A FDA (agência que regulamenta os medicamentos nos
Estados Unidos) autorizou o uso limitado em caráter de emergência da cloroquina
e da hidroxicloroquina para tratar casos de coronavírus no país. Trump
disse na semana passada que os dois medicamentos poderiam ser um “presente de
Deus”, mas os cientistas pedem cautela à população até que os testes clínicos validem
estudos mais minuciosos. Há receio de que o respaldo do presidente possa criar
uma escassez das drogas para pacientes que necessitam delas para tratar o lúpus
e a artrite reumatoide, doenças para as quais ambas estão aprovadas.
O polêmico médico francês Didier Raoult divulgou
online um estudo sobre um derivado da cloroquina, segundo o qual "a
maioria dos pacientes registrou uma queda rápida, em menos de uma semana, da
carga viral". Mas a maioria dos pacientes se recupera da Covid-19 com ou
sem tratamento de hidroxicloroquina e azitromicina. Além disso, especialistas consideram impossível chegar a essa conclusão com base num experimento do qual participaram 80 pacientes, metade deles com menos de 53 anos, e que foram observados por um período de 6 a 10 dias no hospital de Marselha. Do total,
65 (81%) tiveram “evolução favorável” e tiveram alta após cinco dias em
média, enquanto um paciente de 74 anos continua na UTI e outro, de 86 anos,
faleceu.
A despeito de muitos médicos e alguns governantes defenderem
o uso generalizado do medicamento, a comunidade científica recomenda uma validação rigorosa antes de sua liberação.
A França autorizou o uso no hospital, única e exclusivamente para casos graves,
considerando que os dados clínicos e biológicos disponíveis são insuficientes para assumir o
risco de prescrever o tratamento em outras condições.
Mudando de assunto — afinal, para tudo existem limites e nossa paciência não é exceção —, o IML de Teresópolis atribuiu a morte de Gustavo Bebianno a um infarto agudo do miocárdio seguido da queda que provocou uma lesão na cabeça, o que deveria bastar para derrubar as indefectíveis teorias conspiratórias — alimentadas, inclusive, pelo próprio clã Bolsonaro — sobre tratar-se de “queima de arquivo”. Mas o fato é que Bebianno era um arquivo vivo da campanha de Bolsonaro.
Em fevereiro, o capitão serviu a cabeça do então secretário-geral da Presidência ao
filho zero dois (que a teria pedido por inveja ou ciúme de sua amizade
com o pai). Rebaixado de amigo de fé, irmão, camarada, advogado, articulador
político, líder do PSL e ministro à condição de desafeto (clube ao qual se juntariam mais adiante Alexandre
Frota, Luciano Bivar, Joice Hasselmann, Janaína Paschoal
e outros ex-aliados de primeira hora —, Bebianno filiou-se ao PSDB
e tencionava disputar a prefeitura do Rio quando enfartou.
O político carioca aventou mais de uma vez a possibilidade de
revelar detalhes sórdidos da campanha presidencial. Em dezembro passado, em entrevista à Jovem Pan, disse que Bolsonaro
tinha “traços de psicopata” e revelou que se sentia “vulnerável e sob risco
constante" por ter entrado em choque direto com o ex-aliado. No
evento que marcou sua filiação ao PSDB, afirmou que “a
democracia estava em risco devido à postura do presidente” e atribuiu ao
“grau de loucura e irresponsabilidade capitaneado pelo próprio Bolsonaro”
o ambiente de “instabilidade política e econômica”. Alguém discorda?
Segundo o empresário e presidente estadual do PSDB do
Rio, Paulo Marinho, o ex-ministro estava trabalhando em um livro sobre
os bastidores da campanha presidencial de 2018 ("Uma eleição
improvável"), praticava jiu-jitsu e tinha saúde de atleta, mas vinha se alimentando mal e, como
era (nas palavras de Marinho) “uma pessoa pura e sem ambições", a
tristeza pela demissão e o estresse causado pelo relacionamento com o mundo da política,
palco habitual de traições e disputas, pode ter contribuído para o infarto.
Ainda segundo Marinho, no sábado, 7, Bebianno
gravou imagens para um documentário sobre as eleições vencidas por Bolsonaro.
Com direção do cineasta Bruno Barreto, o documentário está na fase de
coleta de depoimentos, e a gravação do sábado tinha como foco a casa no Jardim
Botânico — o depoimento foi gravado na sala de TV onde Bolsonaro
gostava de cochilar, contou André Marinho, filho de Paulo Marinho.
