Nas viagens que Bolsonaro fez pelo país no ano passado, o estado mais visitado foi São Paulo, com 19 trechos, seguido pelo Rio de Janeiro, com 11. Mas o nordeste também foi lembrado, principalmente no final de junho, quando a pandemia estava no auge, empilhando mais de 1000 cadáveres por dia. Foram 13 visitas a obras ou inauguração com peso eleitoral.
Observação: Em outubro de 2019 o presidente da Apex, Sérgio Segovia, liderou uma equipe de 20 funcionários em missão empresarial, em conjunto com missão presidencial, e visitas a feiras e exposições na China, Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita. Recebeu 18 diárias no valor total de € 5,4 mil (R$ 25 mil). As diárias de toda a comitiva custaram € 40 mil. A despesa total das viagens à China e Oriente Médio, incluindo passagens e diárias num período de 18 dias, chegou a R$ 450 mil. Mas já houve despesas individuais maiores. O então diretor de Gestão Corporativa, Márcio Coimbra, pagou R$ 37 mil por uma passagem para Washington e Miami no início de 2019.
Foram 109 deslocamentos de escalões avançados, formados por seguranças e assessores que seguem antes do voo do avião presidencial. Às vezes, uma viagem do presidente passa por três ou quatro cidades, o que exige o envio de mais equipes de apoio. Em outros casos, seguem dois escalões para uma mesma cidade. Todos esses deslocamentos apoiaram 62 viagens presidenciais realizadas. Algumas outras foram canceladas, mas as despesas com os Escavs já estavam feitas.
Em março, por exemplo, quando ainda não acreditava na gravidade do coronavírus (que continuam menosprezando, conform suas conveniências), Bolsonaro planejou passar o feriado da Páscoa na paradisíaca Fernando de Noronha. De 16 a 20 daquele mês, dois oficiais superiores e um assistente técnico militar estiveram no arquipélago para fazer o levantamento inicial para a participação do presidente em "atividade privada" no local de 10 a 12 de abril. A missão militar custou R$ 39 mil aos contribuintes.
No dia 3 de setembro, Bolsonaro esteve no Vale de Ribeira, uma das regiões mais pobres de São Paulo, onde o presidente passou a infância e a adolescência. No final da manhã, a comitiva rumou para Eldorado (SP) e no dia seguinte, para Registro (SP). A visita afetiva do presidente custou R$ 368 mil. Dali, ele ainda seguiu para a visita às obras de recuperação da pista principal do aeroporto de Congonhas, na capital paulista, fechando o roteiro em R$ 425 mil. Em 1º de outubro, em visita às obras do projeto de transposição do Rio São Francisco, houve até voo de helicóptero, e as despesas chegaram a R$ 245 mil.
A viagem mais curta e barata — custou apenas R$ 286 –, foi para Cristalina (GO), distante 150 quilômetros de Brasília, em 2 de maio. Naquele dia, houve 5 mil novos casos 387 mortes pela Covid. O capitão chegou de helicóptero, causou grande aglomeração, abraçou várias pessoas, comeu pastel com café no posto e fez críticas ao isolamento social: “Isso é uma irresponsabilidade”, disse.
A crise de emprego gerada pela Covid também não chegou ao Senado. Os 3 mil assessores dos gabinetes dos senadores custaram R$ 372 milhões em 2020 — menos de 1% abaixo das despesas de 2019. Considerando também os assessores dos gabinetes das lideranças partidárias e cargos da Mesa Diretora indicados pelos os senadores, as despesas com salários bateram em R$ 463 milhões — média mensal de R$ 35,6 milhões.
A folha de pagamento média nos gabinetes dos senadores ficou em R$ 350 mil. Cerca de 95% desses assessores ocupam cargo comissionado, de livre nomeação — metade deles em exercício nos escritórios de apoio nos estados. Os maiores salários chegam a R$ 27 mil, mas tem vaga a partir de R$ 2 mil, principalmente nos estados.
Os 250 servidores efetivos do Senado que trabalham nos gabinetes dos senadores têm renda maior. Pelo menos 130 deles ganham mais que os próprios senadores, que têm salário de R$ 33,7 mil. Um grupo de 34 desses servidores tem renda bruta acima do teto constitucional, chegando a R$ 50 mil, mas sofre o abate-teto e têm que se contentar com o salário dos ministros do Supremo – R$ 39,3 mil.
