terça-feira, 31 de março de 2020

A ERA DA (IN)SEGURANÇA — PARTE 3


QUANDO OUÇO UM TROPEL DE CASCOS NÃO PENSO EM UNICÓRNIOS. PENSO EM CAVALOS, JEGUES E ATÉ MILITANTES PETISTAS, MAS NUNCA EM UNICÓRNIOS.

Retomando nossa conversa do ponto onde paramos no post anterior, outras pestes eletrônicas assustadoras que surgiram no início dos anos 1990 foram a AIDS — que apresentava uma mensagem de boas-vindas arrepiante e informava a vítima de que seu sistema tinha sido infectado com o vírus homônimo  —; a Tequila — que infectava os arquivos executáveis do DOS e exibia uma figura geométrica complexa com uma mensagem que prometia cerveja e tequila ao usuário que seguisse clicando — e a Ku-Ku — que exibia pontos multicoloridos que iam preenchendo progressivamente a tela.

Em 1998, o Chernobyl — o único vírus conhecido capaz de afetar o hardware — sobrescrevia os dados do BIOS, impedindo a reinicialização do computador. Ele recebeu esse nome porque foi ativado na mesma data do catastrófico acidente na usina nuclear ucraniana homônima, embora fosse chamado também de CIH (as iniciais do seu criador) e Spacefiller (devido a sua técnica de infecção).

No apagar das luzes do século XX, o Melissa — vírus de macro escrito para o MS Word 97 — espalhava-se através de anexos de emails enviados a partir do Outlook (sem o conhecimento do usuário) e, em muitos casos, com dados pessoais / confidencias. Ele se notabilizou em relação a seus predecessores pela velocidade com que se disseminou. Para que você tenha uma ideia, a primeira notícia na mídia especializada relatando os estragos do Melissa foi publicada apenas seis horas depois de a praga ter sido detectada pela primeira vez. 

Como sabemos, os vírus de computador surgiram décadas antes da Arpanet (*). Os primeiros registros (teóricos) de programas capazes de se autorreplicar remontam à meados da década de 1950, embora eles só passaram a ser chamados de “vírus” nos anos 1980, devido a algumas semelhanças com seus correspondentes biológicos — tais como precisar de um hospedeiro, ser capaz de se autorreplicar e infectar outros sistemas, entre outras. Note, porém, que um vírus, em si, não é necessariamente destrutivo, e que um programa destrutivo, em si, não é necessariamente um vírus). Todavia, a popularização da Rede Mundial de Computadores entre usuários domésticos de computador potencializou a proliferação dessas pragas.

De início, um vírus pulava de uma máquina para outra a passo de cágado perneta, já que a disseminação costumava ocorrer devido ao compartilhamento de cópias de joguinhos de computador em disquetes infectados. Além disso, as primeiras safras dessas pestes eram inócuas ― a maioria não passava de brincadeiras de programadores perversos, que se divertiam criando códigos que reproduziam sons inusitados ou assustadores, exibiam mensagens engraçadas ou obscenas, e assim por diante.

(*Só para relembrar: a Rede Mundial de Computares (World Wide Web em inglês, daí a sigla “www”, que agora nos é tão familiar) surgiu nos anos 1960, no auge da "Guerra Fria", como um projeto militar batizado de ARPANET) que visava descentralizar o armazenamento de informações vitais para o Departamento de Defesa norte-americano. De início, seu uso era eminentemente militar, mas o potencial para fins comerciais não demorou a ser vislumbrado, e o resto é história recente.

Continua...