BOLSONARO UM DIA VAI PASSAR, COM A AJUDA CONJUGADA DOS ELEITORES, DOS TRIBUNAIS E DOS CÉUS, E AS FORÇAS ARMADAS FICARÃO.
Entre janeiro e junho de 2019, o general Santos Cruz chefiou a Secretaria de Governo, mas se envolveu em disputas de poder com a chamada ala ideológica, teve atritos com Zero Dois e acabou demitido depois que circulou pelas redes sociais uma mensagem em que ele criticava o presidente e seus filhos.
Descobriu-se mais adiante que a postagem era falsa, mas Bolsonaro
não voltou atrás. Desde então, o general se embrenhou numa guerra em que usa a
mesma trincheira virtual que o derrubou para atacar o presidente, com a
diferença de que os petardos agora são reais.
Três dias antes das eleições municipais, referindo-se à
declaração do capitão sobre o Brasil ser uma nação de maricas, o general
postou: “O Brasil não é um país de maricas. É tolerante demais com a
desigualdade social, corrupção, privilégios. Votou contra os extremismos e
corrupção. Precisa de seriedade e não de show, espetáculo, embuste,
fanfarronice e desrespeito”. O post alcançou quase 40 mil curtidas.
Em entrevista a VEJA, o militar explicou por que se
tornou um dos principais críticos do presidente: “Alguém tem de dizer: ‘Ei,
para de falar bobagem e governa’. Quando você tem problemas de desempenho, tem
de substituir por um show. Mas você acha que o povo brasileiro vai aguentar
quatro anos nesse ritmo? O pessoal já está por aqui, o povo cansa.”
Para Santos Cruz, o atual governo virou um “PT
verde-amarelo” e instaurou o “comunismo de direita” no Brasil. “Todo regime
comunista totalitário divide para facilitar a manipulação. Depois, você ataca
pessoas, não ideias. É um assassinato de reputações: todas as pessoas de que
você não gosta não prestam. Temos ainda o culto à personalidade: é o mito, o
messias, o cara designado por Deus. Isso tudo é uma técnica que quem consagrou
foi o sistema totalitário, foi o comunismo. É o contrário de democracia”.
Suas críticas pesadas não poupam os colegas de farda que
hoje estão no governo. Segundo ele, não passa de desculpa esfarrapada o
argumento de que os militares estão cumprindo uma “missão”, como costuma ser
repetido entre os fardados do alto escalão. “Missão de quem? Divina? Há
muitas distorções, não tem ninguém com missão nenhuma. Muita gente se encanta,
né? Na campanha foi dito tudo o que o povo queria ouvir: não iria ter
reeleição, iriam acabar com a corrupção e com o Centrão. Agora, o presidente
está governando para a reeleição dele desde o primeiro dia, não tem nenhum
plano de combate à corrupção e os cargos foram distribuídos para o Centrão
administrar melhor o dinheiro público”, ironizou o general.
O discurso de Santos Cruz despertou o interesse de
partidos políticos. Ele já foi sondado para se filiar a quatro legendas e há
propostas para que se candidate ao Senado e até ao governo do Distrito Federal.
Mesmo assim, nega que vá entrar na política, embora não descarte os planos para
o futuro e faça dobradinhas virtuais com Sérgio Moro, em quem aposta as
fichas para presidente em 2022.
O ex-juiz elogiou o general: “É muito mais corajoso do
que aqueles que usam as redes para atacar de longe a honra de pessoas do bem e
das Forças Armadas”. Após a publicação, ambos foram alvo de xingamentos. O
general dá de ombros: “O Bolsonaro, os filhos, os amiguinhos, essa turma da
internet, são um bando de oportunistas que pode acabar criando um sentimento
antidireita”.
A guerra de verdade ainda nem começou.