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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O LIVRO DO DESTINO

DEUS LHE CONCEDE A CADA DIA UMA NOVA PÁGINA NO LIVRO DA VIDA. O QUE VOCÊ ESCREVE NELA JÁ É OUTRA HISTÓRIA.

E pensar que eu tinha a coleção completa dos livros de Malba Tahan, luxuosamente encadernados, com títulos em letras douradas na capa e na lombada... Enfim, apartamentos são mais seguros do que casas térreas e sobrados, mas a demanda faz com que eles se tornem cada vez menores e mais caros, de modo que você dificilmente terá espaço para uma boa biblioteca. Assim, ao exercer minha opção pelo formato “pombal de luxo”, eu me vi obrigado a despachar mais de 400 volumes pelos quais um sebo me pagou R$50, e em cheque pré-datado! (tudo bem que já faz mais de 10 anos, mas mesmo assim...).

Deixando as reminiscências de lado e passando ao que interessa, até para justificar esta inserção que foge aos temas comumente abordados por mim no meu Blog e aqui no Pontolink , Ali Iezid Izz-Edim ibn Salim Hank Malba Tahan, ou simplesmente Malba Tahan, nascido a 6 de maio de 1885 numa aldeia conhecida como Muzalit (na Pérsia Arábica). Ainda muito jovem, nosso herói foi convidado pelo emir Abd el-Azziz ben Ibrahim a ocupar o cargo de queimaçã (prefeito) de El-Medina (município da Arábia), e exerceu suas funções administrativas com inteligência e habilidade. Depois de receber uma vultosa herança de seu pai, ele viajou pelo mundo, passou algum tempo no Brasil e finalmente retornou à Arábia Central, onde veio a falecer em 1921.

O mais curioso dessa história é que Malba Tahan jamais existiu, a não ser na imaginação do dublê de professor de matemática e escritor carioca Julio Cesar de Mello e Souza (1895-1974), que incorporava também Bruno Alencar Bianco, “tradutor” das obras do fictício escriba árabe. Seu livro mais famoso é O homem que calculava uma coleção de problemas e curiosidades matemáticas apresentada sob a forma de narrativa das aventuras de um calculista persa, à maneira dos contos das Mil e Uma Noites. Já a lenda que eu transcrevo a seguir, por sua moral digna de ser bordada a ouro nas asas de uma borboleta, integra a coletânea Maktub (termo que significa “estava escrito” e expressa o tradicional fatalismo dos muçulmanos). Leiam e tirem suas conclusões:

Há muitos anos, quando voltava de Bagdá, encontrei, num caravançará (albergue) próximo a Damasco, um velho árabe de Hedjaz muito me chamou a atenção. Ele falava agitado com os mercadores e peregrinos, gesticulando e praguejando sem cessar; fumava uma mistura forte de tabaco e haxixe, e quando ouvia de um dos companheiros uma censura qualquer, exclamava, apertando o turbante esfarrapado entre as mãos ossudas:
Mac Allah! (por Deus!) ó muçulmanos! Eu já fui poderoso! Eu já tive o Destino nesta mão!
— É um pobre diabo — diziam. — Não bate bem da bola! Que Allah o proteja!
Eu, porém, sentia irresistível atração pelo desconhecido, e assim procurei me aproximar dele discretamente e conquistar sua confiança, o que consegui ao cabo de poucos dias.
— Os homens da caravana me tomam por doido — disse-me ele certa noite, enquanto cavaqueamos a sós. Não querem acreditar que já tive nas mãos o destino da humanidade inteira. Sim, senhor: o destino do gênero humano!
Esbugalhei os olhos assombrado. Aquela afirmação insistente de que havia sido senhor do Destino era característica do seu pobre estado de demência. Mas ele insistiu:
— Segundo ensina o Alcorão — o livro de Allah — a vida de todos nós está escrita — maktub! (estava escrito!) no grande Livro do Destino, onde cada homem tem uma página com tudo o que de bom ou de mau lhe vai acontecer. Todos os fatos que ocorrem na terra, do cair de uma folha seca à morte de um califa, estão fatalmente escritos no Livro do Destino!
E sem esperar que eu o interrogasse, narrou-me o seguinte:
— Em viagem pelo deserto salvei certa vez com um velho feiticeiro que ia ser enforcado. Em sinal de gratidão, ele me deu um talismã raríssimo que possuía, uma pedra maravilhosa que permitia a entrada livre na famosa Gruta da Fatalidade, onde se acha — pela vontade de Allah — o Livro do Destino.
Depois de sugar longamente a piteira do seu narguilé, velho prosseguiu:
Viajei dois anos a fim de chegar à gruta encantada. Um djinn (gênio benfazejo) que estava de sentinela à porta me deixou entrar, avisando, porém, que eu só poderia permanecer na gruta pelo espaço de poucos minutos. Era minha intenção alterar o que estava escrito na página e fazer de mim um homem rico e feliz. Bastava acrescentar com a pena (que eu já levava): “Terá muito dinheiro!” Lembrei-me, porém, dos meus inimigos. Poderia, naquele momento, fazer grande mal a todos eles. Movido pela idéia única do ódio e da vingança, abri a página de Ali Ben-Homed, o mercador. Li o que ia acontecer a esse meu rival e acrescentei embaixo, cheio de rancor: “Morrerá pobre, sofrendo os maiores tormentos!” Na página de Zalfah-el-Abarj escrevi, impiedoso, alterando-lhe a vida inteira: “Perderá todos os haveres; ficará cego e morrerá de fome e sede no deserto!” E, assim, sem piedade, arrasei, feri, retalhei a todos os meus desafetos!
— E na tua vida? — indaguei, curioso. — Que fizeste, ó muçulmano, na página em que estava escrita a tua própria existência?
— Ah, meu amigo! prosseguiu o ancião, cheio de mágoa. — Nada fiz em meu favor. Preocupado em lazer o mal aos outros, esqueci-me de fazer o bem a mim mesmo. Agi como um miserável. Semeei largamente o infortúnio e a dor e não colhi a menor parcela de felicidade. Quando me lembrei de mim, quando pensei em tornar feliz a minha vida, estava terminado o meu tempo. Sem que eu esperasse, um efrite (gênio do mal, que se opõe ao djinn) me agarrou fortemente e, depois de me arrancar o talismã, expulsou-me da gruta. Caí entre as pedras e, com a violência do choque, perdi os sentidos. Quando recuperei a razão, achei-me ferido e faminto, muito longe da gruta, junto a um pequeno oásis do deserto de Omã. Sem o talismã precioso, nunca mais pude descobrir o tortuoso caminho da Gruta do Destino.
E concluiu, entre suspiros, numa atitude de profundo e irremediável desalento:
— Perdi a única oportunidade que tive de ser rico e feliz!
Seria verdadeira essa estranha aventura? Até hoje ignoro. O certo é que o triste caso do velho árabe de Hedjaz encerrava grande e precioso ensinamento: Preocupados em levar o mal a seus semelhantes, quantos homens se esquecem do bem que poderiam fazer a si próprios...

