sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

MAS É CARNAVAL...

 


Não foram só os adversários do governo que ficaram atônitos com a indicação de Bia Kicis para a presidência da CCJ. Diversos aliados do novo presidente, Arthur Lira, e membros do próprio PSL tentam mudar a escolha, informou Chico Alves em sua coluna no UOL.

O acordo para que a deputada fosse escolhida foi costurado por Luciano Bivar, presidente do PSL e eleito para a primeira secretaria da Câmara. Muitos acreditam que ele não vai ser referendado pelos integrantes da comissão. Membros da sigla voltaram a defender a expulsão da parlamentar, o que a impediria de ocupar o cargo. Segundo Chico, a decisão, já cogitada anteriormente, é remota de acontecer.

Na avaliação de Dora Kramer, se realmente assumir a CCJ da Câmara, Bia não permanecerá no cargo tal a contestação cotidiana que sofrerá de seus pares. A reação à indicação, fruto de acordo de Arthur Lira com o PSL, lembra agora em proporção maior aquela ocorrida quando do anúncio de que Bolsonaro pretendia a nomeação do filho Eduardo para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos. A razão é semelhante: completa inadequação do indicado ao posto. Bia padeceu por excesso de extremismo na defesa das mais estapafúrdias posições do presidente da República. O que parecia um ativo revelou-se um passivo. Nem Bolsonaro nem Lira vão interceder em favor dela, que é pequena para o tamanho da encrenca. Afinal, não se matam mosquitos com tiros de canhões.

Há muita gente dizendo que, agora que “Rodrigo Maia não vai mais atrapalhar”, o governo vai fazer as reformas, e coisa e tal. Mas quais reformas? Tem a reforma administrativa, mas essa foi esvaziada por Bolsonaro e não vai servir para nada. Tem a reforma tributária, mas essa é tão modesta quanto inútil. Tem as privatizações, mas o único projeto de privatização que o governo apresentou (preparado por Temer) é o da Eletrobrás, mas o novo presidente do Senado já disse que é contra. Teria a abertura comercial, se o governo tivesse proposto alguma.

A autonomia do Banco Central é ótima e tal, mas 100% inócua para as contas públicas. E, claro, se houvesse reforma de verdade a fazer, o Centrão seria contra. A “reforma” real é a seguinte: Bolsonaro quer reduzir as alíquotas dos impostos que incidem sobre os combustíveis (mais renúncia fiscal) para favorecer o setor dos caminhoneiros (menos liberal, impossível). E assim seguimos.

Mudando de um ponto a outro: faz cinco meses que está parado no STF um pedido de suspeição do ministro Gilmar Mendes, feito pela força-tarefa da Lava-Jato no Rio de Janeiro no caso envolvendo a Operação E$quema S, que denunciou 26 advogados pelo suposto desvio de R$ 151 milhões do Sistema S por meio de contratos com a Fecomércio fluminense, entre cujos alvos figuram Roberto Teixeira e Cristiano Zanin, advogados de Lula.

Mesmo como pedido sub judice, Mendes concedeu uma liminar no dia 3 de outubro de 2020, suspendendo a ação penal e beneficiando os defensores do petista e outros advogados famosos, como Frederick Wassef, que defendeu a Famiglia Bolsonaro, Eduardo Martins (filho do presidente do STJ, Humberto Martins) e o ex-presidente da corte César Asfor Rocha e seu filho, Caio Rocha.

Os procuradores do Rio apontam dois motivos principais que embasam a suspeição no caso, como revelou a revista eletrônica Crusoé em outubro do ano passado. O primeiro deles é que Caio, réu na ação, é casado com uma sobrinha da mulher de Gilmar, a advogada Guiomar Feitosa, e fez transações financeiras e imobiliárias com o cunhado do ministro nos últimos anos. O segundo é que a Fecomércio do Rio patrocinou eventos organizados pelo Instituto Brasiliense de Direito

Público, o IDP, que tem Gilmar como sócio-fundador. Um deles, como mostrou a revista retrocitada em 2018, ocorreu em 2015 no Rio de Janeiro e contou com a participação do ex-presidente da entidade, Orlando Diniz, hoje delator (ele foi preso pela Lava-Jato em 2018 e solto quatro meses depois por uma decisão do ministro do STF).

O pedido de suspeição de Gilmar foi feito depois que Napoleão Nunes Maia, então ministro do STJ, apresentou à corte uma reclamação alegando que os procuradores do Rio o estavam investigando sem autorização do Supremo — por ser ministro do STJ, ele tem prerrogativa de foro. A reclamação caiu com Gilmar, que é o ministro prevento para decidir sobre os processos da Lava-Jato do Rio no Supremo.

Desde o dia 6 de outubro que o pedido de impedimento de Gilmar está concluso para decisão no gabinete do presidente da corte, ministro Luiz Fux. A subprocuradora Lindôra Araújo, braço direito de Augusto Aras, manifestou-se contrária tanto à suspeição do ministro quanto à reclamação de Napoleão Nunes Maia. O togado supremo discordou do MPF no segundo ponto e suspendeu toda a ação penal.

Foi Gilmar quem pautou para última terça-feira o julgamento que validou o acesso da defesa de Lula às mensagens roubadas dos procuradores da Lava-Jato de Curitiba, que foi autorizado liminarmente em dezembro por Ricardo Lewandowski.

Liderados por Cristiano Zanin, os advogados do criminoso de Garanhuns pretendem usar as conversas hackeadas para anular as condenações de Lula na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba alegando a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, que aparece trocando mensagens com os procuradores da força-tarefa paranaense.

E em meio a desumanidades, assim caminha a humanidade tupiniquim.

Bom carnaval a todos.