Pressionada por todos os lados, a ministra Rosa Weber
"suspendeu
a suspensão", mas determinou que os R$ 9,2 bilhões que
restam do "orçamento secreto" de 2021 sigam as novas regras de
transparência aprovadas pelo Congresso. Rodrigo Pacheco já havia dado um
passo atrás, listando providências "possíveis" para a apuração e se
comprometendo a apresentar os resultados em 180 dias. Rosa concedeu 90
dias corridos e manteve a exigência de que sejam dados nomes aos bois na
distribuição das verbas que o Centrão e o "mito dos apalermados" pilharam
do Orçamento, em 2020 e 2021, para "garantir maioria legislativa"
(eufemismo para "compra de votos").
Talvez seja por isso que a caterva travestida de
congressistas não festejou o "recuo" da ministra pulando e berrando
frases ininteligíveis, como
fez Micheque quando a indicação de seu pastor de estimação para o STF
foi aprovada. Na batalha em curso, embora sejam maioria, Congresso e Planalto vêm
perdendo para os togados, que se valem de uma antiga técnica de fazer política,
qual seja a de jogar parado. No mais, vale a pena ouvir a opinião de Dora
Kramer sobre a decisão da ministra.
A "impossibilidade técnica" alegada por Lira,
Pacheco et caterva é falaciosa. Um documento assinado pelo
deputado pedessista cearense Domingos Neto, que foi o relator-geral
do Orçamento de 2020, desmente
a versão da cúpula do Congresso de que não há registros sobre as
indicações de parlamentares no esquema do orçamento secreto e confirma que a
liberação de recursos se deu por meio de conluio com o Palácio do Planalto. O documento
reforça ainda que, por trás da fachada do relator-geral do orçamento, os
parlamentares apresentaram formalmente ao governo as suas indicações. Desde
maio, o Estadão tem mostrado que Planalto empenhou bilhões do
orçamento em troca de apoio parlamentar, mas os valores que o jornal rastreou
perfazem 13% dos R$ 29 bilhões empenhados pelo Executivo entre 2020 e 2021 com
emendas de relator-geral.
Falta transparência na maneira como dinheiro dos
contribuintes é malversado por maus políticos. Na visão de associações da área
de transparência ouvidos pelo Estadão, o documento do relator-geral
de 2020 reforça a necessidade de uma atuação mais dura do Supremo para
exigir que os documentos ocultos venham à tona. O problema é que o Supremo
é composto por 11 ilhas isoladas que, em tese, formam um arquipélago. Sua
composição atual é a pior de toda a história da Corte. A pusilanimidade das
togas perante as atrocidades cometidas pelo mandatário de fancaria chega a ser
constrangedora — a exemplo da inércia do passador-de-pano-geral e da incúria do
réu que preside a Câmara.
Embora seja atribuída a Charles de Gaulle, a emblemática frase "Le Brésil n’est pas un pays serieux" (O Brasil não é um país sério) foi proferida pelo diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza Filho, genro do presidente Artur Bernardes. O embaixador sabia das coisas, como comprovam as pesquisas de intenção de voto para as eleições de 2022.
Para quem achou pouco, vamos a mais uma demonstração cabal de que este país não é um país sério: o ministro que mais tempo durou à frente da pasta da Saúde durante a pandemia foi um general que nada fez além de militarizar o ministério e lamber as botas de quem o nomeou, contribuindo, assim, para ceifar milhares de milhares e vidas. Passados dez meses, o general da banda finalmente cedeu à pressão e substituiu essa aberração por um médico cardiologista... que não demorou a seguir os passos de seu antecessor.
Eivado de pretensões eleitorais, o eminente esculápio vem se empenhando cada vez mais em cumprir a regra do "um manda e o outro obedece". Na última terça-feira, fazendo eco ao mandatário de fancaria, disse essa sumidade que é "melhor perder a vida do que a liberdade". Em outras palavras, o ministro prefere rasgar o diploma a perder o emprego, e assim se presta ao papel abjeto de capacho do bolsonarismo. No afã de bajular o "mito" dos despirocados, que vomita esse besteirol para manter fiel seu curral eleitoral, o doutor trai seu dever como médico e como ministro. Em suma: o que se viu foi mais uma demonstração cabal da imbecilidade que abrilhanta este desgoverno, ou melhor, o buraco negro que o país se tornou sob o comando sultão do bananistão.
Ao invés de seguir a recomendação da Anvisa e exigir vacinação completa (ou o passaporte da vacina) dos turistas internacionais, Queiroga "decidiu" impor quarentena de cinco dias aos viajantes não vacinados — como se fosse possível fiscalizar o cumprimento dessa estapafúrdia decisão. Pegou mal: "O papel do ministro da saúde não é agradar as pessoas, é proteger a saúde da população. Acho que o Queiroga não tem noção da magnitude do papel que ele ocupa", disse o epidemiologista e professor Pedro Hallal.
O posicionamento da Anvisa é uma recomendação que pode ou não ser acatada pelo Ministério, explicou a infectologista Luana Araújo. Mas "as recomendações são feitas a partir de dados científicos, e que optar pela medida contrária pode colocar em risco as ações de combate ou mitigação da pandemia", acrescentou a médica. Sobre a paráfrase feita pelo vassalo do suserano, a também infectologista Miriam Dal Ben ponderou que para combater uma pandemia de modo efetivo não é possível olhar as pessoas individualmente. "Essa decisão não diz respeito só ao direito dela, mas também sobre o direito dos outros”.
E viva o povo brasileiro.