quarta-feira, 14 de setembro de 2022

 ACREDITE SE QUISER

 

Numa entrevista concedida ao jornalista Rica Perrone, perguntado se já praticou a “rachadinha”, Bolsonaro respondeu: "É uma prática meio comum, concordo contigo. É meio comum. Não só no Legislativo, não. Também no Executivo. Até no outro Poder também. Cargo de comissão, você pode colocar quem você bem entender." Perguntado se "sobraria" alguém na política que não cometeu "rachadinha", disse: "Sobra pouca gente." E ajuntou: "Não vou falar de mim. Sou suspeito para falar de mim. Você não tem servidor meu falando que, denunciando..."

 

Vale lembrar que o primogênito do presidente é investigado por "suspeitas" de rachadinha — e chegou a ser denunciado, mas maracutaias jurídicas levaram o caso de volta à estaca zero. Segundo o Ministério Público "há indícios suficientes" de um esquema de "rachadinha" no gabinete do filho Zero Dois


Dos cinco rebentos que o ex-capitão teve em três casamentos, somente a caçula não é alvo de investigações. Afora os casos envolvendo Flávio (que vem sendo vergonhosamente empurrado com a barriga pelos amigos do rei) e Carlos, a PF e o MP apuram suspeitas contra Eduardo e Renan Bolsonaro por tráfico de influência, contratação de funcionários fantasmas e envolvimento na organização de manifestações pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo.

 

Como o GLOBO revelou, alguns dos servidores suspeitos de serem fantasmas no gabinete de Flávio e de Carlos também trabalharam para Bolsonaro quando ele era deputado federal. Na entrevista, o mandatário disse que muitos políticos realizam a prática para poder contratar mais pessoas. Essa foi uma das justificativas apresentadas por Fabrício Queiroz, suspeito de operar o esquema de "rachadinha" no gabinete de Flávio, ao Ministério Público.

 

Na entrevista a Perrone, Bolsonaro não admitiu erros em sua administração. Disse que seu governo enfrentou pandemia, guerra e seca, mas citou “possíveis falhas” entre as quais a negociação com o Congresso, que, segundo ele, poderia ter sido melhor. Em outro momento, questionado sobre a operação do FBI na mansão de Donald Trump, que é "suspeito" de ter descumprido a Lei de Espionagem por ter levado para casa documentos confidenciais, respondeu: "Tenho liberdade de conversar com Trump, mas não liguei para ele. Teve uma busca e apreensão, essa? Foram buscar papeis lá, secretos, sigilosos, que teria sido guardado com ele. Agora, um presidente, você não precisa de papéis. Eu tenho informações privilegiadas". 

 

Na sequência, com a obstinação inargumentável e louca dos completamente obcecados, Bolsonaro reafirmou que não há corrupção em seu governo e citou que a investigação sobre os pastores que atuavam como lobistas no Ministério da Educação tinha como objetivo atingir os evangélicos, sua base eleitoral. 


Há cinco meses, Bolsonaro declarou que as Forças Armadas haviam sugerido ao TSE que os militares fizessem uma contagem paralela dos votos nas eleições presidenciais deste ano. A declaração soou como anedota de um presidente delirante, mas esteve bem perto de virar realidade. 

Na semana passada, em entrevista à emissora chapa-branca Jovem Pan, o capitão comentou a negociação dos militares com a corte eleitoral para modificar o teste de integridade das urnas (estágio anterior à apuração). Quarenta e oito horas depois, despejou (em sua live de quinta-feira) outra interrogação: "Alguém acredita que, numa eleição limpa, o Lula ganha?

Se o TSE aceitar que o Comando de Defesa Cibernética do Exército realize a apuração paralela de 385 urnas, dará azo uma inquietante indagação: Alguém duvida que Bolsonaro possa tramar com seus militares a fabricação de pretexto para contestar qualquer resultado que não seja a sua reeleição?
 
Observação: No mesmo dia em que foi aventada a tal checagem paralela, a reunião entre o presidente do TSE e o ministro da Defesa, que estava marcada para ontem, foi cancelada. Na segunda-feira, o TSE divulgou uma nota negando qualquer acordo com as FFAA e ressaltando que a totalização do pleito eleitoral permitir é competência constitucional da Justiça Eleitoral. À noite, também através de nota, o general Paulo Sérgio Nogueira disse que as FFAA não solicitaram qualquer permissão de acesso diferenciado em tempo real aos dados enviados para a totalização do pleito eleitoral pelos TREs. A nota destaca ainda que as FFAA têm atuado como uma das entidades fiscalizadoras do processo eleitoral e que “não demandam exclusividade e tampouco protagonismo em nenhuma etapa ou procedimento da fiscalização do sistema eletrônico de votação e permanecerão pautando a sua atuação pela estrita observância da legalidade, pela realização de um trabalho técnico e pela colaboração com o TSE”.
 
Ou o TSE devolve as Forças Armadas para o seu devido lugar, ou pode pavimentar o seu próprio caminho para o inferno.

Atualização: De acordo com a Folha, o TSE concordou nesta terça-feira (13) em reformular a análise de até 64 das 640 urnas eletrônicas que passam pelo teste de integridade no dia de votação. O uso da biometria foi um pedido das Forças Armadas e havia sido negado durante a gestão do ministro Edson Fachin. Mas Moraes reabriu o diálogo com militares e, em reuniões fechadas e sem atas, prometeu avaliar um "projeto-piloto" para reformular parte do teste de integridade.

Por último, mas não menos importante: Bolsonaro não compareceu à posse da ministra Rosa Weber na presidência do Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira, preferindo trocar a cerimônia por uma entrevista para um podcast de uma ex-modelo. É a primeira vez que um presidente da República falta à posse de um presidente da suprema corte desde 1993.


A ministra marcou fortes posições contra o discurso do capitão, condenando a “falta de segurança, a fome em patamar assustador, os milhares de sem-teto em nossas ruas, a degradação ambiental e da pandemia”. Ela destacou ainda a defesa da Constituição, o papel do STF em dar a última palavra na República e condenou duramente as ameaças retóricas do mandatário de não cumprir decisões judiciais do tribunal. 


Com a sequência de duros recados de Rosa, a plateia de auxiliares de Bolsonaro nas cadeiras do plenário foi minguando. Eram seis no início da cerimônia, mas só Paulo Guedes ficou até o final.