SE NÃO SABEMOS QUANTO TEMPO NOS RESTA, POR QUE DESPERDIÇÁ-LO LAMENTANDO COISAS QUE NÃO PODEMOS MUDAR?
Fragmentos de vidro encontrados no Grande Mar de Areia intrigam os cientistas desde os anos 1930.
Ao contrário dos vidros formados por processos naturais, como as moldavitas, na Europa, e as tectitas, na Costa do Marfim, esse vidro líbio é pobre em sílica. Devido à cor amarelada, foi usado decorativamente na época de Tutancâmon, como no escaravelho para o peitoral do faraó — que pode ser visto na imagem que ilustra este post. Curiosamente, além da joia produzida com esse vidro, o Rei Tut possuía também uma adaga feita com ferro meteorítico.
Quanto à origem, a comunidade científica se divide entre vulcões lunares, fulgurite — formação de vidro pela fusão da areia atingida por um raio —, processos sedimentares ou hidrotermais e queda de um meteorito. Mas o mais curioso é que a cor amarelada resulta do óxido de ferro e do titânio, que fazem parte da composição do vidro líbio — embora essas substâncias não existissem no deserto da Líbia há 30 milhões de anos, quando esse vidro teria se formado.
Fragmentos coletados na região de Al Jaouf, no sudeste da Líbia, foram analisados a partir de uma técnica de microscopia eletrônica de transmissão, que permite ver partículas com espessura 20 mil vezes menor que a de uma folha de papel. Mediante esse processo, os pesquisadores identificaram diferentes tipos de óxido de zircônio — mineral que se forma em temperaturas extremas, entre 2.250°C e 2.700°C, e pressão superior a 130 mil atmosferas — e vestígios de reidite — que se forma em alta pressão, mas apenas durante impactos de meteoritos e não em explosões de ar.
A identificação do reidite permite estimar com maior precisão a frequência com que ocorrem desastres de ondas de choque com NEOs — fenômenos capazes de produzir esse tipo de vidro — mas não basta para solucionar o mistério.
Como disse Hamlet a Horácio, "há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia".
