BETTER THE DEVIL
YOU KNOW THAN THE DEVIL YOU DON'T
Eleitores de 57 municípios, dentre os quais 17 capitais, voltam às urnas neste domingo para definir quem será o próximo prefeito. Em São Paulo, Bruno Covas lidera o páreo, mas Guilherme Boulos reduziu a diferença nas últimas duas semanas. Segundo o Ibope, o tucano deve receber 48% dos votos válidos e o candidato do Psol, 37% (de acordo com o Datafolha, a projeção é de 47% a 40%).
O debate na Rede Globo, que deveria ter
ocorrido nesta sexta-feira, foi suspenso depois que o candidato do Psol testou
positivo para a Covid-19. Mas a pandemia também pode dificultar a
vitória de Covas, que depende em grande medida do eleitorado mais idoso,
cuja abstenção o repique
da pandemia pode estimular.
Covas recebeu o apoio de Joice Hasselmann e Celso
Russomanno, bem como dos partidos Solidariedade e PSD. Já a
esquerda — PT, PCdoB, PSTU — se uniu em torno de Boulos,
que também conta com o apoio da Rede, do PDT e do PSB (mas
não do candidato derrotado Márcio França, que optou pela neutralidade).
Do resultado das urnas no último dia 15, infere-se que a
polarização mais alinhada com a direita bolsonarista arrefeceu. Apenas dois dos
treze candidatos apoiados pelo Presidente foram eleitos, nove ficaram pelo
caminho e os dois que disputarão o segundo turno vão mal das pernas. A julgar
pela distância entre Marcelo Crivella e Eduardo Paes, é mais
fácil Marcola (chefe do PCC) ser canonizado que o sobrinho de Edir
Macedo se reconduzido à prefeitura da capital fluminense.
Boulos rejeita o rótulo de “novo Lula”, mas
imita os trejeitos do padrinho — que passou a apoiá-lo depois que o
petista Jilmar Tatto amargou um obscuro sexto lugar. Insiste em vincular
Covas a João Doria e age como se fosse o governador seu oponente no segundo turno. Para completar, ataca o vereador
emedebista Ricardo Nunes, candidato a vice na chapa adversária, que em 2011 foi acusado de violência doméstica pela esposa com quem segue casado até
hoje.
Como o macaco do ditado, que enrola o rabo, senta-se sobre ele e puxa o do vizinho, o candidato do Psol pendura nos chifres da Lua a própria vice, da qual se vale como “muleta” quando sua inexperiência na gestão pública é questionada.
Luiza Erundina — que aos 85 anos usa um
carro adaptado para se proteger da Covid-19 — foi "a melhor prefeita que
São Paulo já teve", diz Boulos, esquecendo-se muito convenientemente de mencionar que ela deixou a prefeitura com 40% de rejeição, não conseguiu eleger
seu sucessor (o petista Eduardo Suplicy, que foi derrotado por Paulo
Maluf) e tampouco se eleger prefeita novamente, embora tenha disputado o
cargo em 1996, 2000, 2004 e 2016.
Observação: Para que o leitor tenha uma ideia, o índice de
aprovação de Erundina em 1992 (29%) só não foi pior que o de Gilberto
Kassab em 2012 (24%), de Fernando Haddad em 2016 (14%) e de Celso
Pitta em 2000 (4%). Para efeito de comparação, a gestão de Bruno Covas conta com a aprovação de 43% dos paulistanos.
Uma curiosidade: A terceira
maior doação para a campanha do candidato que se apresenta como de
“esquerda-raiz”, no valor de R$ 88 mil, veio de uma herdeira da Andrade
Gutierrez. O problema não é a doação em si, ou o valor, mas o fato de a Andrade
Gutierrez ser uma das empresas mais corruptas do Brasil, como reconheceram seus diretores. Tanto é assim que eles confessaram espontaneamente a participação
da empreiteira na rapinagem havida durante os governos Lula-Dilma e restituíram
R$ 1 bilhão aos cofres públicos. Quando se trata de dinheiro, dizia Voltaire,
todo mundo é da mesma religião.
Observação: O maior doador da campanha do Psol
em São Paulo se chama Caetano Emanuel Viana Teles Veloso, que
contribuiu com R$ 100 mil. Mas o músico, produtor e arranjador baiano, mais
conhecido simplesmente como Caetano Veloso, ganhou esse dinheiro com seu
trabalho. Demais disso, seu sobrenome não inclui nem Andrade, nem Gutierrez.
O PT esperava reverter este ano o fiasco de 2016, quando, das 27 capitais, conseguiu emplacar somente o prefeito de Rio Branco, sem mencionar que, em São Paulo, Fernando Haddad foi derrotado por João Doria já no primeiro turno. Agora, com apenas dois petistas disputando o segundo turno nas capitais — Marília Arraes em Recife e João Coser em Vitória — a quadrilha de Lula corre o risco de repetir o vexame.
Se Marília e Coser se elegerem, o resultado geral do partido será apenas um pouco melhor que o de 2016 e igual ao de 1996, quando conquistou apenas duas capitais. Se nenhum deles vencer, será o pior desempenho de toda a história da sigla nas disputas municipais. O que talvez fosse bom.
Talvez assim o molusco abjeto finalmente se desse conta de que morreu e não sabe, pedisse o boné, desse o braço ao capitão conversinha e, juntos, atravessassem a ponte que partiu e seguissem rumo ao pôr-do-sol, ao ostracismo ou ao quinto dos infernos — fai ciò che vuoi con lui, non me ne frega niente.