvido em 1973, mas a
tecnologia só começou a se popularizar entre os norte-americanos cerca de 10
anos depois. Inicialmente, os aparelhos pesavam quase 1 kg e mediam 25
centímetros de altura. A autonomia da bateria não ia além de 30 minutos, mas a
recarga completa levava mais de dez horas.
Observação: Aqui pelas nossas bandas, os tijolões que desembarcaram na década de 1990
serviam mais como símbolo de status,
pois a cobertura das operadoras era limitada — mesmo onde o sinal chegava forte
as chamadas nem sempre eram completadas, e quando eram, quase sempre caiam logo
em seguida. Para piorar, o minuto de ligação custava muito mais do que nas
ligações de fixo para fixo, e tanto as chamadas geradas quanto as recebidas
eram tarifadas. Graças à privatização das TELES,
no entanto, o número de linhas móveis já ultrapassou o de linhas fixas — hoje,
dos 5,1 bilhão de celulares que existem no
planeta, 204 milhões estão no Brasil.
Apesar de custarem
tanto ou mais que notebooks de
configuração mediana, smartphones de grife, com CPU multicore, fartura de espaço
interno e de memória RAM, vendem
feito água no deserto. Fãs da Apple chegam a desembolsar cerca de R$ 10 mil pela versão top de linha do iPhone (compare os preços praticados nos
EUA e em terra brasilis, onde se cobra imposto até pelo ar poluído que
respiramos), mas os modelos mais sofisticados da Samsung, líder absoluta em celulares “powered by Android”,
também custam os olhos da cara.
Feita esta breve introdução, passo a focar algumas gambiarras curiosas a que muitos de nós recorremos nos últimos 20 anos. Confira:
Durante décadas, o floppy
disk, criado pela Sony nos anos
1970 e que viveu seus anos dourados nas décadas de 80 e 90, quando era
praticamente a única opção de mídia para armazenamento externo e transporte de
arquivos digitais, tinha como inconvenientes a capacidade miserável (1,44 MB) e a facilidade com que embolorava e perdia o magnetismo. O CDA (compact disk de áudio), lançado em
meados dos anos 1980 com vistas ao mercado fonográfico, não demorou a ser usado
para armazenar dados (em 1984, suas especificações foram aumentadas com a
edição do “Yellow Book” para
permitir o armazenamento de dados digitais), aposentando os jurássicos
disquetes e levando a Sony, que os
fabricou os prosaicos disquinhos até 2011, a finalmente jogar a toalha.
Em 1995, a Microsoft
lançou a primeira edição do Windows comercializada
tanto em disquetes quanto em CD-ROM,
e logo os fabricantes de aplicativos adotaram essa mídia, levando os usuários
de PC que não podiam comprar um aparelho novo, equipado de fábrica com uma
leitora óptica, a adquirir um kit multimídia — composto de leitora de
CD, placa de som e caixas acústicas. Poucos anos depois o surgimento do DVD (lançado pela Pioneer, em 1997, para substituir as fitas de videocassete) fez com
que a história se repetisse, sobretudo pelo latifúndio de espaço que oferecia
para o armazenamento de dados (4,7 GB
contra “míseros” 700 MB do CD, chegando
a 8.5 GB na versão dual layer,
9.4 GB nos de dupla face e 17.08 GB nos que combinavam dupla face com
dupla camada).
Com a popularização do pendrive
(também conhecido como “chaveirinho de memória) e, mais adiante, dos drives virtuais (armazenamento dos dados “na nuvem”),
CDs e DVDs caíram no ostracismo, e os fabricantes de PC, que já haviam suprimido
o drive de disquete de seus
produtos, fizeram o mesmo com o drive de
mídia óptica, primeiro nos notebooks,
depois nos desktops.
De acordo com os fabricantes, a durabilidade do CD ultrapassa 100 anos, mas ainda não foi possível comprovar
essa ambiciosa estimativa, já que os primeiros disquinhos foram lançados há cerca de 40 anos.
No entanto, por serem feitos de policarbonato (um tipo de plástico), eles são
suscetíveis a arranhões, que, como a poeira e a gordura que se acumula em sua superfície
(devido ao manuseio inadequado ou armazenamento fora da caixinha original), podem prejudicar a leitura dos dados.
No caso de sujeira, um pano macio, levemente umedecido numa
mistura fraca de água e detergente neutro e gentilmente esfregado do centro do
disco para as bordas (e não em movimentos circulares), costuma dar conta do
problema. Já os arranhões mais “leves” são contornados pelo próprio mecanismo
da leitora, mediante a alteração do ângulo do feixe de laser — que atravessa
o policarbonato, atinge a camada de reflexiva e é recapturado pelo dispositivo
óptico-eletrônico, que diferencia os reflexos dos sulcos e os da superfície
lisa da camada de dados, permitindo que a placa lógica da leitora identifique
os bits 0 e os bits 1 dos arquivos
digitais.
Observação: O CD é composto de um substrato de plástico (policarbonato)
e uma fina película metálica
refletora (ouro de 24 quilates ou liga de prata). A camada refletora é
coberta por uma laca anti-UV acrílica, que cria um filme protetor para os
dados. Por último, uma camada adicional pode ser acrescentada para obter uma
face superior impressa. A camada refletora possui pequenos alvéolos. Assim,
quando o laser atravessa o substrato de policarbonato, a luz se reflete nessa
camada, a não ser quando o laser passa num alvéolo, o que permite codificar a
informação armazenada nas 22.188 pistas concêntricas (que na verdade são uma longa
espiral).
Alguns riscos tornam o disquinho ilegível. Arranhões
paralelos, que comprometem uma pequena parcela dos dados, nem sempre trazem problemas, mas os radiais, que afetam áreas maiores, podem impedir a leitura, o que
nos leva à primeira gambiarra:
Por estranho que pareça, uma maneira prática, econômica e largamente
utilizada na década de 2000 para recuperar CDs/DVDs
danificados era aplicar uma pequena quantidade de creme dental, daqueles
com função "branqueadora", no local afetado e esfregar com um pano ou
flanela, do centro para a borda do disco, na direção oposta à leitura do dados.
Já arranhões mais profundos ou de grandes dimensões eram eliminados (nem
sempre, é verdade) com polidor automotivo ou cera de polimento, daquela
utilizada em vidros de óculos, relógios etc.
Continua na próxima postagem.