quarta-feira, 8 de abril de 2020

SOB O COMANDO DE UM PSICOPATA?


O número de apoiadores de primeira hora que questionam a sanidade mental de Bolsonaro vem crescendo na mesma velocidade com que seus desafetos se multiplicam.

Dentre os aliados mais notórios que já abandonaram o barco, Gustavo Bebianno merece destaque, seja porque era um arquivo vivo da campanha e estava trabalhando no livro "Uma eleição improvável" (sobre os bastidores da eleição de Bolsonaro), seja porque sua morte súbita e inesperada deu azo a diversas teorias da conspiração (mais detalhes nesta postagem, sem embargo de voltarmos ao assunto mais adiante).

Filho de um empresário que, em tempos de vacas gordas, fazia questão de mandá-lo em voos de primeira classe para a Europa, Bebianno cursou Direito na PUC-RJ e fez mestrado em Finanças pela Universidade de Illinois (EUA). Bolsonaro, cujo pai sustentava a família obturando e extraindo dentes (mesmo sem jamais ter estudado odontologia), cursou a AMAN e serviu nos grupos de artilharia de campanha e paraquedismo.

Em 1986, aos 31 anos de idade, o então oficial da ativa publicou um artigo na revista VEJA em que reclamava do soldo. A matéria lhe rendeu 15 dias de prisão disciplinar, mas, no ano seguinte, ele voltou à carga com um plano de explodir bombas de baixa potência em quartéis e academias (também como forma de protesto contra os baixos salários dos militares). Outro artigo publicado por Veja revelou essa história e o insurreto foi excluído do quadro da Escola de Oficiais, mas acabou absolvido das acusações, em 1988, pelo Superior Tribunal Militar. Ainda assim sua carreira no Exército terminou ali.

No mesmo ano em que deu baixa, Bolsonaro elegeu-se vereador. Dois anos depois, foi um dos deputados federais mais votados no Rio de Janeiro em (mais de 450 mil votos, o que ilustra minha tese sobre o eleitorado tupiniquim ser composto majoritariamente por apedeutas, analfabetos funcionais, desinformados e afins).

Durante os 27 anos em que deu expediente no baixo clero da Câmara Federal, o hoje presidente da República aprovou 2 míseros projetos, mas colecionou dezenas de processos (a maioria deles movidos por parlamentares de esquerda). E é aí que Bebianno entra nessa história.

Em 2014, o advogado Gustavo Bebianno passou a enviar emails de cumprimentos ao deputado Jair Bolsonaro, de quem se declarava fã devido a seu “patriotismo”. Em 2017, ao saber que o então pré-candidato à Presidência estaria num clube de golfe no Rio, correu para encontrá-lo, levando consigo cópias impressas dos emails (que jamais foram respondidos) como prova da antiguidade de sua admiração. Mais adiante, defendeu Bolsonaro em diversos processos — entre os quais a folclórica ação por incitação ao estupro movida pela deputada petista Maria do Rosário, que poderia ter inviabilizado a candidatura do deputado —, sem lhe cobrar um tostão de honorários.

Foi Bebianno quem levou Bolsonaro para PSL em março de 2018. Foi Bebianno quem coordenou sua campanha presidencial e quem presidiu o PSL durante as eleições. De acordo com o empresário Paulo Marinho, que abrigou na própria casa o comitê de campanha, houve três grandes responsáveis pela vitória de Bolsonaro: Gustavo Bebianno, o publicitário Marcos Carvalho e o esfaqueador inimputável Adélio Bispo de Oliveira, nessa ordem. O resto é folclore.

Bolsonaro explorou politicamente o atentado que quase lhe tirou a vida em setembro de 2018. Valendo-se da condição de convalescente, evitou participar dos debates que inevitavelmente exporiam seu acachapante despreparo. E como a voz do povo é a voz de Deus — e dos ignorantes será o Reino dos Céus —, a plebe ignara tupiniquim, desprovida de neurônios mas munida de título eleitoral, eliminou do dia 7 de outubro, com o elenco apavorante de postulantes à presidência, duas ou três opções que poderíamos ter experimentado, e escalou para o embate final os dois extremistas mais extremados do espectro político partidário.

Diante da aridez desalentadora desse cenário, só restou à parcela racional do eleitorado — que votaria no próprio Belzebu para evitar a volta do criminoso e então presidiário Lula — ainda que representado por um patético preposto incapaz de encontrar a própria bunda usando as duas mãos e uma lanterna — apoiar um candidato tosco, polêmico, oportunista, populista, parlapatão, admirador confesso dos anos de chumbo da ditadura militar e defensor de opiniões peculiares, digamos assim, sobre tudo e todos.

Como seria de se esperar, essa sumidade se tornaria — como de fato se tornou um ano e meio depois — um mandatário impopular aos olhos de seus governados, um pária aos olhos do mundo e o alvo preferido de uma imprensa que não o suporta — o sentimento é mútuo e o presidente retribui a gentileza tratando os jornalistas à base do coice. 

Como todo populista que se preza, Bolsonaro conta com séquito de fanáticos fiéis que o seguem cegamente — os “bolsomínions” —, que representa cerca 30% do eleitorado e age como a caterva de militantes lulopetistas esquerdopatas, só que com a polaridade político-ideológica invertida.

Voltando a Gustavo Bebianno, em reconhecimento pelos bons serviços prestados pelo amigo fiel, irmão e camarada, Bolsonaro nomeou-o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, mas demitiu-o um mês e 18 dias depois, “envenenado” pelas intrigas urdidas pelo filho zero dois — que desde sempre se roeu de ciúmes da amizade do pai com o assessor —, inaugurando, assim, o que viria a ser uma longa lista de auxiliares que se transformariam em desafetos nos meses subsequentes.
 

Continua...