E COMO HOJE É BLACK FRIDAY (veja detalhes no post da última terça-feira), resolvi publicar uma anedota que li numa crônica do impagável Ivan Ângelo, na VEJA SP da semana passada, bem a propósito da efeméride em questão. Antes, porém, segue um excerto das ilações do cronista, que remete seus leitores à década de 60, quando a concessão de descontos se chamava abatimento no pequeno comércio e liquidação ou queimação no grande. A grande diferença era que as lojinhas de bairro privilegiavam a freguesia fiel, ou seja, o abatimento era seletivo, relativo, afetivo, e não se expressava em porcentagem. Já no grande comércio do centro não havia privilégio de amizades, o desconto era democrático. “GRANDE QUEIMA DE INVERNO”, gritavam os anúncios nos jornais, buscando motivar o freguês (ainda não se usava o termo “consumidor”) a correr para as lojas, dando origem a piadas bobas pelas esquinas: “CORRA! LIQUIDAÇÃO DE MULTAS! CORRA!”.
Em Sampa, rivalizavam-se Mappin, Mesbla, Pirani e outros grandes magazines nas ofertas que atraiam filas de madrugadores, engoliam páginas de jornais, dominavam o rádio com jingles — curiosamente, alguns deles ainda reverberam nos escaninhos da minha memória, às vezes com uma insistência irritante, como a mensagem de Natal da Varig/Cruzeiro (confira neste clipe) ou o bucólico “Já hora de dormir/não espere mamãe mandar/um bom sono pra você/e um alegre espertar”, dos Cobertores Parahyba (clique aqui para relembrar).
Agora a piadinha propriamente dita, que eu reproduzo aqui com uma pequena alteração (o nome do time de futebol):


CONTA-SE QUE UM FÃ DE FUTEBOL ENTROU NUMA LOJA PARA COMPRAR UMA CAMISETA DE CLUBE. VIU UMA DA ITÁLIA, LINDA, R$120; DO CAMISA 11 DO BARCELONA, BONITA, R$160; DA ALEMANHA, LEGAL, R$150. ACHANDO TUDO MUITO CARO, ELE PERGUNTOU: “NÃO TEM DA SELEÇÃO BRASILEIRA?”. O VENDEDOR: “AH, TEM, MUITA. LÁ NO FUNDÃO, NA LIQUIDAÇÃO”. O FÃ FOI ATÉ LÁ, ESCOLHEU UMA, CUSTAVA SOMENTE R$19. PAGOU COM UMA NOTA DE R$20 E O VENDEDOR FEZ CARA DE PROBLEMA: “IH, ESTOU SEM TROCO; LEVA UMA DO CORINTHIANS PARA ARREDONDAR?”.

Bom final de semana e até segunda, se Deus quiser.