quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A última flor do Lácio...

"Última flor do Lácio, inculta e bela" é o verso de abertura de um soneto de Olavo Bilac. Essa expressão costuma designar o nosso idioma, posto que a língua portuguesa é a última das filhas do latim - o termo "inculta" fica por conta de todos que a maltratam (falando e escrevendo errado).
Depois do inglês de do espanhol, o português é a língua ocidental mais falada, e a inexistência de uma uniformidade ortográfica complica a divulgação do idioma e sua prática em eventos internacionais, razão pela qual Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste adotarão uma única forma de escrever. Calcula-se que 1,6% do vocabulário de Portugal venha a ser modificado, enquanto que no Brasil a mudança será menor (0,45%), mas serão mantidas as pronúncias típicas de cada país.
Assim que as novas regras forem incorporadas ao nosso idioma, dar-se-á início ao período de transição no qual ministérios da educação, associações e academias de letras, editores e produtores de materiais didáticos poderão, gradativamente, reimprimir livros, dicionários, etc. Por conta disso, os portugueses deixarão de escrever "húmido" para escrever "úmido", por exemplo, e suprimirão o "c" e o "p" das palavras onde eles não são pronunciados, como em "acção", "acto", "adopção", "baptismo", "óptimo" e "Egipto".
Já para os brasileiros, o "novo" alfabeto terá 26 letras - com a incorporação do "k", do "w" e do "y" -; as paroxítonas terminadas em "o" duplo perderão o acento circunflexo (como em "abençoo", "enjoo" e "voo", por exemplo) e também deixaremos de acentuar as terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus decorrentes, tornando correta a grafia "creem", "deem", "leem" e "veem".
Além disso, o trema irá desaparecer (em termos como "linguiça", "sequência", "frequência" e "quinquênio") e o acento deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição). Por outro lado, serão criados alguns casos de dupla grafia para diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como "louvámos" em oposição a "louvamos" e "amámos" em oposição a "amamos", além da eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia".
Para fechar esta postagem, segue abaixo o soneto "Língua Portuguesa", de Olavo Bilac:


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Tenham todos um bom dia e um ótimo final de semana prolongado.