segunda-feira, 14 de julho de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 36ª PARTE

FARE E DISFARE È TUTTO UN LAVORARE.

Diversas teorias foram tidas como verdades absolutas até serem colocadas em xeque por novas evidências. O geocentrismo, por exemplo, foi aceito durante séculos, até que Copérnico, Galileu e outros polímatas demonstraram que é a Terra que gira em torno do Sol, e não o contrário. 

 

Outro caso emblemático é o da gravidade, que Newton descreveu como uma força de atração direta, mas que Einstein reescreveu como a curvatura do espaço-tempo provocada por objetos massivos — uma deformação que afeta o movimento de outros corpos, incluindo a luz, e influencia até mesmo a passagem do tempo.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


O inimigo do nosso inimigo não é necessariamente nosso amigo — mas pode, sim, ser um aliado valioso. Por outro lado, interesses em comum costumam gerar disputas quando deixam de convergir. Quando isso ocorre, o resultado costuma ser cizânia.

Tarcísio de Freitas, eleito governador de São Paulo com as bênçãos e o apoio de Jair Bolsonaro, meteu-se numa briga com Eduardo Bolsonaro (vulgo "Bananinha") por conta de uma decisão estapafúrdia de Donald Trump: sobretaxar em 50% as exportações brasileiras.

Após tratar o tiro da calopsita alaranjada como uma vitória do capetão, Tarcísio — tentando temperar seu bolsonarismo com algum resquício de racionalidade em defesa dos interesses do PIB paulista — postou nas redes que "é preciso negociar", com base em "dados e argumentos consolidados". E, como se não bastasse, apresentou a ministros do STF uma proposta pra lá de indecorosa: autorizar o "mito" a ir aos EUA negociar diretamente com o "mico".

Em postagem malcriada, Zero Três cravou: "Qualquer tentativa de acordo sem um primeiro passo do regime em direção a uma democracia será interpretado como mais um acordo Caracu." Nessa versão, Tarcísio entraria no acerto com a cara — e Bolsonaro, com o resto.

Como bem sintetizou Josias de Souza: "Acreditava-se que a autofagia fosse uma doença da esquerda. Mas a fome com que o afilhado e o filho disputam os despojos de Bolsonaro — num caso clássico de briga de antropófago com canibal — revela que a direita pode morrer de indigestão antes mesmo de escolher um candidato ao Planalto."


Einstein também postulou que existem, no Universo, três dimensões espaciais e uma temporal, e que espaço e tempo formam uma estrutura única e indissociável: o espaço-tempo. No entanto, a despeito de ter resistido a todos os ataques sofridos ao longo dos últimos cem anos, a Teoria da Relatividade não é capaz de conciliar a gravidade com a Mecânica Quântica num mesmo modelo

 

A Teoria M — que unifica cinco versões anteriores da Teoria das Cordas — propõe que o Universo se desenrola em dez dimensões espaciais e uma temporal. As sete dimensões adicionais estariam compactificadas em escalas da ordem do comprimento de Planck, e sua detecção exigiria uma quantidade absurda de energia. 

 

Mas a pergunta que se coloca é: será que existe um multiverso, com um universo paralelo em que haja um sistema solar como o nosso, com um planeta como o nosso, onde vivem versões alternativas de cada um de nós? A resposta, como costuma acontecer com perguntas desse tipo, é: "depende" — nesse caso específico, depende daquilo que entendemos por "dimensões".

 

Em um mundo com apenas duas dimensões espaciais, a realidade seria como uma folha de papel: haveria apenas largura e comprimento, mas nenhuma noção de altura. Se colocássemos uma caixa tridimensional nesse mundo hipotético, seus habitantes, confinados à bidimensionalidade, não compreenderiam a natureza do objeto, pois perceberiam apenas um quadrado surgindo do nada. 

 

Do mesmo modo, nós não conseguimos acessar diretamente dimensões além das nossas três espaciais (supondo que elas existam), embora seja possível inferir sua presença indiretamente, por meio de medições sofisticadas das energias e forças que atuam em nossa própria dimensão.

 

Esse exemplo ajuda a ilustrar a dificuldade de conceber realidades que transcendam nossa experiência direta. Se, para os habitantes bidimensionais, a terceira dimensão seria inconcebível, o que dizer de nós, confrontados com a hipótese de sete dimensões espaciais adicionais, como propõe a Teoria M?

 

De acordo com essa proposta, as dimensões extras não são amplas e extensas como as que conhecemos, mas compactificadas, enroladas sobre si mesmas em escalas microscópicas, da ordem do comprimento de Planck (10-33 cm). Para entender melhor, imagine uma mangueira: à distância, ela parece unidimensional, como uma linha; de perto, nota-se a existência de uma dimensão extra — a circunferência. Assim, mesmo que não possamos perceber diretamente essas dimensões ocultas, elas podem deixar marcas sutis no comportamento das partículas e das forças fundamentais.

 

Alguns físicos especulam que a relativa fraqueza da gravidade (quando comparada com as outras forças da natureza) poderia ser explicada por sua dispersão através dessas dimensões adicionais. Enquanto o eletromagnetismo e as forças nucleares estariam confinados ao nosso espaço tridimensional, a gravidade poderia "vazar" para as dimensões extras, diluindo-se e, por isso, se tornando mais fraca.

 

Claro que tudo isso está no campo da especulação, apoiado em modelos matemáticos elegantes, mas que carecem de evidências experimentais conclusivas. Detectar essas dimensões requereria energias muito superiores às que conseguimos gerar atualmente — talvez ordens de grandeza além das alcançadas pelo mais potente dos aceleradores de partículas — o Large Hadron Collider. 

 

Talvez por isso a teoria do "multiverso" ainda é vista como pseudociência, embora o cosmos seja gigantesco e esteja em permanente expansão. Segundo a teoria da cosmologia inflacionária, a inflação cósmica poderia ter criado uma constelação de universos-bolha, com propriedades semelhantes ou diferentes das dos nosso, mas que não podemos observar diretamente. Já a Interpretação dos Muitos-Mundos descreve matematicamente o comportamento da matéria e prevê a presença de linhas de tempo ramificadas (ou realidades alternativas) onde as decisões que tomamos se desenrolam de maneiras diferentes e produzem resultados distintos. 

 

ObservaçãoNem todas as teorias que tratam de outros universos sugerem a existência de versões de nós mesmos, até porque as propostas surgem de diferentes correntes científicas, mas todas apontam para a existência de um multiverso. 

Na visão míope dos céticos, a teoria do multiverso não é empiricamente testável, já que, por definição, os universos paralelos seriam independentes do nosso e impossíveis de acessar. Mas o fato de ainda não termos descoberto o teste certo não significa que não possamos descobri-lo mais adiante. Ademais, formular teorias sobre realidades que escapam à nossa experiência direta já diz muito sobre a capacidade humana de extrapolar, modelar e imaginar. 

Ainda não existem evidências de uma dimensão espacial extra do tamanho das três que já conhecemos, mas não há nada como o tempo para passar — e a curiosidade humana para avançar. Resta saber se um dia conseguiremos não apenas inferir, mas efetivamente perceber e explorar essas dimensões ocultas, ou se permaneceremos, como os habitantes do mundo bidimensional, aprisionados ao conforto da nossa ignorância. Até porque o verdadeiro limite talvez não esteja na estrutura do universo, mas na ousadia de quem se atreve a desvendá-la.

 

Continua...