Bebianno ainda teria muitas imagens de bastidores da campanha eleitoral,
que poderiam ser cedidas ao documentário.
Embora tenha confirmado que Bebianno se sentia
ameaçado, tinha porte de armas e andava frequentemente com uma pistola Glock,
Marinho descartou quaisquer outras possíveis causas de sua morte além do
infarto fulminante confirmado na autópsia. No relato do empresário, Bebianno
acordou por volta das 3 horas, com dores em um dos braços e no peito. Foi socorrido
pelo filho, que estava com ele no sítio — a esposa e a filha ficaram no Rio.
Levado pelo filho ao banheiro, o político caiu, bateu com o rosto no chão e
ficou 30 minutos desacordado até ser levado ao Hospital Central de
Teresópolis pelo filho, com a ajuda do caseiro do sítio. Mas as manobras
médicas não foram suficientes para evitar a morte. Um amigo da família, que
acompanhava familiares no IML em Teresópolis, endossou o relato de Marinho.
Merval Pereira pondera que imaginar que a morte de Bebianno poderia ser “queima de arquivo” é ir longe demais na teoria conspiratória, repetindo o comportamento paranoico do clã Bolsonaro. Mas reconhece que entrevistas com acusações por parte do ex-ministro ao presidente e seus filhos, a percepção de que a tristeza pode ter ajudado a matar um fiel amigo largado de mão por interesses mesquinhos, as revelações de uma relação conturbada no Palácio do Planalto, prejudicada por um comportamento desequilibrado de Bolsonaro, tudo isso junto e misturado não ajuda a imagem presidencial, assim como não ajudou o fuzilamento do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, que trouxe de volta as circunstâncias que uniram a família Bolsonaro a ele.
Merval Pereira pondera que imaginar que a morte de Bebianno poderia ser “queima de arquivo” é ir longe demais na teoria conspiratória, repetindo o comportamento paranoico do clã Bolsonaro. Mas reconhece que entrevistas com acusações por parte do ex-ministro ao presidente e seus filhos, a percepção de que a tristeza pode ter ajudado a matar um fiel amigo largado de mão por interesses mesquinhos, as revelações de uma relação conturbada no Palácio do Planalto, prejudicada por um comportamento desequilibrado de Bolsonaro, tudo isso junto e misturado não ajuda a imagem presidencial, assim como não ajudou o fuzilamento do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, que trouxe de volta as circunstâncias que uniram a família Bolsonaro a ele.
Mesmo que, por dever de responsabilidade, não se faça a ligação das mortes com ações premeditadas com objetivos políticos, as circunstâncias das duas mortes levam o clã presidencial novamente a um terreno pantanoso, onde sobram insinuações de envolvimento com ações ilegais. Esse estilo agressivo de fazer política gera um ambiente desagregador e inseguro, que dificilmente terá um final feliz.
Mágoas, fatalidades e teorias conspiratórias à parte, vale
relembrar que as mortes de Celso Daniel, em janeiro de 2002, de Toninho
do PT, em setembro de 2001, e de PC Farias, em junho de 1996 (cujo laudo pericial, de tão inconsistente, só faltou dizer que ex-tesoureiro de Collor primeiro se suicidou e depois matou a namorada), jamais
foram satisfatoriamente esclarecias, nem seus mandantes processados e punidos na forma da lei, embora os nomes dos
principais interessados brilhem como anúncios em neon.
Isso sem mencionar o assassinato da vereadora psolista carioca Marielle Franco e de seu motorista, ocorrido há mais de dois anos, que tem relação direta com a posterior execução do ex-capitão da PM e miliciano carioca retrocitado, acusado de ser um dos integrantes do chamado Escritório do Crime e investigado nas chamadas "rachadinhas" do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, que foi morto no mês passado durante uma troca de tiros com policiais do BOPE da Bahia.
As mortes dos dois prefeitos petistas, se bem investigadas, certamente revelariam digitais de próceres do próprio PT; o caso de PC Farias apontaria certo senador alagoano enrolado desde sempre com a Justiça e réu na Lava-Jato, e o de Marielle e Adriano... enfim, como diria Chico Picadinho, vamos por partes.
Isso sem mencionar o assassinato da vereadora psolista carioca Marielle Franco e de seu motorista, ocorrido há mais de dois anos, que tem relação direta com a posterior execução do ex-capitão da PM e miliciano carioca retrocitado, acusado de ser um dos integrantes do chamado Escritório do Crime e investigado nas chamadas "rachadinhas" do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, que foi morto no mês passado durante uma troca de tiros com policiais do BOPE da Bahia.