Reportagem do blog mostrou que a redução das atividades do Congresso em consequência da pandemia resultou em economia mínima. Na execução do orçamento em 2020, os pagamentos caíram de R$ 5,9 bilhões para R$ 5,8 bilhões na Câmara e de R$ 4,4 bilhões para R$ 4,3 bilhões no Senado, na comparação com 2019. Isso ocorreu porque 84% do orçamento das duas Casas cobrem despesas com pessoal e encargos sociais. Só os gastos com aposentados e pensionistas ficam em torno de R$ 2 bilhões em cada Casa.
A cota para o exercício do mandato, o “cotão”, teve redução de R$ 7,4 milhões no ano passado. Mas esses gastos não pesam quando comparados com a verba de gabinete. A redução aconteceu principalmente porque as despesas com passagens caíram de R$ 6,6 milhões para R$ 2,2 milhões. Com as sessões remotas no Senado e da Câmara, senadores e deputados vieram menos a Brasília.
A verba para locomoção, combustível, hospedagem e alimentação também caiu um pouco, de R$ 3,9 milhões para R$ 3 milhões, mas o senador Ciro Nogueira (PP-PI) manteve as suas despesinhas com combustível para avião, que somaram R$ 154 mil. Ele gastou um total de R$ 273 mil com locomoção e alimentação. A despesa mais pesada com alimentação foi no Restaurante Marcelo Petrarca, em Brasília, num total de R$ 695 — pouco mais do que uma “ajuda emergencial”. Foram servidos um filé com rapadura, dois estrogonofes de filé e dois “pratos da boa lembrança”. Gastou mais R$ 687 — outra “ajuda” — na Churrascaria Rodeio. Só a picanha para duas pessoas saiu por R$ 318.
Os chamados “serviços de apoio ao parlamentar”, que vão de consultorias à contratação de equipes de comunicação social, tiveram pequena redução, de R$ 5,6 milhões para R$ 5,4 milhões. A maior parte da verba de divulgação do mandato está camuflada nessa despesa. Oficialmente, a “divulgação” cresceu de R$ 1,7 milhão para R$ 2,2 milhões. Os gastos com aluguel de escritórios nos estados também caíram pouco — de R$ 3,8 milhões para R$ 3,6 milhões. Uma despesa fora do “cotão”, com correios, teve queda de R$ 1,8 milhão para R$ 1 milhão. O maior gasto foi do senador Irajá (PSD-TO) — R$ 104 mil.
Dos R$ 3,6 milhões gastos com cartões corporativos do Senado nos últimos sete anos, R$ 1,8 milhão cobriu despesas da residência oficial do presidente do Congresso. Só na gestão de Davi Alcolumbre (DEM-AP) foram R$ 663 mil. Com o “Serviço de proteção presidencial”, foram gastos mais R$ 319 mil em 2019 e 2020. O Senado rompeu parcialmente o sigilo dos gastos dos presidentes desde 2013. Agora é possível apurar que, na proteção a Alcolumbre, as maiores despesas são no item “despesas com locomoção” — R$ 280 mil. Em viagens, Alcolumbre gastou R$ 3,7 milhões. Teve até campanha eleitoral.
O Senado havia prometido divulgar detalhes das despesas com cartões corporativos a partir de janeiro deste ano, mas manteve em segredo as notas fiscais com os gastos dos presidentes. Nos últimos cinco anos, aparecem apenas os valores totais com as informações “material de consumo”, “locomoção” ou “serviços de terceiros”. Nos últimos três anos, estão disponíveis os gastos com segurança dos presidentes — R$ 530 mil. Mas alguns segredos começam a ser revelados. O Senado passou a divulgar o nome dos fornecedores do final de 2013 a 2015, o que esclarece algumas despesas. Em 2014 e 2015, na gestão de Renan Calheiros (o cangaceiro das Alagoas), foram gastos R$ 140 mil com alimentação na residência oficial.
As despesas com assistência à saúde de senadores e ex-senadores cresceram de R$ 13,8 milhões em 2019 para R$ 14,9 milhões no ano passado. Além de 78 senadores, há hoje 190 ex-senadores filiados ao plano especial do Senado, mais os seus cônjuges.
Como dizia Boris Casoy (ou diz, já que está na TV Gazeta, onde ancora do Jornal do Boris, que vai ao ar de segunda a sexta a partir das 8h45), “é uma vergonha”. E nem tem como relativizar.