O TEMPO FAZ COM O CORPO O QUE A ESTUPIDEZ FAZ COM A ALMA: APODRECE.
Senhas! Tantas, tantas! Suponho que as empresas perdem
milhões por causa delas. Não digo que é culpa dos hackers. Simplesmente porque
a gente perde a paciência e desiste da compra on-line — já que senhas não
reconhecidas tornaram-se parte da vida.
É meu caso com a Amazon
Brasil. Cada vez que entro no site e vou pagar, recebo um aviso que a senha
não é válida. Só que está certa. Mesmo assim, sou obrigado a redefini-la.
Enviam um código para meu e-mail, e perco uns vinte minutos (no mínimo) para
criar a nova. É um inferno, porque cada vez exigem senhas mais complexas. E
menos duradouras.
Um amigo acaba de receber um aviso da faculdade dizendo
que sua senha expirou. Como assim, expirou? Ele não sabe se é tentativa de
golpe ou pedido da faculdade mesmo. Dá medo, porque há quadrilhas
especializadas em roubar senhas. Em razão disso, cada vez mais aumentam as
exigências para a criação de senhas seguras.
Surgiram sites de gerenciamento de senhas, como o Lumiun. Eles exigem misturas de números
e letras, às vezes uma maiúscula. O ideal é usar no mínimo catorze caracteres.
Advertência: jamais utilizar nomes, palavras reais, datas importantes, número
de documentos… Sugere alterá-las a cada noventa dias. Pior. Ninguém usa uma só
para tudo, é arriscado.
Eu tenho umas duas dezenas. Apple Store, TVs por streaming, meu próprio
computador, banco, cartões… Tudo tem de estar na minha cabeça! Suspeito que
hospitais psiquiátricos já reservam vagas para pacientes com stress causado
pelo excesso e complicação das senhas.
Horror: se dá algum problema, não há para quem ligar.
Tudo é digital. Fui fazer compras on-line e descobri que alguém havia
cadastrado meu CPF em outro email. É
impossível resolver porque enviavam códigos de segurança para um email
desconhecido. Algumas empresas, como o Magalu,
responderam à reclamação, verificaram e tudo o.k. Outras, como a Nike, igualam-se a paredes de concreto.
Senhas são tão preciosas que quadrilhas se
especializaram em roubá-las. Outro dia o Instagram
de meu irmão foi invadido e virou um site de prostitutas russas! Alguém entrou
no meu Face e fica pedindo a senha.
Não boto. E o Face trava! Recebo
também supostos avisos do Instagram
para confirmar meu cadastro. Uma amiga botou os dados e roubaram seu Insta. Foi
um custo recuperar!
É tenso. Em alguns lugares, errou a senha três vezes,
perde o cartão! Mas, como eu disse, são tantas! É fácil confundi-las! Ainda
mais porque sempre sou obrigado a mudar alguma. Arrumei uma caderneta de papel,
típica dos tempos analógicos. Iguais às que se usava uns trinta, quarenta anos
atrás para telefones, aniversários… Anotei todas as minhas senhas, devidamente
identificadas. Se troco, rabisco em cima e boto a nova do lado.
É uma solução antiga. Mas se eu anotasse no celular, ou
no computador, precisaria de senha para abrir. E se esquecesse? Na caderneta,
encontro todas as senhas importantes. Tão mais simples! Sei que estou ficando
velho. Mas às vezes sinto saudade do tempo da caneta e do papel…
Texto de Walcyr
Carrasco