O número de apoiadores de primeira hora que questionam a
sanidade mental de Bolsonaro vem crescendo na mesma velocidade com
que seus desafetos se multiplicam.
Dentre os aliados mais notórios que já
abandonaram o barco, Gustavo Bebianno merece destaque, seja
porque era um arquivo vivo da campanha e estava trabalhando no livro "Uma
eleição improvável" (sobre os bastidores da eleição de Bolsonaro),
seja porque sua
morte súbita e inesperada deu azo a diversas teorias da conspiração (mais
detalhes nesta
postagem, sem embargo de voltarmos ao assunto mais adiante).
Filho de um empresário que, em tempos de
vacas gordas, fazia questão de mandá-lo em voos de primeira classe para a
Europa, Bebianno cursou Direito na PUC-RJ e fez mestrado em Finanças pela Universidade
de Illinois (EUA). Bolsonaro, cujo pai sustentava a família obturando
e extraindo dentes (mesmo sem jamais ter estudado odontologia), cursou a AMAN e serviu nos grupos
de artilharia de campanha e paraquedismo.
Em 1986, aos 31 anos de idade, o então oficial da ativa publicou um artigo na revista VEJA em que reclamava
do soldo. A matéria lhe rendeu 15 dias de prisão disciplinar, mas, no ano
seguinte, ele voltou à carga com um plano de explodir bombas de baixa
potência em quartéis e academias (também como forma de protesto contra os baixos
salários dos militares). Outro
artigo publicado por Veja revelou essa história e o insurreto foi
excluído do quadro da Escola de Oficiais, mas acabou absolvido
das acusações, em 1988, pelo Superior Tribunal Militar. Ainda assim sua carreira no Exército
terminou ali.
No mesmo ano em que deu baixa, Bolsonaro elegeu-se
vereador. Dois anos depois, foi um dos deputados federais mais votados no Rio
de Janeiro em (mais de 450 mil votos, o que ilustra minha tese sobre o
eleitorado tupiniquim ser composto majoritariamente por apedeutas, analfabetos
funcionais, desinformados e afins).
Durante os 27 anos em que deu expediente no baixo clero da
Câmara Federal, o hoje presidente da República aprovou 2 míseros projetos, mas
colecionou dezenas de processos (a maioria deles movidos por parlamentares de
esquerda). E é aí que Bebianno entra nessa história.
Em 2014, o advogado Gustavo Bebianno passou a
enviar emails de cumprimentos ao deputado Jair Bolsonaro, de quem
se declarava fã devido a seu “patriotismo”. Em 2017, ao saber que o então
pré-candidato à Presidência estaria num clube de golfe no Rio, correu para
encontrá-lo, levando consigo cópias impressas dos emails (que jamais foram
respondidos) como prova da antiguidade de sua admiração. Mais adiante, defendeu
Bolsonaro em diversos processos — entre os quais a folclórica ação por incitação ao estupro movida pela deputada petista Maria do Rosário, que
poderia ter inviabilizado a candidatura do deputado —, sem lhe cobrar um tostão de
honorários.
Foi Bebianno quem levou Bolsonaro para PSL
em março de 2018. Foi Bebianno quem coordenou sua campanha presidencial e quem presidiu o PSL durante as eleições. De acordo com o empresário Paulo
Marinho, que abrigou na própria casa o comitê de campanha, houve três
grandes responsáveis pela vitória de Bolsonaro: Gustavo Bebianno,
o publicitário Marcos Carvalho e o esfaqueador inimputável Adélio
Bispo de Oliveira, nessa ordem. O resto é folclore.
Bolsonaro explorou politicamente o atentado que quase
lhe tirou a vida em setembro de 2018. Valendo-se da condição de convalescente,
evitou participar dos debates que inevitavelmente exporiam seu acachapante
despreparo. E como a voz do povo é a voz de Deus — e dos ignorantes será o Reino
dos Céus —, a plebe ignara tupiniquim, desprovida de neurônios mas munida de
título eleitoral, eliminou do dia 7 de outubro, com o elenco apavorante de postulantes à presidência, duas ou três opções que poderíamos ter
experimentado, e escalou para o embate final os dois extremistas
mais extremados do espectro político partidário.
Diante da aridez desalentadora desse cenário, só restou à
parcela racional do eleitorado — que votaria no próprio Belzebu para
evitar a volta do criminoso e então presidiário Lula — ainda que
representado por um patético preposto incapaz de encontrar a própria bunda
usando as duas mãos e uma lanterna — apoiar um candidato tosco, polêmico, oportunista, populista,
parlapatão, admirador confesso dos anos de chumbo da ditadura militar e defensor
de opiniões peculiares, digamos assim, sobre tudo e todos.
Como seria de se esperar, essa sumidade se tornaria — como de fato se tornou um ano e meio
depois — um mandatário
impopular aos olhos de seus governados, um pária
aos olhos do mundo e o alvo preferido de uma imprensa que não o suporta — o sentimento é mútuo e o presidente retribui a gentileza tratando os jornalistas à base do
coice.
Como todo populista que se preza, Bolsonaro conta com séquito de
fanáticos fiéis que o seguem cegamente — os “bolsomínions” —, que
representa cerca 30% do eleitorado e age como a caterva de militantes
lulopetistas esquerdopatas, só que com a polaridade político-ideológica
invertida.
Voltando a Gustavo Bebianno, em reconhecimento pelos bons
serviços prestados pelo amigo fiel, irmão e camarada, Bolsonaro
nomeou-o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, mas demitiu-o
um mês e 18 dias depois, “envenenado” pelas intrigas urdidas pelo filho zero dois
— que desde sempre se roeu de ciúmes da amizade do pai com o assessor —,
inaugurando, assim, o que viria a ser uma longa lista de auxiliares que se
transformariam em desafetos nos meses subsequentes.
Continua...