terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E GAMBIARRAS BIZARRAS


SE BURRICE DOESSE, OS GEMIDOS DOS PETISTAS SERIA INSUPORTÁVEL.

Examinando a coisa pelo viés da tecnologia, o mundo evoluiu mais nos últimos 150 anos do que da descoberta do fogo até o final do século XIX. Basta comparar os monstruosos mainframes da década de 1950 com os microcomputadores atuais — sem falar nos smartphones, que são computadores “portáteis de verdade”.

O primeiro telefone celular foi desenvolvido em 1973, mas a tecnologia só começou a se popularizar entre os norte-americanos cerca de 10 anos depois. Inicialmente, os aparelhos pesavam quase 1 kg e mediam 25 centímetros de altura. A autonomia da bateria não ia além de 30 minutos, mas a recarga completa levava mais de dez horas.

Observação: Aqui pelas nossas bandas, os tijolões que desembarcaram na década de 1990 serviam mais como símbolo de status, pois a cobertura das operadoras era limitada — mesmo onde o sinal chegava forte as chamadas nem sempre eram completadas, e quando eram, quase sempre caiam logo em seguida. Para piorar, o minuto de ligação custava muito mais do que nas ligações de fixo para fixo, e tanto as chamadas geradas quanto as recebidas eram tarifadas. Graças à privatização das TELES, no entanto, o número de linhas móveis já ultrapassou o de linhas fixas — hoje, dos 5,1 bilhão de celulares que existem no planeta, 204 milhões estão no Brasil.

Apesar de custarem tanto ou mais que notebooks de configuração mediana, smartphones de grife, com CPU multicore, fartura de espaço interno e de memória RAM, vendem feito água no deserto. Fãs da Apple chegam a desembolsar cerca de R$ 10 mil pela versão top de linha do iPhone (compare os preços praticados nos EUA e em terra brasilis, onde se cobra imposto até pelo ar poluído que respiramos), mas os modelos mais sofisticados da Samsung, líder absoluta em celulares “powered by Android”, também custam os olhos da cara.
  
Feita esta breve introdução, passo a focar algumas gambiarras curiosas a que muitos de nós recorremos nos últimos 20 anos. Confira:

Durante décadas, o floppy disk, criado pela Sony nos anos 1970 e que viveu seus anos dourados nas décadas de 80 e 90, quando era praticamente a única opção de mídia para armazenamento externo e transporte de arquivos digitais, tinha como inconvenientes a capacidade miserável (1,44 MB) e a facilidade com que embolorava e perdia o magnetismo. O CDA (compact disk de áudio), lançado em meados dos anos 1980 com vistas ao mercado fonográfico, não demorou a ser usado para armazenar dados (em 1984, suas especificações foram aumentadas com a edição do “Yellow Book” para permitir o armazenamento de dados digitais), aposentando os jurássicos disquetes e levando a Sony, que os fabricou os prosaicos disquinhos até 2011, a finalmente jogar a toalha.

Em 1995, a Microsoft lançou a primeira edição do Windows comercializada tanto em disquetes quanto em CD-ROM, e logo os fabricantes de aplicativos adotaram essa mídia, levando os usuários de PC que não podiam comprar um aparelho novo, equipado de fábrica com uma leitora óptica, a adquirir um kit multimídia — composto de leitora de CD, placa de som e caixas acústicas. Poucos anos depois o surgimento do DVD (lançado pela Pioneer, em 1997, para substituir as fitas de videocassete) fez com que a história se repetisse, sobretudo pelo latifúndio de espaço que oferecia para o armazenamento de dados (4,7 GB contra “míseros” 700 MB do CD, chegando a 8.5 GB na versão dual layer, 9.4 GB nos de dupla face e 17.08 GB nos que combinavam dupla face com dupla camada).

Com a popularização do pendrive (também conhecido como “chaveirinho de memória) e, mais adiante, dos drives virtuais (armazenamento dos dados “na nuvem”), CDs e DVDs caíram no ostracismo, e os fabricantes de PC, que já haviam suprimido o drive de disquete de seus produtos, fizeram o mesmo com o drive de mídia óptica, primeiro nos notebooks, depois nos desktops.

De acordo com os fabricantes, a durabilidade do CD ultrapassa 100 anos, mas ainda não foi possível comprovar essa ambiciosa estimativa, já que os primeiros disquinhos foram lançados há cerca de 40 anos. No entanto, por serem feitos de policarbonato (um tipo de plástico), eles são suscetíveis a arranhões, que, como a poeira e a gordura que se acumula em sua superfície (devido ao manuseio inadequado ou armazenamento fora da caixinha original), podem prejudicar a leitura dos dados.

No caso de sujeira, um pano macio, levemente umedecido numa mistura fraca de água e detergente neutro e gentilmente esfregado do centro do disco para as bordas (e não em movimentos circulares), costuma dar conta do problema. Já os arranhões mais “leves” são contornados pelo próprio mecanismo da leitora, mediante a alteração do ângulo do feixe de laser — que atravessa o policarbonato, atinge a camada de reflexiva e é recapturado pelo dispositivo óptico-eletrônico, que diferencia os reflexos dos sulcos e os da superfície lisa da camada de dados, permitindo que a placa lógica da leitora identifique os bits 0 e os bits 1 dos arquivos digitais.

Observação: O CD é composto de um substrato de plástico (policarbonato) e uma fina película metálica refletora (ouro de 24 quilates ou liga de prata). A camada refletora é coberta por uma laca anti-UV acrílica, que cria um filme protetor para os dados. Por último, uma camada adicional pode ser acrescentada para obter uma face superior impressa. A camada refletora possui pequenos alvéolos. Assim, quando o laser atravessa o substrato de policarbonato, a luz se reflete nessa camada, a não ser quando o laser passa num alvéolo, o que permite codificar a informação armazenada nas 22.188 pistas concêntricas (que na verdade são uma longa espiral). 

Alguns riscos tornam o disquinho ilegível. Arranhões paralelos, que comprometem uma pequena parcela dos dados, nem sempre trazem problemas, mas os radiais, que afetam áreas maiores, podem impedir a leitura, o que nos leva à primeira gambiarra:

Por estranho que pareça, uma maneira prática, econômica e largamente utilizada na década de 2000 para recuperar CDs/DVDs danificados era aplicar uma pequena quantidade de creme dental, daqueles com função "branqueadora", no local afetado e esfregar com um pano ou flanela, do centro para a borda do disco, na direção oposta à leitura do dados. Já arranhões mais profundos ou de grandes dimensões eram eliminados (nem sempre, é verdade) com polidor automotivo ou cera de polimento, daquela utilizada em vidros de óculos, relógios etc.

Continua na próxima postagem.