YO NON CREO EM BRUJAS, PERA QUE LAS HAY, LAS HAY.
Na França, o divórcio entre a Astronomia e a Astrologia ocorreu em Paris, em 1666, quando Jean-Baptiste Colbert, ministro de Luís XIV, criou a Academia de Ciências e, influenciado pelo heliocentrismo, deixou a "pseudociência" de fora. Outros países católicos aderiram ao descrédito.
Nas concepções antigas, o homem se via ligado à terra, e o céu, desconhecido, permitia todo tipo de projeções da psique inconsciente, explica Felipe de Souza, psicólogo graduado na Universidade Federal de Juiz de Fora. Mas os astrônomos não têm interesse em desvendar supostos mecanismos ocultos que regem objetos distantes e influenciam a vida das pessoas; interessa-lhes somente coletar dados e fazer descrições para formular teorias sobre o universo. Em outras palavras, a astronomia é uma ciência porque segue o método científico: utiliza experimentos a fim de reunir evidências verificáveis e interpretá-las segundo a lógica.
Desde meados do século passado que se tenta comprovar (sem sucesso) a eficiência das leituras astrológicas. Fatores como propensão ao suicídio, inteligência, taxa de divórcio, extroversão e sucesso foram analisados em dezenas de estudos — que não encontraram evidências de correlação entre os dados astrológicos e o que acontece na vida das pessoas. Nos anos 1980, um pesquisador holandês desafiou um grupo de astrólogos a acertar a profissão de sete voluntários com base nas datas, locais e horários de seu nascimento. Os esotéricos trabalharam durante dez semanas, mas só conseguiram acertar a profissão de três — resultado não muito diferente do que seria se as relações tivessem sido sorteadas no bingo.
As previsões astrológicas são flexíveis demais: se alguém de Gêmeos destoar das características atribuídas a esse signo, o astrólogo culpará o ascendente, a Lua, a fase da vida, e assim por diante. Previsões coo “o Sol em Sagitário e a Lua em Áries abrirá janelas de oportunidade para os nascidos em Libra", ou “a lua nova na primeira casa é um sinal de que você deveria cuidar melhor da saúde”, por exemplo, se aplicam a praticamente qualquer pessoa.
No livro O Universo na Casca de Noz, o astrofísico Stephen Hawking anotou que "astrólogos sabiamente fazem previsões tão vagas que podem ser aplicadas para qualquer acontecimento" — em outras palavras, elas não servem sequer para ser provadas falsas. Ainda assim, muita gente continua acreditando na astrologia.
Para o psicólogo australiano Harvey Irwin, quem crê nas previsões astrológicas e congêneres não é necessariamente ignorante, inculto ou desajustado. Sua "criatividade" é que é maior que a das pessoas que não acreditam na influência dos astros. Por outro lado, não é muita coincidência que capricornianos se considerem centrados e racionais, como o signo deles diz que eles devem ser?
Essa "convergência" se deve a dois mecanismos psicológicos que todos nós temos: o viés de confirmação e o viés de retrospectiva. O primeiro descreve nossa tendência a preferir informações que combinam com aquilo que sabemos ou em que acreditamos — o que justificaria, por exemplo, a grande identificação que sentimos quando lemos as características dos nossos signos. O segundo explica que nos lembramos com mais facilidade dos acertos que do erros e encaixamos nossas vidas nas previsões astrológicas, e não o contrário — daí as leituras vagas confirmarem os acontecimentos depois que eles ocorreram.
Para provar que o ser humano adora ler descrições de sua personalidade, um pesquisador francês pediu a 500 pessoas que interpretassem um mapa astral que supostamente as descrevia. O texto tinha frases como "você é caloroso", "organizado" e "totalmente dedicado aos outros". Resultado: 94% dos participantes disseram se identificar com elas. O que as pessoas não sabiam é que todas haviam recebido o mesmo texto, baseado no mapa astral de um serial killer com 27 mortes no currículo.