terça-feira, 13 de setembro de 2022

EU SOU VOCÊ AMANHÃ

 

A deputada republicana Liz Cheney, filha do ex-vice-presidente de George W. Bush, parecia ter vindo do futuro quando relatou fatos sobre 6 de janeiro de 2021 em seu país — que são difíceis de não associarmos ao Brasil no cenário pós-eleições 2022. “Centenas de nossos compatriotas enfrentaram processos criminais. Muitos estão presos porque acreditaram no que Donald Trump estava dizendo sobre as eleições e atuaram a partir disso”, afirmou a deputada sobre os mais de 861 norte-americanos que foram processados pela invasão do Capitólio. “Eles vieram a Washington DC a pedido dele, marcharam para o Capitólio a pedido dele e centenas deles cercaram e invadiram o edifício no coração da nossa República constitucional”, completou a congressista.


As palavras fortes de Liz marcaram o segundo dia de sessões de depoimento no Congresso norte-americano sobre a tentativa de golpe de Estado ocorrida em janeiro do ano passado. Os testemunhos que se seguiram, a maioria de ex-auxiliares do ex-presidente Trump, não deixaram dúvidas: o homem da peruca alaranjada sabia que ia perder as eleições e que não havia fraude no voto pelo Correio, mas, mesmo assim, usou as instituições da presidência para instigar apoiadores a um dos maiores ataques já sofrido pela democracia norte-americana.

A exemplo de TrumpBolsonaro mente ao país sobre suspeitas de fraudes nas urnas eletrônicas — embora ele próprio tenha sido eleito pelo voto eletrônico em seis pleitos, inclusive no que o levou à Presidência. As semelhanças do que aconteceu nos EUA são amplas demais para não tentarmos aprender com elas. 


Desde a implementação desse sistema de voto, jamais houve qualquer evidência de fraude. Bolsonaro sabe disso, como sabe que pode perder a reeleição num sistema sem fraude. Assim, a exemplo de seu ídolo, busca espaços na estrutura institucional do país que governa para fazer de sua farsa um trampolim para o golpe.


Há apenas duas hipóteses quando um cenário como esse se apresenta: 1) que Bolsonaro tenha aprendido com os erros de Trump e tenha êxito onde o americano fracassou, executando aqui o golpe que não foi possível lá; 2) que Bolsonaro fracasse e as instituições brasileiras aprendam com os erros dos Estados Unidos. 


Quando há um golpe em planejamento — e é impossível olhar para os EUA e não sentir o cheiro de um golpe por aqui — existem apenas dois lados: o dos golpistas e o da Constituição. Militares, advogados públicos e membros dos Três Poderes que de alguma forma incitarem, consentirem ou mesmo se omitirem diante de um presidente que já pratica os atos preparatórios, devem saber que, caso fracassem, deverão ter um encontro com a Justiça de forma muito mais severa do que nos EUA.


Por outro lado, faz sentido centenas de americanos serem presos porque obedeceram ao presidente que tentava um golpe, enquanto o golpista segue sem enfrentar a Justiça e preparando sua volta ao poder? Não faz. Como tampouco faz sentido todos os que participaram ativamente de uma conspiração para tomar à força o Poder no país se esconderem sob as justificativas pouco críveis de que, apesar de continuarem ao lado do mandatário em momentos de atitudes abertamente ilegais e antidemocráticas por parte dele, sempre o aconselharam a seguir o caminho da lei e da Constituição.

Que o Brasil não cometa o erro de prender alguns cidadãos e deixar os mandantes de crimes contra a democracia tão à vontade quanto ficaram seus antecessores (e ídolos), que arruinaram nosso país de 1964 a 1985.


Com Piauí