quinta-feira, 11 de agosto de 2022

A COMPUTAÇÃO QUÂNTICA E A VIAGEM NO TEMPO (PARTE XVII)

AS COISAS SÓ SÃO IMPOSSÍVEIS ATÉ DEIXAREM DE SER.

Vimos que o espaço-tempo pode ser distorcido e comprimido por qualquer matéria que tenha massa, e que que a essa distorção se dá o nome de "gravidade". O pulo do gato foi a descoberta de que, quando se comprime o espaço-tempo, cria-se um atalho que encurta o caminho entre dois pontos no universo. Em tese, esse fenômeno seria a alternativa aos "buracos de minhoca" (detalhes no capítulo anterior), pois permitiria alcançar galáxias anos-luz distantes em poucos dias — ou mesmo horas. Essa especulação é estritamente teórica, mas sua comprovação através de complexas equações matemáticas lhe confere credibilidade suficiente para que seja aceita no meio científico.

 

O físico teórico mexicano Miguel Alcubierre demonstrou (matematicamente) que é possível comprimir o espaço-tempo usando energia negativa. O problema é que a quantidade de matéria necessária à criação dessa energia seria incomensurável — Alcubierre estimou que um motor de dobra com uma bolha de 100 metros exigiria a massa de todo o universo visível. Mais adiante, outros cientistas teorizaram que expandir o volume na bolha mantendo a área de superfície constante reduziria significativamente a necessidade de energia e, consequentemente, de matéria. Mesmo assim, ainda seria preciso algo como a massa do Sol, o que vai muito além de todas as possibilidades práticas.

 

Dois artigos recentes — um de Alexey Bobrick e Gianni Martire e outro de Erik Lentz — sugerem a possibilidade de viajar mais rápido do que a luz mediante alterações no espaço-tempo sem que seja preciso usar energia negativa. Se a atração gravitacional produzida por estrelas e buracos negros curvam o espaço-tempo a seu redor, uma espaçonave poderia comprimir o espaço à sua frente enquanto expande o expande atrás dela. Isso faria a distância entre o ponto onde a nave está e o ponto onde ela quer estar diminuir, permitindo-lhe chegar a seu mais rapidamente do que viajando linearmente à velocidade da luz (em última análise, seria como se ela viajasse mais rápido que a luz).

 

Observação: Numa hipotética nave capaz de ultrapassar a velocidade da luz, quem olhasse pela janela veria o espaço como um espécie de túnel. As ondas luminosas que estivessem adiante se aglomerariam, colorindo as estrelas de azul, ao passo que as ondas luminosas que ficassem para trás se espalhariam, tornando as estrelas avermelhadas. Mas, de novo, a massa de um objeto que se movesse a essa velocidade se tornaria infinita, e movê-lo exigiria uma energia igualmente infinita, daí isso só ser admissível no campo das teorias.

 

Ainda não é possível alcançar a velocidade da luz, mas observar as estrelas não deixa de ser uma viagem ao passado, pois o que se vê é a luz que elas emitiram anos, décadas, séculos ou milênios atrás, a depender da distância que as separa do observador (ou separava, pois muitas já nem existem mais). Este princípio permite que os astrônomos vejam o Universo como ele era durante o Big Bang, há quase 14 bilhões de anos. Dito isso, olhar para o céu é como fazer uma viagem no tempo


Quando — e se nossa — nossa tecnologia permitir viagens a velocidades próximas a da luz, um astronauta que retorne após um ano passeando pelo cosmos encontrará a Terra não como ela a deixou, mas como ela está dez anos depois que ele partiu. Se isso não for uma viagem rumo ao futuro, então eu não sei o que é. 

 

Vale destacar que as equações da relatividade não conflitam com as viagens no tempo (seja para o futuro, seja para o passado. Mas fato de elas teorizarem determinadas soluções não significa necessariamente... enfim, "na prática a teoria é outra", como diz o ditado. Por outro lado, se os buracos negros eram apenas uma solução matemática de equações e foram comprovados por observações astronômicas, por que descartar a possibilidade da viagem no tempo?

 

Continua...