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O Google anunciou recentemente que seu processador quântico Sycamore atingiu a “supremacia quântica” — ou seja, conseguiu executar em pouco mais de 3 minutos uma tarefa impossível de ser executada pelos supercomputadores clássicos mais poderosos da atualidade (ou até poderia, mas levaria 10 mil anos, de modo que ninguém viveria o bastante para conferir o resultado).
É preciso ter em mente que os computadores quânticos não são tão “supremos” como se imagina, já que o estado quântico dos qubits os torna suscetíveis a vibrações ou variações de temperatura. Nessas circunstâncias, um qubit interfere em outro, criando combinações aleatórias e dando margem a erros que não se verificam num ambiente de bits (para manter a estabilidade, as máquinas quânticas precisam ser mantidas em ambientes extremamente frios, a temperaturas abaixo de zero, o que é impraticável no ambiente de negócio).
Mas há outros “senões” que, pelo menos por enquanto,
impedem essa tecnologia de se tornar padrão de mercado. Aliás, os computadores
quânticos que existem atualmente sequer se encaixam no patamar de computadores
de propósito geral, como são conhecidos, por exemplo, nossos PCs. Em outras
palavras, eles apenas realizam tarefas muito específicas, como a executada pelo
Sycamore.
A grande preocupação em relação a esse prodígio
tecnológico remete à criptografia:
não existe protocolo criptográfico capaz de resistir a um computador quântico
teórico operando em plena capacidade. Por outro lado, imagina-se que as
máquinas quânticas poderiam ser usadas para criar novos padrões criptográficos
mais robustos, que não poderiam ser quebrados nem mesmo por outros computadores
quânticos.
Muito do que foi dito aqui (e mais ainda do que não foi
dito) não passa de meras lucubrações teóricas. A computação quântica é uma
tecnologia emergente, embora já tenha aplicação no mundo real — fabricantes de
automóveis, p. ex., utilizam-na em simulações visando encontrar a melhor
composição química para maximizar o desempenho das baterias de veículos
elétricos, e a Airbus para traçar a melhor trajetória de decolagem e pouso
que proporcione maior economia de combustível.
A exemplo do que aconteceu nos anos 1950, quando
surgiram os primeiros mainframes, os computadores quânticos são máquinas grandes
— alguns tem 3m de altura e ocupam 10m² de espaço —, altamente complexas e caríssimas.
Daí elas serem usadas somente em algumas em universidades, grandes corporações
e startups com cacife para bancá-las. Demais disso, para manter a estabilidade
dos qubits é preciso manter os computadores em temperaturas baixíssimas
— quanto mais próximas do zero absoluto (-273°C), melhor — o que é impraticável
no ambiente de negócio.
A IBM oferece acesso (via cloud) a
seus processadores quânticos desde 2016 — e já anunciou uma roadmap de 1.000
qubits para 2023. A China já investiu cerca de US$
400 milhões em pesquisas quânticas e os EUA pretendem investir bilhões
nesse segmento. Google, Intel, IBM e Microsoft também
tem investido pesado nessa tendência, e a Ford está desenvolvendo um
projeto-piloto de pesquisa com a Microsoft que usa tecnologia inspirada
na computação quântica para simular a movimentação de milhares de veículos e
reduzir os congestionamentos.