sábado, 8 de fevereiro de 2025

EXOPLANETA NA "CACHINHOS DOURADOS"

SE O UNIVERSO É INFINITO, SEM CONTORNO NEM BORDA, ELE NÃO TEM INÍCIO NEM FIM, ELE SIMPLESMENTE É. NESSE CASO, QUAL SERIA O PAPEL DE UM CRIADOR?

 

Seguido o periódico Astronomy & Astrophysics, pesquisadores da Universidade de Genebra descobriram um exoplaneta habitável a 19,7 anos-luz da Terra. Considerando que a luz se propaga a 1,08 bilhão de quilômetros por hora, um ano-luz corresponde a cerca de 9,5 trilhões de quilômetros, logo, o corpo celeste em questão fica a 187,15 trilhões de quilômetros da Terra. 
 
Essa distância é ínfima em termos cósmicos — Gliese 12 b, um outro humilde rochedo aparentemente apto a abrigar vida, fica a 40 anos-luz de nós —, mas a sonda espacial mais veloz lançada até agora, que cravou 692 mil km/h no final do ano passado, levaria 30.852 anos para percorrer, e isso se mantivesse sua velocidade máxima durante toda a jornada, o que dificilmente aconteceria devido a fatores como resistência gravitacional e falta de propulsão contínua.
 
Na astronomia, a zona habitável é chamada de "Cachinhos Dourados" — uma alusão ao conto infantil homônimo, no qual a protagonista não gosta do mingau doce como o do bebê urso nem salgado como o do papai urso, mas "no ponto certo", como o da mamãe ursa. Essa região é considerada habitável porque planeta recebe tanta luz de sua estrela quanto a Terra recebe do Sol, e a temperatura em sua superfície permite a existência de água em estado líquido.
 
Batizado com o código HD 20794 d, o exoplaneta tem uma órbita excêntrica — ou seja, o trajeto que ele faz ao orbitar sua estrela é elíptico, alternando entre momentos de grande aproximação e de grande afastamento. No ponto mais próximo da estrela, sua orbita é de 0,75 UA — uma "unidade astronômica" equivale à distancia média entre a Terra e o Sol, que é de 149,5 mil quilômetros — no ponto mais próximo da estrela, e de 2 UA no ponto mais distante.
Embora todo planeta percorra um caminho elíptico, a translação da Terra é quase um círculo — as estações do ano se devem à inclinação do eixo de rotação —, o que a mantém sempre dentro da zona habitável do nosso sistema solar. Já HD 20794 d entra e sai de sua zona habitável ao longo do ano, que dura cerca de 600 dias. Assim, caso exista água em sua superfície, ela se alterna entre os estados sólido e o líquido.
 
Ainda é impossível saber exatamente como a variação na órbita impacta o clima do planeta, já que tudo depende das características de sua atmosfera. Uma grande concentração de gases de efeito estufa, por exemplo, pode reter calor e impedir que o frio se torne insuportável em dias mais "marcianos".
 
A primeiro planeta fora de nosso sistema solar foi descoberto em 1995 pelos pesquisadores Michel Mayor e Didier Queloz, também da Universidade de Genebra, que foram laureados com o Nobel de Física de 2019. Desde então, mais de 7 mil exoplanetas foram catalogados, mas é difícil obter informações detalhadas sobre eles. Tradicionalmente, os astrônomos inferem o tamanho desses corpos celestes a partir da sombra produzida quando eles passam diante de suas estrelas, mas observá-los diretamente é outra conversa.
 
HD 20794 d está próximo o suficiente para que alguns telescópios high tech possam vê-lo, mas um instrumento chamado espectrógrafo, capaz de decompor e analisar a luz que atravessa a atmosfera do planeta, permite obter informações sobre sua composição química. Resta saber se existe oxigênio, embora isso não seja um pré-requisito para a existência de vida, já que a atmosfera terrestre não tinha quantidades relevantes de O2 quando surgiram os primeiros microrganismos.