sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

DADOS DE 102 MILHÕES DE CONTAS DE CELULAR VÊM SENDO COMERCIALIZADOS NA DARK WEB

NÃO HÁ LOTERIA QUE RESOLVA PROBLEMAS DE POBREZA DE ESPÍRITO.

A relevância de alguns assuntos autoriza (ou exige) revisitas periódicas, donde mais da metade das 5 mil e tantas postagens aqui no Blog tratarem de segurança digital. O assunto chato, reconheço, mas extremamente sensível. Sobretudo nos tempos estranhos em que vivemos.

Semanas depois de trazer a lume um vazamento-monstro de 212 milhões de CPFs e outros dados sigilosos (ou que deveriam sê-lo), a empresa de segurança PSafe expõe na vitrine um repeteco envolvendo 102.828.814 milhões de contas de celular, com CPF, minutos gastos em ligações e outras informações dos titulares das linhas.

Não escaparam da audácia dos criminosos nem mesmo o presidente da República, ministros do Supremo, deputados e senadores. No dia 1º, por meio do seu presidente, o STF exigiu providências ao ministro da Justiça, André Mendonça. A Polícia Federal também abriu inquérito a pedido da Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD).

A PSafe informa ter conseguido entrar em contato com cibercriminoso responsável, que desde o último dia 3 vendia as informações na Dark Web (por US$ 1 a unidade, mas com um bom desconto para quem as adquirisse no atacado; para saber mais sobre Deep Web e Dark Web, siga este link).

ObservaçãoDe acordo com a legislação que regulamenta o assunto, são passíveis de punição tanto a pessoa que roubou os dados quanto as empresas que de alguma forma contribuíram para o vazamento.

De acordo com o que a PSafe apurou junto ao cracker, vazaram 57,2 milhões de contas telefônicas da Vivo e 45,6 milhões da Claro — ainda não se sabe se clientes de outras operadoras foram afetados.

A magnitude desses vazamentos é que eles expõem um conjunto de dados muito amplo, tais como nome, CPF, foto, endereço, celular, salário, email, ocupação, escolaridade, classe social e poder aquisitivo, entre outros. Para manter por algum tempo a propriedade exclusiva das informações, os bandidos não vendem os 37 níveis de dados para um mesmo comprador, o máximo são dez. Com essas informações em mãos é possível a aplicação de um número incalculável de golpes.

A suspeita inicial é que os arquivos tenham sido vazados dos servidores dos sistemas da Serasa Experian, por conta da semelhança na estrutura do banco de dados. O Procon-SP já pediu explicações à empresa e disse que “as penas previstas na LGPD, podem chegar até R$ 50 milhões”.

A Serasa nega ter causado problema e respondeu em nota que a “investigação até o momento mostrou discrepâncias significativas entre as alegações feitas e os dados que mantemos em nossos arquivos”.

Banco Central disponibiliza uma ferramenta que permite descobrir se dados pessoais foram usados indevidamente (para abrir contas, contratar empréstimos etc.). No Registrato, qualquer correntista de instituição bancária pode se registar e pesquisar sua situação específica — o mesmo serviço é oferecido pelos aplicativos da Caixa Econômica FederalBanco do Brasil, Bradesco, Santander e Itaú.

Em cada app existe um caminho específico para conseguir o PIN necessário ao cadastramento. No caso do internet banking, é preciso primeiro preencher os dados na página do BC para obter uma frase de segurança que deverá ser validada dentro do site bancário. Só depois disso que o cliente conseguirá cadastrar uma senha para acessar o Registrato (essas etapas servem para comprovar que aquela pessoa é de fato aquela pessoa para o Banco Central, já que os relatórios produzidos pelo serviço são sigilosos e só podem ser consultados pelo titular da conta).

Dentro do Registrato, é possível consultar chaves Pix, operações de câmbio, dívidas e relacionamentos financeiros. No caso de fraude, é preciso atentar principalmente para a última sessão, que lista as instituições financeiras com as quais a pessoa tem ou teve relacionamento — tanto físico quanto digital. Também entram nessa relação serviços como PayPal, corretoras de valores (tipo XP Investimentos) e até instituições que oferecem crédito pessoal (como a Crefisa).

O correntista que não reconhecer uma dívida ou conta bancária deve entrar imediatamente em contato a instituição em questão, pedir o encerramento da conta, dados como endereço e telefone usados pelo fraudador (que, por óbvio, não deve ter colocado os da vítima) e fazê-los constar do boletim de ocorrência, para facilitar o trabalho da polícia na investigação da fraude.

Note que você só saberá pelo Registrato se algum estelionatário obteve um cartão de crédito ou contraiu um financiamento no seu nome quando a dívida for gerada. E esse é o grande "xis" da questão: as pessoas só se darão conta do problema quando sofrerem algum tipo de fraude, o que pode levar anos para acontecer.

Com o cruzamento de informações contendo o poder aquisitivo, endereço e dados de familiares, os bandidos terão nas mãos todos os elementos para planejar um vasto leque de ações criminosas, entre as quais o sequestro. Portanto, barbas de molho.