Vimos que a monarquia foi sepultada pela proclamação da República, em 1889, e que esse foi o primeiro dos muitos golpes de Estado que ocorreram em nossa querida republiqueta de bananas.
No período republicano — que já dura respeitáveis 130 anos —, 38 políticos foram alçados à Presidência via eleições diretas (por voto popular) ou
indiretas (pelo Congresso Nacional), golpe de Estado ou linha
sucessória. Oito deles — entre os quais Júlio Prestes, que nem chegou a
assumir — foram, em algum momento de seus mandatos, defenestrados do poder. E Jair Messias Bolsonaro
pode ser o próximo.
Entre o apagar das
luzes imperiais, em 1889, e a posse de Prudente de Morais, em 1894, somente
militares ocuparam o assento mais cobiçado dos palácio presidencial, daí esse período ser chamado de República
da Espada.
O Marechal Deodoro da Fonseca, a quem coube desfechar o golpe de misericórdia no regime monárquico e entrar para a história como o primeiro presidente do Brasil, governou interinamente por cerca de dois anos. Promulgada a Constituição de 1891, foi realizada uma eleição indireta, na qual o marechal derrotou seu adversário — o candidato civil Prudente de Morais — por 129 votos a 97. Sua gestão, marcada pelo autoritarismo, foi encerrada prematuramente por um levante da Marinha,
conhecido como Revolta da Armada.
Tão logo passou de vice a titular, o também marechal Floriano Peixoto demitiu
todos os governadores que apoiaram seu antecessor (e que defendiam a realização
de nova eleição, à luz do previsto no art. 42 da Constituição de 1891). Graças
a sua postura ditatorial — parece que isso seria moda entre os mandatários tupiniquins — Floriano foi apelidado de “Marechal de Ferro”. Para se manter no poder, ele teve de debelar sucessivas rebeliões, como a Revolução
Federalista e a Segunda Revolta
da Armada.
Em abril de 1892, diante de protestos de opositores e divulgação de manifestos na capital federal, Peixoto decretou estado de sítio, prendeu e desterrou desafetos para a Amazônia. Quando Rui Barbosa ingressou com habeas corpus no Supremo Tribunal Federal em favor dos detidos, Peixoto ameaçou os magistrados: "Se os juízes concederem habeas corpus aos políticos, eu não sei quem amanhã lhes dará o habeas corpus de que, por sua vez, necessitarão". O Supremo negou o habeas corpus por dez votos a um.
Em novembro de 1894, muito a contragosto, Floriano Peixoto passou o bastão para o paulista Prudente de
Morais — que obteve 90% dos votos na primeira eleição direta da nossa história. A exemplo do que faria o General Figueiredo daí a quase um século, o marechal se recusou a transmitir pessoalmente o cargo a seu sucessor.
Observação: Figueiredo não compareceu à cerimônia de posse nem passou a faixa presidencial ao oligarca maranhense José Sarney, que ele considerava "traidor" e "ilegítimo" por ter deixado a Arena (partido que apoiava o governo durante a ditadura) para disputar a vice-presidência na chapa de oposição, encabeçada por Tancredo Neves.
Prudente de Morais foi não só o primeiro
presidente civil do Brasil, mas também o primeiro eleito pelo voto direto. Seu governo se estendeu de 1894 a 1898 e deu
início à política do café com leite — assim chamada devido à
aliança nas indicações para presidentes entre São Paulo e Minas
Gerais. Dada a presença substantiva de militares ligados a seu
antecessor, temia-se a volta dos fardados ao poder — possibilidade
que ganhou força com a morte de Floriano, em junho de 1895: no enterro do ex-presidente, cerca de 30 mil pessoas seguiram o cortejo fúnebre
gritando “Viva, Floriano! Morra, Prudente!”.
Problemas de saúde levaram Prudente a
transferir o cargo ao vice Manuel Vitorino, soteropolitano e adepto ao
florianismo, e reassumiu o posto em 4 de março de 1897 (a despeito dos esforços de Vitorino, que, de olho no cargo, conspirava contra o presidente). Mas o restante de seu governo foi marcado por turbulências e dificuldades — entre as quais uma tentativa de assassinato e a (sempre presente) ameaça de golpe militar. Em 1899, após decretar estado de sítio e promover intensa perseguição aos opositores, Prudente transferiu o cargo ao também paulista Campos
Sales, que seria sucedido pelo conterrâneo Rodrigues Alves — mais um integrante das oligarquias cafeeiras —, que, por seu turno, seria sucedido pelo também
paulista Afonso Pena.
Em junho de 1909, com a morte de Pena no exercício da presidência, coube a Nilo Peçanha concluir o mandato tampão e dar posse ao gaúcho Hermes da Fonseca, que era sobrinho de Deodoro e derrotara o soteropolitano Rui Barbosa. Na sequência, mediante um acordo costurado por paulistas e mineiros, assumiu o posto Venceslau Brás.
Em 1918, o paulista Rodrigues Alves foi eleito presidente, mas a Dona Morte o impediu de assumir o posto pela segunda vez vez. Quem assumiu foi o mineiro Delfim Moreira, que governou até a
eleição e posse do paraibano Epitácio Pessoa, em 1919. Pessoa ocupou a poltrona presidencial até 1922, quando então foi sucedido pelo mineiro Arthur Bernardes, que foi sucedido pelo carioca Washington Luiz, que foi o último presidente da
chamada República Velha e cuja gestão será abordada de forma mais
detalhada no próximo capítulo.