terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

CARAMURU ATIROU NO URUBU, MAS ERROU A DIREÇÃO E ACERTOU NO GAVIÃO


Parece que 2020 começou ontem, mas já estamos a duas semanas do Carnaval. Falando no Reinado de Momo, uma antiga marchinha gravada por Aracy de Almeida em 1939 dizia assim: “Caramuru, uh, uh/Caramuru, uh, uh/Filho do fogo e sobrinho do trovão/Caramuru atirou num urubu/Mas errou a direção/E acertou num gavião.

Reminiscências à parte, com um inimigo como Lula, o presidente Jair Bolsonaro não precisa de amigos. Tomado pelas palavras, o astro petista parece decidido a repetir em 2022 o papel de cabo eleitoral do capitão. Ao discursar no aniversário de 40 anos do PT, o petralha mirou no desafeto, mas acertou na própria cria: "A pessoa que me pede autocrítica é porque não tem crítica a fazer para mim", declarou.

Caio Coppolla, ao comentar essa “autocrítica”, disse que “no caso do Partido dos Trabalhadores a linha entre assumir erros e confessar crimes é tão tênue que torna improvável qualquer retratação contundente”. Entre as relativizações, desculpas e terceirização de responsabilidade pelas monstruosas incorreções morais e técnicas dos governos petistas, Caio destacou e analisou dois trechos. Confira:

A obra que nós [o PT] construímos é muito maior do que os erros”. 

Não é. Até porque a alegada prosperidade nos anos do Lulopetismo se provou efêmera, culminando na maior recessão econômica da história da república, com recordes de desemprego, juros, inflação e endividamento familiar. A educação brasileira, mesmo com orçamento multiplicado, não avançou em qualidade. A crise na segurança pública levou os números de mortes violentas no país a patamares de zonas de guerra. E se a “obra” foi controversa e inconsistente, os “erros” são evidentes e dantescos: mensalão, petrolão, superfaturamento de obras, loteamento de cargos executivos, subsídios às “campeãs nacionais”, controle artificial de preços, financiamento de ditaduras, asilo a terroristas, nomeações de militantes para o judiciário... Isso se concedermos ao PT a gentileza do eufemismo, tratando crimes graves como meros erros. 

O segundo excerto choca pela desconexão com a realidade e o descompromisso com a democracia, as garantias fundamentais e os direitos humanos. Perguntado se considera Nicolás Maduro um ditador, Aloísio Mercadante respondeu que não: “Você pode falar que tem um regime autoritário. E que está tentando se defender de uma intervenção externa.” 

Negar que o regime bolivariano é uma ditadura é absurdo: são décadas de perpetuação de um grupo político no poder, com eleições comprovadamente fraudadas; exílio, prisão e tortura de oposicionistas; morte de manifestantes civis que protestam nas ruas; controle da justiça e das forças armadas pelo poder executivo; supressão do poder legislativo democraticamente eleito; criação de milícias pró-governo; controle da mídia, com estatização ou fechamento de grupos de comunicação, encarceramento e expulsão de jornalistas. Sem falar na tirania de submeter a população à escassez de produtos de higiene, alimentos e remédios, provocando fome, epidemia de doenças e migrações em massa de refugiados. Ainda assim, o petista Mercadante — numa demonstração de fidelidade canina à ideologia socialista — relativiza as atrocidades de seu ditador de estimação e ainda culpa o mundo livre por querer intervir nessa catástrofe humanitária. Realmente, a entrevista é uma “autocrítica sincera”... mas para os padrões petistas.

Para não encompridar ainda mais este texto, a resto fica para a postagem de amanhã.