As mortes dos dois prefeitos petistas, se bem investigadas, certamente revelariam digitais de próceres do próprio PT; o caso de PC Farias apontaria certo senador alagoano enrolado desde sempre com a Justiça e réu na Lava-Jato, e o de Marielle e Adriano... enfim, como diria Chico Picadinho, vamos por partes.
Guardadas as devidas proporções, Paul César Cavalcanti
Farias, mais conhecido como PC, estava para Fernando Collor
assim como Antonio Palocci para Lula e Gustavo Bebianno
para Bolsonaro. Todos foram peças-chave nas campanhas que elegeram cada um dos três e conheciam melhor que ninguém suas pútridas entranhas.
Collor derrotou Lula no pleito de 1989, e três
meses depois da posse já surgiam denúncias de corrupção, primeiro
envolvendo apenas o segundo escalão, mas que logo avançaram para pessoas
próximas ao caçador de marajás de araque, e aí PC assumiu o papel de
lobista e elemento de ligação entre o empresariado e o governo. O presidente só
foi atingido diretamente pelas denúncias em 24 de maio de 1992, depois que seu
irmão Pedro o acusou publicamente de manter uma sociedade com PC,
que seria seu testa-de-ferro nos negócios. A PF instaurou um inquérito e
a PGR determinou a apuração dos crimes atribuídos ao chefe na
nação, à superministra Zélia Cardoso de Mello, ao piloto Jorge
Bandeira de Melo, acusado de intermediar a liberação de verbas no
Ministério da Ação Social, e ao próprio PC.
Também guardadas as devidas proporções, a ministra da
Fazenda de Collor era uma espécie de Dilma em edição melhorada (até porque nada nem ninguém é capaz de ombrear
com dublê de gerentona de araque e calamidade em forma de gente). Zélia foi
a mentora intelectual do confisco da poupança dos brasileiros, teve um
escandaloso affair com o ministro Bernardo
Cabral — conhecido como Boto
Tucuxi, que segundo o folclore paraense, se metamorfoseia à noite num homem
dançador, bebedor, galante e sedutor, que encanta as caboclas ribeirinhas — e
acabou se casando com Chico Anysio, que
passou a ser chamado de “o humorista que casou com a piada”.
Ao longo de oitenta anos de vida e
mais de sessenta de carreira, Chico Anysio criou 290
personagens, dentre os quais Professor Raimundo, Bozó,
Painho, Coalhada, Alberto Roberto, Justo Veríssimo,
Salomé, Bento Carneiro, Pantaleão e Azambuja, entre tantos outros).
O humorista também colecionou esposas — Nancy Wanderley, Rose
Rondelli, Alcione Mazzeo, Regina Chaves, Zélia e,
finalmente, a gaúcha Malga, 39 anos mais jovem, que o inspirou a lançar
o livro "Como salvar seu casamento".
Oito anos depois da morte de Chico e da anulação do testamento, Malga revelou que teria direito a 50% de todo o patrimônio do artista, com quem ficou casada por 14 anos. Agora, luta para conseguir entrar em acordo com os filhos do humorista. Segundo ela, Chico morreu com muitas dívidas, pois tinha o hábito de dar uma boa mesada para cada filho, mesmo depois de crescidos. Além disso, ele tinha 300 cavalos e gastava R$ 600 mil por mês na manutenção dos animais.
Sílvio Santos teria oferecido R$ 70 milhões pelas obras do falecido, mas sua viúva nunca conseguiu falar com os filhos de Chico e nem sabe dizer se eles têm conhecimento dessa oferta. Para não encompridar ainda mais este texto, a continuação fica para o próximo capítulo.
Oito anos depois da morte de Chico e da anulação do testamento, Malga revelou que teria direito a 50% de todo o patrimônio do artista, com quem ficou casada por 14 anos. Agora, luta para conseguir entrar em acordo com os filhos do humorista. Segundo ela, Chico morreu com muitas dívidas, pois tinha o hábito de dar uma boa mesada para cada filho, mesmo depois de crescidos. Além disso, ele tinha 300 cavalos e gastava R$ 600 mil por mês na manutenção dos animais.
Sílvio Santos teria oferecido R$ 70 milhões pelas obras do falecido, mas sua viúva nunca conseguiu falar com os filhos de Chico e nem sabe dizer se eles têm conhecimento dessa oferta. Para não encompridar ainda mais este texto, a continuação fica para o próximo capítulo.