No último dia 7, o jornalista Hélio Schwartsman publicou na Folha o polêmico artigo “POR QUE TORÇO PARA QUE BOLSONARO MORRA”, que eu reproduzo a seguir. Faço-o somente hoje para não interromper a sequência que venho publicando desde a última segunda-feira. E faço-o apenas para que quem não tomou conhecimento do polêmico artigo tire suas próprias conclusões (o troço deu azo a discussões acaloradas nas redes sociais e debates em programas de rádio e TV).
Ressalto,
por oportuno, que a opinião do jornalista não espelha a minha, e que não vou tecer comentários sobre o que penso do que ele escreveu. Dito isso, segue a transcrição:
Jair
Bolsonaro está com Covid-19. Torço para que o quadro se agrave e ele
morra. Nada pessoal.
Como
já escrevi aqui a propósito desse mesmo tema, embora ensinamentos religiosos e éticas
deontológicas preconizem que não devemos desejar mal ao próximo, aqueles que
abraçam éticas consequencialistas não estão tão amarrados pela moral
tradicional. É que, no consequencialismo, ações são valoradas pelos resultados
que produzem. O sacrifício de um indivíduo pode ser válido, se dele advier um
bem maior.
A vida de Bolsonaro, como a de
qualquer indivíduo, tem valor e sua perda seria lamentável. Mas, como no
consequencialismo todas as vidas valem rigorosamente o mesmo, a morte do
presidente torna-se filosoficamente defensável, se estivermos seguros de que
acarretará um número maior de vidas preservadas. Estamos?
No plano mais imediato, a
ausência de Bolsonaro significaria que já não teríamos um governante
minimizando a epidemia nem sabotando medidas para mitigá-la. Isso
salvaria vidas? A crer num estudo de pesquisadores da UFABC, da FGV
e da USP, cada fala negacionista do presidente se faz seguir de quedas
nas taxas de isolamento e de aumentos nos óbitos. Detalhe irônico: são
justamente os eleitores do presidente a população mais afetada.
Bônus políticos não contabilizáveis em
cadáveres incluem o fim (ou ao menos a redução) das tensões institucionais e de
tentativas de esvaziamento de políticas ambientais, culturais, científicas etc.
Numa chave um pouco mais especulativa, dá
para argumentar que a morte, por Covid-19, do mais destacado líder mundial a
negar a gravidade da pandemia serviria como um “cautionary tale” de
alcance global. Ficaria
muito mais difícil para outros governantes irresponsáveis imitarem seu discurso
e atitudes, o que presumivelmente pouparia vidas em todo o planeta.
Bolsonaro prestaria na morte o serviço que foi incapaz de ofertar em vida.