domingo, 20 de março de 2022

REENCONTRO COM A ÉTICA



Os brasileiros têm sido vítima dos delinquentes da política há tempos. Não é de hoje que crimes como peculato — termo jurídico que define a prática de rachadinha — são cometidos com naturalidade e desenvoltura nos corredores de Brasília. O advento da Lava-Jato tornou-se um marco para o cidadão comum, que viu pela primeira vez os poderosos e até então intocáveis donos do poder serem condenados e encarcerados por desviar dinheiro público. Mas o sistema já preparava seu contra-ataque.

Em pouco tempo a Lava-Jato foi extinta, corruptos foram soltos e o Centrão voltou ao núcleo do poder, comandando estatais, indicando dirigentes e controlando a máquina pública. A reação foi além, com leis sendo revistas, penas abrandadas ou extintas e os sistemas de controle, enfraquecidos. Aquele que havia sido eleito para combater o mecanismo acabou se revelando seu mais ardoroso defensor — em mais um caso típico de estelionato eleitoral.

Diante dos graves desacertos na economia e de uma pandemia que ainda não nos deu trégua, tudo leva a crer que o brasileiro esqueceu que o combate à corrupção havia se tornado uma bandeira inegociável, mas, infelizmente, isto é um grave equívoco. A contaminação do sistema pela corrupção é a principal causa de nossas mazelas, porque gera desemprego, inflação, fome, violência — e, por que não dizer, mortes durante esta pandemia. 

Para resolver os problemas do país é preciso resgatar a ética como elemento essencial das relações políticas com a certeza de que as leis são aplicadas e os órgãos de controle funcionam. A próxima eleição pode promover este reencontro ético de que país tanta necessita. A polarização político-ideológica é a causadora de um sistema perverso, que retroalimenta dois grupos que representam um mesmo modelo falido de governo. 

Teremos em breve — e mais uma vez — a chance de romper com as práticas que levaram o país ao fundo do poço moral e fiscal, com arroubos de inflação e práticas de corrupção. Os brasileiros são conhecidos por sua "memória curta", mas o repúdio ao modelo petista de governar ainda está presente em forma de trauma para a maioria da população de bem. Tudo indica que um projeto alternativo ao caos bolsonarista e a corrupção petista possa se encaixar nos anseios de um povo que se cansou dos extremos e deseja um país estável, com mais segurança e emprego.

A lembrança de um período em que o cidadão médio enxergava a construção de um novo país, quando a lei valia para todos e a corrupção era punida, ainda vive nas lembranças de muitos de nós. Precisamos de pessoas comprometidas com este projeto, um desenho de nação soberano, longe dos erros do passado e da raiva do presente, focado em construir um país onde a força da lei valha mais do que a vontade dos engravatados que circulam entre rachadinhas, mensalões e petrolões.

Com Márcio Coimbra